A Janela Parte IV

02.02.2020

Clareou o dia com a última frase da “deusa” lhe ecoando no cérebro.

-Terá que descobrir, explorando-os!

Decidido, foi atrás de informações, pesquisas, contatos com pessoas que tiveram ou têm a mesma experiência extracorpórea como ele e demais coletas, para se inteirar e saber um pouco mais de tudo o que versava sobre essa sua aptidão inesperada, mas gratificante. Contatou o seu amigo para que lhe indicasse como poderia obtê-las. Foi a fundo nas pesquisas.

Ao mesmo tempo, começou a fazer alguns treinamentos mentais com ioga para ter um maior domínio sobre a sua mente; também de respiração em mergulho de apneia para altas profundidades, em que esse domínio influiu profundamente em seu corpo e mente.

Com o correr dos dias, das semanas e meses, esses treinamentos foram lhe capacitando para poder atravessar o portal de forma mais consciente e com total domínio de suas ações. Podia ir e vir por ele no momento em que definisse, não ficando mais prostrado junto a sua janela, mas sempre à noite. Agora, seu corpo ficava deitado na cama e ele saia dele.

Não precisava estar dormindo para fazê-lo, conseguia estando em estado de relaxamento corporal, apoiado pela meditação da ioga e controle da respiração em apneia.

A deusa não mais lhe surgia. Parecia que aguardava um momento para lhe mostrar, talvez, novas situações a serem enfrentadas e descobertas por ele. Estava animado com os desafios que iria enfrentar.

Então, em uma passagem pelo portal pensou que poderia ter outras situações, adotando ações diferentes:

-Se estou fluindo por um espaço paralelo, e deve ter muitos outros mais como diz a teoria, se passar novamente pelo portal, o que acontecerá?

Voltou para o seu quarto, atravessando as paredes do edifício (essa ação ele descobriu ao longo das buscas e testes desenvolvidos nos últimos meses) e passou novamente pelo portal da sua janela.

Ao adentrar pelo espaço percebeu que houve mudanças significativas na paisagem, nos prédios, na rua, nos carros, nas pessoas. Estava em outro multiverso.

Os prédios não eram mais os mesmos, o seu também não. Eram mais modernos, altíssimos, de arquitetura futurista, em materiais metálico, diferentes, não conhecia. As ruas eram vielas estreitas e não havia carros. Viu cápsulas envolvendo as pessoas em seu interior, em material transparente, levitando-as do chão. Não havia mais a padaria na esquina da sua rua, a farmácia em frente, somente os arranha-céus altíssimos, alguns transpassavam as nuvens. No céu, circulavam mais capsulas de indivíduos, não se limitando à altitude, vagavam sem limites.

-Que mundo é esse? O que me aconteceu? - perguntou-se aflito e com certo desespero, mas curiosíssimo.

– Esta em um multiespaço futuro – ouve a voz da “deusa”. Ela não era mais uma sombra fugaz e disforme. Agora, penetrava na sua mente como uma onda energética, um feixo de luz, um fluxo de energia. Mas ele também não tinha mais mente, era um ser disforme em energia e luz.

-Que interessante, nos entendemos por fluxos de energia – pulsava ele a cada som dito.

-Sim! Aprende rápido, hein – completa ela.

-Sim, ele aprende rápido – ouve outro fluxo de energia que não sabe de quem é, mas pulsou ao lado da “deusa”. Mas notou que o pulsar era muito intenso e forte, emanando um feixe claríssimo, de um prata cegante.

-Outro fluxo conosco? – pergunta ele.

-Sim. Será seu tutor agora nas novas descobertas que fará – completa ela.

-Tutor? Ótimo, estou precisando saber como me desenvolver nestes multiespaços.

-Perfeito. Vamos então fluir por esse futuro.

Fluíram os dois fluxos de energia por entre a cidade, pelo céu, por todo esse novo espaço e subiram para fora da atmosfera, tendo ele a visão maravilhosa do planeta. Mas não entendeu a terra tendo duas luas gravitando ao seu redor.

-Onde estamos? Que planeta é esse? Não parece ser a Terra?

-Ela não existe mais. Foi devastada pelo calor causado pela aproximação do sol, obrigando a civilização humana a emigrar para esta “nova terra”, onde estamos agora no futuro, cerca de 1.500 anos à frente.

-Incrível! E como farei para retornar para a minha terra? Ficarei preso aqui eternamente?

-O seu portal, como o de todos estão intactos eternamente, são imutáveis. Ao voltarmos, verá que nos prédios, casas, enfim, em vários lugares, aparecerão círculos de emanação de energias pulsantes e brilhantes Esses são os portais e cada um que tem essa aptidão, como você e eu, saberá qual é o seu, pois ele pulsará em nossa frequência, reintegrando-nos normalmente ao universo do qual somos oriundos.

-Entendi. E como posso ir para outros mundos paralelos, mais antigos, por exemplo?

-Bem, agora você voltará para o seu e na próxima viagem, quem sabe amanhã você venha a descobrir comigo.

-E como lhe encontrarei?

-Não se preocupe, faça o mesmo de hoje e nos veremos aqui.

O sol da nova terra aparecia no horizonte, com as luas gêmeas se esvaindo no clarear do dia.

Ele fluiu por aquele multiespaço vendo os vários portais emanando luzes até que percebeu que um deles tinha a mesma frequência que a sua: era o seu.

Atravessou-o e reintegrou-se, extasiado pelas novas descobertas, ansioso para o que poderia descobrir naquela noite à nascer ainda.

Reincorporou-se ao seu corpo, que dormia tranquilo e plácido, com um leve sorriso nos lábios, feliz.

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