Teletransporte - PREFÁCIO

*** AVISO ***

"Esta é uma obra de FICÇÃO!!

Qualquer semelhança com fatos, lugares, nomes ou pessoas, vivas ou desencarnadas, materiais ou etéreas, terá sido mera coincidência ou licença poética do autor!

Nenhuma parte desta obra foi psicografada, ao menos não que seu autor tenha consciência disto ter acontecido.

Mas... ele não pode garantir isto com certeza absoluta."

*** PREFÁCIO ***

Charles certificou-se mais uma vez se estava tudo preparado e ajustado para aquela primeira demonstração. Desde o princípio houve muita suspeita daquilo não passar de um truque muito bem elaborado, uma engenhosa combinação de um scanner atômico com uma moderna impressora tridimensional, objetos inanimados sendo memorizados e de alguma forma destruídos na origem para ter sua cópia refeita num destino distante. Qual seria a grande dificuldade em scannear uma xícara num lugar, transmitir sua informação, pulverizá-la átomo por átomo e sintetizar uma cópia distante dela, recolocando espacialmente seus componentes nas coordenadas tridimensionais lidas na origem?

Quando Charles reconstruiu por este método uma deliciosa peça de bife à parmegiana, sob o olhar espantado de seu pupilo Richard, a desconfiança geral dos demais pesquisadores não diminuiu muito. Um pedaço de matéria orgânica morta? Mais que isto, aquecida, cozida, a complexidade de seus tecidos, gorduras e proteínas, simplificada pelo calor?

Sim, Charles poderia ter experimentado antes com cobaias vivas. Mas tão certo estava da exatidão de sua ideia , de que ela seria bem sucedida, que decidiu que ele mesmo seria cobaia do primeiro experimento de teletransporte de um corpo vivo!

— É arriscado, meu amigo! — seu pupilo e grande admirador Richard ainda tentava, inutilmente, fazê-lo desistir da ideia. Em vão, ele sabia. Conhecia a teimosia do amigo.

— Vou fazê-lo, meu caro! Te telefono daqui a pouco de Londres, depois de atravessar o Atlântico transmitindo a informação de meu corpo pelos cabos submarinos de fibra ótica!

— Não seria mais seguro testar antes com cobaias vivas?

— Tenho certeza que vai funcionar! Eu serei a cobaia, não percamos mais tempo!

Charles entrou confiante no casulo emissor, onde estava o preciso scanner molecular. Cada MOL de seu corpo, cada pedaço de matéria de seu organismo, em minutos seria codificado em informações, sequências binárias transmitidas e reconstruídas num outro casulo de síntese molecular de um distante laboratório em Londres, sua cidade natal. Seria a viagem mais rápida que um ser-humano faria em toda a história da humanidade!! Obviamente descontados os atrasos de retransmissão de seus pacotes de informação entre os roteadores, e a importante checagem de integridade binária da informação, viajaria pedaço por pedaço praticamente na velocidade da luz. Sentiria algo neste processo? Apreciaria a viagem? Certamente não, seria instantânea e imperceptível! De qualquer forma, logo descobriria...

O casulo de origem, localizado na cidade de em São Paulo, Brasil, tinha paredes transparentes. Charles fazia questão disto, queria ver o processo todo!

— Já estou pronto, pessoal! Podem começar o teletransporte!

A equipe de cientistas e técnicos trabalhava ansiosa. A grande maioria achava aquilo uma loucura, quase suicida, mas é indiscutível que todos torciam pelo sucesso do experimento. Calaria de vez os céticos, que sem fundamento algum acusavam aquilo tudo como um grande truque de ilusionismo tecnológico muito bem elaborado.

O gerador emitia um zumbido quase insuportável. Sim, precisavam de uma energia inimaginável para suportar aquele processo. Óbvio que aperfeiçoariam depois, otimizariam o que poderia ser otimizado, deixariam aquilo mais viável economicamente. Mas agora só interessava que tivessem sucesso nesta primeira experiência, a ineficiência no gasto energético não era neste momento relevante.

— Charles!!! — Richard, do lado de fora do casulo, tentava pela última vez fazer seu mentor desistir daquela loucura. Mas ele sabia que era inútil...

O scanner molecular começou pelo topo da cabeça do cientista, já com calvície bastante avançada, em pé dentro do casulo transparente de origem. Foi identificando os pedaços de matéria que precisava transmitir, bem como suas posições em relação a um referencial arbitrário escolhido no topo do casulo. Começou obviamente pela mais simples: H2O, vulgarmente chamada de água. Descia camada por camada, codificando cada fatia horizontal do organismo de Charles.

Uma por uma, as moléculas de água começaram a ser transmitidas de seu corpo. Sua localização espacial, suas orientações, seus potenciais elétricos... tudo se tornando informação binária, transmitida pelo cabo transoceânico de fibra ótica para o casulo reconstrutor em Londres.

Tudo correu bem nos primeiros nanosegundos, mas... era muita informação! O meio de transmissão mal conseguiu enviar os cerca de 42 litros de moléculas de água do corpo original em suas corretas posições, orientações e temperaturas, que dizer então das complexas moléculas orgânicas vivas? Proteínas, gorduras, açúcares, sais minerais, todos eles em plena atividade metabólica, que precisavam ser copiadas individualmente e com exatidão para seu destino?

A água, 70% do corpo de Charles, chegou e foi reconstruída integralmente em Londres, nas posições, orientações e temperaturas originais. Era fato conhecido que no teletransporte quântico extrair a informação dos átomos originais os destruía, convertiam sua matéria em energia que era ela própria aproveitada para ajudar a alimentar o processo de transmissão, sugestão inclusive do próprio Charles para conseguir uma fonte adicional de energia para o dispendioso processo. O experimento teria sim sido um sucesso se o canal de informação não tivesse se saturado rapidamente. Mas ele se saturou... As moléculas orgânicas, formadas basicamente de carbono coordenando suas estruturas em torno de seus 4 braços de valência eletrônica, geraram mais informação do que o meio de transmissão era capaz de transmitir. De Charles foi extraída toda a água do corpo, transportada para Londres sob o Oceano Atlântico pelo cabo submarino. A equipe londrina viu no casulo receptor aparecer uma estrutura transparente, no formato de um ser humano, que enfim desabou numa poça líquida no chão do casulo em forma de água límpida, de pureza praticamente impossível de ser obtida por métodos convencionais. Mas o resto desidratado de seu corpo, que ficou no casulo receptor paulista, foi pulverizado e caiu como cinzas no fundo do casulo de origem. Ele MORREU...

*** mas... continua ***