Teletransporte - parte 5
— Aproxime-se, meu amigo Richard! A festa é para você!
Eu não podia acreditar naquilo que via. Charles em pé na minha frente, festejando com champanhe uma experiência que havia fracassado? Charles não havia se transformado em um monte de cinzas bem na minha frente, depois de toda a água de seu corpo, e só ela, ser teletransportada para o laboratório de Londres há algumas semanas atrás?
— Tome uma champanhe, meu amigo! Comemore! Foi um sucesso!
Não fui capaz de pegar um copo do garçom que passava na minha frente com uma bandeja de taças de champanhe, mas consegui pegar uma que Charles me oferecia.
— Não se engane, esta é bem melhor que aquela que estão oferecendo aí!
— Charles, meu amigo!! – o abracei forte, temporariamente esquecendo o absurdo da situação, o fato de estar abraçando alguém que a esta hora não passava de um monte de cinzas resultantes de um incinerador super avançado, uma experiência que havia falhado.
— Pergunta logo, Richard! Sei que não consegue mais se segurar!
Era o empurrão que eu precisava. Ainda assim, as palavras me saíram difíceis.
— Charles, mas você não está... morto?
— Me sinto bem vivo agora, tomando esta champanhe com você, meu amigo! A pergunta correta é: qual a sua definição de MORTO?
— Ah, sem estas suas charadas, tá? Eu vi muito bem seu corpo se tornando cinzas no teletransporte! Nunca esquecerei esta cena!
— Bom, se você define como morto alguém que não mais possui seu corpo material... sim, neste sentido eu estou mesmo morto!
— Mas... eu estou te vendo, oras bolas! Você está falando comigo.
— Você está me vendo, Richard. Mas... alguém mais aqui está me vendo?
As pessoas do laboratório realmente iam e vinham, sem aparentar surpresa alguma pelo fato de Charles estar lá no laboratório.
— Vou mais longe, meu amigo: acha que alguém aqui está TE VENDO?
De fato eu parecia mesmo invisível. Tentei sem sucesso cumprimentar alguns alunos. Agiam como se eu não estivesse lá! Não conseguia aceitar aquilo, apesar de todas as evidências confirmando.
— NÃO, Charles!!! Não estou morto! Eu não me sinto morto!
— Muito menos eu, meu caro!! Mas com o tempo a gente se acostuma com a ideia.
Aquilo só podia ser um pesadelo! O processo de teletransporte havia bagunçado minhas conexões neurais, e eu estava apenas tendo alucinações muito vívidas! Sim, era apenas isto que estava acontecendo! Era a única explicação!
— Pode tentar lidar com isto da forma que quiser por enquanto, Richard. Mas uma hora ou outra você vai acabar precisando lidar com a realidade...
Ele vira sua taça de uma vez só!
— Ah, que champanhe astral deliciosa!!! Bem diferente desta porcaria de espumante que estão servindo no plano material! Estar desencorporado tem suas vantagens, sabe?
— Lúcio!!! Pedro!!! – eu tentava chamar sem sucesso a atenção de meus melhores alunos. – Estou aqui! Não fui teletransportado! A experiência não funcionou!
— Ah, que saco!! Bem que me avisaram que isto poderia acontecer...
— Acontecer o quê?
— Que demoraria pra você aceitar a realidade.
— Que realidade, Charles?
— Você é um espírito sem o seu corpo!
Aquilo foi um baque. Subitamente percebi toda a realidade.
— A experiência não funcionou, não é? Meu corpo foi pulverizado, eu estou morto...
— Está enganado, Richard! Sua ideia foi genial, funcionou perfeitamente!
— Não estou entendendo mais nada...
— A máquina de teletransporte fez exatamente aquilo que você a programou para fazer: transportou integralmente a matéria de seu corpo para o outro lado do atlântico, o reconstruiu em Londres!
Eu ainda tentava digerir aquilo tudo.
— Então funcionou? A máquina teletransportou meu corpo?
— Transportou sim, meu amigo. Mas... só o seu corpo material! Seu espírito ficou aqui...
*** continua ***