Fúria de Titã

- A felicidade pode ser encontrada nas profundezas do pudim de chocolate - filosofou Leo, mão na alavanca de comando do minissubmarino e olhos atentos na água turva à frente, que nem mesmo os potentes faróis da embarcação contribuíam para tornar mais clara.

- Por enquanto, ainda não está com a consistência de pudim, parece mais um milk-shake - observou Cory, sentado ao lado dele na exígua cabine de comando do veículo.

- Se virar mesmo um pudim, estaremos mortos - replicou Leo.

Cory consultou as imagens das câmeras traseiras no console à sua frente.

- A erupção de hidrocarbonetos continua vindo, temos que ir mais depressa - alertou com preocupação.

- Estou indo o mais rápido que posso nas condições de visibilidade atuais - replicou Leo. - Não posso correr o risco de bater contra alguma estrutura submersa do túnel e ficarmos presos aqui em baixo.

- Mas quanto mais seguimos por esse túnel, mais nos distanciamos da base - ponderou Cory.

- Vamos nos preocupar com isso depois que sairmos do criovulcão - atalhou Leo. - Já devíamos estar na caldeira, por essa altura dos acontecimentos.

Subitamente, o túnel abriu-se numa imensa caverna inundada, onde a visibilidade era consideravelmente melhor.

- A caldeira está livre! - Exclamou Leo, embicando o minissubmarino para cima. As luzes de navegação iluminaram estranhas formações rochosas irregulares que compunham o teto da cavidade, e mais adiante, uma sombra escura irregular.

- É a chaminé! - Identificou Leo, acelerando o veículo. - Vamos torcer para estar desimpedida...

Pouco depois, reduziu a velocidade até quase parar: havia uma massa escura vedando a passagem acima.

- Vou ter que usar os lasers - avisou. - Não temos tempo para a broca de gelo.

- E se explodir? - Questionou Cory, testa franzida.

Leo consultou o painel de instrumentos.

- A temperatura lá fora é de -95º C; deve ser hidróxido de amônio, não metano. Vamos ter que arriscar.

Com o veículo na vertical, acionou os lasers frontais e voltou a acelerar lentamente, enquanto uma coluna de líquido superaquecido abria caminho na camada de gelo que fechava a chaminé do criovulcão. Ao fim de um tempo que pareceu uma eternidade, mas que não durou mais de dez minutos, emergiram na superfície, num lago parcialmente congelado.

- Lá vem a enxurrada! - Alertou Leo, conduzindo o minissubmarino para o ponto mais distante do canal que haviam aberto na chaminé.

Segundos depois, um gêiser de hidrocarbonetos escuros, água e amônia ergueu-se da chaminé do criovulcão, até uma altura de cerca de 15 metros. A cratera começou a encher-se de líquido e este começou a extravasar. Leo teve que lutar com a alavanca de comando, para impedir que o veículo fosse despejado para fora do criovulcão. Finalmente, o fluxo diminuiu o suficiente para que ele acostasse o minissubmarino numa das paredes da cratera.

- Nunca fiquei tão feliz em subir até a superfície! - Exclamou Cory com alívio.

- Essa foi por um triz - reconheceu Leo. - Bom, vamos chamar o satélite, vão ter que mandar um grupo de resgate para nos tirar aqui de cima...

O líquido do lago ao redor deles já estava congelando novamente. No céu, o Sol diminuto brilhava frio, em meio à uma bruma dourada.

- [01-11-2020]