Três atos
1.
O mundo acabou. O Grande Domo se abriu e as estrelas caíram na Terra. Eletricidade, tecnologia, agricultura, cidades, campos, oceanos, continentes. Tudo estraçalhado e espalhado como serragem. A raça humana, sempre tão dividida, desuniu-se ainda mais. Não restou espaço para homens serem lobos de homens, somente os lobos devoradores de homens permaneceram.
2. No interior da antiga China, isolados em seus campos políticos de concentração, os prisioneiros salvos da hecatombe celeste, reorganizaram-se e à moda milenar iniciaram plantações rústicas, porém, suficientes, para a subsistência. Durante alguns anos contentaram-se com essa fase. Depois, talvez, angustiados com a ausência de perspectiva, entraram em batalha por razões religiosas e raciais. Ao final, apenas dois homens ergueram-se sobre o edifício central e, com as mãos dadas, saltaram para a morte.
3. Quinhentos anos depois da extinção quase total, a humanidade reduzia-se em um conglomerado de pessoas situado na costa leste da velha Europa. Moravam em cavernas e colhiam frutos. Caçavam esporadicamente. Não mais possuíam o dom da fala, sequer cogitavam escrever alguma coisa. Certa noite, todos assistiram, apavorados, um estranho objeto descer dos céus, pousar na planície abaixo das montanhas onde viviam e daquilo saírem seres em trajes muito brancos.
Sem conhecerem motivos para temer, saíram de seus lugares e, muito devagar, aproximaram-se do local onde estavam os visitantes. Não compreenderam quando todos aqueles estranhos lhes apontaram as mãos segurando algo e desse algo viram apenas luzes coloridas saindo e lhes atingindo o peito, cabeça e tronco. Tombaram mortos. Os ocupantes da nave a ela retornaram e partiram. Era um dia lindo de sol e a Terra estava radiante, plena de vida e pronta para nova semeadura.