Viagem no Tempo

Estamos no Brasil do ano de 2100, o país vive seu melhor momento tanto no plano econômico, quanto na distribuição de renda e bem-estar social. Em meio ao progresso nunca dantes visto, a genialidade de um homem está prestes a levar a humanidade para um novo patamar.

Agora, vamos entender os acontecimentos mais específicos.

Mário terminou de ajustar os mecanismos da máquina, enquanto seu assistente, Gomes, observava boquiaberto.

— É realmente incrível! Após décadas de trabalho, finalmente alcancei o meu maior objetivo! — exclamou Mário, entusiasmado.

Mário havia alcançado uma verdadeira reputação científica durante sua vida. Brasileiro, havia lecionado nas mais excelentes universidades do Brasil e do mundo. Era uma das maiores referências nos estudos acadêmicos sobre Matemática e Física, sendo citado por especialistas em todo o globo. Suas descobertas a respeito das interações intra-atômicas e das origens da matéria lhe valeram o prêmio Nobel de Física, mas suas ideias sobre viagens no tempo geravam controvérsias entre os demais cientistas, que o atacavam por levar tão a sério ideias consideradas pseudocientíficas. Convencido da legitimidade de suas teorias, Mário se retirou nos últimos dez anos anos de quase todo o convívio social para se dedicar ao seu maior projeto, a construção de uma máquina do tempo.

— O senhor tem certeza?... Mas isso é demasiado fantástico!! — exclamou Gomes.

Este era um jornalista que decidiu investigar os boatos de que o grande cientista Mário Torres havia enlouquecido, retirando-se do convívio humano e negando qualquer contato com a imprensa. No início, ao se aproximar do cientista, Gomes encontrou grande resistência, mas conseguiu convencer Mário ao afirmar que acreditava na possibilidade da máquina do tempo. Então, nos últimos dois anos, Gomes se tornara o assistente pessoal de Mário.

— Logo você não terá mais dúvidas! — afirmou o cientista, que, apertando um botão, fez com que a porta da máquina se abrisse — Até breve!

— Mas o quê?!...

— Fique tranquilo, Gomes!... Farei apenas um teste e em menos de meia hora estarei de volta.

Mário entrou na máquina, e a porta se fechou. Gomes viu pela janela um intenso brilho, enquanto a imagem de Mário desaparecia aos poucos. Depois de alguns minutos, o brilho se apagou e o cientista havia desaparecido.

Gomes não sabia o que pensar, é certo que nos últimos dois anos auxiliara Mário no seu projeto, mas agora temia pela vida do cientista. Afinal, ninguém antes dele havia realizado a viagem no tempo.

Gomes esperou ansioso o retorno de Mário, enquanto folheava o romance O Fim da Eternidade, de Isaac Asimov.

"Escritores como H. G. Wells e Isaac Asimov", pensava Gomes, "talvez nunca imaginassem que suas histórias pudessem ser mais do que ficção científica, mas, neste momento, os fatos fazem-me considerá-los visionários."

Como prometido, havia passado vinte e oito minutos quando Gomes começou a ouvir um barulho na máquina, e novamente um brilho intenso pôde ser visto pela janelinha. Logo, a imagem de Mário, como por encanto, apareceu dentro da máquina. Então, quando o brilho se apagou, a porta se abriu:

— Ufa... Preciso fazer mais alguns ajustes, Gomes... Você acredita que programei a máquina para 2030 e fui parar em 2020, o ano em que tínhamos o pior presidente da nossa história?! Tive pena dos meus avós que viveram naquilo! Mas o mais importante é que consegui realizar a viagem no tempo, é realmente incrível.

— 2020... É muito azar, de fato. Mas o senhor encontrou alguém? — indagou Gomes.

— Sim. Encontrei com um rapaz, o qual me disse que estávamos em 2020, e pude confirmar isso acessando a internet. Contei a ele toda a minha história, mas se ele acreditou ou pensou que eu fosse um louco, não sei — disse o cientista, bem-humorado.

Gomes não conteve o riso. Se até mesmo em 2100 se acreditava que o grande cientista Mário Torres havia enlouquecido, por acreditar piamente na viagem no tempo, pareceu a Gomes que no ano de 2020 não seria diferente. Ele mesmo pensara assim no início, entretanto estavam todos equivocados, e os fatos estavam aí para prová-lo.

— Mas, então, agora o senhor vai divulgar suas descobertas para a comunidade científica? — indagou Gomes.

— Em breve. Antes, porém, preciso investigar até onde a máquina pode me levar, preciso fazer mais viagens — redarguiu Mário.

— Entretanto, isso pode ser perigoso...

— Sim, mas se os grandes navegadores temessem o perigo jamais teriam descoberto a América. Além do mais, se eu fenecer, você levará adiante minhas descobertas.

Já era noite, e os dois combinaram de se encontrar noutro dia na casa do cientista. Gomes prometeu não dizer nada a ninguém sobre a descoberta enquanto Mário não desse o aval.

No dia seguinte, às 19:00 horas, Gomes chegou na casa do cientista. Mário não o recebeu, mas Gomes já estava acostumado a entrar na casa com as próprias chaves. A esposa de Mário havia falecido há doze anos e, como não tinham filhos, desde então o cientista morava sozinho. No interior da casa, Mário mantinha a decoração clássica que era do gosto de sua mulher enquanto viva.

Gomes imaginou que Mário estaria no escritório, onde ficava a máquina do tempo, mas não estava lá. Depois, procurou pela casa toda, mas também não encontrou o cientista. Talvez, ele tivesse saído para fazer compras. Entretanto, Gomes esperou por horas sem que o cientista aparecesse. Preocupado, Gomes encontrou o caderno de anotações de Mário. Entre cálculos matemáticos intrincados, havia algumas anotações curiosas:

"Ano 3023. Maravilha. Progresso tecnológico infinito. Viagens a outras galáxias. Paz na humanidade."

"Ano 7054. Milhares de civilizações pelo Universo. Guerras intergalácticas. Colapso da humanidade."

Horrorizado, Gomes fechou o caderno. Teria o cientista viajado para algum futuro horrível? E se ele não voltasse? Decidiu esperar até o dia seguinte e, caso Mário não voltasse, entraria em contato com a comunidade científica. Diante de todas as anotações de Mário e vendo a própria máquina do tempo eles haveriam de acreditar.

No outro dia, o cientista não havia aparecido, e Gomes resolveu pedir ajuda. Três dias depois, um engenheiro e dois físicos eminentes foram, junto com Gomes, até a casa de Mário investigarem a máquina do tempo.

Vendo a máquina o engenheiro exclamou:

— É realmente impressionante ele ter construído isso sozinho!

— Não acredito que isso seja possível, mas passarei a acreditar se ver com meus próprios olhos — dizia um dos físicos.

— Penso assim também — disse o outro físico.

Gomes mostrou a eles todas as anotações de Mário, e explicou tudo o que sabia sobre o funcionamento da máquina.

— Bom, para termos certeza de que a máquina funciona, alguém precisa ser a cobaia — disse o engenheiro — Eu topo ser essa pessoa.

— Concordamos — disseram todos.

Então, o engenheiro entrou na máquina do tempo. Gomes lhe passou todas as instruções de como programar a máquina. Ficou combinado que o engenheiro iria até o ano 2150 e logo voltaria, isso seria uma prova para ele mesmo e para os físicos. Depois de alguns minutos, todos viram o intenso brilho vindo de dentro da máquina e a imagem do engenheiro desaparecendo.

— Meu Deus! Como é possível? Ele desapareceu... — disse um dos físicos.

— Vamos esperar que ele retorne logo — disse Gomes.

Passou-se uma hora e o engenheiro ainda não havia voltado, todos estavam muito preocupados. Mas, então, quando já tinham quase perdido as esperanças, perceberam novamente o brilho intenso dentro da máquina e a imagem do engenheiro aparecendo aos poucos.

Quando o engenheiro saiu da máquina, exclamou:

— Ele estava certo... Mário é um gênio!!

— O que você viu? — perguntou um dos físicos.

— Estive no ano 2150 e conheci meu filho cinquenta anos mais velho.

— É fantástico! — exclamou o outro físico voltando-se para Gomes — Você foi o único que acreditou nele... Parabéns!! Não se preocupe, agora toda a humanidade saberá a verdade. Mário, que foi tão ridicularizado, terá a glória que merece. Faremos de tudo para encontrá-lo e, caso isso não seja possível, ele será lembrado como um herói.

Gomes sentiu uma forte emoção. Desejou a volta do amigo e foi às lágrimas. Imaginou que Mário estivesse se aventurando, junto aos humanos do futuro, em viagens interestelares... e teve a certeza de que um dia eles se encontrariam novamente.

Thiago Marques Poeta
Enviado por Thiago Marques Poeta em 13/09/2020
Reeditado em 14/09/2020
Código do texto: T7062544
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