O PEREGRINO - VOL. 2
Como se ditasse uma ordem a um servo, Orax manda que Osvaldo se acalme ou então irá ser morto por aquele animal. Ele achava que tinha matado o animal no espaço ou antes de sair do planeta, mas não aconteceu nada disso. Por ter ficado próximo demais da nave o monstro havia ficado camuflado e entrado na Terra junto.
Orax saca uma arma muito peculiar de dentro da jaqueta, aos olhos humanos nem é semelhante a uma arma mundana. A arma se expande na mão formando uma luva e se espalha pelo braço como água corrente preta, forma-se uma plataforma que parece usar energia captada da Terra, seja o que for, na ponta da arma, isto é, onde ocorre o “disparo” há uma haste que serve para empunhar a arma e nas duas extremidades da haste há dois canhões que emitem uma luz muito forte para onde for apontado; lógico que Osvaldo não parou para analisar profundamente, mas julgou que aquilo não era de metal.
- Use essa! - grita e joga uma arma para Osvaldo.
- É proibido usar armas aqui… Horácio… - o animal cada vez mais furioso solta um rugido e bate a pata da frente com força no chão - como... hã… eu uso isso?
Essa arma é menor e diferente da outra, tem o formato de meia-lua, sem gatilho, sem martelo e sem cartucho. Osvaldo não faz ideia de seu funcionamento.
- Se serve de consolo, esse animal já está muito fraco, eu quase matei ele lá no espaço. Já não deve durar muito - diz Orax.
Um turbilhão de pensamentos inundou a mente do homem do sertão, todas essas novas descobertas sobre espaçonave, animal do espaço e alienígena, o deixa completamente louco e descontrolado. A cidade tem há muito tempo essa fama de ser um lugar onde as pessoas dizem ver OVNIS, mas ele nunca havia pensado que um dia se encontraria no meio deles.
- Se acalme! - Orax grita com ele.
Parte da arma se modifica e uma espécie de bracelete surge de onde Osvaldo não reparou, mas ele instintivamente põe ao redor de seu braço. Porém ele continua sem saber o que fazer.
- Apenas pense, pense em onde quer atirar e ela vai fazer o trabalho para você - Orax tenta conciliar a batalha com o monstro e a conversa com Osvaldo.
Então surge um robozinho flutuador redondo medindo trinta centímetros de circunferência, havia saído de dentro de um compartimento na nave. Desse robô se abre um compartimento onde um lança mísseis aparece, em poucos segundos ele já começa a disparar mísseis teleguiados no monstro.
- Já não era sem tempo, Schwaza! - diz Orax um tanto irritado.
Já Osvaldo, agora cagado, pergunta que tipo de animal é aquele. Orax responde que é um Anlionitio-Cinza e que não é hora para conversas inúteis e ele deve se concentrar em matar o monstro.
O Anlionitio é um animal de uns dois metros de altura, de musculatura bastante robusta semelhante ao rinoceronte-indiano. Ele parte para atacar, movido a quatro patas, mas podendo ficar de pé da mesma forma que um urso fica, seu rosto está corrompido demais para dar muitos detalhes, mas tem uma bocarra e dentes de serra, presas e algumas regiões do seu corpo têm pelos. Com um salto enorme ambos se encontrar no ar, suspensos como se voassem. Algo explode e todos vão parar no chão novamente, a poeira levanta, o ar fica menos respirável. O animal não deve ter gostado de cair sobre as árvores que lhe furaram mais ainda. O animal já estava com uma pata quebrada, o maxilar desfigurado, sem um dos olhos e com rasgos na barriga.
A luta ia os levando para longe da nave e Osvaldo ia ficando mais distante, entretanto, pelo visto ele estava pensando muito em Orax nesse tempo todo, pois um tiro foi dado e a coxa de Orax recebe um dano imenso e começa a jorrar sangue. O tiro o atingiu e ele cai num monte de arbustos verdes. O Anlionitio tenta se aproveitar da situação, mas algo dizia que havia perdido o alvo, talvez sua visão não seja tão boa. O robozinho dispara mais alguns mísseis para confundí-lo.
Orax encontra sua arma entre os galhos caídos, em seguida dispara contra aquele animal mísseis de luz, uma luz amarelada e muito quente a ponto de pôr fogo em uma árvore em poucos minutos. A batalha segue durante pouco tempo adiante, tiro vai, porrada vem e o monstro acaba morto.
Osvaldo caí sentado no chão de tanto alívio, seu coração batendo rápido e ele acaba percebendo que está todo cagado. Orax aparece mancando, um corte imento na coxa, sangue jogando. Sua visão mais turva do que água barrenta, isso não impediu que ele chegasse e puxasse a arma da mão de Osvaldo, que ficara presa pelo bracelete cujo fora tirado às pressas por ele.
- Eu nunca confiaria em você para uma escolta.
Osvaldo até tentou, de início, se defender, porém não tinha energia para isso, nem dignidade e não é justo brigar com um homem que tentou lhe ajudar, mas foi alvejado por você.
- O humano - a voz sai pelo robô flutuante - é uma ameaça para nós, Orax. Ouvi e assisti TUDO o que fizeram na cidade até agora e VEEMENTEMENTE DESAPROVO absolutamente toda sua exposição lá fora.
Osvaldo fica impressionado com a fala do robô que é como uma pessoa falaria e pela máquina em sí, a composição e sua utilidade. Orax reconhece que Osvaldo é alguém que se impressiona fácil do seu ponto de vista.
A noite cai, durante as horas que passaram Bip-Bop, isto é, o robozinho flutuante, trabalhou como um verdadeiro médico em cima dos ferimentos de Orax e depois disso ele já estava praticamente curado por inteiro. Osvaldo, após o estresse ter passado, havia mexido em cada centímetro da nave, revirado as peças danificadas e sobre as ferramentas de reparo: nunca havia visto nada igual de tão estranhas elas eram para ele. Logicamente, não foi seu fracasso que ele relatou a Orax, o que ele disse foi:
- Vou precisar de um ajudante. - diz sem jeito com as palavras - Cobro cinquenta reais pela diária.
- Schwaza, me explique isso.
- O que este homem está dizendo é que de acordo com seu modelo trabalhista, ele deve receber um montante em dinheiro equivalente ao seu dia de trabalho, mas isso também implica nas horas trabalhadas que pela lei desse país - ele faz um cálculo muito rápido e chega a um resultado - são 8 horas e 48 minutos aproximadamente, variando do tipo de serviço e contrato. No caso desse homem, não vai ter contrato algum, ele apenas vai trabalhar e receber o dinheiro no fim de cada dia ou o total no fim de semana.
- Entendi mais ou menos - diz Orax, pensando no assunto, visto que nunca ouviu falar nesse tipo de modelo trabalhista - tudo bem.
- O problema é que você não tem dinheiro. - diz Schwaza por intermédio de Bib-Bop.
Osvaldo dá um suspiro desanimado.
- De qualquer forma eu preciso de dinheiro, tô sem trabalhar faz tempo...
- Osvaldo, por que não vai para casa, descansar e amanhã…
- Eu não… posso... - seu modo de falar, pela primeira vez, representa um estado de desânimo tremendo. Osvaldo diz que sua esposa havia saído de casa por causa das brigas e ele não gosta de ficar em casa sozinho pensando que ela foi embora por sua causa. Orax o convida para ficar, ele cogita acender uma fogueira e comer a carne daquele Anlionitio.
A fogueira foi armada, a carne do animal foi cortada e colocada para assar, havia uma bebida que tinha efeito parecido com o do álcool, mas não era nada da Terra. O tempo foi passando e a atmosfera de preocupação e medo foi dando lugar para uma atmosfera amigável e de festejo, foi a partir daqui que uma entrevista se iniciou por Osvaldo já bastante animado e embriagado pela bebida extraterrestre:
- De onde *hic* tu veio?
Orax não se sente confortável em responder, mas o ambiente está propício para revelações.
- Venho de… outro planeta. Um lugar que é parecido com este aqui.
- Lá também é seco e faz muito calor?
- Eu digo… não aqui onde estamos. Quero dizer que seu planeta é bem mais parecido com o meu do que eu imaginava. Mas aqui parece está em paz, sem guerra, sem mortes…
- Orax… - schwaza dá uma advertência nele por querer expor algo sobre seu planeta.
- Afinal, o que é isso? - ele fala apontando para o robô falante.
Schwaza responde por si mesmo:
- Sou o que vocês daqui chamariam de inteligência artificial consciente, mas como eu não existe igual nesse mundo. - diz parecendo arrogante mesmo não tendo a intenção - Eu coordeno todas as atividades da nave e auxílio em cada passo dado por Orax, sou seu guia e protetor. Eu não sou uma máquina, que é o que você deve achar que eu sou, nem sou um mero robô e sobre o que você chama de tecnologia… eu vou muito além disso.
- Nunca ouvi falar nessas coisas. - Osvaldo é um homem simples do campo, óbvio que não saberia o que é uma I.A. Ao longo de sua jornada de vida, já trabalhou em uma fazenda com enormes máquinas que colhiam o plantio automáticamente ou alguém usava um controle remoto para controlar todos os veículos, mas nunca viu uma máquina que voe, fale e pense como Bip-Bop.
Ele para um momento para refletir
- Foram vocês que construíram as pirâmides do Egito? - fala com empolgação de quem vai obter uma resposta positiva.
- O que é o Egito? - Orax questiona.
- É outro país - Bip-Bop informa - mas bem distante daqui. Lá quase tudo é areia, fala-se outro idioma também e eles tem enormes pirâmides erguidas com pedras gigantes cortadas de forma geometricamente precisa, como um cubo, isso aconteceu há mais de quatro mil anos.
- Nunca ouvi falar disso e duvido muito que meu povo tenha vindo de lá para cá só para erguer pedras para vocês. - sua voz é fria e sem interesse no assunto.
Osvaldo não gostou da resposta.
- Qual a sua idade?
Orax olha de canto de olho para Schwaza e levanta uma das sobrancelhas, indagando fisicamente não saber a resposta.
- Você tem o equivalente a 134 anos na Terra.
- Nossa Senhora. Como isso é possível? - é uma pergunta retórica. - O que veio fazer aqui? Tu é um alienígena, certo?
Novamente Osvaldo reflete sobre os assuntos de quando em quando recorrente de alienígenas brincando de esconde-esconde com os humanos, luzes no céu, discos voadores - apesar da nave na sua frente não ser nada parecido com um disco, mas tem luzes - alienígenas verdes cabeçudos com olhos grandes, mas na sua frente está um alienígena indistinguível de um humano.
- Olha - Orax fala - eu sei que é comum vocês ficarem falando que nós gostamos de passear pelo céu de vocês, raptar suas vacas, introduzir objetos cilíndricos em seus cus e o que quer que seja, mas… - ele hesita pensando em não se abrir demais - Embora a gente tenha essa fama, isso tudo é uma besteira. Mas outros iguais a mim, não sei quantos nem onde estão, já vieram para essa Terra ou ainda estão aqui.
Osvaldo não soube bem o que pensar, por um lado as aparições são falsas, mas por outro lado extraterrestres têm visitado a Terra, mas não são eles que raptam as pessoas usando feixes de luz do centro de suas naves. Complicado de entender.
- Mas os experimentos científicos que vocês fazem, ou que os cientistas fazem com vocês, é verdade ou mentira?
- Isso eu não sei, de verdade. - Orax fica pensativo.
- Quer dizer que não é verdade que há alienígenas escondidos em corpos humanos, governando países e alienando pessoas? - quis usar as duas palavras parecidas achando que eram sinônimos - Os maçons e illuminati… e sobre os reptilianos? Espécies de extraterrestres que se parecem com os lagartos da Terra, dizem que eles estão entre nós...
- Nada disso é real. Parece mais com histórias para pôr medo em crianças, mas admiro a burrice de um adulto que acredita nessas baboseiras. - afirma orax - Não faço a minima ideia desses assunto que falou, mas tem um porém.
Orax usa uma hipótese de que se ele conseguiu desenvolver uma carcaça que faça se passar por humano, então é possível que outros tenham feito o mesmo que ele, mas para não alimentar a imaginação de Osvaldo, ele diz que nunca houve relato de algo assim que seja verdade na Terra. De fato, é possível que existe pelo menos algum alienígena que tenha vindo aqui e se passado por um humano influente, mas isso seria um feito desnecessário e inútil. Qual extraterrestre vai querer viver na Terra se a vida em seu planeta natal é muito superior? Qual vantagem ele teria com isso? A menos que, igualmente ocorreu com Rai Antonelli cujo por acidente caiu na terra e não pode mais voltar ao seu planeta de origem, que era o que ele queria, portanto teve de se contentar em ser gerente de banco no interior do Estado. Isto, claro, é algo que acontece uma em cada um milhão de vezes, mais raro que um câncer em humanos. Azar de quem caiu nessa armadilha.