A Fazenda

Obs. Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança de nomes ou fatos descritos, será mera coincidência.

Autor: M. CANTARELLI

Naquela tardezinha ensolarada, de outubro de 2000 , em uma pequena vila de pescadores, à beira mar, distante 10 km do centro administrativo da cidade de Praia Bonita, onde moravam poucas famílias de pescadores que viviam da pesca artesanal e do artesanato de praia, brincavam os filhos do casal Antônio da Bica e irmã Bastiana, ele um pescador de meia idade, de cor branca, porém queimada pelo sol da labuta, ela uma mulher brejeira, cor branca, também queimada pelo sol. As crianças, uma adolescente com

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16 anos, chamada Beatriz (Bia), uma outra menina com Dez anos, Ana (Aninha) e um menino que chamavam de Quinho (Joaquim) com seus oito anos, este filho de Biu (Severino), vizinho de parede de meia, de Antônio da Bica. A brincadeira era uma prática comum após o horário da escola, corriam e rolavam pela areia, quando Quinho aponta para o mar e fala meio eufórico:

-Olha que barco massa!

Tratava-se de luxuoso iate de 36 metros de proa à popa, de cores branca, com listas azul e preta, com janelas circulares tipo escotilha um pouco à cima da linha d’água. Havia escrito em letras cursivas desenhadas próximo ao deck: “Ducce Vitta”. O barco ia passando do ponto onde estavam as crianças, mas, o piloto fez uma manobra e retornou para um ponto próximo delas, jogando uma corda com um gancho ao mar, ancorando. Da Embarcação desceram 3 dos quatro tripulantes, um negro alto e musculoso, e os outros de pele clara e estatura mediana. Ao verem o barco atracar nas suas imediações. Quinho se aproximou mais, para admirá-lo, quando um dos homens desembarcados o chamou:

-Ei, menino! Chamou um homem de cor negra ao desembarcar.

-Senhor?

-Quer dar uma volta no meu barco?

-Não senhor, meu pai não deixa. Respondeu Quinho.

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Neste momento os outros dois desembarcados, também tentavam convencer Bia e aninha a embarcarem no iate.

Dado a recusa das crianças os homens agarraram as crianças menores: Aninha e o Quinho, e tentavam joga-los para dentro do barco, quando Bia pega um pedaço de um remo que estava sobre uma velha canoa abandonada e partiu para cima do negro tentando convence-lo a deixá-los em paz, mas, num golpe ele a puxa para próximo do seu corpo e a imobilizando sacudiu a adolescente para dentro da embarcação, liberando os menores. Os homens embarcaram e imediatamente o piloto, que não havia desembarcado, recolhe a âncora, dando partida nos dois motores de popa Mercure de 100 hp’s, partindo velozmente rumo ao alto mar.

Aninha e Quinho correram para os seus casebres gritando:

-Mãe, corre, levaram a Bia, levaram a Bia! Gritou Aninha.

-Valha-me Deus, quem fez uma desgraça dessa, como foi isso, murmurou Bastiana, colocando as mãos sobre sua cabeça emoldurada por um lenço branco, correndo em direção à praia.

-Chama teu pai, pelo amor de Deus, gritou Bastiana para Aninha. Foi o maior pega-pra-capar naquele vilarejo. Corre um daqui, corre outro d’ali, o que aconteceu comadre? Pergunta Ciço da Canoa, um dos pescadores que assim como Antônio, tomavam uma cachaça na

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barraca de Zé Biró, um velho barraqueiro da vila de pescadores, que sempre tinha um tira-gosto de caju ou um limão para servir à sua clientela.

-“Robaro minha fia, robaro minha fia”. Respondeu Bastiana, enxugando as lágrimas e o suor com a ponta do avental branco, porém amarelado de sujeira.

-“Cuma foi isso?” pergunta outro.

“Quem foi que robaro?” indaga Biu Cioba.

-foi a Bia, compadre!

-Quem foi esse cabra da peste, quando eu pegar, ele vai me pagar, vou mandar ele pros quintos dos infernos. Berrou Antônio da Bica.

O buruçu estava rolando quando de repente estacionam dois quadriciclos marca Canan de 400 cilindradas personalizado com as cores de camuflagem da polícia militar, que faziam ronda nas areias da praia. Descem os dois policiais, com a curiosidade aguçada, e um deles logo pergunta:

- O que é que está pegando aqui? Perguntou o sargento Borba.

-Foi uma menina que foi levada, por um pessoal num barco. Respondeu um dos curiosos que fazia parte do grupo.

-Quem estava com ela na hora? Quem são seus responsáveis? Perguntou o Soldado Martins.

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-Ela estava brincando com a irmã e o menino da vizinha. Respondeu Bastiana.

Após anotar todas as informações obtidas, o Sargento aproxima-se do seu quadriciclo e pega um rádio comunicador do tipo walk talk, preso ao veículo por um cabo em formato de espiral, aciona o botão para mandar uma mensagem e fala:

- “Atento base”, e solta o botão para ouvir uma voz de megafone responder “atento patrulha, pode falar”.

- ”Passe” um rádio para a guarda costeira, uma adolescente foi raptada na praia do coqueirinho, por um pessoal em um iate branco com listas azul e preta. Acione o serviço de busca aérea urgente para localizar um barco com estas características.” Câmbio desligo.

Já estava escurecendo quando se ouviu o barulho dos motores de um helicóptero voando baixo. Era um modelo esquilo da guarda costeira, devidamente personalizado em tons de azul mar, onde podia se ler estampado na sua fuselagem: MARINHA DO BRASIL e as letras PP-BR. Havia na parte de baixo um refletor de LED já aceso, geralmente usado para buscas à noite.

CAPÍTULO II

A BUSCA

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Estava iniciada a busca para localização do barco descrito pelas crianças. A aeronave sobrevoou uma área de aproximadamente 30 km2, onde pode visualizar alguns barcos pesqueiros, um navio de cruzeiro, e uma ilhota há 4 milhas da costa, a ilha de Stº Isidoro, mas, nada do iate com as cores e modelo descrito. A noite já era escura, por volta das 22 horas, e o helicóptero retornou à base de campanha próximo à vila dos pescadores. Às 05h00 da manhã, o sol com seu hemisfério inferior ainda escondido abaixo da linha de horizonte, 02 barcos pesqueiros, com cerca de 04 homens cada, se lançaram em direção ao oceano, em uma busca alucinada de alguma notícia do tal iate, o Ducce Vitta. Durante todo o dia outros barcos além do Helicóptero militar, fizeram várias buscas, porém infrutíferas, nada, nenhum iate, ou barco foi visualizado com aquelas referências, apenas os barcos de pesca, e uma ilha, que não era possível se visualizar nenhum barco atracado., mesmo com a facilidade da vista aérea. Somente, um Galpão e um Heliporto, com a logo LPS – Laboratório de Pesquisas Submarinas. Um dos barcos dos pescadores aproxima-se do kennel onde fica a entrada do píer, porém como não visualizaram o iate, encoberto pelas inúmeras formações rochosas e escuras das cavernas existentes, desistiram.

CAPÍTULO III

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A viagem

Amordaçada, e amarrada nos pés e mãos, Bia se retorcia como uma minhoca tentando se desvencilhar das amarras, mas sem sucesso. Outras duas mulheres se encontravam na mesma situação. Em uma das suítes no 2º andar da embarcação. No luxuoso iate composto de 04 suites, duas por andar, um deck com uma banheira tipo jacuzzi, com piso em madeira naval envernizada, além da cabine de comando com todos os equipamentos náuticos. Com exceção do piloto, os homens bebiam e se jogavam na jacuzzi, comemoravam o sucesso de sua operação. À toda velocidade, o barco navega em direção à Ilha de Sto. Isidoro.

- Bem que a gente poderia animar mais a nossa festinha. Disse um dos homens.

-Como assim? Pergunta o outro.

-As meninas... Responde o Negro (C2).

-Você está louco? indaga C1.

-Se a administradora A1 souber, manda nos matar. Retrucou C3.,

Mas, não adiantaram os argumentos, C2 se dirigiu à suite 2, onde estava amarrada sobre a parte inferior de um beliche, uma das moças, a Bia. Aplicando-lhe vários

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golpes em sua cabeça, fazendo-a desmaiar, mesmo com o rosto ferido, arrancou bruscamente as suas vestes, ensanguentadas violentando-a, brutalmente.

Formada pelo resfriamento do magma de um vulcão submarino, a ilha de Santo Isidoro possui várias cavernas, e reentrâncias formando um relevo ao mesmo tempo belo e inóspito, mas apesar deste relevo existe um platô, onde existe um galpão e um heliporto, sobre a coberta do galpão lê-se em letras gigantes para visualização aérea a sigla LPS (LABORATÓRIO DE PESQUISAS SUBMARINAS). O Galpão possui dois andares, sendo um térreo e outro no subsolo. Ao aproximar-se da ilha o iate entra em uma das reentrâncias por baixo de um arco rochoso. O piloto fala através do rádio comunicador com uma espécie de controle de tráfego, como se fosse uma aeronave solicitando permissão para pouso à torre de controle:

-Atento controle, DV solicitando permissão para atracar.

Ouve-se em voz metálica: “ok DV, autorizada atracação”.

Reduzindo a velocidade o barco aproxima-se de um dos dois pier’s, o marinheiro joga uma corda de nylon azul que é pega por um marinheiro que se encontrava no cais. Havia também 04 homens elegantemente vestidos, com ternos pretos e gravatas, e fortemente armados portando metralhadoras russas modelo AR-15, guardando a entrada de uma edificação de arquitetura moderna ao lado do píer escondida pelo arco de rochas magmáticas.

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Na operação de desembarque desceram primeiro C1 e C2, (designações referentes a capturador, cargo que ocupam na organização) com uma das moças capturadas, desacordada em seus ombros e a entregando aos dois primeiros, que a colocaram em um tatame sobre o deck de madeira do píer, voltando depois para pegar uma outra e depois a última. Depois desembarcam C3 e C4.

De uma porta de vidro, emoldurada com um portal de granito verde Ubatuba, saem uma mulher e um homem trajando um macacão, que lembra o uniforme de serviço dos astronautas da NASA com uma logomarca bordada no bolso da parte superior com as letras LPS. Ao ver a mulher ensanguentada, a mulher pergunta aos capturadores:

-O que aconteceu com ela? eu disse que queria as vacas inteiras, como se explica isto?

-Desculpa A1, essa danada nos deu um pouco mais de trabalho, tivemos que desacordá-la. Respondeu C2, meio desconfiado.

-Que isso não se repita. Retrucou a administradora A1.

-Coloque-a na enfermaria, e as demais nas baias que estão desocupadas.

- Sim senhora. Respondeu C2, colocando uma das mulheres sobre um dos ombros. E assim fizeram os outros marinheiros, C1, C3 e C4, todas relutando, mas sem a menor chance de se desvencilhar das amarras.

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CAPÍTULO IV

A ESTRUTURA

Um helicóptero modelo Kc-200 de alto luxo, acaba de pousar no heliporto ao lado do galpão, e dele descem primeiro o piloto, e depois um casal. Ele, um grande empresário o Dr. Alfred Müsk, dono de uma holding que agrega vários setores da economia e sua esposa a Srª Anne Müsk. Sendo recepcionados por um cerimonial de duas moças elegantemente vestidas, que os conduzem pelo corredor de uma espécie de museu oceanográfico até um elevador camuflado, por de um biongo formado pelo quadro à óleo com a figura de um Camarão. Ao entrarem todos no elevador, uma das moças do cerimonial aperta um botão azul que os conduz ao subsolo, onde são recebidos pela administradora A1. Formalizadas as apresentações, esta, o leva a percorrer as instalações da fazenda, detalhando cada espaço.

- Me acompanhem por favor. Diz A1.

-O senhor há de convir que nosso negócio deve ser mantido no mais absoluto segredo, não é, pois, uma grande parte da sociedade nos condena, nos acusam de sermos desumanos, antiético etc, mas vidas queridas e desejadas estão sendo salvas......

-Mas outras estão sendo tiradas. Retrucou a esposa do empresário, com ar de censura.

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-Vidas que não existiam, e foram produzidas com o único objetivo: o de salvar vidas desejadas e amadas, como a do seu filho.

- Quanto a isso não discordo, afinal meu filho está necessitando de um dos seus órgãos para sobreviver.

O passeio pela edificação continua.

-Como os Senhores perceberam temos um galpão com 5.000,00 m2 de área, no piso superior, ao lado o heliporto.

-Por falar nisso o que significa a sigla LPS, no círculo central do heliporto? Perguntou o empresário.

-Laboratório de Pesquisas Submarinas. Respondeu a administradora A1. No piso superior, continua A1, temos um museu marinho, com vários aquários gigantes com cerca de 20 m3 cada, com várias espécies de peixes, crustáceos, e animais marinhos, alguns raros, e nativos de águas profundas, e ao final deste pavimento temos um laboratório com algumas bancadas com lavatório, microscópios e monitores, aqueles cobertos por uma manta azul com a logo LPS, porém, pouco utilizado.

-Aqui no subsolo, saindo do elevador exclusivo para os administradores e clientes, temos uma verdadeira estrutura hospitalar, com piso em porcelanato e paredes divisórias de laminado, totalmente climatizado, e limpo. Nas 12 baias existentes, em cada, temos uma cama hospitalar, uma mesa de apoio, um wc e um purificador de água, com grades de alumínio, para evitar qualquer tipo de surpresa, em paralelo à uma parede de vidro

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temperado, onde há uma pequena prancheta de anotações com as especificações e uma linha onde tem escrito “órgão comercializado:”. Temos 10 celas que chamamos de baias, e todas temos uma mulher produzindo um doador.

-Por que todas estão dormindo? Pergunta o empresário.

- Tranquilizantes. Responde a administradora. Não podemos dar bobeira.

As outras duas baias tinham uma destinação diferente, Era um berçário, com 10 berços, alguns com um bezerro (bebê). Uma equipe de enfermeiras e faxineiros são responsáveis pela manutenção, alimentação e higienização dos “garrotes”, assim como de toda a fazenda. Uma sala de coleta de material genético uma outra para fertilização, congelamento, incubação e fecundação in vitro dos óvulos, uma sala de cirurgia, onde é feita a implantação do óvulo fecundado no útero das “vacas”, um refeitório e uma sala de comunicação com rádios de frequência exclusiva, e internet, por satélite, bem como uma secretaria de vendas online, onde nossas duas secretárias atendem às ligações ou e-mails e nos encaminham. Temos ainda um refeitório onde servimos refeições da gastronomia pernambucana para funcionários e clientes.

Saindo por um portal de vidro temperado, emoldurado por um fino acabamento de mármore travertino, que separa o elegante hospital da área natural da ilha, A1 aponta para a porteira de entrada dos barcos, onde fica

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o píer de madeira encoberto por uma caverna marinha, escupida pelas onda do mar, e onde ficam os barcos.

-Muito interessante. Argumenta o Empresário.

CAPÍTULO V

O negócio

Ao aproximarem-se de uma porta de vidro, A1 a empurra torcendo o seu trinco adentrando a uma sala muito bem decorada com vários quadros e estantes, livros de medicina, genética, biologia e química, fazem parte da decoração. A1 convida então o casal a entrar.

-Aceita um café ou um chá? Oferece A1 sentando-se na parte de trás de um birô de móguino, apontando para as cadeiras dispostas à frente do birô.

-Uma água por favor. Responde a esposa do empresário, seguida do próprio.

- Vamos necessitar de preencher um formulário, meramente burocrático, mas de suma importância para o nosso projeto. Por favor pode preencher:

FORMULÁRIO DE SOLICITAÇÃO DE ÓRGÃOS

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1.0 Paciente:.......................................................................................

2.0 Reponsável:...................................................................................

3.0 Hospital solicitante:.......................................................................

4.0 Órgão(s) requerido(s):....................................................................

5.0 Fator RH:...............................

6.0 Idade do paciente:..................

7.0 Raça:

Branca ( )

Negra ( )

Parda ( )

Índio ( )

Amarela ( )

8.0 Estado do paciente:

Valor do projeto: USS$....................(...................................................................)

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Praia Bonita - PE / /

Ass. Responsável.

Após o preenchimento:

FORMULÁRIO DE SOLICITAÇÃO DE ÓRGÃOS

1.0 Paciente: Alfred Müsk Júnior

2.0 Responsável: Alfred Müsk

3.0 Hospital solicitante: Albert Asteinn

4.0 Órgão(s) requerido(s): Coração e Pulmão

5.0 Fator RH: A (-)

6.0 Idade do paciente: 03 anos

7.0 Raça:

Branca ( x )

Negra ( )

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Parda ( )

Índio ( )

Amarela ( )

8.0 Estado do paciente: Terminal.

Valor do projeto: USS$ 500.000,00 (Quinhentos mil Dólares)

Praia Bonita - PE / /

Assinado: Alfred Müsk

Concluídas as formalidades burocráticas.

A1 tecla um botão de um interfone, que prontamente uma atendente responde.

-Pronto?

-Preciso de uma de vocês aqui, por favor.

-Pois não. Responde a atendente do outro lado da linha.

Dois minutos depois, a porta de vidro se abre, aparecendo uma enfermeira.

-Encaminhe o casal para a sala de coleta de bio informações, por favor. Pede A1, apontando para o casal.

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-Só uma coisa por favor, como vocês conseguem produzir os órgãos com a idade compatível com a do paciente, já que o bezerro ainda será gerado? Indaga Alfred.

-Segredo industrial. Responde A1, com ar de riso.

-Produzimos um hormônio do crescimento sintético, que no momento da fecundação já é introduzido na vaca, e após o nascimento, rapidamente o bezerro adquire tamanho e forma compatíveis com o receptor do órgão. Completa A1.

-Aí está o segredo industrial. Repercute Alfred Müsk, levantando e ajudando a esposa alevantar também.

- Sr. Alfred, assim que o bezerro nascer, lhe mandarei um e-mail. Lembrou A1.

-Só mais uma coisa, o que será informado sobre a procedência do órgão, com certeza o Hospital terá que informar às autoridades?

-Não se preocupe, a nossa organização tem tudo devidamente planejado, com pessoas certas nos locais certos.

CAPÍTULO VI

A COLETA

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Conduzidos até uma sala onde são encaminhados a um box onde ele colhe seu material genético, e a esposa, acompanhada por outra enfermeira devidamente paramentada com trajes em tecido cirúrgico, solicita à esta que troque a roupa por um jaleco, e em um outro box com uma maca faz a coleta do se material genético. Todo material colhido é colocado nos tubos de ensaios e entregues à uma médica geneticista. Após a fecundação dos óvulos, estes são colocados em uma seringa para introdução intrauterina. Todo procedimento prévio realizado, A1 pede para que uma das vacas que se encontravam nas baias fosse preparada para receber o óvulo fecundado. Uma enfermeira prepara então a mulher que se encontrava na baia 2, (a cela onde estava Bia).

Introduzido o óvulo, com a mulher anestesiada. O casal retorna ao seu helicóptero, onde o piloto estava aguardando para decolar. Transferido a metade do valor acordado para o projeto. Despedem-se com um aperto de mão, e A1 dá mais uma recomendação:

-Não esqueça de manter o seu filho nas máquinas até o bezerro ser totalmente produzido.

-Pode deixar. Responde Alfred Müsk, ajudando sua esposa a entrar na aeronave.

CAPÍTULO VII

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A CLIENTELA

O interfone sobre a mesa de A1 toca, apertando uma das teclas do aparelho a administradora pega o fone para atender.

-Alô! Fala A1.

-Doutora, tem uma chamada para a senhora na linha verde.

-Quem é? indaga A1.

-É o doutor Michel Emiliano do Sanit Poul Center Hospital de Nova York. Responde a recepcionista.

-Eu atendo. Informa A1, apertando a tecla verde do aparelho.

-Hello, Doctor Michel, how are You?

-Hello, i’m fine and you? Responde o Dr. Michel, que continua:

-I need my piece as soon as possible.

Ok let’s arrange for tomorrow. You can send a carrier to pick it up.

Ok, thank you. Responde o médico.

Encerrando a ligação, A1 aperta outra tecla do interfone, e pede para a atendente:

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-Alô, providencie o bezerro do B3 para amanhã.

No dia seguinte conforme o combinado, um helicóptero, pousa ao lado do galpão, desembarcam dois enfermeiros, que são escoltados pelo cerimonial até a sala da administradora.

-Goodmorning, falou um dos enfermeiros.

-Goodmorning, respondeu, A1, teclando um dos botões do interfone.

-Alô, pode trazer a peça do Dr. Michel. Passados alguns minutos chega ao escritório uma das atendentes da fazenda, trazendo um cooler, com gelo e totalmente vedado com fitas adesivas.

-Here is the piece. Fala A1, entregando a caixa aos portadores.

Thank you. Agradece o enfermeiro.

Congratulacion to Doctor Michel. Despede-se A1, voltando para o interior do galpão.

-Com um misto de prazer por salvar mais uma vida, e tristeza, pelo método utilizado, A1 respira e desce pelo elevador secreto. No subsolo ao sair do elevador, A1 é abraçada por C2, que a beija calorosamente.

-Agora não. Interrompe a mulher.

-Você é louco? Se alguém souber do nosso relacionamento seremos demitidos.

- Quem vai ter coragem de te entregar? Indaga C2

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-Nunca se sabe, e além do mais não quero ser vista com intimidades com subalternos. Retruca A1 afastando-se.

Ao aproximar-se da sua sala é interpelada pela telefonista.

-Dra. Tem um e-mail para a Srª.

-Ok. Obrigada.

Em sua sala abre a tela de e-mails do seu computador pessoal, e passa a ler os últimos e-mails. O mais recente diz:

-Olá Drª, eu sou pai de um menino de 2 anos que sofre de uma doença rara que está destruindo o seu fígado, e a única opção para salvar a sua vida será o transplante do órgão. Tomei conhecimento do seu trabalho, através do Dr. Ricardo Montarelli do Hospital Memorial Santa Margarida de São Paulo, onde ele está internado em uma UTI, em estado pré-terminal. Pelo Amor de Deus, ajude a salvar a vida do meu filho, eu não tenho dinheiro, mas posso pagar com serviços, se Srª me ajudar. Atenciosamente, Severino José da Silva.

Assim como outros funcionários da fazenda, que da mesma forma estão pagando o favor com serviços prestados, este será mais um provável capataz para a fazenda.

A1 lê o e-mail, e fixa o olhar na tela pensativa, será que não seria uma armadilha de algum detetive? De qualquer maneira ela tem o contato do Dr. Ricardo Montarelli, e responde o E-mail:

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-Boa tarde, teremos o maior prazer em lhe ajudar, porém, necessito de detalhes mais específicos a respeito do caso do seu filho. Vou lhe enviar um formulário para que o Sr. me retorne devidamente preenchido.

Após encaminhar o e-mail, A1 toma o interfone e apertando uma tecla, pede à secretária:

-Me contate com o Dr. Ricardo Montarelli por favor.

-Pois não Drª. Só um minuto. Responde a atendente.

Passados 5 minutos, o interfone toca.

-Pronto. Atende A1.

-Dr. Ricardo na linha Drª. Informa a atendente.

-Obrigada.

-Alô, Dr. Ricardo, tudo bem como estão as coisas?

-Alô! Quem fala? Pergunta o médico no outro lado da linha.

-Aqui é a Drª Rafaella, administradora da Fazenda. Responde A1.

-Eu já estava aguardando sua ligação. Informa o médico.

-Ah, então é verdade?

-Sim, estou precisando de mais um favorzinho de vocês.

-Sei, e qual seria o órgão?

-Um fígado para um menino de 2 anos, de cor branca. Responde o médico.

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-O pai me mandou um e-mail, estou ligando para confirmar a veracidade do caso. Alega A1.

-Pode ficar tranquila, é a mais pura verdade. O problema é que o pai não tem condições de bancar o projeto. Confirma o Dr. Ricardo.

-Isso a gente tem como contornar, temos uma política de atendimento para estes casos. Tranquiliza A1.

-Estou enviando um modelo de cadastro, preencha-o e me mande para darmos início ao projeto.

-Fico te devendo “esta”. Brinca o médico.

-Não agradeça Dr. O favor será cobrado de alguma forma, aguarde.

-Até breve. Despedem-se.

CAPÍTULO VIII

O projeto

Em um luxuoso escritório, no topo do Empresarial LPS, os médicos Dr. Marcus Túlios e André Timóteo, sócios nos empreendimentos A Fazenda e no Laboratório, comemoram o resultado financeiro de seus negócios. Entre uma dose de whisky e outra, conversam alegremente, jogando pebolim.

O telefone toca.

- Alô. Atende o Dr. Marcus.

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-Alô Marcus, é Rafaella. Responde A1.

-O que há de novo? Pergunta Marcus, com ar de apreensão.

-Não é nada, é que tem um projeto de caridade, queria saber se posso aceitar. Justifica A1.

-Para quem é? Pergunta Marcus.

-É um paciente do Dr. Ricardo Montarelli do Hospital Memorial Santa Margarida de São Paulo, o Responde A1.

-Infelizmente, não podemos atender, o risco de um projeto deste vazar por esse pessoal é muito grande e não nos permite, fazer caridade.

Argumentou Marcus.

-Concordo Dr. Mas, nós estamos carecendo de gente para trabalhar, e estamos com uma baia disponível, precisando de uma vaca, achei que eles poderiam nos pagar o favor com trabalho, tanto para o pai como a mãe. Retrucou A1.

-Neste caso faça a proposta. Concorda Marcus.

-Ok. Vou entrar em contato com o Dr. Montarelli. Tchau.

Despede-se A1 encerrando a ligação.

No mesmo instante, solicita à telefonista, que ligue imediatamente para o Dr. Ricardo Montarelli.

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-Alô, Dr. Montarelli, preciso falar com os pais do seu paciente.

-Pois não, eles estão aqui, vou pedir para que eles venham falar com você.

-Ok. Fico na linha.

-Alô! Fala o Sr. Severino, com a voz embargada, pois seu filho tinha vomitado, e necessitando ser atendido com urgência pela equipe de médicos da UTI sendo imediatamente entubado.

-Sr. Consultei meus superiores, e temos uma condição para que executemos o seu projeto. Informou A1.

-Qual, pode dizer que eu faço, só não posso deixar meu filhinho morrer, por favor eu faço qualquer coisa. Desabou em prantos.

-Você e sua esposa terão que trabalhar para a gente, aqui no laboratório por pelo menos 2 anos sem remuneração. Alimentação por nossa conta.

-Aceito! eu aceito, eu já disse que faria qualquer coisa...

-Perfeito, aguarde as orientações que mandaremos pelo E-mail do Dr. Montarelli.

O Dr. Montarelli, ao abrir a sua caixa de entrada do seu e-mail pessoal, visualiza a seguinte mensagem :

Ao Dr. Montarelli

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Assunto: Confirmação de projeto:

Bom dia, Dr. Montarelli, conforme entendimentos anteriores, segue o formulário padrão para a realização do projeto.

Abre então o anexo do e-mail.

Dados Cadastrais

Paciente:................................................................................

Idade......................................................................................

Pai biológico...........................................................................

Mãe biológica........................................................................

Médico responsável...............................................................

Órgão requerido....................................................................

Fator RH.................................................................................

Idade..........................................................

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Cor................................................

Sexo....................................

Gentileza devolver, devidamente preenchido, o formulário anexo.

Solicitamos que estejam os pais biológicos do paciente no aeroporto de Guarulhos ás 14h30 da próxima segunda feira, para embarque no voo gol 2012 das 15h30, vouchers W2A12 e W2A13, com destino ao Recife, onde o nosso pessoal do receptivo os encontrarão na sala de desembarque doméstico, onde serão imediatamente embarcados em nosso helicóptero com destino à ilha de Santo Isidoro, para que façamos as coletas do material genético.

Atenciosamente,

A1 - Administradora chefe.

Já na fazenda, são atendidos por A1, em sua sala, onde são esclarecidos de todos os procedimentos e assinado o contrato de permuta de serviços.

-Agora vamos aos detalhes. Fala A1. Não sei se os Srs. Perceberam, mas, no contrato que os Srs. Acabaram de assinar, tem uma cláusula onde fica estabelecido que a Srª Maria Isabel trabalhará para a fazenda por 2 anos.

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-Mas eu não posso ficar aqui esse tempo todo, e meu filho que está no hospital? Eu tenho que ficar com ele.... reclamou Isabel.

-Infelizmente, este é o preço. Ou isso ou nada feito, e o seu filho não terá a nossa ajuda para sobreviver. Retruca A1, se arrumando na sua confortável cadeira giratória, colocando uma xícara de café na boca.

Em prantos, a mulher sede e olhando para o marido, exclama:

-Tome conta do nosso bebê, eu vou fazer este sacrifício por ele.

A1 então fecha o contrato, e o guarda em um cofre próximo arrastando-se em sua cadeira.

-Tudo pronto. Amanhã cedo vamos proceder à coleta dos materiais genéticos, e após este procedimento o Sr. Embarcará para o aeroporto de Recife para a sua viagem de volta para São Paulo, no voo das 16h00. A passagem já está disponibilizada em seu CPF.

-Tudo bem Drª. E onde passaremos esta noite?

-Não se preocupem, já está tudo organizado. Responde A1, apertando uma das teclas do interfone.

-S2?

-Sim!

-Peça para o pessoal da hotelaria, vir aqui.

-Ok Drª.

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Após alguns instantes chegaram uma das moças do cerimonial e um carregador de bagagens.

-Leve os nossos hóspedes para o seu quarto por favor. Solicitou A1. Às 19h00 os srs. Receberão o jantar em seu quarto e amanhã às 7h00 será servido o café da manhã. Às 8h00, os Srs. serão encaminhados para a sala de coleta. Completou.

CAPÍTULO IX

Na vila dos pescadores

No casebre de Antônio da bica, a movimentação já não era mais como nos primeiros dias após o sequestro de Bia, somente à noite se faziam uma novena com as mulheres dos pescadores, todas as noites daquele verão que se seguiram indefinidamente. Todos os participantes traziam os seus tamboretes, as mulheres com seus véus brancos e na mão uma bíblia e um crucifixo com várias pérolas onde era marcado o número de vezes que se rezava a Ave Maria”.

-Ave Maria Mãe de Deus, rogai por nós pecadores.... E assim se passavam vária horas, naquele lamento contínuo.

Os homens, se reuniam na bodega de Biró para jogar conversa-fora, tomar cachaça e assuntar o paradeiro daquele “filho de um égua” que levou “minha fia”, dizia

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sempre Antônio quando alguém tocava no assunto. Vez ou outra vinham uns cantadores repentistas, que naquele lugar era o jornal falado, ouvia as histórias em um lugarejo e as recontavam em versos rimados em sextilhas ou decassílabos. Naquela noite, não foi diferente, mas, um novo fato aconteceu, na bodega de Biró, quando uma dupla de repentistas fazia uma peleja em sextilhas de galope à beira mar:

Um cantador começa:

“Na vila do coqueirinho,

Algo estranho aconteceu,

Robaram a fia do cumpadre

Sabe lá onde se meteu...

Pobre do Tonho seu pai,

Sofre mais que Zebedeu...”

O outro responde:

“Acho que lavaram ela,

Pra casa da luz vermelha,

Pois vi ontem na janela,

Bem debaixo de uma telha,

31

Uma moça era donzela

Tão bonita sem parelha...”

Com essa, Antônio logo puxou uma peixeira de 10 polegadas (faca de cortar peixe), e aos gritos foi pra cima do cantador.

-“Vosmecê vai arretirar essas coisa da sua musga ou infiu essa faca no seu buxo cabra”. Bradou Antônio, concretizando sua ameaça. O pobre do cantador caiu desfalecido.

-Que foi isso cumpadre, num carecia isso, valha-me Deus, socorre. Gritou um dos espectadores, chama Biu da Rural pra mode socorrer o home.

A essa altura a confusão estava formada, as mulheres logo abandonaram a novena e desabaram na carreira, pra ver o que tinha acontecido na bodega de Biró.

-O que foi isso Minha Nossa “Sinhora”. Perguntou uma das mulheres ao ver a poça de sangue se espalhando na calçada.

-Foi Tonho da Bica que furô um home.

-Valha minha nossa Sinhora. Lamentou a comadre Bastiana. “Pro mode que Tonho foi fazer uma desgracera dessa meu Deuso.”

Antônio desapareceu, tomando o rumo do mato em meio à confusão formada. Procurando esconderijo

32

para escapar da polícia e dos filhos do cantador, que naquele momento acabara de falecer. Não vislumbrando nenhum lugar melhor, onde pudesse se esconder naquela noite, pois, todos naquele vilarejo estavam no seu encalço. Escalando como uma lagartixa, o muro do pequeno cemitério da localidade, caindo do outro lado cambaleando. Na capela do velório havia um corpo em uma rede, aguardando para ser sepultado no dia seguinte. Não teve dúvidas, trocou sua roupa com o cadáver e puxando por um dos lados da rede, fazendo com que o corpo caísse no chão, arrastando-o em seguida para dentro de uma vala que já estava preparada para o enterro, jogando-o para dentro. Voltando para a rede, deitou e como havia tomado umas doses de aguardente dormiu tranquilamente até acordar com a luz do sol e o movimento dos coveiros suspendendo a rede para proceder ao sepultamento. Com os bruscos solavancos da rede ele ainda embriagado, levanta a mão pedindo mais uma dose.

-Ô Biró, manda mais uma dose da boa.... Balbucia.

Os coveiros ao ouvirem o “defunto” pedir uma cachaça, largaram a rede no chão e dispararam numa carreira que até hoje não se sabe os seus paradeiros. Porém ao passar pelo centro da vila gritando:

-O defunto tá vivo, o defunto tá vivo......

Neste instante, todos correram para o cemitério a fim de confirmar a notícia. Ao chegar no local, Antônio foi imediatamente reconhecido pelo grupo que o conduziu para a delegacia e o entregaram ao delegado.

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-Esse é o home Dr. Tava lá no cemitério se passando por defunto.

O delegado não se conteve e caiu na risada.

-Deixe o “cabra aí” na gaiola, mais tarde quando a cachaça passar eu converso com ele.

CAPÍTULO X

Mais uma encomenda

No dia seguinte, pensativa em sua sala, A1 recebe um toque no interfone.

-Pronto. Atende A1, apertando uma tecla da máquina.

-É para a Srª abrir um e-mail que acaba de chegar. Responde a atendente.

-Ok. Com o mouse, A1 abre a sua caixa de e-mails e lê o seguinte, texto:

Bom dia.

Somos um casal homossexual, e sonhamos em ter um filho, porém queremos que através de manipulação genética, pois sabemos da sua capacidade, é possível que tenha as características minha e do meu parceiro. Quanto aos custos não se preocupe, dinheiro não é problema.

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No aguardo de uma resposta,

Atenciosamente,

Alex e Jean Pierre di Salvattori

Em resposta ao comunicado, A1 escreve:

Bom dia,

Este não é exatamente o produto do nosso laboratório de pesquisas, entretanto, ajudar as pessoas em suas necessidades e anseios é nossa meta majoritária. Antes de mais nada, me informe como tomou conhecimento do nosso trabalho?

Atenciosamente,

A1- Administradora

E-mail enviado.

O interfone toca novamente.

-Drª temos um problema em uma das baias. Informa a atendente.

-O que houve? Pergunta A1.

-Uma das internas está alterada.

-Vou ver.

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Ao se aproximar do setor das baias, A1 pode verificar que a interna da baia 2 (Bia), estava totalmente surtada se debatendo nas barras de alumínio que fecha a cela, esbravejando palavrões e tentando de todas as maneiras arrebentar a grade que tranca a sua cela.

Apliquem um dardo tranquilizante nesta vaca, diz A1 aos enfermeiros que assistiam à sena.

-Mas ela está prenha. Lembra um dos enfermeiros.

-Não tem problema, coloque uma dose menor, só pra ela se acalmar. Corrige A1.

Ok. Responde o enfermeiro.

Outras mulheres também se rebelaram, e todas da mesma forma acalmadas.

-Daqui há uma hora, quero que a levem para a sala de ultrassonografia, preciso me certificar da gravidez dela. Pediu A1 aos enfermeiros.

Retornando à sua sala, A1 retorna ao seu lap top, e checa o seu e-mail, onde leu o retorno do e-mail do casal Alex e Jean Pierre.

-Temos um amigo que conseguiu curar o seu filho, graças à ajuda do seu laboratório, que nos deu boas recomendações do seu trabalho, e o seu filho hoje se encontra em perfeitas condições de saúde.

Atenciosamente,

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Jean Pierre.

Em resposta à este e-mail, A1 escreve:

Segue cadastro, para abertura do processo, após o seu preenchimento, retorne-os por favor.

Quanto ao valor do projeto fica por US $ 500.000,00 (Quinhentos mil dólares). Sendo 50% na assinatura do contrato e 50% em 9 parcelas iguais e mensais

Após a assinatura do contrato vocês devem se hospedar no Ritz Hotel em Recife, no próximo final de semana para que nosso pessoal os pegue para coleta de material genético.

CAPÍTULO XI

A Prisão de Antônio da Bica

No dia seguinte à sua prisão, já curado da carraspana, o delegado ordena ao carcereiro que traga Antônio para a sua sala, a fim de dar início ao interrogatório.

-Vou lhe fazer umas perguntas, se não quiser responder, é direito seu, porém tudo que disser posso usar contra você. Tudo bem? Indaga o delegado.

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-Sim senhor, responde Antônio da Bica.

-Confirme seu nome completo: Pede o delegado Xavier.

-Antônio José dos Santos. Responde Antônio.

-Onde o Sr. Estava na noite da última sexta feira?

-Eu “tava” na barraca do “cumpade” Zé Biró, com uns amigo. Responde Antônio.

-Quem estava lá com você? Continua o delegado.

-“Tava” eu, o cumpade Mané João, Zé de Cazuza, e Joaquim doido, fora o cumpade Zé Biró e mais dois “cantador”.

-Você pode me contar o que aconteceu?

-Sim Sinhô. Responde o interrogado.

-Pois pode começar. Diz o delegado.

-“O cantador veio mexer cum a honra da minha fia, que Cuma o sinhô bem sabe, foi robada num iato lá na praia. Eu num tive caima e infiei a minha faca de cortar fumo no buxo do sujeito, mas num era pra mode matar ele não, era só pra mode ele aprender a arrespeitar a dor de um pai”.

-Então o Sr. Confessa que cometeu uma tentativa de assassinato, que terminou com a morte de um homem?

-“Não sinhô, eu só dei um risquim no buxo do cabra”.

-Mas como o Sr. Explica o fato que ele está morto?

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-“Possa ser que arguém compretou o selviço.”

-Escrivão, intime os amigos citados, o outro cantador e Zé Biró, para virem prestar depoimento amanhã, eu quero todo mundo aqui, pra esclarecer essa história. Pode levar o Homem de volta pra cela. Solicitou o Del. Xavier ao carcereiro.

No dia seguinte, conforme solicitado, estavam todos na delegacia, mais uma multidão de curiosos que se acotovelavam na frente da edificação. O tumulto estava formado, toda população que antes tinha compaixão pela família de Antônio, pela perda da filha, agora estava dividida, tinha uns querendo a sua prisão e outros querendo a sua absolvição, afinal mexer com a honra de uma filha no meio rural é mexer em vespeiro.

A multidão fazia muito barulho, e o delegado exaltado, pega sua arma e atira para o céu, fazendo com que todos se acalmassem.

-Eu quero que todo mundo volte pra suas casas, e parem de fazer furdunço na porta da delegacia. Exige com veemência o delegado.

Aos poucos, a multidão se desfaz.

Voltando para o interrogatório das testemunhas, o delegado chama um por cada vez para a sua sala.

-Manda entrar o dono do boteco, por favor. Pede o delegado ao seu ajudante de ordem.

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-Pois não. Atende o ajudante.

-Sr. Zé Biró, pode me acompanhar.

Meio assustado Zé Biró levanta-se da sua cadeira na sala de espera e acompanha o ajudante.

-Pode sentar. Ordena o delegado.

Zé, tremendo mais do que vara verde, senta em frente ao delegado.

-Bom dia, Sr. Zé, eu pedi pra chamar o Sr. Pra entender como ocorreu o crime em sua barraca, por favor responda o que lhes for perguntado.

-Diga o seu nome completo. Pede o delegado.

-José Antônio do Nascimento. Responde Zé Biró.

-O Sr. Pode contar o ocorrido em sua barraca na noite da última sexta-feira. Ordena o delegado.

-Bem Dr. O problema é que o pessoal tava bebendo, e tinha uma dupla de cantador fazendo uma cantoria, fazendo repente. Foi quando um cantador começou a falar na rima deles que a filha de Antônio tinha sido levada para a casa da luz vermelha, mas na hora mesmo da briga eu tinha ido buscar uma cerveja que um cliente tinha pedido, por isso eu não presenciei nada, só vi quando o Antônio da Bica, deu um berro e a confusão já tava feita.

-Como o Sr. Soube que o cantador tinha falado da filha de Antônio? Pergunta o delegado.

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-Ora Dr. A minha barraca é pequena e de lá de dentro dava pra escutar a cantoria e o furdunço do lado de fora. Responde o interrogado.

-Pode se retirar. Ordena o delegado. Mande entrar o cantador.

Já sentado em frente ao delegado o cantador, meio tenso, atende ao delegado.

-Bom dia fala o delegado.

-Bom dia, Dr.

-Diga seu nome completo.

-Sebastião Florêncio da Silva

-Profissão?

-Cantador.

-E isso dá dinheiro?

-A gente vai levando, um dia a gente ganha uns trocados outros não, mas a gente vai vivendo.

-Se eu pedir um verso contando o que aconteceu você é capaz de improvisar? Pergunta o delegado.

Pegando sua viola na posição de tocar, o cantador começa então a sua cantoria:

“Como pede o delegado,

Vou contar o ocorrido,

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Na barraca foi falado,

De tudo acontecido,

Da menina que robaro,

E de um pai entristecido,

Por não gostar do cantado,

Esfaqueou o meu amigo,

O coitado caiu de lado,

Sangrando pelos umbigo.”

O delegado riu mas, continuou a ouvida.

-O Sr. Pode me dizer o que disse o seu amigo?

-“Nada demais não doutor,

Somente por que meu amigo,

Num mote cantado falou,

Que levaro a filha do cumpadre,

Pra um cabaré de valor.

O cabra num gostou,

Nem que fosse sem valor,

Puxou logo o facão,

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E no buxo do meu amigo

Sem pensar enfiou.”

Está dispensado. Falou o delegado.

Após as demais ouvidas, ficou provado nos autos do processo a culpa do réu, sendo o mesmo concluído e enviado para o Juiz da 12º vara da capital.

CAPITULO XII

A VISITA

Na ilha de Santo Isidoro as coisas corriam na maior calmaria, quando de repente um dos seguranças comunica à A1 pelo rádio walktok:

-Drª tem um helicóptero se aproximando do heliporto.

-Tem algum pedido de permissão para o pouso? Indaga A1

-Não Srª. Responde o segurança.

-Não o deixem pousar, se for preciso atire. Orientou A1.

-Drª. Tem uma logo da Polícia Federal.

-Pode deixar que eu falo com eles.

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Após pousar, descem da aeronave, dois agentes da Polícia Federal do Brasil.

Disfarçando a preocupação, A1 se dirige aos agentes, dando-lhes acolhida.

-Bom dia, em que podemos lhes ajudar? Pergunta A1.

-Podemos dar uma olhada nas instalações do seu laboratório? Solicita o comandante.

-Com certeza! Me acompanhem, por favor.

Ao adentram no museu os agentes vislumbram os aquários gigantes, e admiram a quantidade de peixes e espécimes nunca vista em aquário, como anêmonas marinhas, lagostas e àguas-marinhas gigantes além de formações de corais de várias cores.

-Quantos aquários vocês têm aqui? Pergunta um dos agentes.

-Ao todo são 32, considerando os de menor volume d'água. Responde A1!.

-Qual o objetivo deste empreendimento? Pergunta novamente o agente.

-Bem, fazemos parte de uma ONG que tem como objetivo maior, a preservação de algumas espécies marinhas que estão em extinção, além de realizarmos pesquisas com alguns tipos de algas, para produção de medicamentos para hipertensão, diabetes e prevenção do enfarto. Responde A1.

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-Bem na verdade estamos aqui por que tivemos a denúncia de que um iate anda sequestrando moças na praia, é um iate grande nas cores branca com listas azul e preta, vocês têm visto alguma embarcação com estas características? Pergunta o agente.

-Por acaso o Sr. Está insinuando que temos alguma coisa a ver com isso? Se quiser pode verificar nosso píer, não temos nenhuma embarcação com esta configuração. Responde A1.

-De maneira alguma, nem passou por nossa cabeça uma acusação desta. Mas caso a Srª tenha alguma informação, por favor nos comunique por rádio, a frequência está neste cartão. Responde o agente, entregando um cartão de visitas à A1.

Após admirarem mais alguns aquários os agentes retornam ao helicóptero prefixo PFB-400, da Polícia Federal.

-Ufa! Respira aliviada A1.

-Fiquem atentos, eles vão voltar. Informa A1 aos seguranças.

CAPÍTULO XIII

NOVA COLETA DE MATERIAL GENÉTICO.

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Já hospedados no Ritz Hotel em Recife, o casal Jean Pierre di Salvattori e Alex, aguarda ansioso no heliporto do hotel para embarcar para a ilha de Santo Isidoro. O helicóptero do LPS aproxima-se do ponto de pouso e diminuindo a rotação de suas asas giratórias abre a porta do piloto que desce e cumprimenta o casal.

-Bom dia, O Sr. Jean Pierre? Pergunta o piloto.

-Sim, sou eu. Responde Jean Pierre.

-Onde está sua esposa, pergunta, já desconfiando da situação, o piloto.

-Somos nós dois. Responde Alex.

-Desculpe, por favor entrem. Desculpa-se o piloto, abrindo a porta de trás da aeronave.

Após viajarem por cerca de 50 minutos pousam na Ilha de Santo Isidoro, sendo recepcionados por duas elegantes recepcionistas que os ajudam a descer do helicóptero e os cumprimentam:

-Bom dia, sejam bem vindos. Fala uma das recepcionistas. Encaminhando-os em seguida para o interior do museu oceanográfico. No interior do museu, são encaminhados para o elevador secreto por trás do biongo com a imagem de um camarão, e no andar abaixo, são apresentados a A1.

-Bom dia, Muito prazer em conhecer um estilista tão famoso pessoalmente. Fala A1, em direção a Jean Pierre.

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-Bom dia, foi com você que falamos por e-mail, então. Conclui Jean Pierre.

-Sim me acompanhe por favor, Pede A1.

No seu escritório, A1 acomoda os clientes, explica todo o processo que estão contratando, respondendo algumas curiosidades do casal, tais como:

-Gostaríamos de saber como será o processo que vocês vão fazer ´para conseguir colocar as heranças genéticas de dois homens em um único embrião?

-Isto é segredo industrial. Não confiamos nossos meios aos nossos clientes, por questão de segurança, mas não se preocupem, tudo sairá de acordo com o que foi acertado. Só lhes digo que vamos necessitar de seus espermatozoides, o que será coletado à tarde, após o almoço.

-Tudo bem, então.

-Os Srs. poderão visitar o nosso museu oceanográfico até o almoço. Só mais uma coisa a transferência do valor da entrada já foi realizada? Questiona A1.

-Ah, desculpe aqui está o comprovante, conforme foi acordado. Responde Jean Pierre, abrindo um comprovante de DOC, no valor de US$ 250.000,00 para conta do LPS.

-Ok. Obrigada. Aperta a tecla do interfone A1, chamando a secretária.

-S1, venha aqui por favor.

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-Pois não. Responde S1.

Alguns minutos após, alguém bate na porta da sala.

-Entre. Diz A1.

-Pois não. Se coloca à disposição S1.

-Peça para alguém acompanhar os Srs. Jean Pierre e Alex ao museu oceanográfico. Solicita A1.

Após a visita ao museu, os visitantes foram encaminhados ao restaurante para o almoço. As gôndolas estavam dispostas, ao estilo self-service, composta por frutos do mar com lagosta ao termidor, camarões ao molho de ervas, rizoto, e arroz de polvo, acompanhados de vinho tinto italiano marca Toscarelli. Como sobremesa, doces diversos, queijo coalho frito com mel de engenho, pudins e bolo de rolo e Souza Leão. Os funcionários e visitantes almoçam lado a lado, em mesas e bancos compridos.

Uma hora após o almoço, os clientes são encaminhados para a sala de coleta.

-Os Srs. aguardem um minuto, por favor. Pede a enfermeira. Um minuto se passa, e esta retorna com dois recipientes descartáveis e entrega ao casal.

-Os Srs podem fazer a coleta do material ali naquela sala. Orienta a enfermeira.

-Perfeito. Responde Jean Pierre.

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Após a entrega do material, os clientes seguem para a sala de A1, onde fazem mais algumas indagações.

-Tudo pronto, qual o próximo passo? Pergunta Alex.

-Agora é com o nosso pessoal. Iremos fazer a inoculação dos seus espermatozoides em um óvulo de uma de nossas vacas. Assim que confirmarmos a fecundação os Srs. serão avisados.

CAPÍTULO XIV

A FUGA

Na delegacia de Praia bonita, após a conclusão do inquérito pelo delegado Xavier, Antônio da Bica aguardava para ser encaminhado para a penitenciária, enquanto isso, a população do pequeno povoado de praia do coqueirinho, estava revoltada, pois, no caso do sumiço da filha de Antônio, nada tinha sido esclarecido, nenhum suspeito tinha sido apontado, entretanto, Antônio estava sendo encaminhado para a penitenciária, foi quando Severino teve a ideia de conclamar os vizinhos para organizar uma invasão à delegacia para soltar Antônio.

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-“Pessoá, vamos nos organizar, Tonho num pode ir pra essa tá de penitenciara não, temo que fazer arguma coisa”. Argumentou Severino.”

-E o que vamo fazer cumpadre? Argumentou Chico do Bode.

-“Vamo se ajuntar e invadir a delegacia de madrugada, pro mode que só fica um meganha lá tumano conta dos preso, a gente agarra ele e amarra e pega a chave e sorta Tonho.” Explicou o plano Severino. A gente só tem que levar as foice e os facão que tiver na vila.

Durante o dia seguinte, todos os homens da pequena vila, saíram recolhendo todas as facas peixeiras e foices que haviam nas casas da vila. Estava tudo organizado. Às duas horas da madrugada do dia seguinte, cerca de 20 homens chegam à delegacia de Praia Bonita, fazendo um cerco silencioso em volta do pequeno distrito, construído em alvenaria singela, rebocada e caiada na cor amarela, mas já esverdeada pelo lodo. Alguns dos invasores passou a dar pancadas em um cano de ferro na parte dos fundos da delegacia chamando a atenção de João, o carcereiro, que sai para verificar o que estaria acontecendo. Neste momento, ele é surpreendido por Severino que o agarra por traz, dando-lhes uma gravata, e outro homem o pega pelas pernas e outro o coloca uma mordaça na boca o impedindo de emitir qualquer pedido de ajuda. Ao entrar na antisala da delegacia colocam João no chão, e perguntam onde estão as chaves das celas.

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-Onde tá as chave? Pergunta Vicente. Quer dizê pro bem, ou quer que eu faça outro risco na tua bunda?

-Tá aí na gaveta do birô do delegado. Responde João, tendo a mordaça ligeiramente afastada por Severino.

Vicente, então abre as gavetas, primeiro uma depois a outra, até encontrar um molho de chaves.

-Qual é a chave da cela que tá Tonho da Bica? Pergunta Severino.

-É essa que tem o número 4.

Vicente, então pegando uma arma que se encontrava na gaveta e as chaves das celas, seleciona a número 4 e abre a cela na qual se encontra Antônio da Bica, colocando no seu lugar o carcereiro João.

Todos saem da delegacia, com eles: o preso, agora fugitivo, Antônio.

Às 07h00 chega ao distrito, o primeiro funcionário, o escrivão, que quando entra e não encontra o carcereiro no seu local costumeiro, desconfiou de que alguma coisa estava diferente.

-João, cadê você? Pergunta o escrivão. Nenhuma resposta ouviu. Entrando no corredor das celas logo viu o João jogado ao chão amordaçado e amarrado dentro de uma delas. As chaves estavam jogadas no chão na frente das grades.

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-Que marmota é essa? Indaga o escrivão, abrindo o cadeado que fecha a cela e imediatamente solta o carcereiro, pega o telefone e liga para o delegado.

-Alô Doutor Xavier? Fala o escrivão.

-O que aconteceu Miranda? Pergunta o delegado.

-Cheguei aqui, e tava João amarrado dentro da cela e o preso fugiu.

-Puta que pariu. Esbravejou o delegado. Como foi isso? Quero o relatório completo do ocorrido, e os nomes dos que ajudaram na fuga.

-Pode deixar. Respondeu Miranda.

Na estrada, um caminhoneiro vê ao longe uma mulher pedindo carona. Ao parar, é surpreendido por um grupo de homens armados com facas e foices que saem do mato e pulam pra cima da cabine e convencem, sob a mira de uma pistola, o motorista a levar Antônio até Recife.

Em Recife, Antônio consegue na Ceasa, uma carona com outro caminhoneiro que tinha descarregado sua carga de manga e estava de retorno para Petrolina. Não se teve mais notícias de Antônio, dizem que se escafedeu para o lado de Tocantins, o fato é que não mais se ouviu falar de Antônio da Bica por aquelas bandas.

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CAPÍTULO XV

UMA VISITA ESPECIAL

Na sala da administração, o interfone toca.

-Pronto? Atende A1 apertando a tecla de atendimento interno.

-Doutora tem uma ligação internacional pra Senhora. Informa a atendente.

-Disse quem é? Pergunta A1, curiosa.

-Não entendi bem, pois falava em italiano, parece um tal de Guillermo Santorinni.

-Pode passar.

-Ciao, bongiorno, come posso aiutarti? Atendeu A1.

-Lavoro presso l'Istituto di Ricerca Sulle Cellule Embrionali Amalffi nella regione di Sorrento, Italia, e siamo interessati a conoscere il tuo lavoro relativo alla ricerca genetica e alla produzione di organi per i trapianti.

-Ebbene, come sapeva il Signore del nostro progetto? Indaga A1, desconfiando do interesse do cientista.

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-Sono un amico del dottore Alfred Müsk, che mi ha raccontato la sua esperienza, e mi ha fatto molto piacere sapere. Responde o cientista.

-Sarà un piacere ricevere il Signore nella nostra umile fattoria. Puoi venire quando vuoi. Quando arrivi a Recife, ti comunicheremo per effettuare il trasferimento. Responde A1

-Gracia mille ciao.

-Ciao. Despedem-se.

Imediatamente, A1 tecla a tecla para pedir uma ligação externa.

-Liguem-me com O Doutor Marcus. Solicita A1 à atendente.

-Pois não. Responde esta.

No escritório central em Recife, o telefone toca.

-Marcus.

-Acabo de receber uma ligação da Itália, um tal de Dr. Guillermo Santorinni, você conhece? Pergunta A1 ao seu empregador.

-O que ele queria? Pergunta Marcus?

-Disse que trabalha no l'Istituto di Ricerca Sulle Cellule Embrionali di Amalffi na região de Sorrento, Italia, e que gostaria de conhecer as nossas pesquisas com genética e produção de órgãos para transplante. Posso recebe-lo? Questiona A1.

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-Como ele ficou sabendo da fazenda? Indagou Marcus.

-Disse que é amigo do Dr. Alfred Müsk e que recomendou o nosso trabalho. Responde A1.

-Vou Falar com o Dr. Alfred. É muito arriscado o que ele está fazendo.

-E aí posso recebê-lo? Pergunta novamente A1.

-Aguarde meu contato. Responde Marcus encerrando a ligação.

Neste momento em seu escritório mais uma vez A1 para olhando para o nada, alguém bate em sua porta.

-Entre. Diz A1.

C2 adentra a sala da administradora e se insinua para ela tentando beijá-la. Ela então o afasta.

-Você é louco? Eu já disse que não podemos nos vê no local de trabalho, nos veremos à noite. Eu ligo.

-Tá bom vou esperar. Resmungou C2, saindo e fechando a porta do escritório.

Mais uma vez o interfone toca.

-Pronto. Atende A1.

-É o Dr. Marcus. Diz a atendente.

-Pode passar.

-Tudo certo, pode receber o Dr. Guillermo.

-Ok. Responde A1, encerrando a ligação.

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Com o olhar disperso e um cigarro entre os dedos, A1 pensa: “Quantos mil Euros o Marcus deve ter cobrado por esta visita.

A noite cai, e após o jantar, todos os funcionários da fazenda vão para os seus aposentos. A1 pega o seu comunicador e avisa a C2 que sua porta está destrancada. Em alguns minutos o Negro entra em seu quarto sem bater e deita-se em sua cama.

Ao amanhecer C2 não mais se encontra na cama de A1.

Já no escritório A1 tecla o intercomunicador e pede uma ligação para o Dr. Guillermo Santorinni.

-Pois não atende a telefonista.

-Me ligue com o Dr. Guillermo por favor, você tem o contato dele, não? Pergunta A1.

-Tenho sim Senhora, ligo já. Responde a atendente.

Em minutos o telefone toca em sua mesa.

-Ciao, bomgiorno, come stai? Vorremmo fissare un appuntamento per la prossima settimana, ok? Pergunta A1.

-Tutto bene. Responde o Dr. Guillermo

-Ok. Ti aspetto lunedì prossimo. Confirma A1.

-Sarò con un entourage di scienziati che mi accompagnano, va bene? Pergunta o Dr. Guillermo.

-Si tutto bene. Concente A1.

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Na segunda feira a comitiva de 5 cientistas desembarca no heliporto da Ilha. Ao descerem da aeronave, são recepcionados pelo cerimonial da fazenda.

-Bongiorno. Cumprimenta a recepcionista.

-Bomgiorno. Responde o Dr. Guillermo.

-fatto un buon viaggio? Pergunta ela.

- Si, molto buono. Volta a responder o cientista.

-tienimi per favore. Solicita a recepcionista.

Ao entrarem pelo museu oceanográfico, se admiram do tamanho dos aquários, e das espécies de animais marinhos que são mantidos nos mesmos, sendo posteriormente apresentados à A1.

-Bomgiorno, tutto bene? Cumprimenta A1.

-Bomgiorno. Respondem os visitantes. che cosa fantastica questo posto è.

-Grazie. Agradece A1, acenando para que todos a acompanhem.

Uma cerimônia de recepção foi programada, todos os funcionários estavam devidamente uniformizados como enfermeiros e médicos enfileirados para recepcionar o grupo.

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Seguem em seguida para o interior da fazenda, onde passam pelo corredor das baias verificando em detalhes as papeletas com os dados das gestantes:

BAIA – 1

1.0 Paciente: Emanuel Schumann

2.0 Reponsável: Antony Schumann

3.0 Hospital solicitante: Saint Stebam Memorial Clinical

4.0 Órgão(s) requerido(s): fígado

5.0 Fator RH: O (+)

6.0 Idade do paciente: 03 anos

7.0 Raça:

Branca ( x )

Negra ( )

Parda ( )

Índio ( )

Amarela ( )

8.0 Estado do paciente: Pré-Terminal.

9.0 Período gestacional: 05 meses

58

BAIA – 2

1.0 Paciente: Alfred Müsk Júnior

2.0 Reponsável: Alfred Müsk

3.0 Hospital solicitante: Albert Asteinn

4.0 Órgão(s) requerido(s): Coração e Pulmão

5.0 Fator RH: A (-)

6.0 Idade do requerente: 03 anos

7.0 Raça:

Branca ( x )

Negra ( )

Parda ( )

Índio ( )

Amarela ( )

8.0 Estado do requerente: Grave.

9.0 Período gestacional: 08 meses

BAIA – 3

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1.0 Paciente: SEM PACIENTE

2.0 Reponsável: Jean Pierre di Salvatori

3.0 Hospital solicitante: Sem hospital solicitante

4.0 Órgão(s) requerido(s): Bezerro vivo

5.0 Fator RH: A (-)

6.0 Idade do paciente:

7.0 Raça:

Branca ( x )

Negra ( )

Parda ( )

Índio ( )

Amarela ( )

8.0 Estado do paciente:

9.0 Período gestacional: 07 meses

E assim passaram por todas as baias no total de 10, os membros da comitiva italiana anotavam todos detalhes do que era visto na fazenda. Até que o Dr. Giuseppe pergunta a A1:

-Qual è il destino del corpo dopo che l'organo è stato rimosso?

60

- utilizzare in altre ricerche o scartare. Responde A1

-Gracie. Agradece Dr. Giuseppe.

Após a visita ao laboratório todos se dirigem para o refeitório, onde é servido o almoço.

Após o banquete, à base da gastronomia pernambucana, todos se recolhem aos seus alojamentos, para um descanso, pois à noite teriam uma festa junina que seria realizada na parte externa do galpão principal. Era noite de São João.

Ao entardecer já se podia ouvir o som de um acordeon, ensaiando algumas músicas juninas.

-Giuseppe stai ascoltando questa canzone? Pergunta um dos membros da comitiva.

-Sì, sembra che la festa andrà bene. Concorda Giuseppe

À noite todos se dirigem para o arraiá, montado com tudo que uma festa junina requer, tinha foqueira, bandeirolas coloridas e muita comida típica à base de milho, bolo pé-de-moleque e Souza Leão. E um trio de Pé de Serra, formado pelos tripulantes do Iate Dulcce vita, animava a brincadeira, C1 tocava um Acordeon Scandalli de 120 baixos, C2 no zabumba, e C3 o triângulo. O arraiá estava todo enfeitado com bandeirolas, o céu estrelado ajudava à colorir o cenário.

61

-Questa canzone è molto bella e balla. Comentou Giuseppe ao ouvir o forró tocado pelo trio.

-Si. Confirmou A1.

Uma quadrilha matuta era ensaiada entre os funcionários da fazenda. C2 também no vocal, entoava alguns clássicos do forró de pé de serra:

-“Eu quero me trepar num pé de coco,

Eu quero me trepar pra tirar coco,

Tem gente achando que eu sou louco,

Porque eu só penso em tirar coco........”

Os membros da comitiva italiana ensaiavam uns poucos balanços ao ritmo do acordeon, então A1 puxa o Dr. Giuseppe para dançar, provocando um olhar ciumento de reprovação de C2.

De repente, o rádio comunicador preso ao cinto de A1 faz um barulho para alertar um chamado.

-Pronto. Atende A1.

-Preciso que a senhora venha aqui na baia B2, urgente. Responde o enfermeiro de plantão. Chame a parteira. Completa.

-Ok câmbio desligo. Responde A1.

-Doutora Franciele? Liga A1 Chamando a parteira

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-Sim. Atende a Doutora Franciele.

-Estou com uma urgência na B2, vá pra lá agora. Informa A1.

CAPÍTULO XVI

O PARTO

Ao chegarem quase que simultaneamente à baia 2, A1 e a Parteira, se deparam com a parturiente, se contorcendo em dores, e a bolsa havia se rompido.

-Todos os procedimentos foram tomados. O bebê acabara de nascer. A1 visivelmente frustrada ao ver o bebê, com ar de revolta, em um misto de decepção, ciúmes e frustração com a quebra de contrato com o cliente que esperava um doador para o seu filho. O bebê não tinha as especificações exigidas para a doação dos órgãos. Era um bebê negro.

A festa continuou pela noite adentro. Saiu de tudo até mesmo a comitiva italiana ensaiou uma tarantela, mas A1 caiu no choro e foi para o seu quarto, não voltou mais para o festejo. Não sabia o que dizer ao Dr. Alfred Müsk, além de ser traída pelo namorado, ainda teria que devolver US$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil dólares) aos clientes.

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No dia seguinte, já refeita da triste surpresa, A1 conclama toda tripulação do Dulcce Vita em sua sala.

-Quero todo mundo na minha sala agora. Ordena A1 através do seu Wok talk.

Aos poucos, os 04 tripulantes do Dulcce vita, vão se apresentando, na antisala da administradora, aguardam que esta os chame.

-Na antisala, havia um burburinho, os intimados não fazem ideia do que estava por acontecer .

-Simone. Interfona A1, por favor peça para entrar C1, C3 e C4, por favor. Pede A1.

-Pois não atende a recepcionista.

-Podem entrar. Menos C2. Informa Simone.

Na sala A1 interroga os 03 tripulantes que acabava de intimar.

-Quero saber exatamente o que aconteceu naquele iate, quando vocês trouxeram aquela vaca. Interroga A1.

Meio sem jeito, C1 diz:

-Nada não doutora, a gente só tomou um pouco de cerveja e não aconteceu nada. Responde C1.

Movida por um sentimento de muita ira, A1 arrebenta um copo, com água na parede esbravejando diz:

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-Se não me contarem cada detalhe do que aconteceu, vou mandar todos para o continente, para o buraco de vocês saíram. É melhor começar a contar, vou dar dois minutos pra vocês abrirem o bico. Ameaça A1.

-O problema Drª é que a gente não quer se meter na arenga da Senhora com C2. E também a senhora sabe como ele é, pode ser que ele venha com conversa pra cima da gente. Se desculpou C3.

-Quer dizer então que houve alguma coisa. Eu logo desconfiei. Concluiu A1.

-Podem sair. Pede A1, apertando a Tecla do interfone.

-Pode dispensar os Homens. Disse A1 para a atendente.

-Estão todos dispensados. Informa esta, aos tripulantes.

CAPÍTULO XVII

O bezerro negro

-Por favor me ligue com o Dr. Marcus. Solicita A1 à sua recepcionista.

-Ok. Só um minuto. Responde a subordinada.

-Dr. Marcus na linha. Informa esta.

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-Alô, Dr. Marcus.

-Pronto, o que houve?

-Tivemos um problema.

-Qual? Pergunta Marcus preocupado.

-Um bezerro nasceu fora das especificações.

-Como assim?

-É que um dos nossos vaqueiros havia estuprado a vaca, durante a viagem para a ilha, e ela emprenhou antes de a gente fazer a fertilização no laboratório.

-Qual foi o cliente? E qual foi o vaqueiro?

-O cliente é o Dr. Alfred Müsk e o vaqueiro foi o C2.

-Entre em contato com o Dr. Alfred, e informe o ocorrido, e elimine este vaqueiro, não podemos ter esse tipo de gente atrapalhando nosso negócio, o prejuízo financeiro é alto, mas, o moral é maior.

-Pode deixar. Responde A1 encerrando a ligação.

-Me ligue agora com o Dr. Müsk. Ordena A1 à telefonista que cumpre a ordem imediatamente.

-Alô? Doutor Alfred Müsk?

-Sim pois não!

-Bom dia, aqui é da fazenda de genética tudo bem?

-Bom dia, eu já ia mesmo ligar pra vocês, pois houve um imprevisto.

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-O que houve? Seu filho está bem?

-Não. Infelizmente ele não resistiu, fizemos de tudo, mas o quadro se agravou e faz 15 dias que ele partiu.

-Sinto muito Dr. Infelizmente não pudemos antecipar o nascimento do doador. Mas estou ligando porque também tivemos um problema com a genética do nascituro.

-Como assim? Questiona o Dr. Alfred Müsk.

-É que quando inoculamos os óvulos fecundados na genitora ela já estava grávida, e nós não tínhamos conhecimento.

-Quer dizer então que se meu filho estivesse esperando para ser transplantado ia dar merda? De qualquer jeito vou querer a parte investida, devidamente corrigida e mais uma multa por quebra de contrato. Aguarde o contato dos meus advogados.

-Pode ficar à vontade. E até breve. Despedem-se e encerram a ligação.

CAPÍTULO XVIII

A vingança

-Simone me chame a Srª Maria Isabel aqui na minha sala. Pede A1.

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-Sim Senhora. Responde a recepcionista.

Em alguns minutos a secretária informa pelo interfone:

-Drª a Srª Maria Isabel já se encontra aqui.

-Pode mandá-la entrar.

Ouve-se um “tok tok” na porta.

-Pode entrar. Sente-se por favor.

-Bom dia, o que aconteceu, alguma notícia do meu filho?

-Não. Não se preocupe, está tudo bem com o seu bebê.

-Eu lhe chamei aqui porque estou precisando de um pequeno favor seu.

-Pode dizer, se estiver ao meu alcance...

-Eu quero que a você se insinue para um dos nossos capatazes e depois o faça ir para o seu quarto à noite.

-Mas Doutora eu sou uma mulher direita e respeito o meu marido.

-Eu sei, mas não precisa fazer nada não, é só pra eu dar um susto no cabra.

-Se for assim, me diga o que tenho que fazer.

-É o seguinte: na hora do almoço, você finge que está dando bola pra ele, e com certeza ele vai lhe procurar, então você diz que vai deixar a porta do seu quarto aberta à noite, e quando ele chegar eu estarei lá dentro esperando.

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-Tá bem, vou fazer o que a Senhora está pedindo. Mas, a senhora não me disse quem é o capataz. Questiona Isabel

-É o C2. Responde A1.

-Tá certo.

Tudo arranjado. Na hora do almoço Maria Isabel começa o seu trabalho de atriz e após encher a sua bandeja a coloca ao lado de C2.

-Bom dia, com licença.

Sem querer, encosta sua mão na do capataz, dando início ao teatro planejado por A1.

-Tudo bem, como é o seu nome? Pergunta C2.

Mordeu a isca, pensa Isabel.

-Isabel, mas pode me chamar de Bel.

-Bel é só pra os íntimos? Pergunta C2.

-E para os que podem vir a ser também.

Responde Isabel com um riso no canto da boca.

Ao final do almoço, se despedem, e C2 fala pra Isabel:

-Gostei muito da sua companhia, podemos nos ver outras vezes?

A presa estava fisgada. O plano estava dando certo.

-Com certeza. Que tal hoje à noite no meu quarto? Às 10 da noite.

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-Ok! Concorda C2.

O capataz não esperava que fosse tão fácil conquistar uma mulher. Apesar de desconfiar de algum plano, não poderia dispensar o encontro.

Conforme, combinado no horário marcado, um tok tok se ouviu na porta do quarto de Isabel.

-Pode entrar responde a hóspede sem se levantar da cama.

C2 empurra a porta devagar, desconfiado de que alguma coisa poderia estar sendo armado para ele. A luz estava apagada, e ele vai entrando devagar.

Isabel não se mexe. C2 ameaça acender a luz, mas Isabel o impede.

-Pode deixar a luz apagada, prefiro no escuro.

Pede Isabel em tom de sedução.

-Tudo bem então.

Quando tira a roupa C2 percebe os pés de uma outra pessoa por baixo da cortina. Tenta escapar, mas é tarde. A1 descarrega sua pistola automática em seu namorado. Após a execução, pede a Isabel que segure a arma, e retira das mãos as luvas hospitalares que a impedia de deixar suas impressões digitais na arma, e as joga no vaso sanitário e acionando a descarga.

Com o barulho dos tiros todos os outros funcionários correm para o quarto de Isabel. A1 assume o posto de

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detetive, e simula uma tentativa de estupro de C2 contra Isabel que estava ainda segurando a arma, e alegando legítima defesa.

-Descartem este corpo. Ordena A1 aos seguranças.

-Pode deixar. Responde S1.

-Isabel, quero você agora no meu escritório. Ordena A1.

-Pois não doutora. Ainda sem entender direito o que aconteceu, Isabel acena concordando.

No escritório, A1 orienta Isabel:

-Para todos os efeitos, você atirou em legítima defesa está entendendo?

-O que aconteceu não pode sair daqui, caso contrário o seu bebê não terá o fígado para o transplante que salvará a sua vida. Estamos entendidas? Ameaça A1.

-Sim senhora. Responde Isabel.

O dia amanhece e a comitiva de cientistas italianos, logo que tomam o café da manhã, seguem para o heliporto onde o helicóptero já se encontra em posição de decolagem, com os rotores em baixa rotação os aguarda para seguirem viagem para o Aeroporto Internacional dos Guararapes em Recife.

-Ciao, gracie mille. Agradece Giuseppe.

-Ciao, se despede A1.

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CAPÍTULO XIX

A ADOÇÃO

Ainda na área externa do galpão, próximo ao heliporto, A1 recebe um chamado em seu rádio comunicador.

-Atento Doutora, câmbio! Chama a atendente.

-Atento câmbio! Atende A1.

-Tem uma chamada pra senhora no ramal externo.

-Quem é?

-É o Dr. Alfred Müsk. Responde a secretária.

-A1 aperta a tecla para atender colocando o fone no ouvido.

-Alô? Pronto! Atende A1.

-Sou o Dr. Alfred, tudo bem?

-Bom dia, quanta honra. Em que posso lhe ajudar?

-É que eu e minha esposa, entramos em uma depressão muito grande e achamos que poderíamos encontrar um novo motivo para viver então resolvemos adotar o bebê

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que foi gerado para a retirada dos órgãos. Espero que ainda dê tempo.

-Com certeza. Será um prazer poder lhes proporcionar um conforto na alma, e ainda pôr fim à nossa contenda.

-Exatamente.

-Vou providenciar a documentação e em dois dias lhes enviarei um e-mail, para o senhor vir pegar o seu filho.

-Tão rápido?

-Sim, nosso pessoal costuma ser eficiente, e além do mais, temos a pessoa certa no lugar certo, lembra?

Três dias depois um helicóptero prefixo AM-240 de luxo pousa no heliporto da ilha de Santo Isidoro.

Descem da aeronave o Dr. Alfred Musk e esposa. Recepcionados pelo cerimonial da fazenda, são encaminhados para a sala de recepção da Administração da fazenda.

-Bom dia, a Dr. A1 nos aguarda para uma reunião.

-Bom dia, o Senhor vez boa viagem? Vou anunciar que os senhores já estão aqui.

Tecla então uma das teclas do interfone, a secretária anuncia:

-Drª. O Dr. Alfred Müsk se encontra aqui.

-Aguarde um pouco que já o mando entrar.

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Enquanto faz o casal esperar, A1 acende um cigarro e espera cerca de dez minutos e autoriza por fim, a entrada do casal.

-Bom dia, saúda o Dr. Alfred.

-Bom dia, desculpe fazê-lo esperar, eu estava numa ligação com o secretário estadual de saúde. Mente A1.

-Não se preocupe, só viemos pegar nosso bebê.

-Pois não, está tudo preparado, é só um minuto.

Apertando uma das teclas do interfone, A1 pede:

-Por favor me tragam o bebê da baia B2, não esqueça as fraldas e a mamadeira, com leite para duas horas de viagem.

Em menos de cinco minutos ouve-se um tok tok na porta.

-Entre, diz A1.

A porta é aberta e aparece uma enfermeira, trazendo um bebê nos braços, e outra com uma mala de viagem para recém-nascidos.

Ao ver o bebê, a Srª. Müsk tem um misto de surpresa e espanto.

-Mas você não me falou que o bebê era negro! Falou em tom de crítica a mulher.

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-Me desculpe, mas eu falei que tivemos um acidente no nosso projeto, que o bebê teria nascido fora das especificações, e mais, vocês não me perguntaram qual teria sido o desvio da especificação.

-Não se preocupe Drª. Vamos adotar seja qual for o perfil biológico da criança. Argumentou o Dr. Alfred Müsk.

Meio encabulada, a esposa do Dr. Alfred, concordou com o marido.

-Com certeza, nós decidimos adotar este bebê, pois ele teria sido produzido pra salvar a vida do meu filho, que infelizmente não resistiu. Então vamos sim adotá-lo e vamos amá-lo como se fosse nosso filho. Confirma a Srª Elizabeth Müsk.

-Que barulho é este? interroga o Dr. Alfred, ao ouvir um grito de alguém pedindo socorro.

-Não deve ser nada não, é a mulher que gerou o seu bebê, mas já vamos dar um calmante pra ela. Contorna A1.

-Ao sair do escritório com o bebê nos braços da esposa, o Dr. Müsk desvia o caminho passando pelo corredor, onde estava a mulher que gritava, agora em silêncio, porém assustada. Müsk faz então um gesto piscando um dos olhos para a mulher.

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CAPÍTULO XX

A invasão

Era madrugada, por volta das 02h00 da manhã, uma luz de um helicóptero é vista ao longe pelos seguranças da ilha de Santo Isidoro.

-S2 veja aquele Helicóptero, já deu várias voltas em torno da ilha. Falou espantado o segurança S1 para o colega.

-É acho que seria bom alertar o pessoal. Preocupa-se S2.

S2 pega o Walk talk e acorda então A1.

-Atento Chefa, tem alguma coisa acontecendo, aqui.

-Atento S2 O que é? Câmbio. Indaga A1.

-Tem um helicóptero voando um pouco baixo e fazendo vários círculos em torno da ilha Drª. Informa S2.

-Preparem-se. Acorde os outros, pode ser só um curioso, mas pode ser a polícia. Alerta A1.

-Sim senhora, concorda S2, já apertando um alarme que toca como a sirene de carro policial, dentro do dormitório onde havia 04 seguranças, que imediatamente pulam de seus beliches vestem seus

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uniformes, e pegando suas armas, 04 espingardas winchester de 12 polegadas e correm em direção ao posto de observação avançado na parte mais elevada da ilha, um rochedo com cerca de 200 metros de altura acima do nível do mar.

Mais dois helicópteros aproximam-se. Os seguranças disparam vários tiros contra as aeronaves, os pilotos logo visualizam os clarões das armas dos seguranças fazendo uma manobra para subir os aparelhos para além dos alcances das armas. Do outro lado da ilha um barco aproxima-se lentamente na escuridão com suas luzes apagadas, próximo à praia desembarcam 20 fuzileiros camuflados portando metralhadoras e presas ao cinto várias granadas, e como jacarés, arrastam-se pela areia e se lagarteando pelos manguezais aproximam-se rapidamente do ponto onde estão os seguranças, sendo recepcionados por estes a com tiros de espingarda. Um dos fuzileiros sacam uma granada e arremessam contra os seguranças fazendo-os caírem desacordados. No galpão do museu, outros dois fuzileiros adentram sorrateiramente, sem nenhum obstáculo, logo chegam ao elevador que dá acesso ao subsolo onde fica o laboratório com as baias, e utilizando as coronhas das metralhadoras quebram os cadeados das grades, estilhaçam os vidros temperados das baias e libertam as mulheres que dormiam sobre as camas hospitalares. Outro grupo dirige-se para o interior do laboratório apreendendo uma camareira e uns outros funcionários da manutenção, depois os capturadores C1 e C3.

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Com a maioria dos funcionários apreendidos e as mulheres parideiras libertadas, estas são encaminhadas para o barco. O comandante da operação se dirige para o grupo preso e pergunta:

-Quem é o manda chuva daqui?

-Está naquela sala ali. Responde um dos funcionários, apontando em direção à sala da administradora A1.

-Arrombe a porta. Ordena o Capitão Airton, comandante da operação, a um subordinado que imediatamente cumpre a ordem.

(Momentos antes, dentro da sala da administração, A1 que assiste através do monitor toda movimentação, dirige-se então a um alçapão que havia sob o tapete persa no canto da sala, levanta a tampa e desce deslizando por cano tipo do corpo de bombeiros chegando a um mini cais onde já estava um jet ski Kawasaki de 400 cilindradas pronto para uma emergência. Ao acionar o seu plano de fuga, monta no jet ski e rapidamente escapa por uma estreita fenda na rocha de arrecifes e alça-se ao mar na escuridão em direção à praia no continente).

-Capitão, está vazia a sala, não tem ninguém aqui. Exclama o soldado.

-Vasculhe cada canto desta sala deve ter algum esconderijo secreto, lembra do elevador? Ordena o capitão.

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Ao varrer todo os pontos da sala, o soldado começa a desconfiar de parte do tapete que está mais enrugada do que as demais e ao levantar descobre a tampa do túnel vertical e ao abri-la visualiza o cano por onde A1 desceu.

-Capitão, achei “ele” fugiu por aqui, talvez tenha escapado de jet ski porque esta passagem dá acesso ao mar, mas é estreita demais para um barco. Exclama o soldado.

Imediatamente o Capitão toma o seu rádio e fala com os pilotos dos helicópteros:

- Atento piloto, jet ski em fuga vasculhem toda a área. Câmbio. Alerta o Capitão Airton.

-Atento Capitão câmbio, em busca. Responde o piloto de uma das aeronaves que imediatamente parte em comboio fazendo uma varredura no mar com suas lanternas acesas em meio à escuridão, que se espalha sobre o oceano.

No laboratório os presos agora algemados, se enfileiram para irem ao barco, escoltados por dois fuzileiros sobem por uma escada que dá acesso ao píer. C1 e C3 que até então estavam nas entranhas do labirinto escuro pulam por sobre os ombros dos dois soldados tentando desarmá-los, entram em luta corporal, após alguns socos e golpes de arte marcial, os fuzileiros dominam a situação e rendem os seguranças cambaleantes. Algemados seguem os demais detidos em direção ao píer.

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-Atendo Capitão, alvo localizado e interceptado câmbio. Comunica o piloto de um dos 04 helicópteros, que acabavam de localizar o jet-ski pilotado por A1. Em uma manobra arriscada, o piloto baixa o aparelho a poucos metros acima do nível do mar e voando em círculo em torno do jet-ski o faz parar flutuando sobre as ondas. Em minutos aproxima-se o barco da polícia que resgata A1 e com uma corda amarra o jet-ski a este e o reboca para o continente. Está desmantelada a organização da ilha de Santo Isidoro.

CAPÍTULO XXI

20 anos depois

Perambulando pela vila de pescadores, na praia do coqueirinho, um velho maltrapilho, pede um pouco de comida e água na bodega de Zé Biró.

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-Pelo amor de Deus, me dê um pouco d'água e um pedaço de pão, eu estou há três dias sem comer.

-O senhor vem de onde? Perguntou uma mulher que atendia do outro lado do balcão.

-Eu estou procurando minha casa e minha famía, que morava aqui faz vinte anos que eu saí dessa terra e estou querendo encontrar minha famía, mas tá tudo mudado eu não conheço mais ninguém e nem a casa que eu morava não tô achando mais.

-É verdade muita coisa mudou por aqui. Como é o seu nome?

-O pessoá me chamava de Antônio da Bica.

-Vou ver se meu pai sabe de alguma coisa que possa lhe ajudar. Pai, dê uma chegada aqui, tem um homem aqui que talvez o senhor conheça.

Ao ouvir estas palavras sai de trás de uma cortina meio cambaleando, tossindo e limpando a garganta, um idoso com as mãos trêmulas e apoiando-se em uma bengala. Era Zé Biró, que de imediato reconheceu Antônio da Bica.

-Antônio, que sastifação rapaz, cuma é que ocê tá rapaz, quanto tempo.

-Ê cumpade, o tempo passou, depois de muita vorta que esse mundo vei dá a gente sempre quer ver os amigo dos tempo antigo.

-E aí cumpadre por donde tem andado rapaz.

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-Pelo mundo cumpade. Eu vortei pra mode ver minha famia, ocê sabe de arguma coisa? Tá tudo diferente, num conheço mais nada, aquela fábrica acolá faz o quê?

-Há cumpade, aquilo foi a desgraça dos pescador, eles compra os pescados de todo mundo a preço de banana, bota numas imbalage e vende pro mundo todo é gente de muito dinheiro.

-Cuma é o nome dessa fábrica cumpade?

-Uma tá de PESCADOS MÜSK. Quem manda lá é um empresáro de muito dinheiro, um tá de Alfred. Ele é um mulato, pense num nego rico.

-Será que tem vaga pra um veio que nem eu? Eu faço de tudo num sabe, inté de vigia eu trabaio.

-Parece que tão fichando trabaiador, tem inté uma placa la na portaria.

-Mais cumpadre você sabe de arguma coisa da minha muié, e da minha fia Aninha?

-Cumpade, elas vendero a casa pra essa fábrica e se mudaro pros lado do engenho Capim Bonito. A Aninha ficou uma moça bonita, e se casou com o fio do Dr. André de Souza Leão que é dono do engenho. E D. Bastiana tá lá com ela, e eu ouvi dizer que Aninha tá esperano o fio num sabe.

-Quer dizer que inricaro?

-isso eu num sei, causo que o engenho não é mais como era antigamente, tá quase em fogo morto. E a justiça já

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penhorou muitas terras e máquinas pra mode pagar os empregado que foro demitido.

-Tá certo, vou ver se arrumo um lugar por aqui, se eu conseguir uma vaga na fábrica, adispois eu vou dar uma passada no engenho.

Após tomar alguns goles d’água e comer um pão com salame, Antônio se despede de Zé Biró, sai e vai em direção à portaria da fábrica.

CAPÍTULO XXII

A fábrica

Ao ver aquele maltrapilho tentando se aproximar do portão de pedestres, os dois seguranças de plantão rapidamente se aproximam e o interpelam friamente.

-Que é que tu quer aqui velho, tem nada pra tu aqui não, pode dar meia volta! Fala um dos seguranças com arrogância.

-É nada não moço, é que eu tô desempregado, e eu soube que vocês tão fixando gente pra trabaiar. Falou Antônio, com voz trêmula.

-Mas é só pra cabra novo, que aguenta trabalho pesado. Dá pro seu bico não, meu velho.

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-Mas eu faço quarquer coisa, inté de vigia, faxineiro eu tô muito necessitado me dê uma chance, pelo amor de Deuso.

Neste momento a cancela de automóveis se levanta para a entrada de uma luxuosa Ferrari, no volante um jovem negro de vinte anos, que ao notar um certo burburinho com os seguranças, para o carro próximo à portaria de pedestre e baixa o vidro e pergunta aos seguranças:

-O que é que está pegando aí Samuel?

-É só esse velho que está aqui querendo entrar pra pedir emprego, mas não se preocupe não Doutor, nós já vamos despachar e convencer ele a vazar daqui.

-Não, peça pra ele me procurar na minha sala, eu fui com a cara dele.

Antônio se ajoelhou próximo à porta da Ferrari, beijando a mão de Alfred Müsk Júnior, chorou de emoção pois Há muito ninguém o dava crédito, nem a chance de levar uma vida normal.

-Muito obrigado Doutor, muito obrigado.

-Levante-se Homem, vou ver onde posso lhe encaixar, você sabe fazer alguma coisa?

-Doutor eu era do mar, minha vida toda foi de pescador, mas eu tive um descaminho na minha vida num sabe, precisei ir pra longe do mar, e agora tô vortano pra mode ver minha famia que eu deixei aqui numa casa que

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tinha aqui donde agora é tem essa porteira. E num encontrei mais ninguém.

-Entre, vou estacionar e daqui há pouco a gente volta a conversar.

-Tá bom Doutor. Muito agradecido.

Após autorizar a entrada de Antônio ao escritório da Indústria, Alfred Júnior estaciona e entra na sua sala. Assina alguns papeis, e depois pede para a secretária mandar entrar o velho que estava na recepção entrar na sua sala.

-Dá licença Doutor. Pede Antônio humildemente.

-Sente-se. Autoriza Alfred Júnior. O senhor me disse que teve um contratempo na vida O que houve?

-Doutor, eu morava aqui na vila, e vivia sossegado, trabaiano na pesca, e vendendo meus peixin, minha muié fazia uns doce e umas cocada pra mode vender aos turista, num sabe a gente tinha dois fio, até que um dia robaro minha fia mais veia, a Bia. Foi quando um cantador fela da com licença da palavra puta, foi dizer que ela tava na casa da luz vermeia, num sabe, aí eu num guentei e dei um risquim no cabra com a minha faca, e o cabra morreu, foi aí que eu escapuli, com ajuda dos meus amigos da vila.

Apertando uma tecla, Alfred pede para a secretária providenciar um macacão de trabalho para Antônio.

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-Dona Sônia, por favor peça pra o office boy vir aqui, na minha sala.

Em um minuto o office boy bate à porta da sala de Alfred.

-Pois não Doutor. Atende o funcionário.

-Providencie para que este senhor tome um banho no banheiro do vestiário e peça um macacão no almoxarifado pra trocar esta roupa. Providencie um lanche pra ele e depois leve-o para o departamento pessoal.

-Sim Senhor. Atende o office boy.

-Pode acompanhar esse funcionário, depois voltaremos a conversar.

Uma hora depois, Antônio, vestindo um macacão branco tendo no lado do peito, uma logomarca em forma de um marlim azul, com as letras P&M bordadas, alimentado e calçando uma bota de borracha branca e boné branco, chega novamente à sala da gerência da Pescados Müsk.

-Pronto Doutor, o que o senhor quiser saber mais eu tô pronto pra lhe contar.

-Sr. Antônio, não sei por que, mas eu fui com a sua cara, alguma coisa me é familiar no senhor, quero que o senhor me conte mais a respeito da sua família.

-Quem são aqueles dois ali naquela foto? Pergunta Antônio, apontando para um quadro na parede.

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-São meus pais. Responde Alfred.

-Maise, eles são branco, o senhor num deve de ser fio deles. Admira-se Antônio.

-Eu sou adotado. Explica Alfred.

-O Doutor não me disse o que é que eu vou fazer aqui na fábrica.

-O senhor disse que trabalhou a vida toda com a atividade da pesca?

-Foi sim senhor, derna que me intendo de gente que trabaio na pesca.

-Pois bem, então o senhor deve conhecer todos os tipos de peixe que chega do mar. Certo?

-Pode confiar, conheço sim.

-Então o senhor vai trabalhar na docas, recebendo e conferindo todos os carregamentos que chegam, conferindo o peso de cada tipo de pescado, tudo bem?

-Sim senhor, num pensei que fosse pegar um caigo tão importante.

-Veja que estou confiando no senhor, não vá me decepcionar.

-O senhorzinho pode ficar assussegado.

Pelo interfone, Alfred Júnior pede à sua secretária que encaminhe Antônio ao departamento pessoal.

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-Simone por, por favor apresente o Sr. Antônio ao departamento pessoal, e mande fazer um contrato de experiência.

-O sr. Está com os seus documentos em mãos? Pergunta Alfred a Antônio.

-Sim Senhor, tá tudo aqui.

-Acompanhe esta moça.

-Sim senhor.

No percurso até o departamento pessoal, Antônio admira o maquinário da empresa, e aproveita para se informar sobre o seu funcionamento.

-ô moça, o que é que essa fábrica faz? Pergunta Antônio.

-Aqui são produzidos vários produtos à base de frutos do mar, desde farinha de ossos de peixe, que são vendidos para a indústria farmacêutica que produz remédio para problemas nos ossos, pele de tilápia para curativos de queimados, e também embalamos o pescado in natura para os supermercados, entre outras coisas. Responde Simone com ar de ironia.

-Os pais do Doutorzinho, são vivos ainda? Pergunta mais uma vez, Antônio.

-Sim, eles são na verdade os donos de tudo isso aqui, além de mais umas dez empresas.

-Eles num tem mais fio nâo?

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-Não. Eles tinham outro filho, que também era chamado de Alfred Müsk Júnior, mas morreu ainda criança, por isso que eles o adotaram.

-Tem arguma coisa nele que me é famiar, só não sei o quê.

-Ele também foi com a sua cara, nunca ele interferiu na contratação de um trabalhador, como está fazendo com o senhor.

-Esses caminhão de peixe é tudo pescado aqui mermo no coqueirinho? Indaga Antônio, ao observar um caminhão baú refrigerado entrando em um galpão.

-Alguns sim, mas também vem de Tamandaré, Maragogi e São José da Coroa Grande, responde Simone.

Caminhões carregados com todo tipo de frutos do mar entram a cada 20 minutos em um galpão refrigerado, isolado do pátio por uma cortina de plástico transparente, entregam o pescado que vem em grandes caixas de isopor com capacidade para 100 litros, encobertos por gelo granulado, são despejados em uma esteira rolante, onde uma fila de trabalhadores vestidos com macacões térmicos, que lembram astronautas, fazem a triagem para vários tanques de 20.000 litros cada, um para cada tipo de pescado. Cavala no tanque 1, pescada amarela no 2, tainha no 3, atum no 4, e assim por diante.

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CAPÍTULO XXIII

A investigação

Na sala da gerência o interfone dispara um bipe de chamada.

-Pois não. Atende Alfred Júnior.

-Dr. Alfred, o detetive Ramirez tem uma reunião com o Sr. Ele acaba de chegar.

-Pode deixá-lo entrar, eu já o estava aguardando.

Em um minuto o Detetive bate à porta da sala de Alfred.

-Diga aí Sherlok Homes, alguma novidade? Brinca Alfred com o amigo detetive.

-Poucas, porém já tenho uma linha de investigação.

-Não venha me contar a mesma história que meus pais passaram a vida me contando, que uma mulher me abandonou na sua porta. Eu não acredito nisso.

-E por que não?

-Eu tenho minhas dúvidas quanto à verdadeira história da minha vida.

-Bom, você não teria me contratado se não tivesse alguma coisa para investigar. E além do mais eu tenho um nome a zelar.

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-Mas me diga lá qual é a sua linha de investigação.

-Um passarinho me contou que uma moça havia sido sequestrada há mais ou menos vinte anos e que talvez, não tenho provas ainda, mas acredito que essa moça possa ser a sua mãe biológica.

-Esse passarinho tem nome?

-Sim. Xavier. É um delegado aposentado que na época era responsável pela delegacia de Praia Bonita,

e foi encarregado das investigações do caso.

-Mas o que o leva a crer que esta moça possa ser a minha mãe?

-Tem umas histórias que correm a boca miúda entre os pescadores e o povo da vila que estou juntando os fatos para tirar minhas conclusões. Não se preocupe, em poucos dias lhe passarei mais informações.

-Mas você não veio aqui pra me dizer só isso, não é?

-Não na verdade estou precisando de uns trocados, pra molhar a mão de um pessoal aí que sabe mais coisa do que o ex-delegado me contou.

-Quem é?

-É um marinheiro, que trabalhou para um certo laboratório na ilha de Santo Isidoro. Ele sabe muita coisa, mas não quer abrir o bico.

-Onde é que ele se esconde?

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-Não posso dizer, se você aparecer lá vai estragar tudo, o cabra é liso, escorregadio, e parece que está se escondendo de alguém, se ele souber que o estamos investigando desaparece sem deixar rastro.

-Ok. Quanto você precisa?

-Uns 10 contos.

-Tudo bem, vou transferir agora. Mas, só pra lembrar, meus pais não podem saber do nosso contrato, ouviu?

-Pode deixar. Detetive que divulga suas atividades não é detetive, é curioso.

-Pronto, TED realizado com sucesso. R$ 10.000,00 na sua conta. Não me traga abobrinhas na próxima reunião. Quero informações concretas, lembre-se que estou pagando uma fortuna para descobrir a história da minha vida.

-Pode Deixar Doutor, eu não estou relaxando, lhe prometo que em uma semana no máximo já tenho novidades que irão lhe deixar surpreso.

-Espero. Confirma Alfred despedindo-se do detetive Ramirez com um aperto de mão.

Quando Ramirez fecha a porta, Alfred fica matutando e lembrando das conversas que havia tido com Antônio e Ramirez, e juntou as duas informações que acabara de receber. Antônio, minutos antes de Ramirez chegar havia informado que tinha tido uma filha que fora

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sequestrada e Ramirez o informara da conversa com o ex-delegado Xavier.

-Pensando alto, Alfred se auto corrige, mas como pode, aquele homem é branco, então a sua filha provavelmente também.

Pega então o seu celular e liga imediatamente para Ramirez que já havia deixado a fábrica.

-Ramirez. Tenho uma informação que talvez seja importante, e queria que você soubesse.

-Qual?

-Acabei de contratar um peão pra trabalhar na fábrica, e conversando informalmente ele me falou que teve uma filha raptada há mais ou menos 20 anos. O que você acha?

-Muito bom. Estou voltando, preciso conversar com esse homem.

-Beleza. Despede-se mais uma vez Alfred Júnior desligando o celular.

Um Bentley inglês cor prata aproxima-se da cancela da fábrica. Dentro dele, o motorista e no banco de trás, o Dr. Alfred Müsk. O segurança reconhece o seu patrão, e logo aperta um botão fazendo com que a cancela se levante dando passagem ao veículo.

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Alfred Júnior em sua sala visualiza a chegada do seu pai através do monitor das câmeras de segurança.

-O velho não pode se encontrar com Ramirez, pois já anda desconfiado que eu estou fazendo alguma investigação. Pensa Alfred Júnior. Assim que o carro passa pelo portão principal e segue para o estacionamento da administração, Alfred Júnior pega o interfone e pede aos seguranças para não permitirem a entrada de Ramirez.

-Atenção Samuel, o Ramirez está retornando, peça para ele voltar em uma hora, no momento não vou poder atendê-lo, estarei em reunião com o meu pai, ok?

-Sim senhor.

Já em sua sala o Dr. Alfred Müsk, invoca o seu filho à sua presença.

-Júnior, preciso falar com você.

-Beleza pai, chego já, algum problema?

-Nada sério. É a respeito daquele carregamento de lagosta que irá para a Africa do Sul.

Em minutos, Afred Júnior está na sala do pai.

-Qual a bronca?

-Nenhuma, mas você já deu entrada na documentação alfandegária como pedi? Pergunta o Velho Alfred.

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-Sim. Estão todos na minha sala, se tivesse dito antes já estariam aqui.

-Desculpe é que estou preocupado com umas coisas.

-É sério?

-Não se preocupe, é cisma minha.

Alfred não quis mais puxar assunto, pois sabia onde essa conversa poderia chegar, retorna à sua sala, deixando o seu pai só em sua sala.

-Senhora Magali, por gentileza dê um pulo aqui em minha sala. Interfona o Dr. Alfred para a sua secretária particular.

-Pronto Dr. Em que posso lhe ajudar? Interroga a secretária.

-D. Magali, quero lhe pedir um favor particular, e quero que fique entre nós, ok?

-Claro Dr. Estou aqui para lhe atender.

-Eu sei, é que é um pedido altamente confidencial entende?

-Pode falar, Doutor, se estiver ao meu alcance...

-O problema é que se trata de um assunto delicado e envolve o meu filho, que não pode nem sonhar que estou lhe pedindo isso que vou lhe pedir.

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-Pois não Doutor. Pode falar, serei o mais discreta possível, não se preocupe.

-Vou direto ao ponto. Estou desconfiado que o meu filho está desviando dinheiro da empresa, e preciso que a senhora me informe todo movimento suspeito, qualquer pessoa estranha que ele receber na sua sala etc. Posso contar com a sua ajuda e descrição?

-Sim senhor. Pode ficar tranquilo. Hoje mesmo começo a fazer as minhas anotações e lhe enviarei um relatório com todos as reuniões que o Dr. Alfred Júnior participar. Confirma solenemente, a secretária.

-Muito obrigado, eu sabia que podia contar com a senhora. Agradece o Dr. Alfred liberando a sua secretária.

Uma hora depois, O Dr. Alfred ainda estava em sua sala, um telefonema aqui outro ali, e nada dele ir embora.

Alfred júnior já estava preocupado com a possibilidade de o seu pai esbarrar com o detetive Ramirez. Pega então o seu celular e envia uma mensagem de Watts App para o amigo detetive.

-Ramirez, não venha agora, ainda estou em reunião, quando terminar eu te aviso.

-Beleza. Responde Ramirez.

Em seguida o Dr. Alfred Müsk se despede de alguns funcionários e também do seu filho, fazendo-lhe um pedido:

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-Júnior, me prepare um relatório de toda movimentação financeira da fábrica, quero uma planilha em excel com o fluxo de caixa com todas as entradas e saídas, pode ser pra amanhã? Pede o Dr. Alferd, que depois segue em direção ao seu carro, onde o motorista o aguarda.

Após a saída do Bentley da fábrica, outro automóvel, se aproxima da cancela, onde o seu motorista faz sinal para o segurança acionar o controle da cancela, para que esta rotacione para cima dando passagem ao Hb20 cinza, conduzido pelo detetive Ramires que entra seguindo para o estacionamento de visitantes.

Já na sala de Alfred Júnior, os dois amigos sentam-se em lados opostos de um birô de vidro temperado.

-Quem é o homem? Pergunta Ramirez.

-Vou pedir pra ele vir aqui. Responde Alfred Júnior, acionando uma tecla do interfone.

-Dona Simone, o sr. Antônio já está livre?

-Falta só ele assinar o contrato, é rapidinho. Responde A secretária.

-Peça pra ele vir na minha sala, depois ele assina.

-Ok então.

Em cinco minutos ouve-se um tok tok na porta da sala.

-Pode entrar. Informa Alfred.

-Pois não doutor, quer falar comigo?

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-Sim. É a respeito de uma coisa que o sr. Me falou Há pouco, sobre sua filha que foi “robada”, lembra?

-Sim Sr. Ela apareceu?

-Não, ainda não, mas quem sabe a gente não descubra o que aconteceu com ela? Este é um amigo meu, o detetive Ramirez. Explica Alfred fazendo as apresentações.

-Muito prazer. Diz Antônio.

-Prazer. Responde Ramirez. O Sr. Pode me contar como foi o rapto da sua filha Dr. Antônio?

-Sim Senhor. Foi no dia 04 do meis de ortubro, do ano de 1988, me alembro Cuma se fosse hoje, era assim por vorta de umas quatro hora da tarde, num sabe, ela tava com a irmã e o fio de um vizinho da gente brincano na praia, aí vinhero uns home numa lanchona e botaro ela dentro e inté hoje não temos mais notícia da minha fia.

-Como era o nome da sua filha?

-Era Ana Beatriz da Silva, mais nós chamava ela de Bia.

-Sr. Antônio, o que foi que a polícia fez com relação a isto?

-Eles procuraro, veio inté um alucópero da poliça afederá, mais num viro nem o rastro.

-Muito Obrigado Sr. Antônio, o Sr. Pode voltar pra o seu serviço, vou precisar falar com o sr. Outras vezes Ok?

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-Sim Senhor, pode me chamar que eu tô a sua disposição, se eu puder ajudar a encontrar minha fia, eu fico muito é agradecido.

O Sr. Antônio volta ao setor de recursos humanos para assinar a sua contratação. Alfred e o detetive Ramirez divagam sobre o que acabaram de ouvir.

-O que você achou Ramirez? Pergunta Alfred.

-É um pouco cedo pra deduzir alguma coisa, porém esta informação coincide com a minha linha de investigação, não vou desprezar, inclusive, acho que devemos fazer um exame de DNA entre você e o Sr. Antônio, vai que...

-Você não está achando que...Mas eu sou negro e esse homem é branco. Eu sei que pode acontecer, se por acaso o pai que é quem tem o gen dominante for negro...

-Mas estou indo amanhã me encontrar com o tal marinheiro, depois te digo mais alguma coisa, e não perca o Sr. Antônio de vista, segure-o aqui.

-Nem se preocupe.

Na sua sala, D. Magali prepara seu relatório para enviar para o e-mail do Dr. Alfred Müsk:

Neste dia (12 de julho de 2018), por volta das 09h00 O Dr. Alfred Júnior recebe em sua sala o Sr. Rafael Ramirez, que sai 20 minutos depois. Às 11h00 recebe novamente o Sr. Ramirez, e também convoca a participar da reunião

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um funcionário novato que aliás ainda está sendo incluído no quadro para trabalhar na docas.

Às 15h00, horas recebe o Sr. Idelfonso Pedrosa da rede de supermercados Compremais.

Às 16h00, encontra-se com o pessoal da fazenda estadual que faz a fiscalização da documentação fiscal das empresas.

Às 17h00 fecha a sua sala e sai.

Ao receber o e-mail, o Dr. Afred Musk para o olhar fixo no ar, imaginando qual o assunto que o seu filho teria a tratar com o detetive Ramirez. Mas não há de ser nada, eles sempre foram amigos...Conclui.

No dia seguinte, em seu apartamento, Ramirez pega o celular e liga para um número em sua lista de contatos.

-Alô?

O celular chama mais uma vez, e apesar de chamar ninguém atende. Tenta mais uma vez e novamente não é atendido.

Resolve então deixar uma mensagem de texto:

-Bom dia, eu sou o Paulo de Souza, amigo do seu irmão Aldenício, posso falar com você? É assunto do seu interesse, você não vai se arrepender.

O sinal de que a mensagem foi visualizada aparece, e em seguida uma mensagem é digitada de volta:

-Qual é o assunto? Pergunta o contato.

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-Tem que ser pessoalmente, mas lhe garanto que vai rolar um bom trocado beleza?

-Quanto? Pergunta novamente o contato.

-Uns 2 paus. Responde Ramirez.

-Você tá brincando, esse trocado não paga nem o Uber pra eu ir no encontro.

-Eu dobro. Tenta mais uma vez o detetive.

-Dobre de novo e mais 2.

-Aí você me quebra, chego a 8 paus, é pegar ou largar.

-Ok fechado estarei em frente à igreja matriz dentro de uma hora, e outra coisa leve o faz-me-rir em espécie, não tenho conta em banco.

Em uma hora Ramirez já está no local combinado, e logo em seguida, para um Uber, e dele desce um Sr. Negro de mais ou menos 50 anos, puxando por uma perna, usando um par de moletas.

-Bom dia, você é o Paulo? Interroga o homem. Trouxe a encomenda?

-Sim claro, eu não faço papel safado, está aqui. Mostra uma pasta tipo organizadora contendo 80 notas de R$ 100,00.

-Assim que se faz. Acena o Sr. vamos logo ao assunto, não tenho tempo pra perder, o que você quer saber?

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-Primeiramente me diga o que aconteceu com sua perna?

-A história é longa, mas faz parte do enredo que eu vou lhe contar. Pode perguntar o que você quer saber.

-Primeiro, me diga o que o senhor sabe sobre o sequestro de mulheres que ocorreram na praia do Coqueirinho nos anos de 1986 a 1989.

Limpando a garganta, aparentemente constrangido, o homem começa explicando os fatos.

-Bem, eu estava desempregado e um amigo me ofereceu uma vaga de auxiliar de mecânico numa marina, que tinha lá na ilha de Santo Isidoro. Eu não ia desperdiçar uma oportunidade daquelas, aí eu aceitei, no dia seguinte, eu já estava embarcando pra lá no barco deles que já estava ancorado no Pier da prainha, sendo abastecido com mantimentos, eu achei estranho a quantidade de alimentos que eles embarcaram, mas, fui pra lá. A conversa lá mudou de rumo, me chamaram pra uma reunião e me disseram que daquele dia em diante eu ia ser chamado de C2, era o código de capataz 2. E que aquilo era uma fazenda de criação de gente.

-Como?

-É isso mesmo, uma fazenda onde os bezerros, na verdade eram crianças produzidas para serem doadoras de órgãos.

-Puta merda, que ideia da porra.

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-Eles sequestravam as mulheres para serem as vacas, e botavam os óvulos fertilizados com as características genéticas dos bebês que necessitavam de algum órgão para serem transplantados e conseguir sobreviver.

-E eles conseguiram algum êxito?

-Vários. Agora só aqueles que os pais tinham dinheiro, era tudo em Euro ou Dollar. US$ 2 000.000,00, por aí. E vinha gente de tudo quanto era lugar, Itália, Estados Unidos, do Brasil, e era só helicóptero.

-Por que você resolveu contar isso agora?

-Porque eu tive um caso com a administradora que era A1, e aconteceu que a gente era encarregado de pegar as mulheres na praia e levar para a ilha, e lá na verdade funcionava como um hospital e maternidade, sendo que as mulheres eram presas e dopadas pra serem mães de aluguel dos bebês que eram gerados para doar os órgãos. Mas continuando, uma dessas mulheres que a gente levou, eu mexi com ela na lancha, você sabe né? A gente quando é novo não pode ver um rabo de saia. Aí aconteceu que fizeram um implante de um óvulo nela que era para nascer com as mesmas características do bebê branco, que receberia os órgãos, acho que eram o pulmão e o coração.

-Pera aí, pera aí, pera aí, e o que acontecia com o doador?

-Era descartado. No andar de cima do hospital, tinha um museu marítimo de fachada, e tinha um aquário que era cheio de tubarões.

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-Caralho! Admira-se o detetive.

-Mas continuando, quando o bezerro nasceu, não nasceu com as características do que ia receber os órgãos, nasceu negro, pois, eu já teria engravidado a mulher e o bebê era meu filho.

-Quer dizer que era realmente filho biológico da mulher e seu?

-Sim. E o pior é que tiveram que devolver o dinheiro que o cliente já tinha pago como sinal, US$ 250.000,00. E por ciúme a administradora montou uma armadilha pra me matar, armou um esquema com outra funcionária que devia favor a ela, e me atraiu para o quarto dela, quando eu cheguei lá, A1 estava escondida por traz de uma cortina, com uma arma na mão, e disparou quatro tiros, pegando dois em mim, um na minha perna, e outro passou de raspão no meu ombro. Ela pensou que eu tinha morrido e mandou o pessoal da segurança levar o meu corpo para ser jogado no tanque dos tubarões. Acontece que os caras eram meus amigos, e em vez de cumprir a ordem da toda poderosa, me levaram para uma sala que estava aguardando a chegada de outra vaca, e uma das enfermeiras me deu os primeiros socorros. No outro dia um barco estava indo ao continente pegar mantimentos, e eu consegui me esconder dentro de um contêiner vazio usado para carregar produtos de mercearia. Graças a isso estou aqui contando esta história.

-E o que aconteceu com o bebê que nasceu negro, o seu filho.

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-Não sei, talvez tenha sido jogado aos tubarões.

-E essa fazenda como você diz, ainda existe?

-Não. Fiquei sabendo que, depois do que aconteceu comigo, alguém denunciou o esquema e a Polícia Federal foi lá e prendeu todo mundo, e a ilha foi a leilão e um grandão aí arrematou ela.

-Você toparia fazer um exame de DNA?

-Sim, mas não estou entendendo, qual o motivo?

-Bom, na verdade eu me Chamo Rafael Ramirez, e sou detetive particular.

-Bem que eu desconfiava, quem mandou você aqui, foi o pessoal da fazenda? Ou a polícia? Retrucou o ex-capataz C2, que na verdade se chama Severino Alves, apressando-se pra ir embora.

-Espere, quem me contratou não tem nada a ver com a fazenda, mas pode ser que lhe interesse muito saber algumas novidades.

-Quem foi?

-Calma, logo você vai saber, só preciso que você me dê um pedaço de sua unha ou cabelo.

-Sim, mas pra quê isso.

-Aqui está o valor do nosso acordo. Não estou aqui pra brincadeira, e se der tudo certo, e as coisas acontecerem como estou imaginando, você vai ter muito a ganhar, não tenha medo.

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-Tudo certo. Aqui está o fio de cabelo, e também um pedaço da minha unha. Concorda o ex-capataz, tirando um fio do seu cabelo e com um aparador de unha corta um pedaço e entrega ao detetive Ramirez.

-Só mais uma coisa, e a tal mulher que você engravidou, qual o destino dela?

-Não tive mais notícia dela, talvez tenha voltado para a casa dos pais, não faço a menor ideia.

-Tudo bem então, aguarde meus contatos, em breve vou lhe apresentar a uma pessoa que acho que você vai gostar de conhecer.

-Beleza. Espero não está caindo em outro golpe.

-Pode confiar que não. Até breve. Despedem-se.

Imediatamente após entrar em seu carro, Ramirez pega o celular e faz uma ligação.

-Alfred, tenho grandes novidades pra você.

-Sério? Indaga Alfred.

-Acho que estamos próximo de fechar o cerco.

-Me diga logo, o que você descobriu?

-Pessoalmente, estou indo para a fábrica.

-Venha rápido, não me contenho em curiosidade.

Em 30 minutos, o HB20 do detetive Ramirez aproxima-se da cancela da Pescados Müsk, onde já era esperado pelos seguranças que de imediato acionam o controle

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para rotacionar a trava de madeira azul com a logo da empresa.

-Doutor Alfred, o Sr. Ramirez já chegou, posso deixá-lo entrar? Pergunta a secretária pessoal de Alfred Júnior.

-Sim com certeza.

Ao entrar na sala do gerente de processos da Pescados Müsk, Ramires senta-se na cadeira em frente ao seu contratante e amigo, O Dr. Alfred Júnior. Retira do bolso um pequeno envelope que o abre e retira de dentro um fio de cabelo encaracolado e uma pequena ferpa de unha.

-Sabe o que são estas coisas? Pergunta Ramirez ao seu amigo.

-Não faço a menor ideia. Responde Alfred Júnior.

-Isto talvez seja um fio de cabelo e um pedaço de unha do seu pai biológico. Vamos tirar a dúvida fazendo um teste de DNA.

-Como você conseguiu isso? Quem é ele? O que ouve me fale pelo amor de Deus.

-Calma, a história é grande, e você não faz ideia do que aconteceu.

Após ouvir toda história, Alfred extasiado, para com o olhar fixo, perplexo, não tem palavras.

-Puta que pariu. Exclama por fim Alfred Júnior.

-Uma história e tanto, não? Conclui Ramirez.

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-Aqui está o meu fio de cabelo, precisa de mais alguma coisa, pra o exame?

-Acho que um exame mais completo seria com uma amostra de sangue. Mas vou encaminhar ao laboratório de análise do IML, para obtermos um laudo mais oficial.

-Tudo bem, faça o que for preciso.

-Não podemos esquecer o seu novo empregado, quero o material dele também, lembra que ele falou que teve uma filha sequestrada? Esse cara pode ser o seu avô biológico.

-Rapaz é mesmo. Vou chamá-lo aqui.

-Não. Peça à uma secretária pra pedir, alegue que é para o cadastro na empresa ou coisa do gênero.

-Realmente, não quero que alimente nenhuma expectativa nem comente com ninguém.

Apertando uma tecla, Alfred chama a sua secretária em sua sala.

-D. Sônia, por gentileza quero lhe pedir um favor e que a senhora não comente com ninguém.

-Pois não Doutor, pode ficar tranquilo, mas o que é?

-Quero que a senhora vá lá nas docas e peça uma amostra de cabelo daquele conferente novato, diga que é para o cadastro na empresa, entendeu?

-Sim senhor, pode deixar comigo.

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CAPÍTULO XXIV

A contra investigação

O Dr. Alfred Müsk, em seu escritório doméstico, abre como sempre o faz, o seu E-mail, e percebe que em sua caixa de entrada há um que lhe chamou a atenção.

Movimentação financeira

Conforme solicitado, segue o relatório de toda movimentação financeira da empresa.

01/10/2008 ........entrada R$ 50.000,00

02/10/2008.........entrada R$ 60.000,00

03/10/2008.........saída R$ 10.000,00 (pagamentos diversos)

04/10/2008.........saída R$ 30.000,00 (pagamento pescadores)

..........................................

Atenciosamente,

Afred Júnior

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Ao ler este relatório, o Dr. Alfred imediatamente pega o seu celular e faz uma ligação.

-Alô Júnior? Sou eu.

-Alô pai Tudo bem?

-Eu vi o relatório que você mandou. Esses pagamentos diversos, de R$ 10.000,00 você tem os comprovantes?

-Tenho sim à noite eu lhe mostro quando chegar em casa ok?

Sem problemas.

À noite, o jantar está à mesa, todos os ocupantes da mansão em torno da longa mesa de jantar, o Dr. Alfred volta a cobrar ao seu filho, os comprovantes dos pagamentos.

-Júnior, cadê os comprovantes que lhe pedi.

-Isto lá é hora de falar em negócios Alfred. Reclama a Srª Anne Müsk. Deixa o menino jantar em paz.

-Não tem problema não mãe, estão aqui. Responde Alfred Júnior retirando um envelope de dentro de uma pasta com a logo do laboratório de pesquisas genéticas do IML.

-O que é isso? Pergunta o Dr. Alfred, com uma pulga atras da orelha.

-Isso aqui pai, é o resultado de uma investigação que eu fiz juntamente com o meu amigo o detetive Ramirez. Toda história da minha vida está resumida neste

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envelope, assim como os comprovantes dos desfalques que o Sr. acha que eu dei na empresa, usados para pagar as despesas desta investigação.

Num canto da sala de jantar, limpando uma coisa ou outra, com uma flanela, e trajando um avental azul contornado por uma faixa branca bordada em um bolso do tipo canguru e um bandana da mesma cor na cabeça, uma das auxiliares ouve tudo, disfarçando porém, que não está atenta à conversa dos patrões.

-Meu filho, em momento algum eu desconfiei de você, acontece que a empresa tem responsabilidade perante o fisco, e eu preciso comprovar todos os gastos, assim como as receitas. Se defende o Doutor Alfred Müsk.

-Não se desculpe pai, eu entendo perfeitamente. Só queria que agora o Sr. Me contasse o que ainda não sei sobre a minha existência, o meu pai biológico eu já conheci. Agora eu preciso saber quem é a minha mãe verdadeira, qual o seu paradeiro. Se posiciona Alfred Júnior. Neste momento, aquela auxiliar deixa cair uma das taças que estava em suas mãos, espalhando cacos de vidro pelo chão.

-O que foi Bia, por que você ficou tão nervosa de repente? Pergunta curioso Alfred Júnior.

-Seu Júnior, desde sempre eu quiz lhe contar toda história, mas eu tinha feito um trato de silêncio com o seu pai, caso contrário você tinha virado ração para tubarão. Se explica a auxiliar em prantos.

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-Então é você, Bia? Eu bem que desconfiava, sempre notei um carinho especial de você comigo. Eu preciso de saber tudo o que aconteceu, cada detalhe. Questiona Alfred Júnior.

-Você já sabe a história da fazenda não sabe?

-Sim, mas não sei os detalhes, pode começar.

Exige, o filho de Bia. Como você veio parar aqui nesta casa? Conclui.

-Eu era uma adolescente ainda quando o pessoal me agarrou e me jogou dentro daquele iate, e no percurso até a fazenda, eu fui dopada e estrupada, e quando eu acordei, estava presa em um quarto que parecia um hospital. E pouco tempo depois, vieram uns médicos e colocaram alguma coisa dentro de mim. Nove meses depois você nasceu, não compreendi por que o pessoal ficou muito irritado com o fato de você ter nascido negro. Bom, o resto você já sabe, e quando seu pai foi pegar você, eu clamei por socorro, e ele sem que a administradora percebesse piscou um olho pra mim, me fazendo crer que ele iria me tirar daquele cativeiro. Explica Bia. Só algum tempo depois, apareceu um monte de policial, que prendeu todos os funcionários e a administradora uma que todos chamavam de A1. Explica Bia.

-Sim, mas você ainda não me disse como chegou aqui. Questiona Alfred Júnior.

-Os policiais me recolheram e me entregaram a um homem que me levou ao escritório do seu pai. E lá foi

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que ele me pediu para manter segredo sobre a sua existência, e que iria cuidar de mim, e de você, e iria lhe criar como um filho. Conclui Bia.

-Então, pai foi você quem denunciou a fazenda?

-Sim. Na verdade, apesar de ter de certa forma participado de um projeto eticamente desprezível, ou desumano, um misto de remorso e arrependimento tomou conta dos nossos corações, foi aí que resolvemos ajudar àquela jovem que clamava por socorro.

-Mas pai, você também poderia ter sido preso, pois, você tinha encomendado um bebê para ser sacrificado para doar os órgãos.

-Sim, por isso que optei por apagar todos os arquivos e documentos daquele projeto, e solicitei a Bia para silenciar também.

-Bia, amanhã você vai comigo para a fábrica, quero lhe apresentar a um funcionário que acabei de contratar. Informa Alfred Júnior.

-Vou sim meu filho, quem é? Indaga curiosa Bia.

-Amanhã você o conhecerá. Afirma Alfred Júnior.

No dia seguinte, o café da manhã já está posto, e Bia ansiosa já colocou sua melhor roupa.

A cancela da entrada da fábrica é levantada pelos seguranças da portaria, para dar passagem à Ferrari vermelha de Alfred Júnior que conduzia uma pessoa no banco do carona, era Bia, que não se continha

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de curiosidade para conhecer o novo funcionário da fábrica dos seus patrões. Estacionado a Ferrari, Alfred se dirige à sua sala, abre a porta e acomoda-se em sua cadeira, convidando Bia para fazer o mesmo, lhe oferecendo um copo d’água. Aperta a tecla do interfone:

-Dona Magali, por favor me chame aqui o Sr. Antônio. Solicita Alfred, à sua auxiliar. Bia, já desconfiando de qual Antônio Alfred se referia e com um ar de quem está emocionada, com as mãos trêmulas, pega o copo com água e coloca-o na boca. Quando vê a porta da sala se abrir e suas suspeitas se confirmarem, quando aparece à porta um senhor vestindo um uniforme de trabalhador braçal, com seus raros cabelos brancos, Bia imediatamente reconhece o seu pai, Antônio da Bica, e corre a abraçá-lo e caem ambos num soluço emocionado.

-Meu pai, como o Sr. Está, por onde o senhor andou? Pergunta Bia ao pai, enxugando as lágrimas.

-Ô minha fia, que sordade, o que fizero com vosmecê? Eu e sua mãe quase enlouquecemo.

-Vocês têm muito o que conversar, vou deixá-los à vontade. Fala Alfred, saindo da sala.

-Pai eu fui botada numa lancha e me lavaram para um hospital. Bia descreve os fatos ocorridos.

-Minha fia quer dizer então que é a mãe do Dotozinho?

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-Não oficialmente, pois ele foi adotado pelo casal que é dono disso tudo aqui.

-Maise e se a gente provasse que ele é seu fio?

-Pai, eu fui solta do cativeiro graças ao Sr. Alfred, que é o pai dele nos papeis, e além do mais eu tive que assinar um termo de doação pra eles. Não tem jeito.

-E tua mãe e tua irmã, vc tem notícias delas?

-Não.

-Ouvi dizer que elas tão no engenho Capim Bonito, Aninha tá casada com o fio do dono.

Neste Momento Alfred Júnior retorna a sua sala, e sentando-se em seu birô, coloca sobre a mesa, um envelope contendo o resultado de um exame de DNA.

-Este é o resultado de um exame que fiz com o meu DNA e o do Sr. Seu Antônio, onde comprova minha suspeita: o Sr. é realmente meu avô biológico e eu sou seu filho Bia.

-Eu sempre soube meu filho. Confirmou Bia.

-Eu sei também que sou produto de um estupro, que na verdade os meus pais adotivos teriam encomendado uma criança com a genética de um filho biológico deles que necessitava de um transplante, mas que quando fizeram a inseminação in vitro você já estava grávida de mim. Argumentou Alfred Júnior.

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-Só que este filho não sobreviveu. Então eles me adotaram, e me deram o mesmo nome dele, e me criaram como filho, me educaram e me deram tudo que um pai e uma mãe sonham para um filho. Por sorte, eu não nasci com a genética esperada, fui um acidente, um produto que veio com falha em sua produção, caso contrário eu teria tido meu fígado retirado e meu corpo jogado aos tubarões. Continuou Afred Júnior.

Aos prantos, os três se abraçaram.

-Pra ficar bom mesmo é só encontrar a Bastiana e a Aninha. Solicitou Antônio.

-Tenho mais uma surpresa pra vocês. Falou Alfred.

-Dona Magali. Apertando uma tecla no interfone, Alfred Júnior chama a sua secretária.

-Sim Doutor, pode falar. Responde a Secretária.

-Peça a estas duas senhoras para virem à minha sala.

Antônio e Bia se entreolharam. Será?

Em instantes estavam na sala de Alfred, Bastiana e Aninha, agora uma jovem senhora com uma criança nos braços. O chororô mais uma vez tomou conta da sala da gerência da Pescados Müsck.

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CAPÍTULO FINAL

Uma reflexão sobre a fazenda.

Na mansão em que moram em Porto Alegre, o garoto Enzo Cantarinno Júnior de 8 anos, questiona à sua mãe:

-Mamãe, porque o meu irmão que está nesta foto parece muito comigo, só que ele aí parece eu mais velho? E como foi que ele foi pro céu?

-Filho, esta história eu só iria lhe contar quando você, fosse um pouco mais velho, mas já que você já compreende bem as coisas eu vou lhe contar. Responde Silmara sua mãe.

-O caso do seu irmão foi a maior tristeza das nossas vidas, ele foi assassinado por um policial, e nós, eu e seu papai, quase enlouquecemos tamanha foi a tristeza que se abateu sobre nossas vidas. Começa Silmara, já com os olhos lacrimejando.

-Não chore mamãe, eu estou aqui. Consola Enzo Júnior.

-Aí então nós conhecemos uma clínica que faz nascer um bebê do jeito que a gente quer. Então a gente foi lá e

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pedimos um bebê igual ao seu irmão. Por isso que você parece com seu irmão, e colocamos também o mesmo nome dele para que a gente esqueça o que aconteceu. Explica Silmara.

-Mas como eles fazem isso mamãe? Questiona Enzo Júnior.

-Quando a gente chegou lá eles pediram um pedacinho do cordão umbilical do seu irmão, aí como a gente tinha guardado como lembrança, levamos pra eles que fizeram um projeto de engenharia genética, com a células do cordão umbilical, criando outro bebê igual ao seu irmão, usando as chamadas células tronco. Explica mais uma vez Silmara.

-Então quer dizer que eu sou uma cópia do meu irmão, mamãe? Pergunta Júnior.

-Mais ou menos meu filho, mas não se preocupe com isso mamãe ama você do mesmo jeito que amava seu irmão.

-Por que o policial matou o meu irmão mamãe? Questiona mais uma vez Júnior.

-Porque seu irmão já era grande e bateu com o carro no policial que vinha em uma moto, por vingança meu filho.

-Mas o policial não ficou bem mamãe? Questiona Enzo Júnior.

-Sim, mas ele é um assassino, por isso fez isso.

-E onde é que fica esta clínica mamãe?

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-Fica em uma ilha no litoral do estado de Pernambuco, meu filho, chamada Ilha de Santo Isidoro. Muitas crianças foram salvas muitos pais tiveram seus filhos de volta, graças às experiências que foram feitas nesta fazenda, apesar dos meios aparentemente desumanos, os fins os justificavam.

FIM

MCantarelli
Enviado por MCantarelli em 13/09/2020
Reeditado em 28/10/2021
Código do texto: T7061959
Classificação de conteúdo: seguro
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