2020 - As Mulheres Adoram Diamantes

Era difícil agradar Nefertite#474. Disso AmenHotep#537 já sabia há algum tempo. Mercúrio, Vênus, Terra, Lua, Marte, Ceres, Plutão e Caronte... Todos os corpos rochosos mais massivos do sistema planetário original do ser humano já eram de sua propriedade! Todos os elementos rochosos preciosos, bem como todos os que porventura ainda iriam ser descobertos nestes corpos rochosos, eram dela! Os planetas gasosos não interessavam a rainha da Humanidade, bem como seria impossível lhe dar a posse de todos os corpos rochosos existentes em nosso cinturão de asteroides. Mas ela ainda assim se recusou a aceitar aqueles 10 quilos de diamante puro que AmenHotep#537 lhe oferecia, se esforçando para erguer o surpreendente pedaço polido de diamante sintético:

- Dez quilos de carbono transformados aqui, minha rainha! Duvido existir uma peça natural dessas dimensões em qualquer corpo rochoso de nosso sistema planetário...

- É artificial, meu amado AmenHotep! Me contentaria com um único decigrama de diamante natural aqui em meu dedo...

AmenHotep não conseguia entender a diferença. Se os diamantes sintéticos eram ainda mais puros que os naturais, agora inexistenes? Eram mais baratos de se conseguir que os naturais (extremamente raros no século 50!!) Eis aí a diferença! O diamante sintético, ainda que mais deslumbrante que o natural, era mais barato. Era fácil consegui-lo. Nada custava para o homem consegui-lo e presentear sua amada. E, por isso, nada valia! Não era o objeto em si que interessava, e sim o esforço em consegui-lo. Eis aí a prova de amor que Nefertite precisava!

- Não existem mais diamantes naturais, minha amada...

- Não aqui na Terra. Nem em Marte, Vênus, Mercúrio... Mas ainda deve existir aí em volta, né? O carbono não é tão raro assim, e em algum planeta aqui da galáxia ele deve ter submergido, mantido a alguns milhões de anos sob pressão e se reestruturado em diamante, não é?

Ele fitou com ternura os olhos amarelos de sua amada rainha e esposa, representantes Humanos dos sistemas planetários existentes entre as estrelas dos braços de Perseu e Sagitário da Via-Láctea. Impressionante como um pedaço desgarrado dos dois braços, não pertencente nem a um nem a outro, conseguira em poucos séculos se consolidar como estado representante de ambos. Quer pela sua tecnologia superior, quer pela mesma tecnologia, ainda que inferior, usada de forma inteligente e vitoriosa! O espírito guerreiro do Homo Sapiens, consolidado em seus genes! A vitória humana sobre os vegetais carnívoros inteligentes de Orion, que pretendiam distribuir cérebros humanos como iguarias raras por toda a galáxia, ainda repercutia em todos os cantos daqueles braços espirais! Como primatas que mal haviam saído das cavernas há uns 30 mil anos haviam derrotados as temidas plantas inteligentes que dominavam o Braço de Sagitário há quase um bilhão de anos? Enfim, aconteceu! E muitos mamíferos (ou aparentados a mamíferos) comemoraram a vitória humana em vários cantos da Via-Láctea!

Mas tudo, até o momento, fora feito respeitando as leis cósmicas de gravitação. Ninguém ainda ousara desafiá-las. Até agora...

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Uma ideia inesperada começava a ser formulada na mente de AmenHotep#537. Que respeito religioso era este que todos os seres inteligentes tentavam preservar em torno das leis de gravitação de Newton? Bom, Newton é apenas o representante humano que descobriu leis percebidas por várias outras raças inteligentes da galáxia, algumas bem cedo, outras mais tarde... Tudo o que elas precisavam fazer era observar os pontos luminosos "errantes" de seus céus. Pois todos se comportavam iguais. Em sistemas planetários de planetas únicos a demora era até desculpável, já que eles não tinham referências celestes brilhantes nas quais pudessem basear suas teorias. Mas era consenso comum que o ser humano, com pelo menos 7 corpos celestes errantes bem visíveis para observar (incluindo a lua e o próprio sol) haviam demorado mais que o previsto para tirarem suas conclusões cósmicas de onde estavam. Enfim, demorando ou não... tanto faz! Eram agora mandantes de pelo menos dois braços espirais da Via-Láctea. E AmenHotep pretendia agora, por capricho de sua amada rainha, ousar mais! E desafiar leis newtonianas, nunca antes transgredidas na história dos seres inteligentes da galáxia...

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- Não existe vida neste planeta?

- Não existe, imperador!

- Tão perto desta estrela, é mesmo impossível! Bem mais perto que nosso Mercúrio! Descrevendo uma órbita completa a cada 18 horas terrestres? Isso é muito perto! Nenhum tipo de vida que conhecemos, mesmo nas mais absurdas especulações de escritores de ficção científica, sobreviveriam a tal carga energética de seu sol central! Então estaríamos simplesmente levando... um planeta morto? Um pedação gigantesco de pedra?

- Exatamente, Imperador! Seu sistema planetário mal sentiria sua falta! Muito pelo contrário: seria até um benefício afastar de seu sol central um agente potencialmente desestabilizante como este! Qualquer forma de vida inteligente atual ou futura deste sistema certamente agradeceria esta nossa intervenção caso viessem a descobri-la!

AmenHotep estava satisfeito com as explicações, e enfim aprovou:

- Certo, Astrônomo-Chefe! Está decidido então! Vamos levar este pedaço de rocha conhecido como 55-Cancri-E!!

O astrônomo baixou os olhos envergonhado.

- Meu Imperador Soberano da Humanidade, lamento dizer que está exatamente aí nosso problema... Não sabemos como levá-lo! Isso nunca foi feito antes...

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"Se a montanha não vai até Maomé, então Maomé vai até a montanha...", dizia o ditado milenar. Estaria correto? Fiel ao original? AmenHotep sempre achou que não, que estava invertido. Mas era exatamente o que fazia agora: convencera "Maomé", e o levava até a montanha, uma vez que era impossível levar a montanha até Maomé. Sempre conseguindo fazer o impossível, era difícil pra humanidade admitir tal fracasso. Mesmo que temporário. Mas fizera exigências, sem dúvida!

- Quanto diamante lá existe?

- Uma crosta com três vezes a massa de nossa terra!

- Diamante puro?

- Partes esparsas de grafite aqui ou ali, quase imperceptíveis. Mas a maior parte de diamante natural, criado por carbono pressionado.

Era perfeito para AmenHotep.

- Mas tem a camada de grafite, não é?

- Alguns quilômetros da crosta externa. Inclusive responsáveis pela pressão que criou a camada de diamante.

- Eliminem ela, de alguma forma.

- Como?

- Queimem! Espalhem nano máquinas pela superfície capazes de transformar grafite em metano volátil... mas suma com esta camada! Quero exposto um planeta de diamante natural puro, entendeu?

- Mas, imperador!

- Mas???? Me desafia, Engenheiro Ambiental Planetário? Como é mesmo seu nome?

Ele engoliu em seco. Achou melhor concordar.

- Tenho quanto tempo?

- 5 anos locais! Dois e meio para eu voltar à Terra, mais dois e meio para voltar com minha rainha, tomando um atalho de dobra espacial nestes 41 anos-luz que nos separam.

- Verei o que posso fazer.

- Não! Você VAI fazer! Se é que me entende...

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Nefertite#474, Rainha dos dois braços galácticos mais ricos da Via-Láctea, não acreditava na surpresa que a esperava lá embaixo, da órbita em que agora acabara de se estabilizar.

- 55-Cancri-E, meu querido? O "planeta-diamante"? Só para mim?

- Todo seu, minha amada!

Ela mal acreditava naquelas arestas brilhantes que via olhando para baixo, refletindo e separando o espectro da estrela central.

- Mas... não tinha uma camada de grafite?

AmenHotep olhava apaixonado sua Rainha amada.

- Não existe mais, amada Nefertite! Mandei lapidarem o planeta especialmente para você!

- O planeta é meu mesmo?

- Certamente! Para você fazer dele o que quiser!!

Olhou o marido AmenHotep#537 com ternura. Ela realmente não almejava tanto ao desprezar aquele diamante sintético de 10 quilos que ele oferecera uns 5 anos antes. Mas um planeta inteiro de diamante? De superfície lapidada? Era o melhor presente que qualquer rainha da Via-Láctea poderia desejar! A própria Rainha de Andrômeda, galáxia vizinha, e tão orgulhosa de comandar uma galáxia inteirinha só dela, não possuía uma joia deste tipo em sua própria galáxia espiral! Inclusive, agora ela sabia, com mais braços completos! Orbitando o planeta de diamante lapidado, Nefertite#474 e AmenHotep#537, senhores supremos dos braços de Perseu e Sagitário de sua Via-Láctea, se amaram naquela Estação Orbital Imperial como não faziam já há bastante tempo...