As garotas da estrela distante
A hora havia chegado. Ela havia lutado contra aquilo por tanto tempo, que a decisão que finalmente tomara soou como uma libertação.
- E como você se sente? - Indagou a irmã, Lotte, encarando-a de modo compassivo.
- Apavorada - teve que confessar, mãos entrelaçadas.
- Você não tem que fazer isso, sabe - comentou a irmã, de forma retórica. - Deixaram claro que só querem voluntárias.
- Vai ser bom para nós, Lotte - insistiu, tentando convencer-se a si mesma. - Eles ajudam as famílias de quem se inscreve no programa.
- Antes de mais nada, tem que ser bom para você - replicou Lotte calmamente.
- Eu sempre quis saber como era lá em cima - admitiu. - Eles nos dão essa possibilidade, então...
- E se você não voltar?
Ela baixou os olhos, depois voltou-os para a irmã.
- Talvez eu não queira voltar - declarou.
* * *
O robô estava sentado atrás de uma mesa metálica semicircular. Isso o fazia parecer quase humano, já que certamente não precisava descansar numa cadeira. Ela caminhou pelo centro de recrutamento, vazio e brilhantemente iluminado e aproximou-se da mesa. Parou.
- Você é Marit van Buuren? - Indagou a máquina, mãos cromadas sobre a mesa.
- Sim. Vim me inscrever no programa.
- Já esteve fora do seu planeta?
- Não. Por isso mesmo vim...
- Desejo de viajar - o robô balançou a cabeça oval num gesto de compreensão. - Muitas voluntárias expressaram esta mesma vontade. Está ciente de que, dependendo do local de destino, talvez nunca mais volte para cá? Mesmo num voo próximo da velocidade da luz, as distâncias entre as estrelas próximas podem superar a duração de uma vida humana média.
- Estou a par. E aceito as condições.
- Muito bem. Aproxime-se e ponha a palma da mão sobre esta placa - disse o robô, indicando um quadrado luminoso que surgira sobre a mesa.
Marit aproximou-se e procedeu como havia sido indicado.
* * *
Uma pequena nave auxiliar levou as 42 garotas com idades entre 18 e 25 anos, Marit entre elas, para o grande cruzador interestelar em órbita do planeta. Todas esforçando-se para ver através das janelas panorâmicas a visão da curvatura do seu mundo contra o negror do espaço.
- Nunca mais vamos voltar? - Indagou Leonie, a garota sentada ao lado de Marit.
- Você, eu não sei - replicou Marit. - Eu estou indo para o fim da linha... é onde mais precisam de mulheres para o repovoamento, depois da guerra.
- Você é corajosa - admirou-se Leonie.
- Eu sempre quis conhecer a Terra - foi a resposta sincera de Marit.
- [02-09-2020]