A Invasão Alienígena

O som na madrugada

Moro próximo a um aeroporto, já estava acostumado com som de turbinas e motores dos aviões sobrevoando minha casa. Era dia e noite aquela barulheira, se bem que durante a quarentena havia diminuído e muito o trânsito aéreo, em alguns dias parecia que nenhum avião chegava ou partia, porém naquela noite, tudo estava diferente.

Foi por volta das 3 horas da madrugada que acordei com o som alto de turbinas, parecia estar muito perto, como se um avião estive fazendo uma manobra por cima de minha casa, era raro isso acontecer, mas acontecia. Eu estava cansado, estranhei o som tão alto, mas virei pro lado e dormi, pouco depois acordei novamente com aquele barulho, também havia o som de algumas sirenes passando.

Minha casa é a duas quadras de uma rodovia federal, que liga o interior a capital, por essa razão essa seguidamente há trânsito intenso de ambulância e polícia, e o som de turbina estava mais alto, pensei em levantar, mas estava muito frio para sair à rua naquela hora, novamente me ajeitei na cama e pensei: “- Amanhã cedo descubro!”.

Levantei meio tonto, à noite tinha sido de sono quebrado, desde que tinha iniciado a quarentena, fazia meu próprio horário de trabalho, todavia sempre fui metódico quanto à rotina, fico sem norte se não seguir uma pré estipulada, então, fiz o que sempre faço: levantei cedo, cuidei de meus cachorros, eles faziam muita festa para mim, a tv estava ligada, mas com o volume baixo, nem prestava atenção na TV, era muito latido, então quando os meus cachorros se silenciaram para comer, foi que notei que o som das turbinas continuava.

Acho que meus ouvidos já estavam acostumados, pois era um som tipo que de contínuo, que entra no cérebro e fica. Pensei, vou la na rua ver o que é isso.

Estava passando pelo aparelho de tv para sair, quando a imagem que aparecia nela, me chamou a atenção.

A repórter com uma cara apavorada apontava para uma grande coisa cinza, que ocupava toda a tela, aumentei o volume.

As grandes massas cinzentas

A repórter falava que naves gigantescas estavam sobre as maiores cidades do Brasil e do mundo. Ela nem tinha terminado e corri para rua, quando abri a porta e sai ao pátio olhei para cima, o som invadiu meu cérebro, era como se 1000 turbinas estivessem ligadas sobre minha cabeça, tapei os ouvidos e fiquei boquiaberto admirando aquilo.

Era uma enorme massa cinza, que ocupava o céu, gigantesca massa cinzenta eram as palavras que melhor descreviam aquelas coisas, pois era isso que elas eram, não havia aberturas, frente, trás, cima ou baixo, eram arredondas e achatadas, mas imensuráveis aos olhos humanos, e não faziam nada além daquele som, apenas estavam lá. E isso era o suficiente.

O que iriei narrar daqui para adiante, não segue a ordem cronológica dos acontecimentos, alguns foram simultâneos, pois o caos foi tanto que meu cérebro simplesmente foi guardando na memória, todavia, seria muito para mim, recordar tudo e na ordem que ocorreram, farei o meu melhor:

Os governos cortaram toda e qualquer comunicação entre os países, literalmente, cada um por si. A ONU fez discursos televisionados todo o tempo, mas como sem força alguma, afinal, não havia interação.

As comunicações estavam interrompidas, pois temiam que fossem captadas ou até alteradas pelas naves, que dominavam quase que completamente os céus da Terra, pois, uma coisa era certa: “a tecnologia deles era superior a nossa”, pois além de não termos nem ideia de como aquelas naves simplesmente apareceram cobrindo o planeta, elas eram de um material desconhecido.

Em poucas horas, incrivelmente, as maiores redes de televisão do mundo já tinham “especialistas” na invasão alienígena, criavam teses, discutiam, afirmavam, brigavam, mas eram convictos em explanar todo o conhecimento que tinham sobre o assunto, ou seja, não sabiam nada e inventavam muito, alguns beiravam ao ridículo, mas nada se comparava aos teóricos do Youtube, alguns até já afirmavam que as massas cinzas voadoras eram de esquerda, pois queriam alterar a Ordem Mundial, outros, que até pouco tempo apenas enrolavam crianças imitando animais marinhos, agora, conjecturavam em lives por horas as razões da invasão e diziam que aquelas coisas só podiam ser de direita, já que queriam dominar nosso Planeta.

E as naves apenas estavam ali, sem se movimentar, sem mandar sinal algum de para os terráqueos, nós não sabíamos nem onde era a parte da frente ou de trás.

O mundo estava parado, muitas cidades nem o sol viam mais, pois elas cobriam o sol e até mesmo as nuvens mais altas, pois estavam próximas da terra, aparentemente a uma altura padrão para todas, era impossível sabermos o se todas tinham o mesmo tamanho. Apenas aviões militares voavam e chegavam perto delas, mas todos os pilotos, em qualquer parte do mundo, falavam a mesma coisa, não havia aberturas, nem marcas de junção de peças, era como se aquelas coisas gigantescas fossem feitas de uma peça apenas, inteiriça, uma grande massa maciça cinza e desconhecida, alguns “especialistas” diziam que era material orgânico, pelas filmagens dava para ver que não parecia com nenhum metal conhecido por nós, parecia aquele material das roupas de surfistas, ninguém sabia nada, apenas o que tínhamos eram suposições, diria eu, tudo era possível!

Einstein

Não demorou para que nós começássemos a agir como sempre fizemos.

Alguns líderes religiosos, mesmo com os pedidos do governo para ficarmos em casa, conclamaram os seus fiéis a irem para o mais próximo possível das naves, aguardar o grande arrebatamento, pois esse era o momento que deus livraria a todos eles de seus pecados, e os levaria para um lugar melhor!

Difícil descrever, começou com os policiais e militares tentando impedir os fiéis de entrar nas áreas isoladas das grandes cidades, onde achavam que era o início das naves, logo, entraram em batalha campal, aqueles que eram contra os crentes se uniram aos militares, e, em minutos, grande parte da população mundial estava em guerra civil, em horas, milhares de humanos com ou sem religião ou crença, estavam mortos.

Repórteres e jornalistas se matavam em frente às câmeras, em gravações ao vivo, eu assistia a todo o caos do porão de minha casa, sapeava de canal em canal, mas o show de horror era um só.

Em poucas horas, as pessoas do mundo haviam perdido qualquer razão que antes existia, assassinatos e vandalismo por todos os lados. Os governos do mundo estavam com suas sedes destruídas e em chamas, muitos líderes mundias haviam se matado, outros assassinados, alguns até estavam expostos em praça pública.

E quando parecia que toda a estupidez humana havia sido demonstrada naquelas poucas horas de invasão alienígena, mostrou-se mais uma vez que Einstein estava certo com a frase: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza.”.

Provavelmente o universo seja infinito, mas a nossa estupidez é imensurável. Algum militar graduado resolveu resolver as coisas da única forma que a humanidade sempre resolveu tudo quando não sabia o que fazer, armou uma guerra.

As naves continuavam lá, imóveis e sem interagir conosco (se eles tinham essa intenção, provavelmente, depois da recepção que demos a eles, devem ter desistido), e assim, sem combinação, os países que tinham tecnologia atômica atacaram as naves.

Pelo jeito, só estavam esperando que um começasse, em minutos, diversos países estavam destruindo suas próprias cidades, o mundo estava sob ataque atômico, nada foi combinado, pelo menos não oficialmente, mas parecia ser combinado. Em poucas horas, muitos cidades deixaram de existir.

O som das turbinas continuavam, mas o mundo não era mais o mesmo, não havia mais nenhum canal no ar, a internet também estava off, tudo estava fora, algumas rádios piratas divulgavam o que bem entendiam, mas poucos ouviam, não havia muitos humanos vivos, os que não se mataram, morreram por alguém.

Eu fui dormir, naquela noite, acabei pegando no sono no meu porão ali o som das turbinas era menos e meus planos era ficar ali por semanas, tinha tudo o que precisava para nossa subsistência e achava ser seguro, pois o mundo fora ali não era propício à vida animal.

O formigueiro

Acordei, a televisão continuava fora do ar, a internet também, não liguei o rádio, mas notei que algo estava diferente, o ar estava diferente, foi então que consegui sentir o silêncio, o som das turbinas havia parado, cessado, terminado.

Fiquei imóvel, tentado me certificar, sim, aquele som não estava mais lá fora, ouvia canto dos pássaros e alguns cachorros latindo, resolvi soltar os meus, eles correram para rua, eu respirei fundo e os segui, tudo estava terminado, o sol brilhava fortemente sobre todas as coisas, as naves, da mesma forma que chegaram, foram embora, sem aviso, sumiram, como se nunca tivessem estado aqui, se não fosse pela destruição que nós mesmos causamos, poderia dizer que tudo havia sido um pesadelo.

Não lembro se chorei ou sorri, só lembro te ter pensado que quando criança eu gostava de achar formigueiros, ficava olhando aquela organização que as formigas tinham, cada formigueiro parecia uma cidade, um mundo, e eu o que fazia? O que quase toda criança fazia, via as formigas assustadas ali com a minha presença, mas, mesmo assim, elas continuavam suas pequenas vidas, seguiam suas rotinas, e então, eu chutava uma parte do formigueiro, para ver o caos, para ver o pavor que tomava naquele lugar!

Não sei se os alienígenas queriam agir como eu agia, mas eles nem precisaram, apenas estiveram aqui, e nos fizemos a nossa parte, o que sempre fizemos de melhor destruir!

A nossa falta de inteligência, a nossa facilidade em causar o caos. Somente por eles estarem aqui, nós mesmo chutamos o nosso formigueiro, foi então que cheguei a conclusão: “Os aliens não fizeram contato conosco, pois, com certeza, em relação a eles, somos mais inferiores que as formigas para nós”.

Hoje estamos tentando reconstruir o mundo, poucos humanos restaram, a sociedade que conhecíamos faliu.

Apenas a presença deles foi suficiente para que terminássemos com séculos de evolução e eu penso: “Será que realmente evoluímos, pois até as formigas conseguem se comportar melhor que nós com algo que não conhecem?”.

A minha pergunta para você é:

“-Será que vale a pena reerguemos nosso formigueiro e corrermos o risco de voltarmos a ser a humanidade que você conheceu?”

“Você já se preocupou com as formigas quando chutou algum formigueiro?”

Escrito por Nilvio A.F. Braga, Eldorado do Sul, R/S – 08/2020