O mundo, enfim, era perfeito!

Todos tínhamos tudo. O conversor de matéria era ligado diretamente à terra, que também provia a energia. As casas, harmonizadas, eram praticamente iguais, pois não fazia mais sentido ter algo diferente do outro. A racionalidade vencera. Somente era obeso, sedentário, quem assim o desejasse. Porém, havia um dia no ano que deixava a população da pequena comunidade em polvorosa: era o Dia de Pagar a Dívida!

Doze cidadãos haviam sido escolhidos para serem ¨testados¨. Durante o correr da vida pouca gente escapava do Teste. A cada milhão de habitantes, doze eram testados e apenas um seria o vencedor! Da comunidade inteira a certeza recaía sobre o Mílton. Quando souberam que ele estava na lista houve uma tranqulidade quase total. Certo que os outros onze estavam apreensivos, mas o Mílton era praticamente uma barbada.

Nunca fez nada pelos outros! Dizia-se. Come feito um aloprado. Vai ao conversor e exige litros de bebida ingerindo tudo. Fuma como uma chaminé! E por aí seguia a lista de assintes que cometia.

A comunidade inteira praticava exercícios regulares. Não havia ninguém com sobrepeso. A castidade era total e, para constratar havia o Mílton!

- Não é possível que não seja ele! - Dizia o administrador local acalmando a família dos outros onze.

As bolsas de apostas haviam sido abolidas! Afinal, ganhar para quê se todos agora tinha tudo? De igual maneira não havia mais bolsa de valores e nem sistema bancário. A riqueza era comunitária. Para ir ao trabalho em uma comunidade pequena como aquela bastavam as bicicletas bolhas. Eram elétricas, caso se pegasse uma subida, e se revestiam de uma bolha plástica para os dias de clima adverso. Poucos automóveis e alguns ônibus para locomover a comunidade em festanças afastadas no campo para celebrar a vida, a paz, a harmonia... E havia o Mílton!

- Nunca celebra nada! Fica apenas bebendo e fumando!

- Por quê estão com raiva? Perguntava o prefeito ao completar: lembrem que no Dia de Pagar a Dívida ele poderá ser um triunfo.

A semana foi nervosa, mas o dia chegou. Os onze estavam ali reunidos esperando o Mílton que não aparecia. A comunidade estava toda reunida em um grande parque ao centro tendo o prefeito e demais autoridades sobre um pavilhão. O Conversor Público de Matéria já cintilava. Os onze estavam perfilados ao lado tremendo.

- E o Mílton? Cadê o Mílton?

O prefeito acenou para o Xerife, que era mais um cargo honorífico mantido pela tradição, visto não haver mais bandidos, crimes e nada violento!

Chegando de bicicleta à casa do Mílton o Xerife entrou em pânico. O candidato estava morto. Deve ter sido um ataque cardíaco fulminante. Com isso os onze entrariam em pânico. Conseguiu, com custo, chamar um automóvel robotizado e levou o corpo à multidão. O Conversor já emitia um alto ruído sonoro perturbando a todos. Pelo mundo afora praticamente todos já haviam pago a dívida. Só faltava aquela comunidade. Quando o povo viu o cadáver começara a chorar. O conversor, então, lançou um raio analisador sobre o cadáver que fora posto ao lado dos outros onze e uma voz mecanizada repetira:

- Negativo! Esse não serve mais! Vou escolher mais um!

E assim, o nome do prefeito foi citado. Sem alternativa, enfileirou-se junto aos demais. Em seguida, lançando um raio, o conversor analisou cada um dos candidatos e, ao final, escolheu o prefeito:

- Senhor, dê um passo à frente.

O alívio dos outros onze foi quase uma festa. O bom prefeito seria honrado! O Conversor, a seguir, desmaterializou o prefeito agradecendo pela sua Cortesia.

Haveria, agora, matéria molecular por mais um ano cedida pela comunidade para que todos tivessem tudo. Há sempre um custo e uma dívida a ser paga. Afinal, não existe almoço de graça!