A Estação de Transferência
O grupo de Médios capitaneado por Oskar adentrou o Portal do Vale. A bruma das montanhas que haviam acabado de deixar, foi substituído pelo ar límpido e seco da estação de transferência, uma construção de metal e plástico transparente, totalmente automatizada, suspensa numa bolha de subespaço que era de fato um universo autônomo. A estação estava deserta, visto que o Vale não era exatamente um destino dos mais procurados, e havia instalações bem maiores que possibilitavam traslado mais rápido para os principais centros populacionais da Comunidade.
- Às vezes, me perguntava se não deveríamos simplesmente ocupar uma dessas estações de transferência e parar de vagar por aí - ponderou Oskar, quando fizeram uma pausa para trocar as roupas que haviam usado no Vale por trajes mais adequados para viajantes interdimensionais. - Mas aí, quando dou de cara com a realidade, essa vontade desaparece na mesma hora.
Seus companheiros de viagem entendiam perfeitamente o que ele queria dizer. Uma estação de transferência é um lugar espectral, onde a presença de vida parece ser apenas tolerada, e por um curto período de tempo. Ninguém em sã consciência pensaria em residir numa delas, embora oferecessem abrigo, socorro médico, vestuário e alimentação.
- Não deveríamos traçar uma rota direta para Kaushalon? - Indagou Deacon, o qual com mulher e duas crianças pequenas, era um dos mais preocupados com a saída inesperada do Vale. - Os que partiram antes de nós, disseram que seguiriam para lá.
- Sim - admitiu Oskar, de pé diante de um dos painéis de programação de trajeto, onde o trajeto para possíveis destinos era exibido como linhas coloridas num holograma suspenso no ar sobre uma base metálica. - Mas se durante todos esses anos conseguimos fugir da detecção dos Tykar, foi justamente porque não fizemos escolhas óbvias. Kaushalon pode estar sendo monitorado, e não teríamos como descobrir isso até ser tarde demais.
O grupo o encarou em silêncio, à espera de uma decisão.
- Vejam, não posso assumir essa responsabilidade sozinho - declarou Oskar finalmente. - Quem quiser pegar o caminho mais curto, queira erguer o braço; caso contrário, irei seguir o meu instinto, como tenho feito até aqui.
Apenas Deacon e a mulher, Ada, ergueram o braço. Pareceram ficar embaraçados ao ver que ninguém mais os apoiava.
- Eu entendo as razões de Deacon e Ada - comentou Oskar. - Também gostaria de chegar logo a um lugar seguro, mas acontece que temos de ser cautelosos.
Ergueu as mãos e começou a interagir com o mapa holográfico, fechando pontos do circuito. Uma linha tracejada formou-se entre cinco estações, as quais levavam para a direção oposta de Kaushalon.
- Iremos para a região da Barreira - explicou para o grupo. - Poderemos nos estabelecer em alguns dos planetas de fronteira e de lá avaliar se vale a pena prosseguir para Kaushalon. Como são mundos de colonização recente, podemos nos misturar mais facilmente com a população local e evitar que aconteça o que nos aconteceu no Vale.
Uma votação rápida foi feita entre o grupo e a sugestão foi acatada por unanimidade. Até mesmo Deacon e Ada pareciam agora esperançosos de que estivessem prestes a encontrar um lugar onde poderiam, finalmente, se fixar com os filhos.
[Continua]
- [23-07-2020]