Temporal

É uma segunda-feira de janeiro de 1933 e a noite fria recebe uma multidão barulhenta. Todos estão empolgados e ansiosos, pois dali a poucos minutos o novo chanceler irá discursar. Muitos procuram o melhor lugar, ninguém quer perder nada daquele dia histórico. Nos corações e mentes de todos ali presentes um novo tempo se anuncia. A humilhação perante as outras nações finalmente dará lugar a uma Alemanha forte e superior.

Havia sido uma viagem curtíssima. Impossível precisar os detalhes técnicos de sua jornada, mas ele sabia que apenas uns poucos segundos foram necessários para que viajasse mais de cem anos em direção ao passado.

Ele não entendia quase nada da ciência envolvida naquele projeto. De tudo o que lhe foi dito, as frases “você será o instrumento da criação de um novo mundo” e “seu nome ficará registrado para sempre na História” foi o que restou.

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Seu alvo encontra-se em pé na sacada de um prédio. Impossível não reconhecê-lo. Mesmo já o tendo visto centenas de vezes em velhos filmes ficou surpreso com o que a lente de sua mira telescópica mostrava.

A mais de mil metros de distância estava um sujeito de estatura mediana, que não parecia ser dotado de grande força física e com o ridículo e indefectível bigode que marcou o seu rosto para sempre na história humana. Chegou à conclusão que aquele homem não impressionava ninguém pelo seu porte físico.

Os gestos algumas vezes exagerados associados à eloquência de suas palavras faziam a multidão delirar. Aquele homem havia se especializado em falar precisamente o que muitos ali queriam ouvir. Seu discurso impregnava de energia o ambiente e parecia que cada pessoa ali presente sentia-se poderosa. Esse sentimento se personificava em gritos e aplausos que nada mais eram do que a glorificação da certeza de que eles eram fortes e superiores em relação a tudo e a todos.

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Apenas uma bala na cabeça daquele homem e mais de sessenta milhões de pessoas não morreriam em uma guerra. Apenas um tiro certeiro e o mundo seria um lugar melhor.

Basta apertar o gatilho e em seguida acionar o dispositivo de retorno.

No momento em que o homem do bigode esquisito gesticula com o punho erguido o projétil acerta bem entre os seus olhos. Seu corpo é projetado para trás com violência. Gritos e correrias se fazem ouvir.

O atirador sabe que a massa encefálica daquele homem mau está espalhada pela sacada do prédio. É hora de voltar.

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Ao retornar qual não foi à surpresa do viajante do tempo ao se deparar com uma nova realidade. Não houve uma Segunda Guerra Mundial, mas agora o mundo estava dividido em três grandes blocos de poder: capitalismo liberal, comunismo e nazi-fascismo.

Em pouco tempo descobriu que dos três grandes blocos o mais desenvolvido tecnologicamente era justamente o nazi-fascismo, já que por não haver uma guerra mundial a Alemanha preservou seus grandes cientistas.

O mundo continuava com suas disparidades econômicas e sociais e estava à beira de uma nova conflagração mundial.

Era hora do viajante do tempo fazer uma outra viagem...

Plutarco
Enviado por Plutarco em 11/07/2020
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