Projeto Viagem Astral - ASTEROIDES

É complicado escrever sobre isso. Principalmente porque só me lembro de fragmentos. Esse é um desses casos. Nessa noite, especificamente, não me lembro do início do desdobramento.

De repente, estava observando asteroides - mais exatamente o Cinturão de Kuiper - que fica entre Marte e Júpiter. Podíamos ver a face do bólido voltada para sol e a face oculta, alguns girando mais rápido, outros, mais devagar. É completamente diferente do que vemos nos filmes e jogos, em que há asteroides se colidindo para todo lado! Muito pelo contrário, as rochas estavam a vários quilômetros umas das outras. Isso porque estávamos na região mais concentrada. A Terra era apenas um ponto azul brilhante no céu, algo como se estivéssemos vendo Vênus ou Marte no céu estrelado.

A aula daquele dia era sobre o efeito fotoelétrico. “Afinal, nem tudo gira em torno da gravidade” brincou um dos mestres. Eles explicaram que a luz do Sol excitava as moléculas dos asteroides, que, entre as atrações e repulsões devido ao mar de elétrons e fotoelétrons liberados com a composição molecular heterogênea desses bólidos, criavam pequenos forças geradoras de movimento. Como no vácuo o atrito era irrisório, aquilo era o suficiente para iniciar um movimento de rotação, que tinha o efeito multiplicado pelas forças gravitacionais daquele sistema.

Pude, inclusive, perceber que algumas naves coletavam um ou outro asteroide menor. Quando perguntei a razão, eles me explicaram que esse tipo de asteróide tem um tipo de minério excitado eletronicamente que era muito útil para eles. Era um minério que, por estar submetido a radiação ultravioleta direta e ter se formado sob microgravidade, tinha propriedades únicas, que um dia ainda iríamos descobrir.

Pude perceber que não haviam só humanos ali, seres muito mais altos e muito mais baixos estavam circulando na nave. Quando tomei consciência de fato que estava muitíssimo longe de casa com seres que sequer eram humanos, fiquei aflito, o medo começou a tomar conta de mim. Os mestres pediram calma. Mas aquelas cabeças enormes, olhos pretos, tudo tão desproporcional me causavam um enorme desconforto.

Não me recordo se eu acordei logo após isso, mas foi a última coisa que me lembrei. O dia seguinte foi uma desgraceira só: passei o dia todo desengonçado, esbarrando e derrubando tudo, me sentia como se o “meu eu real” estivesse a alguns palmos acima da minha cabeça.

Sabe aquela sensação desconfortável que você pegou o carro de alguém emprestado em não ajustou a posição do acento e nem dos espelhos retrovisores? Pois é, me sentia assim no meu próprio corpo. Eventualmente ouvia uns zunidos e tive alguns calafrios esporádicos. Ainda bem que, eventualmente, isso acabou passando.

 
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Manassés Abreu
Enviado por Manassés Abreu em 28/05/2020
Reeditado em 28/05/2020
Código do texto: T6960487
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