Corredor ET
O trato seria o seguinte: eu iria ser levado a um lugar, apelidado de Corredor ET, do qual poderia observar a vontade a cultura alien, mas sem poder fazer perguntas, quaisquer que sejam.
O lugar em que me levaram era um cômodo, que se assemelhavam a uma sala comprida e escura. Dali para frente o que eu veria desafiaria meus conhecimentos e raciocínio. Via dois carros conversando, como se fossem vivos. Um era mais antigo e o outro mais novo. Olhavam para mim mais ou menos impressionados como olhava para eles. Afirmavam, que em partes, eles existiam por minha causa e do meu grupo. Resisti com todas as forças para não fazer perguntas. Quando minha atenção buscava algo mais chamativo ouvia a voz dos dois carros na minha cabeça, falando que já estivemos muito próximos, e que pouco senti. Logicamente, isso estava muito aparte de qualquer possibilidade de raciocínio meu.
Nesse corredor ET a disposição das "atrações" me deixava confuso. Era muita coisa para ver e tudo chamava a atenção. Não via pessoas por lá, ou nada convencionalmente vivo ou humano. Pouco após os carros falantes via um tipo de telão que flutuava. Conforme se aproximava ela vinha em minha direção. Via imagens do que seria homens da pré-história. Pareciam serem baixos, pele bem amorenada e de traços faciais que se assemelhavam as reconstituições artísticas modernas. Demonstro atenção por um animal e o telão me direciona a ele. Parece uma tartaruga gigante. Sua coloração era verde-escuro com manchas de vermelho-queimado. Se movia devagar, cheirando e comendo plantas. O telão se aproximava tanto que uma parte do seu casco saltava para fora. Tenho um pouco de receio, mas o toco. É um casco áspero, um pouco sujo e frio. Não sabia o que acontecia ali ou se esse bicho sabia que tocava nele.
Acompanho tudo abismado, tão confuso como um bebê diante da mais alta tecnologia. O animal se distanciava do telão, enquanto outro se aproxima. Aparecem imagens, mas não sei do que se trata. Parecem rochas sendo transformadas, como que derretidas, mas de modo diferente, num tipo de pasta azulada. Me assusto quando vejo que se trata de algo de pequenas dimensões, talvez milimétrico.
Andando mais a frente vejo uma mulher, ou o que seria como tal. Estava sentada num canto, no chão. Seu aspecto é curioso: é muito branca, de olhos grandes e assustadores, bastante magra, de cabelos curtos e de um tom brilhante intenso. Seu corpo era estranho. Reparava nos quatro dedos nas mãos e pés. Tronco, cotovelo e pernas tinham outra proporção, diferente das minhas. Parecia ser meio um robô, não aparentando ter vida naquele corpo. Observando-a, ficava em dúvida se se tratava mesmo de uma mulher. Não quis me aproximar muito. Num determinado momento ela reparava em mim. Eram olhos indiferentes, como uma pequena parcela de curiosidade, talvez a mínima necessária. Após minha análise inicial dela, ou dele, quando saio para a próxima atração, ouço uma voz fria e seca, me advertindo sobre algo que eu deveria não ter feito. A expressão dessa figura era de cansaço. Ela me olhava mais uma vez, desviando o olhar não muito depois. De novo tinha a impressão dela não ser humana. Agora ela aparentava uma impressão de preocupação, de um pesar no olhar. Meu coração palpitava forte ao observá-la fitando o horizonte da sala. Me veio uma leve impressão de já tê-la visto. A complexibilidade da situação era que eu tinha um milhão de coisas para falar, mas não deveria, e ela parecia também indiferente a isso. Estava assustado.
Um pouco adiante a luz é mais forte, deixando o ambiente ao lado de coloração mais clara. Sinto uma mão encostar em meu ombro. Sem me mexer ou olhar para trás, me vem a mente como uma imagem se formando em minha testa, mas por dentro, de um rosto desesperado. O vejo desse modo, e não só olhando. Sei que é a estranha mulher, mas não preciso virar para saber que é ela. Sinto o corpo estremecer, mas devo continuar andando. A próxima visão é tão enigmática quanto a da mulher. Vejo algo que tenho muita dificuldade em descrever. Se assemelha a uma árvore pequena e cortada, mas por outro lado tem um aspecto humano também. Não sei se é só impressão, mas parece olhar pra mim. Sinto como se estivesse muito machucado, embora não conseguisse notar sangue ou carne machucada. No fundo, tenho medo e estou chocado com o que vejo.
Transitando por aquele estranho lugar, cada vez mais me impressionava com o que via, e pouco entendia. A seguir era mais uma esquisitice. A minha frente saia do chão uma faixa de terra, que mostrava o centro do planeta, mais ou menos como quando se corta um pedaço de bolo e se descobre o recheio. Não entendia como algo tão grande caia naquele espaço. Sem saber muitos detalhes, imaginava que daria para colocar o lixo do mundo todo lá, e usar o calor como fonte de energia, resolvendo vários problemas atuais.
Ainda distraído vejo algo se mexer. Se assemelhava a um tipo de espelho flexível que flutuava. Reparava que ele sumia e aparecia, como que se desmanchando no espaço. Num dado momento, o tal espelho aparecia atrás de mim, e o meu reflexo era uma mistura de cores, destacando o azul, vermelho e verde, em um tipo de tom que me deixava enjoado. Fora o que parecia ser meu reflexo, via outros, como se eu não fosse o único daquele lugar. Via também o que parecia ser um rosto bem grande. Me observava, de um modo curioso e enigmático. Não sei ao certo, mas achava que aquele rosto de algum modo me era familiar, apesar de não me recordar naquele momento. No outro campo do espelho vejo também o reflexo de um pequeno ser, que inicialmente achava ser de uma criança. Não sabia dizer se observava especificamente pra mim, mas até certo ponto era em minha direção. Algo me dizia que não se tratava de um ser humano. Duas sensações então começavam a me dar calafrios. A primeira era achar que aquele ser estava além de minha compreensão, e a segunda, de ouvir vozes e mensagens, mencionando que controlavam os acasos, acontecimentos e coincidências, e que a minha frente o que via era um pequeno reflexo, de dimensões muito variadas. Sentia então uma forte dor de cabeça. Bate um forte receio de imaginar quem são eles. Viam mais pensamentos, do qual eu parecia não ter controle mesmo que tentasse evitar, afirmando que o suposto espelho era como uma porta para um mundo, que numa escala mais ampla, poderia ser uma forma de contactar o que não entendia.
Vejo a minha frente pouco adiante algo igualmente exótico. Encostado numa parede, sentado, um esqueleto de um homem bem alto, usando um tipo de armadura, segurando, não sei de qual modo, um objeto na mão esquerda. Não sei do que se trata esse objeto. Parece uma lembrança, com um souvenir. Esse esqueleto exalava um cheiro de coisa antiga, muito antiga. Seus restos de roupa e armadura certamente não são novos. Observando mais detalhadamente notava que o formato do seu crânio era diferente. Seus dentes, dos que sobraram, são maiores e mais afiados que o comum. Ficava a imagem, pra mim, de que ele ou aquilo morreu sem abandonar seu interesse pelo indecifrável objeto em sua mão.
Quando me direciono ao ambiente do lado vejo uma situação: sem saber explicar de qual modo isso se projeta pra mim vejo que as pessoas fazem as coisas conforme um tipo de bilhete que lhes é deixado, como, por exemplo, uma pessoa que sai para trabalhar e no bilhete esta escrito qual ônibus ou caminho deveria pegar, ou se deveria ir de carro, ou não trabalhar. O mesmo vale se se deve ir visitar o primo na cidade ao lado ou ir a cozinha. A eficácia dos tais bilhetes compensa o fato de não se saber nada sobre eles, tanto de quem os faz, de qual modo e com qual intenção. Naquele momento me sentia em um ponto e sem chances de voltar ao que era.