MacMen

- Não olhe agora, mas há dois MacMen vindo pela esquerda - cochichou Della, enquanto estávamos sentados na mureta de proteção que separava a praia do calçadão atrás de nós, latas de Coca-Cola nas mãos.

Curioso, virei-me para vê-los. Pareciam robôs construídos pela Apple em plástico translúcido, um laranja e outro azul; isto, claro, se a Apple houvesse fabricado robôs, e não computadores, em 1998. A cidade onde morávamos era pequena e historicamente inexpressiva, e eu não imaginava o que os MacMen estariam fazendo ali. Ademais, eu nunca estivera tão próximo assim de um MacMan.

- Olá! - Saudei-os, levando imediatamente uma cotovelada de Della.

Os MacMen aproximaram-se, com seu curioso andar gingado.

- Olá. Você é um nativo desta comunidade? - Indagou o Azul com voz metálica.

- Somos - confirmei orgulhosamente, apontando para Della.

- Vocês são um casal? - O Laranja sentou-se ao meu lado, sem cerimônias.

- Somos namorados - assenti. - Ela é Della, e eu sou Mark.

- Eu sou Azul, e este é Laranja - disse Azul, sentando-se ao lado de Della. - Estamos em férias no seu planeta.

- Por que escolheram nossa cidade? - Indaguei. - Temos praia, mas é inverno; não há praticamente turistas aqui nesta época do ano.

- Queríamos conhecer um lugar menos... apinhado - explanou Laranja. - Saber como vivem os humanos em comunidades menores.

- E além disso, gostamos da vista dos seus oceanos - informou Azul, os olhos fotoelétricos fixos no mar verde encapelado, à nossa frente.

- Vocês têm oceanos no seu planeta? - Indagou Della, virando-se para ele.

- Temos, mas não são tão grandes e turbulentos quanto os seus - admitiu Azul. - Ademais, possuem outra composição química e do ponto de vista de vocês, são extremamente frios. De fato, não poderíamos vir aqui pessoalmente sem usar trajes espaciais pesados.

- Felizmente, temos a tecnologia dos MacMen - atalhou Laranja. - Podemos transmitir nossa consciência para estas máquinas e desfrutar das maravilhas do seu mundo quase como se fôssemos... nativos.

- E o que acontece com seus corpos, enquanto suas consciências estão aqui? - Perguntei.

- Ficamos em hibernação - explicou Laranja. - Quando se encerra o período predeterminado, nossas consciências são automaticamente transferidas de volta para nosso planeta.

- Será que algum dia poderemos usar a sua tecnologia para viajar ao seu mundo? - Indaguei, esperançoso. - Viagem mais rápida do que a luz é um velho sonho da Humanidade...

- Há essa possibilidade - assentiu Laranja. - Mas os estudos que permitirão adaptar nossa interface para cérebros humanos ainda estão no início. Talvez tenham que aguardar alguns anos para que isso se torne exequível...

- E vocês já estiveram em outros planetas, além do nosso? - Agora Della é quem estava curiosa.

- Estivemos no seu mundo de origem - disse Azul. - A Terra.

E, como subitamente havíamos ficado silenciosos, Laranja acrescentou:

- Compreendemos as razões pelas quais seus antepassados tiveram que abandoná-lo.

- [14-05-2020]