A recompensa

A jornada de volta para o Vale dos Cavalos Amarelos transcorria mais rápida do que o trajeto de ida, embora agora o grupo de Maren estivesse transportando "oferendas" para o Reprodutor dos Yelocaah. Ao chegarem no ponto mais alto do caminho das montanhas, Jepp percebeu um brilho intermitente na região da Cidade Morta onde haviam estado até aquela manhã. Fazendo uso de um par de binóculos que achara nas ruínas do centro comercial da Cidade Morta, vislumbrou algo que o deixou preocupado.

- Alguém... ou algo... está circulando no local onde vocês estiveram escavando - comentou em voz baixa com Maren.

- O que é? - Indagou apreensiva a Virgem Consagrada.

- Está muito longe para que eu possa identificar, mas certamente é algum tipo de veículo. Pude perceber o brilho do sol na sua superfície, enquanto se movia.

- E o que faremos?

- Voltar o mais rápido possível para a vila. Se aquilo resolver subir a estrada, é melhor que estejamos num local seguro.

Apertaram o passo, o que não foi difícil, já que dali por diante a estrada era basicamente descida. Após algumas horas, como nada aconteceu, o grupo voltou a relaxar. Finalmente, ao entardecer, entraram na vila dos Yelocaah e acompanhado de Maren, Jepp fez questão de ir falar com Armin, o Chefe Jobs.

- Teve sucesso em sua empreitada? - Quis saber o líder da comunidade.

- Pode-se dizer que sim - tergiversou o faz-tudo. - Irei agora ao Reprodutor Primário para apresentar minhas oferendas. Todavia, quando eu e Maren explorávamos a Cidade Morta, despertamos um... demônio adormecido.

- Foi assustador - aduziu Maren. - Felizmente, a magia de Jepp manteve o demônio à distância.

- Um demônio? - Armin pôs a mão no queixo, testa franzida.

- Um demônio voador, como aqueles das antigas lendas - insistiu Maren, abrindo os braços para sugerir o tamanho do aparelho. - Que matam homens à distância.

Maren provavelmente estava se referindo a um drone blindado de combate, especulou Jepp. Dificilmente a granada eletromagnética que jogara contra o Módulo de Vigilância no estacionamento da Cidade Morta surtiria efeito contra um daqueles monstros. Mas o Chefe Jobs desconhecia esse detalhe, e pareceu comprar a história que a sacerdotisa acabara de lhe oferecer.

- Você é um homem de muitos recursos, faz-tudo - aprovou Armin.

- Os quais estão ao seu dispor - adulou-o Jepp. E depois, em tom sério:

- Mas embora momentaneamente cego, o demônio pode ter se recuperado e não descarto a hipótese de que possa vir atrás de mim, vingar-se. Do alto das montanhas, vimos movimento na Cidade Morta. Era algo metálico.

- O que me diz é muito grave - avaliou Armin. - Principalmente se não conseguir construir um "Muro de Jericó" para nós. Nossas armas de nada valerão contra um desses demônios que voam.

- No caminho para cá, pus-me a pensar sobre isso - replicou Jepp - e creio que também tenho a solução para este problema.

Armin entrelaçou as mãos e lançou um olhar analítico para Jepp.

- Você ainda não me disse quanto cobraria pelos seus serviços, faz-tudo. Incluindo esta solução para o possível ataque do demônio.

- Quero a mão da sua sacerdotisa... caso ela me queira também - replicou Jepp sem titubear, lançando um olhar brincalhão para Maren, que baixou a cabeça, envergonhada.

- Você faria esse sacrifício pelo seu povo, Maren? - Indagou curioso Armin.

- Com muito gosto, Chefe Jobs - respondeu ela suavemente, de cabeça erguida.

[Continua]

- [12-05-2020]