AS TERRAS DEVASTADAS - PARTE II - CARTA (Sobre as Luzes no Céu)
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Meu, “Pessoa No.16”.
Eu queria falar sobre aquele dia… Em que vimos luzes que iluminaram o céu da cidade. Todos vimos. Alguns chamaram de alienígenas, outros disseram que era Deus se manifestando numa forma corpórea… sublime… assustadora (sempre foi mais fácil crer num Deus assustador). Outros… muitos outros… apenas se esconderam, saquearam, transaram, estupraram, consumiram, se mataram, praticaram atos horríveis. Ou seja; fizeram o que geralmente estavam programados a fazer todos os dias em pequenas medidas. Mas dessa vez parecia não haver mais tempo, estávamos no ponto final. O sujeito que desceu da nave… O “Homem Cinza”, obviamente não parecia feliz com o que a gente estava fazendo com o planeta. Na verdade ele chegou afirmando que era de muito mais perto do que a gente pensa, pensava… não importa. Ele não está aqui, ele não retornou. Estamos por conta própria. Ele disse que muitas coisas que estavam ERRADAS com a gente também foram erros DELES no passado… e que precisávamos pensar numa forma de compensar os estragos de uma 3a Guerra Mundial. O “Engraçado” é que ninguém nem falava em guerra, por aqui…Ele mencionou uma “purificação do planeta”, com uma espécie de “bomba indolor”. Que agora sabemos que: além de toda a destruição pelas bombas… ele estava falando do vírus. Em outubro de 2018 a primeira bomba atravessou o céu. Para muitos parecia uma estrela cadente… uma salvação. Muitos acharam a visão maravilhosa no início e a Terra de fato PAROU, como dizia a música de Raul Seixas e aquele filme antigo. Eu mesmo passei alguns meses em casa depois da fumaça vermelha e só saí quando os gritos pararam. Haviam sobreviventes no início… muitos. Depois veio o vírus e a população realmente começou a desaparecer... Eu estava com fome e com sede e afinal, tive que sair de casa… Mas você sabe disso. Você ESTAVA comigo… O tempo inteiro até agora. Você era meu namorado e parecia uma sorte IMENSA estarmos ainda vivos e morando tão perto um do outro. De forma que nos encontramos sem precisar fugir dos malditos Cães. O que eu faço agora? A nave se foi. As luzes se foram… O tão aguardado messias acabou se mostrando um babaca; “Ohh… Você será um felizardo... Você É UMA iluminadAA.”. Cara… E daí?! VOCÊ era Eu. EU era Você. Nos protegíamos, cuidávamos um do outro. Isso importava… Isso ainda importa, não importa…? E quase não há mais ninguém lá fora, eu acho. Você se trancou com uma pistola, pra morrer aí dentro e não quer mais me ver. Desistiu de viver tanta merda, tenta desgraça todo santo dia e eu te entendo… Mas… eu sinto sua falta (como eu vou seguir sem você?), então… aqui vai uma carta… E eu vou esperar 24 horas e então vou partir com os outros. Como conversado, vimos fumaça… do outro lado da cidade. E precisamos saber o que é… Sobrevivemos ao apocalipse para nos tornarmos formigas que trabalham sem intervalo para carregar comida até locais seguros e esperar o frio e os perigos passarem! Bem: algo mudou? Mesmo? … de verdade? Está na hora de nos levantarmos. Precisamos de qualquer tipo de reação… E dessa vez tudo o que podemos crer é em nós mesmos… E não em galãs de roupa de ferro… ou sei lá o que é “aquilo”. Se você quiser, ainda dá tempo! Você é o famoso “Pessoa No. 16”! Todo mundo te adora, sabe… A liderança está em seu sangue e não no meu… (eu trabalhava num guichê de cinema antes disso tudo acontecer e você estudava Direito) Amanhã sairemos, armados com o que pudermos carregar. A cidade está cheia de Cães do Inferno. Seremos os nossos Messias e os nossos Novos Criadores. Não esperaremos deuses ou homens cinzas… Não queremos sair da Terra! Queremos sim, poder plantar a nossa Terra de volta! Agradeceremos a NÓS MESMOS pela comida que conseguirmos engolir. E cuspiremos no chão toda vez que olharmos pro céu e uma estrela passar brilhando mais do que as outras. Você tem 24 horas… e eu te amo… muito. Mas o grupo precisa de mim.
Sua: “Pessoa No. 15”.
(continua)