Pergunte ao especialista

[História anterior: A dama e o robô]

Ao redor da mesa de refeições do alojamento 37-B, Pavel Kirillov e Oliver Buranek encaravam o colega Dmitry Alekseev com os braços cruzados, após a partida de Lady Anuma e do robô, Zed.

- Tem algo a nos dizer, especialista da missão? - Indagou Buranek, cenho franzido.

- Esse seu tom, Buranek... como se fosse minha obrigação explicar todas as situações absurdas pelas quais passamos - retrucou Dmitry Alekseev irritado.

- Eu estou assustado, Dmitry Alekseev - replicou Buranek, abrindo os braços. - Desculpe se pareceu outra coisa.

- Calma, pessoal - disse Pavel Kirillov em tom apaziguador. - Todos confiamos na sua capacidade de análise, Dmitry Alekseev.

O interpelado balançou a cabeça, como que para acusar o elogio.

- Minhas desconfianças aumentaram - replicou, mãos entrelaçadas sobre a mesa. - E essa agora, de exames médicos... por que não foram feitos antes da visita de Lady Anuma, se supunham que poderíamos transmitir alguma doença contagiosa?

- Talvez... Lady Anuma não seja uma... entidade biológica - ponderou Buranek, descruzando os braços e apoiando os cotovelos na mesa.

- Você não beijou a mão da dama, - redarguiu Pavel Kirillov - como eu e Dmitry Alekseev fizemos. Se ela é uma androide, capricharam no modelo. Até perfume estava usando.

- Estou convicto de que Lady Anuma é uma entidade biológica, Buranek, respondendo a sua pergunta - replicou Dmitry Alekseev. - Portanto, há algo nesses exames médicos que está nos escapando. Só se...

Parou de falar, expressão preocupada.

- Conclua o raciocínio - incentivou-o Pavel Kirillov.

Dmitry Alekseev juntou as palmas mãos sobre a mesa.

- Podem ser testes de compatibilidade.

- Compatibilidade? - Buranek ergueu os sobrolhos.

- Biológica. Se atendemos aos padrões Gumir, ou algo do gênero. Se a resposta for positiva, certamente Sua Majestade Católica irá querer nos ver, podem anotar.

- E se não atendermos? - Questionou Buranek.

- Provavelmente, seremos liberados de imediato - afirmou Dmitry Alekseev em tom confiante.

Na verdade, não estava tão certo assim desta possibilidade.

* * *

- Dois dias-padrão para finalizar o conserto - informou Dmitry Alekseev aos colegas, após desligar o intercomunicador do alojamento.

- Isso quer dizer... amanhã - avaliou Buranek, ligeiramente mais sossegado. - Mal vejo a hora de entrar na nossa nave e pegar o rumo de casa!

- Mas antes, Zed nos informou que faremos os tais exames médicos hoje à tarde. Ele virá nos buscar - alertou Dmitry Alekseev.

- Talvez então seja tempo de darmos uma volta pelas instalações da base - sugeriu Pavel Kirillov. - Já que não temos mais nada para fazer mesmo...

O grupo saiu do alojamento e foi andando ao longo do corredor branco que contornava a estação espacial, profusamente iluminado e absolutamente vazio. Tentaram abrir algumas das portas ao longo do trajeto, mas todas estavam trancadas.

- Não somos prisioneiros, mas parece que nem tudo está ao alcance da nossa bisbilhotice - ponderou Buranek.

- Talvez seja mera questão de segurança - contemporizou Pavel Kirillov. - Podem recear que quebremos alguma coisa...

- Não creio que haja nada de realmente interessante para ver neste andar - avaliou Dmitry Alekseev. - Vamos procurar um elevador e ver o que há nos outros pisos.

Achar o elevador não foi problema. Embarcaram e desceram no último nível, que dava acesso ao reator da estação. Ao redor do cilindro que abrigava os poços dos elevadores, viam-se quatro portas largas de folha dupla, identificadas apenas por siglas em alfabeto Gumir.

- Qual dessas? - Indagou Buranek.

- Qualquer uma - replicou Dmitry Alekseev, apertando o controle de abertura da porta em frente ao elevador de onde haviam saído. As folhas duplas deslizaram para os lados e viram-se diante de uma grande plataforma de controle repleta de consoles com luzes piscando, no interior do globo metálico que abrigava o reator, logo abaixo deles.

- Isso meio que desarma a sua teoria, de que as portas lá em cima estavam trancadas para que não mexêssemos em nada - comentou Buranek para Pavel Kirillov. - Dá para fazer um belo estrago somente apertando botões nesse lugar...

- Bem... - Pavel Kirillov coçou a cabeça, embatucado.

- Eu não contaria com essa ingenuidade dos nossos anfitriões - arguiu Dmitry Alekseev. - Todos esses consoles devem estar bloqueados para operação manual há muito tempo...

Apoiou-se na balaustrada metálica que contornava a plataforma e olhou para baixo, onde o reator pulsava suavemente numa luz azulada. Foi então que um alto-falante embutido em uma das paredes curvas ecoou com a voz do robô Zed:

- Jovens Pioneiros... a sua presença é requisitada para exames médicos no piso 37, sala M-113.

Pavel Kirillov olhou para Dmitry Alekseev, apreensivo.

- Sabem que estamos aqui.

- Claro que sabem - replicou Dmitry Alekseev conformado, fazendo um gesto para os companheiros. - Vamos, descobrir logo o que querem conosco...

- [02-04-2020]