Maren

Os guardas conduziram Jepp para um galpão de madeira, sobre a porta dupla do qual haviam sido colocados dois chifres de boi, símbolo da religião dos nativos. O ídolo dentro da estrutura era o Reprodutor Primário, que o faz-tudo identificou imediatamente como um Conversor Molecular ZM-7800. Era um modelo até bastante avançado, e que provavelmente poderia copiar a pilha de combustível dos Beryte, mas não muito mais do que isso em termos de complexidade; replicar o "Muro de Jericó" estava fora de cogitação. Um homem de meia-idade e uma mulher jovem, em trajes sacerdotais, ladeavam o Reprodutor com turíbulos de incenso fumegantes, murmurando preces com os olhos fechados; os abriram ao perceber a intromissão.

- Desculpem. O Chefe Jobs mandou trazer este faz-tudo à presença do Reprodutor - informou um dos guardas à guisa de apresentação.

- Por qual motivo? - Questionou o sacerdote, com suspeição. - O Reprodutor está funcionando perfeitamente.

- Ele foi encarregado de fazer um trabalho para nós - disse o segundo guarda.

- Que espécie de trabalho? - O sacerdote inquiriu Jepp.

- Vim reproduzir a fonte de poder dos Beryte - explicou Jepp, exibindo a pilha queimada. - Mas, para isso, preciso saber que tipo de... oferendas... estão fornecendo ao Reprodutor.

- Somente o melhor que conseguimos recuperar da Cidade Morta - replicou altivamente a sacerdotisa, lançando-lhe um olhar especulativo. Jepp sustentou o olhar.

- Poderia me mostrar, se não for muito incômodo? - Indagou.

- Mostre a ele - comandou o sacerdote para sua acólita. Esta fez um gesto para que Jepp se aproximasse.

O Reprodutor, avaliou o faz-tudo, apresentava-se visualmente bem-conservado, polido e engraxado. A boca superior do aparelho estava cheia de pedaços de plástico de todos os tamanhos e cores, a matéria-prima principal para atender as necessidades básicas dos nativos: pratos, copos, talheres e outras utilidades domésticas simples. Era improvável todavia, que os Yelocaah possuíssem conhecimento técnico para programar o aparelho na realização de algo mais complexo.

- Vai servir, - determinou Jepp para a mulher - mas vou precisar de componentes diferentes do que usam habitualmente.

E perante o olhar de desconfiança da sacerdotisa:

- Não vou fabricar potes e panelas.

- Se a ordem veio do Chefe Jobs, veja do que ele vai precisar - atalhou o sacerdote.

- Como você se chama? - Cochichou Jepp para a mulher.

- Maren. Eu sou a Virgem Consagrada. E você?

- Jepp, o faz-tudo. Nunca havia conhecido uma Virgem Consagrada - declarou com ar divertido.

- Se vou ter que providenciar esses tais componentes de que precisa, talvez dê tempo de nos conhecermos melhor - cochichou ela de volta.

- Podia me ajudar a procurar, na Cidade Morta - sugeriu Jepp.

O sacerdote pigarreou.

- Já chegaram à alguma conclusão?

- Sim, vamos precisar ir à Cidade Morta, trazer oferendas para o Reprodutor - informou Jepp.

- Vamos quem? - Inquiriu o sacerdote.

- Eu sou voluntária - replicou Maren, erguendo a mão.

[Continua]

- [23-03-2020]