O Vale dos Cavalos Amarelos

Sem muita cerimônia, Jepp foi empurrado para dentro da grande cabana redonda, construída com peles sobre uma armação de madeira, localizada bem no centro da vila dos Yelocaah, tradicionais inimigos dos Beryte. Atrás dele, os dois vigias armados de bestas que o haviam interceptado ainda nas montanhas, quando ele começava a descer o caminho íngreme para o Vale dos Cavalos Amarelos. No centro da cabana, sentado numa cadeira de braços sobre um tapete de couro de boi, estava Armin, o Chefe Jobs, líder da comunidade local, vários colares feitos com cabo espiral adornado com porcas metálicas à volta do pescoço.

- Esse, quem é? - Indagou Armin, apontando para Jepp.

- Capturamos este intruso entrando em nossas terras - informou o primeiro vigia. - Disse que havia fugido das terras dos Beryte, e que desejava falar com o Chefe Jobs.

- Eu sou o Chefe Jobs - apresentou-se Armin. - O que deseja comigo, forasteiro?

- Eu sou Jepp, um faz-tudo - redarguiu o rapaz com uma vênia. - Estive na comunidade dos Beryte para realizar um trabalho, mas percebi que são traiçoeiros e malévolos; portanto, saí no meio da noite e vim colocar os meus serviços profissionais à disposição dos bravos Yelocaah.

- Se você esteve realmente em território Beryte, - disse Armin, inclinando o corpo para a frente, apoiando-se nos braços da cadeira - deve poder nos dizer algo sobre o Muro de Jericó que os protege de invasões.

- Na verdade, eu trago mais do que informações - replicou Jepp, virando-se para o segundo vigia. - Poderia mostrar ao seu líder o objeto cilíndrico que está dentro da minha mochila?

- Que objeto é esse? - Inquiriu Armin para o guarda. Este aproximou-se com a mochila confiscada, a qual continha roupas, velhos manuais amarelados e a pilha de combustível queimada, que Jepp retirara do "Muro de Jericó" dos Beryte; com a anuência destes, deve ser ressaltado, embora tenha omitido esta parte dos Yelocaah.

- Para que serve? - Questionou o Chefe Jobs para Jepp.

- Essa é a fonte do poder dos Beryte - informou o faz-tudo, o que não deixava de ser verdadeiro. Todavia, o aparelho possuía uma segunda pilha de combustível a qual ainda funcionava, precariamente. - Ela fornece energia para o "Muro de Jericó".

Armin e os guardas entreolharam-se.

- Então, quer dizer que o Muro de Jericó está desativado? - Questionou Armin, mão no queixo.

Jepp fez um gesto negativo.

- Os Beryte possuem um grande estoque dessas pilhas - mentiu. - Eu roubei esta porque soube que aqui há um Reprodutor... se estiverem interessados, posso fazer várias cópias dela e, talvez, até mesmo construir um "Muro de Jericó" para uso de vocês.

Armin esfregou as mãos.

- Quanto cobra para fazer esse serviço? - Indagou.

Definitivamente, aquele não era um trabalho comum, e sequer sabia se estaria à altura da tarefa; tudo iria depender, basicamente, de que tipo de "Reprodutor" os Yelocaah dispunham. Se este pudesse replicar uma pilha de combustível, já seria notável, mas era extremamente improvável que fosse capaz de produzir equipamento militar.

- Terei que avaliar o seu Reprodutor primeiro - admitiu.

- Levem-no lá e tragam-no de volta - ordenou o Chefe Jobs aos dois vigias.

- A mochila - lembrou Jepp.

- Levem a mochila também - consentiu o líder.

Com um guarda à frente e outro às costas, Jepp saiu da cabana.

[Continua]

- [22-03-2020]