UMA JORNADA NO TEMPO.
- Não mais vivemos no século 21 Richard. Essa sua obsessão pelo passado está se tornando doentia.
- O que tem gostar do passado? Aprendo mais a cada dia estudando o que as pessoas faziam no século 21.
- Você e suas loucuras.
- Me deixa Alfred, terminou o seu relatório, Aliás?
- Ainda faltam dados, tivemos problemas nessa semana com uma das unidades robóticas, a produção inteira parou por alguns minutos, graças ao sistema secundário não tivemos tantos danos, ainda sim, eles me pediram um relatório da unidade inteira.
- Boa sorte então.
Alfred saiu do escritório, Richard continuava analisando documento antigos, todos do século 21, conseguidos no museu nacional. Tomou o elevador e subiu ao nível 5, robôs trabalhavam no novo protótipo, um veículo que anula a gravidade, podendo levitar, ir para todas as direções, comandado apenas pela voz do usuário. Verificou os protocolos na unidade central, tudo corria normalmente, não havia motivos para preocupações. Alfred resolveu que era hora de ir embora, ele estava na fábrica há quase dez horas, cinco a mais do permitido pela lei.
Richard também havia deixado o escritório, foi direto para o estacionamento, sua unidade inteligente de transporte o aguardava. Estava um começo de uma noite fria, chovia naquele momento. A noite avançava com uma fúria silenciosa, as luzes da cidade acesa, prédios monumentais, no dia seguinte seria o lançamento dos novos veículos de gravidade zero, um milhão de unidades prontas para o uso. Era o futuro no próprio futuro.
Manhã seguinte.
No salão nobre da empresa, um monumental evento foi preparado, convidados importantes, tudo pronto. O evento prestes a começar, transmitido ao mundo inteiro. O sorriso largo no rosto do Cláudio, diretor da unidade, era a evidência do sucesso. Tudo corria bem… Em uma das mesas, mais afastadas da elite, estavam Richard e Alfred, conversando sobre diversos assuntos. Richard era o que mais falava, as suas recentes descobertas e suas possibilidades o deixou eufórico.
- Esse assunto novamente Richard, você não desiste mesmo do século 21.
- As possibilidades meu amigo, se minhas teorias estiverem corretas, será um marco na história humana, sempre se falou sobre isso, nunca se tentou, veja, se eu conseguir provar a possibilidade de viagem no espaço tempo, meu nome ficará na história.
- Ou, na plataforma eletrônica de algum sanatório.
- Essa noite… Essa noite Alfred, vou provar minhas descobertas…
- Tudo bem viajante do tempo… Agora preste atenção no evento e se concentre nos convidados. Teremos que gerar um relatório dessa apresentação.
- Relatórios…. Relatórios…
Enquanto a apresentação seguia o seu curso, com a demonstração de toda nova tecnologia do veículo, Richard perdia-se em pensamentos. A possibilidade de voltar no tempo, revisitar momentos da história, o próprio século 21, o ano de 2020, ano da grande terceira guerra, ou quem sabe até antes disso. Tudo o encantava, mas, ele concordava que ainda faltava cálculos a serem feitos. Quais os efeitos no corpo e na mente? Uma desconstrução molecular e uma reconstrução segundos depois? A criação de uma ponte de 'Einstein- Rousen'? O uso da energia escura?
Um pequeno buraco negro criado em um laboratório experimental? Perguntas e mais perguntas, eram possibilidades com muitas variáveis, mas, ele estava disposto a tudo para atingir seu objetivo. A noite do dia seguinte seria decisiva para Richard, foram anos de estudos, anos juntando recursos e materiais para construção de seu primeiro protótipo de máquina do tempo, inúmeros testes foram feitos com cobaias, ao que analisou, todas com sucesso. Agora a cobaia do último teste seria ele.
Richard acordou cedo, estava bem disposto, seria um dia importante para ele, onde finalmente, se provaria que é possível a viagem no tempo. Faltava apenas os últimos preparativos, a máquina estava pronta, o último elemento que seria adicionado a ela era uma cápsula contendo energía escura e partículas que ele chamava de elementares. Esses dois, 'ingredientes', permitiria dobrar para trás o espaço tempo, como uma folha permitindo a viagem no espaço tempo. Sua máquina deformaria o espaço tempo de modo a fazer uma espécie de portal nessa dobra. O ano pretendido era 2020. Mas antes, ele teria que passar na empresa, fazer uma pequena visita, para que ninguém desconfiasse. A única pessoa que sabia parcialmente da ideia, porém, não da máquina, era o amigo Alfred. Tudo estava planejado, cada detalhe.
Foi direto para empresa, a inauguração aconteceria em poucos minutos. Havia muitos convidados importantes de várias nacionalidades, todos ansiosos para apresentação. Richard foi direto para o centro de transmissão onde o amigo estava. Encontrou-o impaciente.
- Richard, você está atrasado, daqui a dez minutos abriremos a unidade, por onde você andou?
- Eu… É que não estou me sentindo muito bem, acho que foi alguma coisa que comi.
- Já sei… São aquelas porcarias do século passado, o modo primitivo deles se alimentarem foi proibido a anos Richar, você sabe disso.
- Lá vem você com seus sermões. Tudo pronto aí.
- Sim claro, acha que sou o quê?
Assim que a transmissão começou, Richard aproveitando da grande movimentação que estava no salão, e do fato do amigo estar muitíssimo atarefado, disse não estar bem, retirou-se alegando tonturas. Era o que precisava, no meio do alvoroço, pegou a última peça que faltava, um transmissor criado por ele, que iria funcionar como um GPS para direcioná-lo através do espaço tempo assim como para trazê-lo de volta. Foi diretamente para sua casa, chegando, direto para a garagem, acoplou o GPS multidimensional no peito, acionou a máquina, definiu o local tempo e espaço, por fim, ligou…
Richard estava eufórico, tudo àquilo representava o trabalho de sua vida, e, poderia acabar em nada, como em dar muito certo. Ligou o último botão, posicionamento na rampa, uma bola de luz azulada formou-se na na frente da máquina, de repente, de um estalo, a bola azulada engoliu a máquina que desapareceu, e o portal fechou-se. Tanto a luz como Richar. A máquina havia funcionado como previsto.
*****
A luz azulada diminuiu a intensidade até se apagar por completo. Sua máquina havia funcionado, Richard estava em uma rua de paralelepípedo, em um beco estreito entre dois grandes prédios. Sua máquina estava programada para levá-lo ao futuro novamente depois de 48 horas. Richard levantou-se, não sabia exatamente onde estava, mais a frente estava uma avenida, sem muito movimento. De fato, aquele era o século passado, o impossível acabará de acontecer, ele voltou um século atrás. Em um lugar completamente desconhecido para ele. Seu olhar atento, observava tudo, pessoas, vestimentas, carros, o modo de vida. Tudo exatamente como ele havia estudado em sua longa pesquisa.
Richard resolveu caminhar por aquela avenida desconhecida. As pessoas que passavam por ele olhavam-no com certa estranheza, suas vestes nada comum chamava a atenção, um pouco mais a frente, próximo ao que seria um ponto de ônibus segundo suas pesquisas, encontrou o que naquele século as pessoas chamavam de jornais. A data o espantou, 20 de junho de 2020. Era a prova definitiva do seu sucesso. Guardou o jornal. Era preciso caminhar um pouco mais, fazer análises, explorar a cidade, que na visão de seu povo no século futuro, era primitiva, impossível de se viver.
Richard estava eufórico, suas pesquisas finalmente deram resultado, dez anos de estudos. O local onde ele caminhava era completamente desconhecido, segundo sua máquina, era para ele estar na mesma cidade, ASTANA, porém, no século passado. Aquele lugar em nada parecia com a moderníssima e futurística cidade do século 22, ou, talvez realmente fosse, mas, do século passado. Richard voltou no ponto de ônibus onde deixará o jornal, analisou-o novamente. O jornal dizia: ' O diário de Sorocaba, 20 de junho de 2020'. Na primeira página estava a seguinte reportagem. ' Tensão no Oriente médio'. Richard estava no lugar certo, àquela cidade, um século a frente se transformaria na futurista Astana. Ele se viu privilegiado, o homem do futuro, que, agora no passado, sabia exatamente o que aconteceria nos próximos anos. Entretanto, quem acreditaria em suas palavras? Ele tinha exatas 40 horas restantes. Não havia muito o que fazer. Richard resolveu caminhar, talvez pegar algumas provas para levar consigo, mas, algo incomodava suas ideias. Quem no futuro acreditaria? Certamente que ele seria taxado de mentiroso, que furtou artefatos de museus para dizer que foi ao passado, seria até preso. Revelar sua máquina também não era uma ideia boa.
Richard caminhou por muito tempo, chegou no que naquele século chamavam de zoológico. Haviam muitas pessoas, que, adentravam naquele local por uma, 'catraca eletrônica', como chamavam. Era preciso o dinheiro da época, ele não havia trago nada, de modo que seria impossível entrar. Richard sentou-se próximo ao local, ficou apenas observando a multidão enfileirada, foi quando percebeu, que ninguém pagava para entrar. 'A entrada deve ser gratuita', pensou. Não custava arriscar. Entrou na fila, na entrada havia dois guardas monitores, que nada disseram, apenas olhavam aquele homem de vestes estranhas entrando no local, porém, não deram mais atenção. Richard estava livre para fazer pesquisas e análises, pois, muitos daqueles animais estavam extintos no seu tempo. Restava-lhe apenas 35 horas de exploração. Embora não compreendesse muitas coisas daquele tempo, e, percebendo que era inútil tentar provar para alguém que era do futuro, assim como seria improvável que, uma vez de retorno ao futuro, ninguém acreditaria em suas palavras. Restava-lhe apenas explorar e desfrutar do momento único da sua vida.
Faltavam algumas horas para o seu retorno ao futuro, Richard deixou o local, foi quase que correndo para onde sua máquina estava. Por sorte ninguém a notou naquele beco estreito e escuro. Richard sentou-se na máquina, ligou-a, acionou o campo de força, direcionou o local para o retorno. A mesma luz azulada, em poucos segundos viu-se de retorno a garagem de sua casa, tudo parecia bem. Desligou a máquina, fechou a garagem. Ao entrar na sua casa havia uma chamada de seu amigo no dispositivo de comunicação. Acionou-o, o holograma de Alfred apareceu.
- O que você quer? Perguntou Richard.
- Quero saber como você está? Já chegou em sua casa?
- Sim, faz horas que estou aqui.
- Como assim, faz cinco minutos que você saiu daqui.
- Claro que não, faz quase cinquenta horas que estou em casa.
- Meu Deus Richard… Vai descansar, você não está bem, nos vemos amanhã.
O amigo desligou.
Curioso Richard olhou no relógio, Alfred estava certo, no seu tempo presente havia se passado alguns minutos, mas, no tempo do passado, havia se passado quarenta horas. Richard arquivou todas aquelas informações, seu experimento funcionou, ele estava agora pronto para novas incursões no passado, e descobrir um modo de mostrar ao mundo moderno o mundo passado, e ao passado, o mundo moderno.