Um conto para Helena...
Não era anjo, tão pouco demônio. Tinha a pureza das flores do mandacaru e a rudeza da
seca impiedosa do agreste - lugar onde só florescem os fortes como ela…
Seu nome era Helena - Guerreira, assim como as mulheres de Atenas, e, adorava aquele nome…
Olhou para o corpo ao lado, o sangue borbulhava, saindo pela fenda que jazia naquele pescoço asqueroso - Tivera o que merecia. Ela pensava…
Ao nascer, deram- lhe o nome de Sebastiana - homenagem a avó paterna, porém, os pais a chamavam " Tiana". Ela sempre os corrigia : _ Helenaaa, meu nome é Helena!
_Que isso, menina! Diziam.
_Quando noís coloquemo no papel, o moço inscreveu o nome da sua vó. Num adianta recrama - É Tiana e pronto!
Desde pequena vivia em outro universo, longe do seu. Ninguém o tiraria dela...
Sonhava ser famosa, e um dia ainda o seria…
_Vamos, Helena!
_ Ainda teremos que encontrar os outros. Não posso permanecer aqui por muito tempo. Inicialmente sem responder, apenas olhava a cena de horror com desdém - como se fosse parte de um teatro.
_Tudo bem, podemos ir - Já fiz o que devia, agora me sinto satisfeita.
Seguiram rumo a uma luz resplandecente. Ela, às gargalhadas - quanto ao pequeno ser de enormes olhos, não possuía expressões faciais. Não entendia aquela satisfação de Helena…
Tudo aquilo já acontecia há muito tempo. Os pais nunca acreditaram nela…
O primo asqueroso…. Todos o viam como rapaz perfeito, conduta irrefutável. Afinal, era único filho do irmão “rico” de seu pai. Era dissimulado, sabia quando ela estava sozinha em casa. Sempre que os pais saíam para o trabalho no campo ele aproveitava para se apoderar dela…Cheirava mal, era nojento, nunca mais violaria outra menina como ela.
Nunca imaginou que ficaria grávida, nem sabia o que significava isso. Soube, quando inexplicavelmente algo começou a se mover dentro dela - as pessoas começaram a dizer que estava “ prenha” - Palavra idiota, nem sabia o que era isso... Só soube que a mãe entregou- lhe uma trouxa mau feita e disse para sumir... Ela não sabia aonde ir... Ao longo de seus treze anos, até então, nunca havia conhecido outro lugar além do vilarejo onde morava…
Helena andou o dia todo sem sair daquele fim de mundo - não encontrou ninguém pelo caminho. Sentia-se exausta. Anoitecia quando ela deitada na poeira do caminho, fixava o olhar no céu, como quem pedisse às estrelas que a levassem dali…
Aconteceu...Luzes fortes pairavam sobre ela. Pensava que estava delirando, até que pequenos seres a rodearam... A olhavam com aqueles enormes olhos negros.
Nunca soube o que de fato aconteceu, lembrava-se apenas que a levaram naquele estranho veículo e ela os entendia. Era como se adentrassem sua mente e eles se comunicassem. Eram sua família agora...
Viajaram por sobre a terra, visitaram outros mundos. Nunca soube o que acontecera com sua “gravidez”... Era apenas Helena...
Os pequenos seres cuidaram dela, e desde então, nunca mais quis voltar. Até aquele dia… A vingança era o único elo com sua terra, seu único desejo…