Madrasta
Kieran e Marcos voltaram animados do fim de semana com o pai. E com a namorada do pai, eu não podia deixar de lembrar.
- O que foi que vocês fizeram? - Indaguei, enquanto eles me rodeavam na cadeira de rodas, e me abraçavam, e me beijavam o rosto e a cabeça. Tão amorosos, os meus meninos...
- Teelah dirigiu o módulo de exploração até as colinas, - contou Marcos - lá onde estão fazendo as escavações e existem todas aquelas ruínas dos Hoodhar.
- Seu pai deixou vocês descerem até as escavações? - Indaguei, surpresa. - Ele nunca nos levou até lá...
"Não quando ainda éramos uma família", pensei.
- Foi ideia da Teelah - explicou Kieran, satisfeito. - Ela conhece tudo por lá... melhor do que o papai!
- Sim... com certeza - aduzi fazendo uma careta. Afinal, eles haviam se conhecido desta forma; Teelah guiando meu ex-marido para locais onde poderia achar bons artefatos da cultura Hoodhar. Eles passavam muito tempo juntos, e tinham interesses semelhantes; natural que o convívio houvesse evoluído para algo mais íntimo. Eu é que deveria ter desconfiado há mais tempo, embora isso certamente não alterasse o fim da história.
- Eles vão se casar - anunciou Marcos solenemente.
- Casar? - Arregalei os olhos. A coisa estava tão séria assim?
- Nós gostamos da Teelah, mãe - afirmou Marcos. - Ela é diferente de você, mas... é legal.
- Ela é legal - assegurou Kieran.
Pensei no que seria dos meus filhos, criados por uma... estranha. Mas eles gostavam dela, não é? O que poderia eu fazer diante disso? Senti meu corpo frágil encolher na cadeira.
- A Teelah quer te conhecer, mãe - informou então Marcos.
Olhei para o meu filho caçula, indecisa.
- É gentil da parte dela - admiti. - Talvez seja um costume Hoodhar...
- Teelah diz que quer aprender a ser como você - prosseguiu Marcos, acariciando meu rosto. - Para quando você não estiver mais aqui.
Respirei fundo, para conter as lágrimas. Sim, aquilo era muito gentil; comecei a gostar um pouco de Teelah, mesmo sem conhecê-la ainda.
- Teelah diz que um pouco do que você é, pode passar para ela - explicou Marcos. - O modo como cuida de nós, o seu amor por nós...
Quem sabe, um pouco do meu amor pelo meu ex-marido, imaginei. Mas creio que esta parte Teelah iria dispensar.
- Eu também quero que a Teelah venha me ver - declarei por fim.
E acariciando os cabelos revoltos dos meus filhos:
- Talvez, depois disso, vocês possam começar a chamá-la de mãe.
- [14-02-2020]