Mentir é feio

Envergando o tradicional uniforme preto, viseiras dos capacetes abaixadas e fuzis nas mãos, seis soldados da Execução Penal sob o comando de um juiz, desembarcaram de um blindado de transporte de tropas na entrada do condomínio de luxo. O juiz exibiu a sua identidade funcional para o porteiro, que os deixou entrar sem fazer qualquer pergunta; o que haviam ido fazer ali, não era certamente da conta dele. Sentia-se aliviado, todavia, de que não era o alvo da operação.

- Casa 4 - anunciou o juiz aos subordinados pelo rádio do capacete, tomando a frente do grupo.

O condomínio era composto apenas por casas de dois andares, alto padrão, todas do mesmo modelo. O que variava eram os detalhes, a customização efetuada por cada morador. O grupo subiu pela rua principal, deserta àquela hora da manhã, e parou numa das esquinas, a um sinal do juiz.

- Os EP-37 e 42 vão comigo pela frente - informou. - Os demais posicionam-se no portão dos fundos. Se alguém tentar fugir, atirem para matar.

A equipe dividiu-se. Enquanto o juiz e os dois soldados nomeados tomavam o rumo da entrada principal, os quatro restantes seguiram para a rua seguinte, onde ficava o portão dos fundos da residência.

O juiz tocou o botão do interfone. Sabia que estava sendo visto de dentro da casa, pois havia uma câmera de segurança acima do portão.

- Execução Penal - avisou. - Abra imediatamente.

- Deve haver algum engano... - respondeu uma voz hesitante de mulher. - Nós não fomos notificados.

- Vocês serão devidamente notificados, assim que abrirem o portão - assegurou o juiz.

- Mas se é apenas uma notificação, porque estão todos armados? - Questionou a mulher.

O juiz, que estava com o braço esquerdo atrás das costas, fez um sinal para seus dois comandados. Imediatamente, o soldado 37 sacou um aríete tático de dentro da mochila e num gesto rápido, usou o equipamento contra a fechadura do portão, que se abriu com um estrondo. O trio entrou, os soldados com os fuzis em riste, o juiz com uma pistola .45 na mão. Os primeiros a serem abatidos foram dois rottweilers, que se lançaram contra o grupo. Simultaneamente, ouviram o som de um automóvel dirigindo-se ao portão dos fundos e em seguida gritos, e o disparo simultâneo de quatro fuzis.

- Vocês dois, revistem a casa - ordenou o juiz, ao término da breve fuzilaria. - Embora eu creia que não haja mais ninguém lá dentro.

Ele mesmo deu a volta à propriedade e caminhou sem pressa para a parte traseira, onde viu o portão de veículos escancarado e o automóvel que tentara a fuga, parado, vidros estilhaçados, mal tendo conseguido colocar a dianteira na rua.

- Alguém vivo? - Indagou o juiz, aproximando-se.

- O motorista morreu na hora. A mulher ainda está respirando - respondeu um dos soldados. - Dou o tiro de misericórdia?

- Consciente?

O soldado cutucou a mulher ensanguentada com o cano do fuzil. Ela gemeu e abriu os olhos.

- Sim.

- Deixe comigo - replicou o juiz, aproximando-se da porta do carona. Ergueu a identidade funcional para que a mulher a visse, e falou:

- Você acaba de ser intimada. A sentença para disseminação proposital de notícias falsas pelas redes sociais é a morte.

- Um médico... - gemeu a mulher. - Preciso de um médico...

- Infelizmente, o Resgate não vai chegar a tempo - informou o juiz encostando a .45 na cabeça da mulher. - A execução é imediata.

Em seguida, apertou o gatilho.

- [03-02-2020]