De outro Planeta!
—Leve o lixo para fora Fernanda, o carro vai passar daqui há alguns minutos! Vociferou Amália enquanto preparava o jantar.
Fernanda estava esparramada no sofá ouvindo música. A contragosto, porém sem hesitar, a menina arremessou o seu iPad na poltrona e foi em direção aos dois grandes sacos de lixo que repousavam do lado da geladeira. Agarrou-os e partiu para o quintal. Já do lado de fora, Lançou-os como bola de basquete em direção a lixeira
Quando se preparava para retornar ao interior da casa algo no quintal escuro reclamou sua atenção, era na porção do terreno mais densamente arborizada.
Ela pôde notar uma luz rosácea que destacava parcialmente o grande pé de mangueira que a mãe tanto mimava. E havia o que parecia ser uma pessoa mexendo no tronco da arvore.
A garota deu uma forte inspirada no ímpeto de, logo após, berrar pendido auxilio a mãe, mas foi tomada por uma súbita paralisia nas cordas vocais, como se uma força a impedisse de gritar. Uma agonia repentina inundou todas as suas células.
Logo após perder a voz, Fernanda também perdeu o controle motor e de repente sentiu o corpo leve. Estava completa e literalmente paralisada. De repente o contato com o solo deixou de ser apreciado. Pôde direcionar apenas as orbitas ao chão e verificou que estava levitando.
Após constatar que estava flutuando foi bombardeada com um sentimento anestésico de paz e serenidade. E uma energia começou a levá-la até o pé de mangueira iluminado, onde havia aquele ser ainda não identificado. Como um íman a seduzir o metal a menina deslizou até lá.
Enquanto era arrastada em direção a arvore pode observar com mais detalhes o indivíduo que estava fuçando o caule, e não sentiu medo em momento algum. Ele não parecia humano. Na verdade humanoide seria o termo mais adequado. O ser já não estava mais entretido com a arvore. Se encontrava de costas para a mangueira e de frente para Fernanda. Aguardando a moça com um grande sorriso no rosto.
A pele era completamente azul e levemente iluminada. Era mais alto que um ser humano médio. Diria que uns dois metros. Anatomicamente semelhante a nós. Mas as mãos continham três dedos cada. Sem sobrancelhas ou cabelos. O crânio era visivelmente mais avantajado e os olhos de um verde fluorescente hipnótico. A criatura, por assim dizer, trajava algo semelhante a um macacão com aspecto laminado.
A centímetros de distância dele a viagem cessou. A moça, que ainda se encontrava mergulhada em calmaria e tranquilidade, estava frente a frente com aquele ser luminoso.
Uma comunicação se iniciou entre ambos. Era uma comunicação falada, mas não pela boca. É difícil explicar.
Fernanda, desnuda de medos e receios, perguntou: — É você que está fazendo tudo isso comigo?
A criatura:
—Sim, perdoe-me por isto. Mas foi necessário para que você não gritasse pela sua mãe.
—Mas como....?
—Sim, posso ler seus pensamentos. E riu.
No decurso da conversação o ser mantinha uma expressão amorosa. Fernanda tinha certeza de que ele não lhe causaria dano algum. Uma positividade imensa emanava dele.
O ser:
—Venho do planeta Luminôn. Numa galáxia muito distante. Integro a federação dos planetas unidos.
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—Nossa, isso é demais. Então é verdade, existe vida fora da terra? E o que o pé de mangueira da minha casa tem a lhe oferecer? Retrucou a moça.
Com uma expressão descontraída de riso o extraterrestre respondeu:
—Sim, na verdade há milhares de planetas com vida inteligente. E o seu não é o maior e nem o mais adiantado. Faço parte da equipe de coleta e registro de artefatos do meu planeta. Coletamos amostras de tudo que é físico/tangível dos planetas menos evoluídos. Sou responsável pelos espécimes biológicos. Fauna e flora.
—Mas para que isso? Você precisa levar a mangueira daqui de casa? Minha mãe ficará triste.
—Não será preciso levar tudo, apenas uma pequena amostra.
Uma pausa cautelosa entrou em ação e após ele prosseguiu:
—Daqui há trezentos e vinte e quatro anos o seu planeta será reiniciado. E para que isso ocorra uma grande catástrofe implodira aqui. Nosso planeta, Luminôn, é o responsável por resguardar todo o conhecimento, tecnologia, amostras inorgânicas e orgânicas do seu planeta.
Fernanda foi tomada por um misto de emoções, mas a tristeza imperou naquele momento. Pensou em si, na sua família e amigos. Mas antes que produzisse novo questionamento o ser continuou:
—É um processo natural Fernanda (Ele sabia o seu nome mesmo ela não tendo dito). O seu planeta já foi reiniciado um punhado de vezes. Quer um vislumbre do futuro?
Com uma mescla de receio e excitação a moça disparou: —SIM!
—Certo. Você irá se casar aos vinte e dois anos, terá uma filha e dois netos. Não se preocupe pois quando a catástrofe se avizinhar você não estará mais aqui e nem seus amados entes queridos.
Fernanda indagou:
— O dilúvio bíblico foi um desses eventos de reinicialização da vida?
—Sim, ele foi apenas um deles. Fernanda, falei mais que deveria. Não me é permitido interferir no curso natural da vida neste planeta, aqui nossa espécie configura apenas um grupo de trabalhadores intergaláticos discretos. Entenda essas informações como um pequeno regá-lo por ter-me visto a intrometer-se em sua propriedade. De todo modo já possuo as amostras de que necessito. Preciso regressar. Volte para dentro! Sua mãe lhe aguarda para a janta.
Antes que Fernanda pudesse sugar mais conhecimento daquele ser iluminado ele se fundiu a luz rosácea. Depois, todo aquele clarão foi se condensando e tornou-se apenas uma bolinha rosada e discreta de luz. Que partiu em linha reta em direção aos Céus.
A magia da levitação se dissipou e a menina, em posse de todos os seus movimentos e músculos, repousou os pés ao chão mais uma vez.
Maravilhada e espantada, ficou parada do lado de fora fitando as estrelas
por alguns instantes. Lembrou-se do antigo Egito.
— Com certeza esses seres de Luminôn ajudaram na evolução deles, pensou com excitação.
Se sentiu inconformada. Queria saber mais e mais. Mas resolveu entrar.
Decidiu que nada contaria a sua mãe até que estivesse se sentindo confortável em contar essa experiência. Que havia sido bizarra e adorável ao mesmo tempo.
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