Mitos

- Como então, isto é o futuro remoto - declarou pensativo o Professor, ao deparar-se com as ruínas de um imenso prédio metálico localizado onde, num passado igualmente distante, estivera situada a padaria da esquina.

- Você está num futuro criado pela estupidez da espécie humana - declarou gravemente uma voz às suas costas.

O Professor virou-se, sobressaltado, e deparou-se com um homenzinho de má catadura, baixo e bronzeado, melenas negras cobrindo a cabeça chata, vestindo unicamente uma tanga de couro com uma espada curta pendendo de um cinturão. Nos pés largos, sandálias.

- Se estou no futuro distante, como ainda fala a minha língua? - Questionou o Professor, testa franzida.

- Nossos textos sagrados - justificou o bárbaro. - É através deles que aprendemos a ler e escrever. Como vê, temos um grande apreço pelo passado... e por viajantes do tempo.

- Mas... como sabe que sou um viajante do tempo? - Atalhou o Professor.

- Porque nossos textos sagrados dizem que eles viriam - replicou o bárbaro. - Achou que foi o primeiro à chegar nesta era degradada?

- Bem... isto faz sentido - ponderou animado o Professor. - A técnica das viagens no tempo deve ter sido aperfeiçoada após a minha invenção. Portanto, exploradores do meu futuro devem ter chegado aqui antes que eu o fizesse.

E olhando ao redor, consternado:

- Mas que terrível catástrofe causou tamanha devastação ao planeta? Guerra nuclear? Aquecimento global? Superpopulação? Apocalipse zumbi?

- Nossos textos sagrados afirmam que foi o resultado da ira do Monstro de Espaguete Voador, diante da impiedade do homem - assegurou o bárbaro.

- Monstro de Espaguete Voador? - Repetiu surpreso o Professor.

- Este mesmo - assentiu o bárbaro, tocando reverentemente com a mão direita na testa.

- Textos sagrados... - murmurou o Professor. - Tudo parecia tão lógico até aqui...

- O homem sempre encontra um meio de estragar tudo - replicou o bárbaro, muito sério.

- [08-01-2020]