UMA VIAGEM NO TEMPO, NATAL EM 275 DC

Henrique havia chegado mais cedo do trabalho, havia se separado de sua esposa há 10 meses e vivia uma vida solitária em seu apartamento desde então. Era véspera de natal, ruas bonitas com arvores enfeitadas, pessoas felizes caminhando, sorrisos fartos nas calçadas. Os comerciantes contentes e até os cães de ruas eram bem tratados.

O que motivava tudo aquilo? Sim, era o natal, época de festa, o amor estava no ar, perdão e empatia. Data que simbolizava o nascimento de Jesus o salvador, tudo era lindo e belo, mas será que era isso mesmo?

Jesus nasceu em 25 de Dezembro? Henrique viu-se fustigado pela dúvida, já havia lido a bíblia algumas vezes mas nunca viu nela uma referência sobre o dia do nascimento de Jesus.

Começava a anoitecer e ele entrou num antigo café da cidade, enviou mensagens aos filhos, sentou-se e pediu um café e uma croissant.

Após digeri-la olhou novamente o aparelho, ninguém havia visualizado, um funcionário avisou que iriam fechar a loja. Ele comprou um panetone de frutas como gostava e pagou a conta.

Alguns metros após sair da loja, ele viu algo reluzir no chão, era um tipo de moeda, pegou-a, era 1 denário antigo, nele a efígie de DEA deusa de Roma, essa moeda era raríssima. Olhou ao redor pra ver se havia alguém procurando algo, cerca de três passos a frente havia um antiquário cujas paredes pareciam não sofrer manutenção por décadas.

Resolveu entrar ali e checar quem comprara a moeda. O dono um senhor que usava um estranho chapéu de couro estava sentado quando ele o indagou:

- Senhor, eu achei esta moeda e pensei que a pessoa a comprou aqui com o senhor, por acaso...

- O senhor veio comprar alguma coisa? - interrompeu o velho sem olhar para ele.

-B-bem- gaguejou- Eu vim devolver esta moeda ao seu dono, será que não poderia acha-lo? Deve ser muito rara.

- Se você a achou agora você é o dono dela!

- M-as senhor...

- A pessoa que a usou não precisa mais dela, é uma moeda de denário não serve pra nada aqui!

- O que? Ela deve valer muito para colecionadores!

- Nenhum colecionador pode ter esta moeda meu caro, ela serve apenas para algo específico e geralmente procura pessoas para este fim!

- C-como assim? Ela procura? Que fim?

- Rapaz vejo que está perdido, como vou passar a noite aqui até a virada daquilo que chamam Natal, vou lhe explicar.

- O senhor é algum misantropo, bruxo ou feiticeiro? - indagou Henrique tenso apertando um dos olhos

- Não amigo, sou apenas um observador e diligente pesquisador. Bem vou fechar a loja e depois disso pedimos uma pizza e conversamos o que acha? Pode deixar que eu pago.. hehe.

Henrique viu o velho sorrindo, os dentes pareciam esverdeados pelo tártaro, barriga um tanto proeminente e uma barba aparada.

- T-tudo bem, eu não tenho família mesmo...

- Ah eu tenho! E eles estão em festança, odeio essas festas por isso chegarei depois.

- Entendo, aliás me parece algo despropositado, nunca li na bíblia que Jesus nasceu em 25 de Dezembro ou qualquer outro dia, não há referências, de onde tiraram isto?

- Humm, agora entendi por que ela o escolheu... Bem vamos conversar.

Na noite que se seguia, o velho contou a Henrique que aquela moeda concedia a pessoa que escolhesse um pedido, ela era um elo temporal que ninguém entendia o porque aparecia ou qual seu propósito, o velho apenas disse que conhecia algumas pessoas que como ele viera perguntar-lhe dela. Explicou-lhe muitas coisas sobre noções de tempo, hiperespaço, teses de universos paralelos entre outras teorias de conspiração, mas de tudo que ele lhe contou Henrique ficou interessado em uma: A possibilidade de viajar no tempo.

Após a conversa e após comerem a pizza, o velho lhe disse:

- Veja, são 10:00 da noite, não gostaria de averiguar por conta própria como era o Natal na época dos cristãos antes de Constantino unificar as religiões no século III? Eu já fui lá, e o que ví mudou pra sempre minha vida.

- Eu conheço a história, Constantino o imperador de Roma instituiu o cristianismo como religião única no império Romano por volta de 313 dc. para acabar com as divisões religiosas no império.

- Exato! Você já sabe o primordial, e deve saber o quanto os Cristãos daquele tempo sofriam antes disso, será que eles comemoravam natal?

- E-eu a-cho que n-não - gaguejou Henrique - Eu tenho muitas dúvidas sobre isso, já lhe contei!

- Sim, os primórdios do Cristianismo. Não acha interessante saber como eles viviam esses tempos?

- Sim, claro! Seria esclarecedor!

- Então, use sua moeda, não perca mais tempo!

- M-mas como uso a moeda e como faço pra voltar?

- Basta fecha-la na mão e fazer o pedido, ademais você não estará lá virtualmente, mas como um visitante invisível, vai ver tudo como se fosse um filme em 3 d, só que mais real. Bem, desejo-lhe boa sorte!

Henrique colocou a moeda no centro da mão e a apertou, fazendo um pedido. - Me leve para o ano 275 dc, deixe-me ver como eram as coisas neste dia natalino lá!

Henrique tinha os olhos fechados e subitamente sentiu um clarão dourado invadir suas pupilas, abriu os olhos ao fim da luz luminescente, estava em um lugar que parecia ser uma rua de terra larga e batida, com alguns comerciantes ao derredor, tochas iluminavam partes das ruas. Mais distantes algumas casas rústicas de pedra e argila, uma luz pálida e trêmula era vista em algumas, noutras apenas escuridão.

Curioso, avançou até próximo aos comerciantes que pareciam estar se retirando, subitamente uma cavalaria chegou com fortes brados:

Mors aliis christianis posse ministrare!

Henrique entendeu de alguma forma aquela mensagem: Morte aos cristãos! Viu-se um grande alvoroço, os comerciantes correndo, os guardas chegavam nas casas e retiravam pessoas, matando a algumas, foi feito uma fila com as pessoas amarradas por uma corda grossa, e eles foram obrigados a caminhar por uma estrada longa de pedras.

A escuridão contrastava com o brilho opaco das tochas de fogo.

As casas foram incendiadas, somente caos e destruição sobraram daquele povoado.

Num instante o tempo ele foi transportado para uma construção maior, na parte superior pessoas conversavam, ele as ouvia e entendia plenamente. A conversa era sobre a perseguição imposta aos cristãos em todo império, alguns choravam, outros diziam que o senhor estava por vir e livra-los do mal. Numa parte mais reservada estavam os lideres da região que analisavam a situação e as escrituras, uma preocupação crescente incomodava o semblente de todos.

A noite passou como um raio de sol para ele, na manhã seguinte, 25/12/259 viu-se no palácio real o inicio de grandes festividades, Henrique suspirou, enfim se lembraram do natal e tudo ali se acalmaria.

Foi levado até dentro das paredes do império ali em Jerusalém, uma festividade intensa era iniciada, no centro de um palco abaixo haviam cristãos presos sofrendo sob o so intenso, homens brutais começavam a espanca-los e chicotea-los, enquanto oferendas eram colocadas em vários lugares, danças e comidas das mais variadas eram postas em longas mesas. Henrique estava confuso, porque os cristãos estavam sendo açoitados, enquanto outros se divertiam?

Foi trazida uma grande imagem de pedra, quando tiraram o pano viu-se que era toda pintada de cores douradas simbolizando o sol.

Henrique ouviu vozes altas: Louvem ao solinvictus!

Todos faziam reverencia, menos os cristãos que continuavam sendo assolados e chicoteados.

A noite ele voltou ao local onde funcionava a organizção Cristã, alí um dos líderes disse:

- Hoje perdemos mais de 50 irmãos na morte, este é o dia mais infame o dia do deus deles, sol invictus!

Henrique sentiu o coração gelar, então era isso, aquilo possívelmente era o que dera origem ao natal, costumes pagãos que foram inseridos no cristianismo mais tarde, após constantino unificar o império e adotar o cristianismo como religião oficial. De fato ele já soubera dessas coisas mas nunca tivera certeza. Henrique apertou a mão fechou os olhos e pediu: - Deixe-me voltar pro meu tempo. Após sentir uma lufada de ar frio no rosto e a luz dourada embaraçar sua vista ele voltou, estava no mesmo lugar de onde havia saido, o velho comia uma fatia de pizza, ele disse: - Então tudo realmente era uma farsa!

- A própria história conta isso meu amigo, mas as pessoas não se dão conta, estão todos dormindo, e por falar nisso eu também vou indo...

- Espere, não acha que devemos falar as pessoas isso?

- Não, nem pense nisso, caso contrário receberás inimizade e desprezo, seja como as pedras sem adorno, apenas siga seu coração e mantenha sua fé em Deus YHWH e em Yeshua seu filho. Agora preciso ir, até mais.

O homem deu um breve sorriso e em seguida desapareceu...

Sem saber se aquilo era um sonho ou realidade, Henrique saiu da loja levando alguns pedaços de pizza, tomou um gole de refrigerante e olhou nos prédios onde grandes placas iluminadas desejam-lhe feliz natal. Sentiu-se atordoado e sentou-se num beco onde um morador de rua lhe pediu algo pra comer, ele lhe deu o saco com a pizza e disse ao homem:

- Tome, é pizza. Mas que horas são?

- Amigo, eu não sei, mas seu celular está tocando veja nele...

Bateu a mão no bolso e pegou o celular, eram 00:12 min, seu filho no telefone falava efusivamente: - Feliz natal Papai, Feliz natal...

Henrique lembrou-se do conselho do amigo, seja como uma pedra, ele, logo respondeu-lhe: - Obrigado filho, eu te amo!

....... Fim

Mario B Duran
Enviado por Mario B Duran em 25/12/2019
Código do texto: T6826636
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.