Hóspedes de Sua Majestade

[História anterior: "Mudança de curso"]

O robô os conduziu até uma câmara de descompressão no disco da estação espacial, regulada para o padrão Gumir, que era basicamente o mesmo que o terrestre. Após o ambiente ser pressurizado, puderam retirar os capacetes dos trajes espaciais e adentrar as instalações que, além de amplas e impecavelmente limpas, estavam desertas.

- Onde está todo mundo? - Indagou Oliver Buranek para o piloto, que caminhava à frente do grupo de três cadetes por um longo corredor branco, que acompanhava a curvatura da construção.

- Esta base espacial não possui ocupantes, atualmente - esclareceu o robô. - Conta apenas com uma equipe de máquinas de manutenção, que mantém tudo funcionando.

- Se não há ninguém... para onde está nos levando? - Questionou Dmitry Alekseev, fazendo sinal de alto para os companheiros.

- Para um dos alojamentos usados no passado por nossa tripulação biológica - explicou o robô, sem alterar o ritmo das passadas. - Vocês poderão aguardar confortavelmente instalados, enquanto reparamos a sua nave.

E percebendo que não era mais seguido, virou a cabeça metálica para trás.

- Não vão me acompanhar?

- Não temos muitas opções - sussurrou nervosamente Buranek para os outros dois.

- Acho que você só está pensando na próxima refeição... - replicou Pavel Kirillov em voz baixa.

- Se viemos até aqui, não faz sentido dar meia volta - atalhou Dmitry Alekseev. - Vamos em frente!

E para o robô:

- Desculpe... os recompositores moleculares estão funcionando?

- Naturalmente - aduziu a máquina. - Foram programados no padrão Gumir, o qual suponho que utilizem.

- Acho que posso sobreviver com isso - avaliou Buranek. - E li muito sobre programação de recompositores durante as férias, posso fazer receitas novas!

- Esse é um tema que te é caro - ironizou Pavel Kirillov.

- Espero não ter que ficar tanto tempo nessa estação espacial, que seja obrigado a conhecer os dotes culinários do Buranek - sentenciou Dmitry Alekseev.

O robô parou em frente à uma porta corrediça cinza, sobre a qual, lia-se em Gumir: "ALOJAMENTO 37-B". Premiu um botão para abrir a porta, e em seguida, perguntou:

- Vocês desejam ficar todos no mesmo alojamento coletivo? Também temos quartos individuais.

- Imagino que espaço para hóspedes não seja problema - observou Dmitry Alekseev. - Mas preferimos ficar juntos.

- Como queiram - redarguiu o robô, entrando com eles no aposento, onde havia seis grupos de beliches encostados em cada uma das paredes laterais, armários e instalações sanitárias ao fundo, e uma mesa retangular com 24 bancos acoplados e um recompositor molecular, no meio do recinto.

- Há trajes recicláveis nos armários, - informou o robô - e o recompositor está pronto para funcionar. Caso precisem entrar em contato comigo, usem o intercomunicador junto à porta.

- Por falar nisso, como você se chama? - Indagou Buranek, sentando-se em um dos beliches.

- Eu não tenho um nome, - replicou o robô - mas entendo a sua necessidade de nomear indivíduos. Podem me chamar de Zed.

- Agradecido, Zed - disse Dmitry Alekseev. - E quanto tempo acha que levarão para consertar nossa nave?

- Ainda não recebi um relatório de avaliação - ponderou o robô. - Alguns dias-padrão, pelo que pude verificar visualmente.

- É razoável - comentou Pavel Kirillov.

- E, enquanto isso, poderemos circular pela estação espacial? - Inquiriu Dmitry Alekseev.

- Naturalmente. Vocês são hóspedes, não prisioneiros - retrucou o robô.

E, já se preparando para sair, fez uma última pergunta:

- Perdoem a minha curiosidade, mas vocês são todos do mesmo sexo?

Os rapazes entreolharam-se, intrigados.

- Sim, somos todos do sexo masculino - respondeu Dmitry Alekseev.

- Talvez Sua Majestade Católica queira conhecê-los antes de partirem - informou Zed, já saindo do alojamento. - Há muito que ela não recebe visitas.

A porta fechou-se às costas do robô. Buranek virou-se para os companheiros, e indagou:

- Ela?

- [17-11-2019]