Bergentrückung

[História anterior: "Descida para o desconhecido"]

Os quatro soldados SS em seus uniformes brancos camuflados, metralhadoras em punho, adentraram o que parecia ser o salão de uma antiga Wohnstallhaus alemã - uma combinação de casa de fazenda e celeiro - com uma enorme lareira de pedra negra, sobre a qual estavam dispostos utensílios de cozinha, piso de tábuas corridas, uma mesa e cinco cadeiras rústicas de madeira. Numa delas, de frente para o corredor pelo qual haviam acabado de descer, estava sentada placidamente uma menina morena, de cerca de 12 anos de idade, longos cabelos encaracolados. Vestia-se à moda da Baviera, com um langdirndl branco, blusa de mangas compridas estampada e avental verde. Ergueu os olhos escuros para os recém-chegados e alertou, num alemão perfeito:

- Eu deveria matá-los pela ousadia de voltarem aqui.

Os soldados entreolharam-se, surpresos. O capitão Gaertner achou que era melhor tomar a iniciativa, antes que algo desagradável acontecesse.

- Baixem as armas - ordenou.

E para a menina:

- Desculpe. Não sabíamos o que iríamos encontrar aqui em baixo...

- Vieram à minha procura e não sabiam o que havia aqui? - Questionou ela, testa franzida.

- Na verdade, não viemos fazer contato... queríamos apenas saber se receberia o nosso comandante. Ele precisa lhe falar... é muito importante - declarou Gaertner, que não estava se sentindo muito à vontade no papel de emissário.

- É claro que é importante - retrucou a garota. - Já sei a razão do seu desespero, o RR "Eroberer" explodiu no espaço... e nem posso dizer que lamento a sua perda, porque ela foi mais do que merecida. Seus canalhas!

Gaertner engoliu em seco. Por bem menos do que aquilo, já havia fuzilado muita gente, mas não estava ali para criar nenhum incidente diplomático.

- Escute, por favor - disse em tom apaziguador. - Realmente, não sei o que o meu comandante tem para lhe dizer, mas o seu primeiro contato com os habitantes da Terra foi através de um dos nossos... o tenente Ludwig Baumer. Em nome dele, eu lhe peço: nos dê uma chance!

O apelo pareceu tocar alguma corda sensível no íntimo da garota. Ela encarou Gaertner de modo mais ameno.

- Quase esqueci dos meus modos de anfitriã - declarou por fim, indicando as cadeiras livres. - Queiram se sentar. Aceitam um Karpfenfilet? Uma taça de vinho?

* * *

Albwin Hutto ficou chocado ao saber que Samaria não queria falar com ele ou ouvir suas justificativas.

- Ela foi muito amável conosco... - avaliou o capitão Gaertner ao retornar com seus homens ao acampamento provisório no Oásis Schirmacher. - Mesmo ameaçando nos matar, a princípio.

- Esteja certo de que ela poderia fazê-lo - comentou Hutto, embora houvesse subtraído esta informação ao mandar o destacamento de SS descobrir a entrada dos domínios da alienígena na cordilheira Shackleton.

- E já estava ciente do desastre que atingiu a nossa expedição lunar... na verdade, indiretamente chamou o major Wendlinger e seus homens de canalhas.

- Imagino o motivo... - suspirou Hutto. - Mas se ela não quer falar comigo, creio que teremos que torcer para que nossos mísseis acertem a nave dos russos na reentrada.

- Na verdade, Samaria nos advertiu de que não deveríamos lançar mão disto... ou as consequências seriam drásticas - alertou Gaertner.

- O que Samaria quer de nós, então? - Exasperou-se Hutto, levando a mão à cabeça - Se não fizermos nada, os russos ganham... fim de jogo!

- Disse que se não tomarmos nenhuma atitude... estúpida, segundo ela... e deixar que os acontecimentos sigam seu curso, estaria disposta a conversar com alguém da Tríade sobre o futuro do Reich.

- Desde que não seja Hitler em pessoa... - ponderou Hutto, erguendo a cabeça para encarar seu interlocutor.

- Ela quer ver Ermintrude Friedmann - informou Gaertner.

- Bem, poderia ser pior - avaliou Hutto, braços cruzados. - Imagine se ela convocasse a judia, Debora Gröning.

- [16-11-2019]