Malware

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- Nossos drones foram contaminados com um malware extremamente sofisticado - anunciou a dra. Riley Cline, chefe da Divisão de Cibersegurança da Standard Forestry para o norte da África. - Que não tenhamos sido capazes de detectá-lo, mesmo com as ferramentas de última geração ao nosso dispor, indica que estamos enfrentando uma ameaça de nível transnacional, provavelmente criada por uma organização governamental.

- Isso equivaleria a um ato de guerra - replicou o chefe da Segurança Patrimonial, o ex-coronel das Forças Especiais do Reino Unido, Trenton Avery.

A dupla estava reunida com o superintendente de Operações da Standard Forestry no Mali, Bakari Ndiaye, em seu escritório na capital do país, Bamaco. O encontro fora agendado por Ndiaye após o devastador ataque cibernético sofrido pela Frota de Alerta Avançado, que protegia o Mali contra nuvens de gafanhotos oriundas da floresta de eucaliptos que agora cobria o antigo deserto do Saara. Se não fosse pela pronta ação de um supervisor da empresa, Pritchard, que conseguira obter socorro no Senegal, os prejuízos sofridos pelas plantações do Mali teriam sido devastadores.

- Um ataque nesta escala, pressupõe que foi tramado para nos causar não somente perdas monetárias, mas também levar o caos à população - ponderou Ndiaye. - Não consigo pensar em ninguém, dentro da União Africana, capaz de tamanha perversidade.

- Este era o ponto que eu queria evidenciar, e que reforça a tese do ato de guerra do coronel Avery - explicou a dra. Cline. - Fora da União Africana, temos conhecimento de estados delinquentes que dedicam tempo e pessoal especializado para criar armas cibernéticas do tipo que enfrentamos aqui. Mas não é só isso: os próprios gafanhotos deste enxame que nos era destinado, passaram por manipulação genética extremamente avançada, de modo a se tornarem mais resistentes ao inseticida que normalmente utilizamos no controle de pragas.

- E tornando os gafanhotos resistentes ao inseticida, teríamos que utilizar lança-chamas em larga escala, pondo em risco a integridade da floresta do Saara - acrescentou o coronel Avery.

- Então, tratou-se de um ataque em duas frentes - avaliou Ndiaye. - Destruir nossas plantações, e pôr em risco a própria floresta de eucaliptos. Estaria eu sendo leviano em afirmar que interessaria a um certo país da América do Sul a concretização de ambos os objetivos?

- A nós, parece-nos a conclusão mais provável - acedeu a dra. Cline.

[Continua em "Estado delinquente"]

- [24-09-2019]