Uma tipica manhã de domingo

Ali estava ele contemplando o sol da manhã após abrir os olhos de um sono pesado e silêncioso. Estava caído na sargeta em frente a um bar que costumava frequentar. Sua cabeça doía muito e não tinha a minima ideia do que havia acontecido na noite anterior. As pessoas passavam do seu lado e sequer o notavam. Ele também tentava chamar a atenção delas. Sem sucesso.

Tentou se levantar. A primeira tentativa foi bem desastrada. Seu corpo pesava bem mais do que se lembrava e caiu no mesmo lugar. Nesse momento notou que estava sem o tênis do pé esquerdo, mostrando uma meia amarela com um furo no dedão. “Estiloso.” Pensou ele tentando se levantar pela segunda vez. Mais uma tentativa frustrada. Pediu ajuda a um senhor que passava na rua naquele instante mas foi ignorado. “ Velho filho de uma puta.” Pois se a contemplar novamente o sol da manhã. Respirou fundo e tentou se lembrar de alguma coisa. Eram fragmentos de memória. Lembrou de estar rindo. Lembrou de que estava feliz. Um sorriso largo de alguém que conhecia vinha na memória como mensagem subliminar em filmes para crianças. De repente sentiu vontade de chorar. Engoliu o choro. Terceira tentativa de se levantar, rastejou um pouco para mais perto do bar. Foi se apoiando na parede de tijolo a vista na qual encostara e foi se erguendo sobre ela. Conseguiu colocar os pés no chão sentindo o frio da calçada com pé sem tênis. Tentou levantar a cabeça mas uma forte tontura veio a tona. Fechou os olhos. Mais fragmentos de lembranças vieram. Mas eram lembranças de sentimento. Estava apaixonado. Talvez pela pessoa dona daquele sorriso que aparecia pra ele em flashs. Se sentiu mal, aliás, estava apaixonado e sentir isso era a pior coisa.

Conseguiu abrir os olhos. A tontura foi passageira. Deu alguns passos, meio atrapalhado, mas conseguiu enfim sair daquele lugar. Novamente pode perceber que as pessoas o ignoravam. Estava no centro da cidade e sequer olhavam para ele. Imaginou estar sonhando, mas não era possível um sonho tão complexo assim. Então deu de ombros e caminhou até chegar á praça da igreja matriz. Olhou para a entrada da igreja. Música religiosa pairava sobre o local. Observou um grupo de velhinhos sentados nos bancos da praça e decidiu se sentar ali perto também. Era um tipico dia de domingo. Não para ele, mas era um tipico dia de domingo.

Ficou ali alguns minutos admirando o céu, os passarinhos que faziam barulho e sexo ao ar livre. Voltou a pensar no sorriso que vinha em flashs. Era horrível aquela sensação.

Quando alguém passou em frente a ele, e estendeu um jornal para que ele pegasse. Esse alguém sorriu e naquele momento ele soube que era o sorriso que aparecia em flashs para ele, e pelo contrario do que achava, ele não a conhecia. De certa forma ficou com medo. Ainda mais depois que aquela pessoa sentou ao seu lado no banco. Digo “aquela pessoa” por que não era homem e nem mulher. E ao ouvir sua voz, ele teve quase um surto de pânico. Era uma ordem. “ Leia a primeira matéria do jornal!”. E a voz era algo distorcido, diferente de qualquer coisa que já ouvira na vida. Estava tremendo, quase rasgou o jornal. “ HOMEM SOFRE ACIDENTE DE CARRO E MORRE APÓS NOITE DE BEBEDEIRA.” Era ele na foto, morto. Não teve tempo de reagir direito. O ser que estava ao seu lado começou a devora-lo. Ele queria não sentir nada, mas sentiu até o minimo toque daquele ser que sorria manchado com seu sangue. Tentou até pedir ajuda para algum daqueles velhinhos. Mas eles continuavam a rir e papear naquela tipica manhã de domingo.

Pedro A Franco
Enviado por Pedro A Franco em 29/07/2019
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