Homens do futuro
Há anos o Dr. Dickins se tranca em seu escritório secreto no subsolo de sua casa. Ninguém o vê publicamente, exceto sua filha, Rosa, que mora na mesma residência que o pai.
A casa do cientista Dickins é uma modesta fazenda, nos arredores de Teresina. A idade avançada requer cuidados extras que só Rosa poderia dar. O velho Dickins, um homem de 80 anos, com uma barba branca, bem calvo, pele clara e um pouco acima do peso. Tinha uma aparência bem caquética, tão frágil quanto um vidro.
Por anos Rosa se perguntou porque seu pai não ia a superfície interagir com os vizinhos e com o resto da família. Dormia, literalmente, na grande sala onde fazia seus experimentos. Dickins era formado em engenharia mecatrônica, doutor em robótica moderna e já havia trabalhado na Nasa, apresentando importantes projetos para o governo norte americano. Foi responsável por a captura de dois extraterrestres oriundos de Marte, graças a sua moderna nave espacial Collins VII. Mesmo ganhando rios de dinheiro, estava velho e resolveu vir morar no Brasil, no estado do Piauí, no qual sentia grande curiosidade. E assim fez. O governo piauiense soube dos feitos de Dickins nos EUA e resolveu investir pesado.
O que não faltavam eram projetos para Dickins elaborar e executar. O mais ambicioso deles era o Projeto Templarious. Milhões de reais investidos para Dickins criar robôs que pudessem ser confundidos com homens e mulheres, sem que ninguém desconfiasse.
– Pai, não acredito que o senhor aceitou essa loucura? – indagou Rosa, à mesa, enquanto tomavam café da manhã. – Você não pode fazer isso.
– É muito dinheiro envolvido, minha querida. – respondeu Dickins todo satisfeito. – Alguns deles já estão por aí, infiltrados entre os humanos de verdade. Seu pai é um gênio, minha querida. Criei robôs tão perfeitos que serão capazes de se apaixonarem por humanos, inclusive, podem ter filhos.
– O que? – Rosa não acreditava no que ouvia. – Como assim?
– Eles são capazes de produzir sêmen. – explicou o velho. – Minha filha, me acompanhe. – Dickins se levantou e saiu em direção ao laboratório secreto.
Rosa o acompanhou.
Caminharam por um longo e estreito corredor onde no final havia uma parede falsa que dava acesso a um elevador. Desceram cerca de cinco andares no subsolo, até o elevador parar de súbito com um baque surdo. Uma grande, espessa e pesada porta de aço dividia as extremidades do corredor do subsolo a uma grande sala oval.
Dezenas, centenas de robôs em tamanho real dependurados em ganchos como se fossem peixes expostos à venda no mercado. Alguns finalizados, outros iniciados, necessitando dar continuidade ao procedimento. Ali era uma linha de montagem. Rosa percebeu que a textura da falsa pele dos andróides era tão perfeita, que só soube do que era feita porque seu pai disse:
– É um material especial que desenvolvi, capaz de denunciar a mesma sensibilidade da pele humanos, como calor, frio, um beliscão...
– Meu Deus, estou impressionada! – exclamou a moça.
O olhar de Rosa percorreu toda a linha de montagem e pausou, por um longo momento, em um robô que era na forma de um homem muito bonito por sinal.
– Encantou-se por ele, filha? – riu Dickins. – Considero o Zack minha obra mais perfeita. Uma verdadeira máquina de destruição e outras coisinhas mais...
– Nenhum deles se parecem com pessoas reais, quer dizer, os rostos....
– Não. Desenvolvi um sistema que constrói faces computadorizadas a partir de fotos de redes sociais. Aqui, nenhum deles se repetem nem com os robôs existentes ou os humanos.
– O senhor está brincando de ser Deus! – protestou ela.
– Não, minha querida, apenas adiantei nossa versão melhorada.
– E o que senhor, afinal, pretende fazer? Vai introduzi-los na sociedade? – Rosa estava apavorada.
– Alguns já estão infiltrados. São casados com políticos influentes, empresários bem sucedidos... – Dickins relatava tudo na maior tranquilidade e naturalidade. Parecia que se referia a humanos.
A moça, então, se aproximou de Zack, preso aquele enorme gancho de aço, e tocou em seu peito. O robô estava seminu.
Ao suave toque dela, o robô abriu, num milésimo de segundo, seus lindos olhos verdes que refletiam uma luz sobrenatural, dando um sorriso em agradecimento.
– Prazer, sou Zack Dickins. – disse ele, com sua voz grave e entonada. Nada revelava se tratar de uma máquina. – Obrigado por me libertar, senhorita!
De repente, o gancho que o prendia soltou-o, libertando o androide do que parecia ser um instrumento torturante. Rosa percebeu que a face dele denunciava sentimentos diversos: alegria, felicidade, dor, surpresa.
– Ele é todo seu, minha filha! – exclamou o velho Dickins, a voz rouca e tensa. Todos os outros robôs prontos também se desprenderam dos ganchos, alguns o ameaçando com braços mecânicos em forma de canhão. – Calma, meus filhos. Vocês irão lá para cima na hora certa.
Uma robô ruiva e linda, num sorriso irônico, disse, apontando seu braço canhão.
– Você não tem mais controle sobre nós, seu velho inútil. – e disparou um raio vermelho em Dickins, matando-o na hora.
– Pai! – gritou Rosa, correndo até o corpo caído no chão, chorando muito. Percebeu que seu pai não pertencia mais a este mundo, talvez por consequência dele mesmo.
Os rebeldes androides saíram e subiram até a superfície, perdendo-se mundo afora, sabe-se lá para onde iam. Centenas deles. Rosa voltou a grande sala, na superfície, acompanhada de Zack.
– Meu Deus, meu pai construiu monstros assassinos! – a moça chorava aos soluços. – Vão matar todo mundo por aí.
– Não sou nenhum monstro, senhorita Rosa. – disse Zack – Sou uma criação perfeita do seu pai. É uma pena a Zoiie ter se rebelado com os outros Templarious, e, de fato, são muito perigosos.
– Você consegue localiza-los? – perguntou Rosa. – Precisamos encontra-los e detê-los.
– Sim. Somos interligados a um sistema único de computador. O GPS indica que eles estão ao sul, na direção do interior do estado e alguns estão aqui na capital.
No dia seguinte, ainda com os primeiros raios do sol, Rosa saiu com Zack, na sua SW4. O robô ia dirigindo. Vez por outra olhava para ela, admirando sua beleza.
– O que tanto olha? – perguntou Rosa, visivelmente irritada.
– Nada, apenas estou admirando sua beleza. – respondeu Zack com um sorriso enviesado.
– Você é muito abusado para ser um robô, sabia? – Rosa mudara seu tom de raiva para deboche. – Nem parece ser de ferro.
– Na verdade, fui construído com vários componentes além de ferro... tenho, em algumas partes, silicone, látex e acrílico.
-– Silicone, látex...
– Sim... sou capaz de dar muito prazer, sabia? – ele olhou rasteiramente para ela, ambos constrangidos. Rosa entendeu o que poderia ser a parte de silicone no corpo dele.
Mudando de assunto, a moça olhou para seu celular, discando um número. O aparelho chamou...
– Alô? – disse ela.
Alguém conversava com ela do outro lado da linha. Rosa dava muitos sorrisos, o que Zack pareceu notar ser alguém íntimo dela.
– Quem é? – perguntou ele.
–... licença, um minuto...É meu namorado. O que é, Zack? – Rosa também estava voltando a ficar alterada.
Zack pegou, abruptamente, o celular das mãos dela e jogou pela janela.
– Idiota! – gritou Rosa. – Porque você fez isso?
Zack deu uma freada brusca e disse:
– Por isso. – e beijou Rosa na boca efusivamente. Um beijo longo e demorado. A sensação era a mesma de beijar um homem de verdade.
Estavam parados no acostamento da rodovia. O clima de paixão e desejo já havia entorpecido os dois, o que levou a transarem ali mesmo, dentro do espaçoso e confortável carro. Entre beijos e amassos, Rosa retirou a roupa de Zack. Seu corpo escultural era um convite ao deleite sexual. Ele começou a chupar os bicos dos seios dela, provocando gemidos e sussurros de puro prazer. O pênis de Zack era um vibrador adaptado ao seu corpo, porém, era tão natural quanto um de homem de verdade, o que causou grande prazer. Rosa teve vários orgasmos.
Após a aventura, continuaram a dirigir. Numa rua pouca movimentada, um grupo de Templarious aterrorizavam algumas pessoas.
– Pare o carro. – ordenou Rosa. Zack obedeceu de imediato e desceram do veículo.
Zoiie, a robô ruiva, percebeu a presença deles e os atacou. Apontou o braço de canhão e disparou um raio vermelho, porém, ambos desvencilharam-se. Mais dois robôs em forma de homens bombados e parrudos avançaram rumo a eles. Rosa se escondeu atrás do carro, mas um dos robôs lançou um raio verde do braço canhão e o explodiu. Rosa só escapou porque se jogou longe. Zack, ao ver que a humana que conseguira despertar algum sentimento estranho nele, corria perigo, se jogou na frente do raio disparado por o outro robô inimigo.
Pedaços de metal, como um quebra-cabeça, se espatifaram em milhões de pedaços e se espalharam por todos os lados. Rosa deu um grito desesperador. Não acreditava que, agora, estava sozinha novamente. Não demorou um minuto, os pedaços de Zack se reuniram, automaticamente, remontando o robô. Em pouco tempo ele estava igual antes.
Zack, então, acionou um botão escondido no antebraço e trouxe à tona seu braço canhão também. Apontou na direção dos dois robôs e disparou uma rajada de raios verdes. Os dois robôs viraram cinzas. Zoiie tentou revidar o ataque, mas foi atingida por Zack. O raio não a destruiu, mas aparentemente a programou para fazer coisas bizarras. A androide aproximou-se de Rosa e Zack, desejando felicidades ao casal e anunciando que se candidataria ao governo do estado. E assim fez.
Quando chegou o período eleitoral, Zoiie, a linda robô ruiva, que agradava gregos e troianos com seu discurso empoderado, candidatou-se a governadora e elegeu-se com uma expressiva votação. Era endeusada por quase todos. O Piauí não tivera uma gestão como aquela em décadas. O Projeto Templarious foi abafado pela imprensa e, somente Rosa, Zack e Zoiie sabiam, fazendo, então, um pacto de sangue. Aquele segredo não podia cair em mãos erradas.
FIM