Vanguarda

Margaret Benyon concordou em conceder uma entrevista para a "N+1", pouco depois de ter sido indicada como curadora da 25ª Bienal Internacional de Dimensionismo, em Londres. Obviamente, perguntei como se sentia perante a responsabilidade de dirigir o evento em tal efeméride, meio século após a pioneira Exposição Internacional de Paris, em 1937.

- Creio que todos gostariam que a Bienal fosse realizada em sua cidade de origem - declarou. - Mas como ela agora faz parte do Großes Deutsches Reich... bem, isso não será possível.

- Houve algum contato com as autoridades do Reich, para aventar esta possibilidade?

- Hitler, pessoalmente, pareceu sensibilizar-se... mas informou que não poderia ir contra as diretivas do Partido Nazista, que classificam o dimensionismo como "arte decadente". O que não deixa de ser irônico, dado a projeção internacional que o movimento ganhou, particularmente a partir do Armistício. Mesmo nos Estados Unidos da América, que não podem ser rotulados exatamente como um país dos mais progressistas, o dimensionismo tem experimentado alguma abertura nos últimos anos - principalmente, no campo da fotografia.

- Que era justamente a minha próxima pergunta. Acredita que as suas exposições individuais tenham contribuído para este quadro favorável ao dimensionismo na América?

Benyon sorriu, como que recusando-se a aceitar o crédito que eu lhe dera.

- O meu trabalho, como sabe, tem sido feito num campo específico da fotografia, a holografia. Aparentemente, nos EUA o apelo reside no aspecto tecnológico, não exatamente no artístico. Por conta disso, alguns dos meus trabalhos... os menos polêmicos, digamos... foram liberados para apresentação em exposições locais. A pintura e a música dimensionistas, contudo, estão restritas a nichos... e produções de teatro e cinema neste âmbito, são quase inexistentes.

- E como analisa essa dualidade de Londres e Moscou serem hoje os principais pólos de difusão do dimensionismo?

- Na verdade, essa dualidade tem perdurado por praticamente 50 anos, o que não chega a ser surpreendente. A proposta do dimensionismo é mesmo transcender a arte, tal e qual foi praticada até o início do século XX... por isso é tão importante e abrangente. Até mesmo a sua revista, a "N+1", faz parte do movimento...

- Verdade - acedi.

- E, igualmente, Londres e Moscou têm se mantido na vanguarda do progresso tecnológico pelo último meio século, o que consolidou a sua identificação com o dimensionismo perante o restante do mundo. Todavia, isso não significa dizer que não existam outros grandes centros identificados com as propostas e a produção de arte dimensionista; Tóquio, nos últimos anos, por exemplo, principalmente após o Japão ter se incluído na esfera de influência da União Soviética. Eu arriscaria prever que em alguns poucos anos, talvez já na próxima década, tenhamos uma bienal dimensionista em Tóquio.

- Isso seria de grande simbolismo... a primeira bienal a ser realizada no Oriente - ponderei.

- Fora da redoma do Großes Deutsches Reich, o mundo continua criando e se expandindo - avaliou Benyon. - Espero estar ainda viva quando, finalmente, pudermos sediar a exposição em Paris. Infelizmente, Charles Sirató já não está entre nós, mas eu gostaria de dedicar esta 25ª Bienal à memória dele.

O fundador do dimensionismo morrera sem poder voltar à sua amada Paris, vivendo exilado em Londres até o fim dos seus dias. Todavia, o dimensionismo estava mais vivo do que nunca - e um dia retornaria às margens do Sena, que haviam contemplado o seu nascimento.

- [11-04-2019]