Era uma vez um planeta
A última parada do cruzador "Yorixiriamori" foi justamente no sistema binário Roh-6317, cujo astro central, uma estrela classe F catalogada como Roh-6317 A, entrara recentemente em estágio de supernova. Não havia grandes esperanças em resgatar quaisquer sobreviventes que porventura houvessem habitado os planetas interiores do sistema solar, e a própria permanência da espaçonave naquela fornalha radioativa estava seriamente comprometida.
- As imagens são impressionantes - comentou a Chefe Méndez através do intercom da casa de máquinas, enquanto se aproximavam do quarto mundo do sistema, no qual presumidamente existira uma civilização tecnológica. O planeta agora era pouco mais do que uma rocha esturricada, vastas extensões da superfície derretidas e incandescentes.
- Aqui não escapou ninguém - avaliou o tenente Shimada, atento às leituras dos sensores de longo alcance. - Mesmo que houvessem buscado abrigo nas profundezas do planeta, certamente não teriam resistido aos terremotos e ao calor da explosão.
- E quanto aos planetas mais afastados do astro central? - Questionou o capitão Ferreira, de pé na ponte de comando. - Os sobreviventes poderiam ter se abrigado nas luas dos mesmos?
- Não detectei nenhuma atividade tecnológica recente nas luas dos planetas exteriores, capitão - replicou Shimada. - E, de qualquer forma, elas estão próximas demais de Roh-6317 A para representarem um porto seguro numa catástrofe desta magnitude.
- Nenhuma atividade tecnológica recente, é fato, mas o que os nativos deste sistema estavam fazendo lá? - Indagou Ferreira, voltando-se para o subordinado.
- Podemos dar uma olhada - sugeriu Shimada.
* * *
Os habitantes do sistema Roh-6317 possuíam limitada capacidade astronáutica, era sabido, embora não ao nível necessário que lhes permitissem buscar abrigo em uma estrela próxima antes da explosão da supernova. Todavia, em algumas das luas geladas dos planetas exteriores, os tripulantes do cruzador da Frota Estelar descobriram grandes usinas automatizadas para produção de combustíveis químicos; mas não havia nenhum habitante nas instalações, embora sinais de ocupação recente fossem visíveis.
- Os níveis de radiação ainda são bastante altos - ponderou Shimada. - Quem quer que tenha residido aqui, deve ter partido muito antes da explosão.
- Mas, para onde? - Indagou Ferreira. - Já que não possuíam capacidade de navegação interestelar...
- Capitão - atalhou a Chefe Méndez. - Estamos falando em navegação interestelar, mas este é um sistema binário... a estrela mais próxima dista apenas 0,4 anos-luz do centro de gravidade do sistema.
Efetivamente, como descobriram pouco depois, os habitantes do sistema Roh-6317 A haviam reunido seus esforços para construir uma imensa esquadra de naves colonizadoras movidas à fusão nuclear, a qual naquele momento encontrava-se à meio caminho do sistema Roh-6317 B, não tão propício à vida quanto fora o seu sistema original, mas ainda assim muito mais acolhedor do que a rocha calcinada que haviam deixado para trás.
- Acha que vão precisar de ajuda, capitão? - Indagou a Chefe Méndez, quando sobrevoaram o enxame de naves cilíndricas voando em formação no vazio do espaço interestelar.
- Eles estão indo na direção certa - avaliou Ferreira. - Mas, de qualquer forma, vamos programar visitas regulares, só para garantir que chegarão sãos e salvos ao destino...
E com estas palavras, a "Yorixiriamori" mergulhou de volta ao hiperespaço.
- [29-03-2019]