Mudança de curso

Após lançar um arpão magnético e rebocar a vedeta terrestre K-236, a nave-patrulha "Zathyr" mergulhou no hiperespaço. A bordo do pequeno veículo de treinamento, os cadetes Oliver Buranek, Dmitry Alekseev e Pavel Kirillov discutiam o que os aguardava no término da viagem.

- Duas ou três horas-padrão, foi o que disseram - comentou Pavel Kirillov, olhos atentos ao radar de longo alcance.

- Significa que controlam esta região do espaço, seja lá quem forem... nunca ouvi falar neste tal monarca católico nas aulas de Cosmopolítica da Academia - ponderou Oliver Buranek.

- Nós não conhecemos tudo o que nos cerca, mesmo estando relativamente perto de casa, em termos astronômicos - observou Dmitry Alekseev. - E muito do que sabemos é informação velha de milhares de anos, do tempo da Expansão Gumir. As coisas podem ter se modificado drasticamente desde então.

- Ao menos sabemos que possuem uma base espacial para manutenção - replicou Oliver Buranek - e por ora, é o que me basta. De lá poderemos usar o rádio subespacial deles e falar com o Controle da Missão, para avisar que estamos bem...

- Não - atalhou Dmitry Alekseev, muito sério. - Ninguém vai ligar para casa, exceto do nosso próprio equipamento. Não sabemos ainda com quem estamos lidando.

- Dmitry Alekseev tem razão - avaliou Pavel Kirillov. - Por mais que sejam ou pareçam ser amistosos, não podemos simplesmente dizer-lhes tudo sobre nós, antes de sabermos quem são e o que farão com as coordenadas do nosso posto avançado.

Oliver Buranek apenas balançou a cabeça, embatucado.

A "Zathyr" emergiu do hiperespaço e viram-se cercados de estrelas, nenhuma delas particularmente notável, embora algumas constelações fossem familiares.

- Onde está o sol deles? - Indagou Oliver Buranek.

- Não falaram em sol ou planeta, mas numa base espacial - retrucou Dmitry Alekseev. - Talvez sejam tão cautelosos quanto nós.

Pouco depois, através do radar de longo alcance, perceberam que estavam enganados; ao menos, em parte. Havia sim, um planeta próximo, um órfão planetário, com massa semelhante à da Terra. Como não recebia luminosidade de nenhuma estrela das vizinhanças, apresentava-se apenas como um disco escuro contra os sóis distantes.

- Um planeta errante! - Exclamou Pavel Kirillov.

- Bem-vindos à Kaneva, um dos mundos de Sua Majestade Católica N'nathan-Parsat II - soou a voz metálica do piloto da "Zathyr". - Estou alterando o curso para abordarmos a Base Espacial IV.

A base espacial, ao menos, era iluminada. Pouco depois, avistaram a grande roda girando sobre um eixo cilíndrico, com uma esfera numa das extremidades; provavelmente, abrigando o gerador de antimatéria que abastecia o complexo de energia. A nave-patrulha, conduzindo-os à reboque, aproximou-se cuidadosamente da entrada de um dos hangares, onde foram capturados por um raio-trator. Em seguida, delicadamente, foram depositados no piso do compartimento.

- Nossos hangares não são pressurizados - informou o piloto da "Zathyr" pelo alto-falante. - Vocês possuem trajes espaciais?

- Sim, nós os temos - redarguiu Dmitry Alekseev pelo rádio.

- Queiram colocá-los e sair agora - solicitou o piloto.

Os três cadetes cumpriram as ordens recebidas. Ao saírem da vedeta, Pavel Kirillov e Oliver Buranek puderam verificar pessoalmente, pela primeira vez, os estragos provocados pela chuva de meteoros que os deixara à deriva no espaço.

- É um milagre que não tenhamos morrido - avaliou Oliver Buranek.

E então, notaram que uma escada retrátil baixava do ventre da nave-patrulha, e por ela desceu o piloto e único tripulante do aparelho, o corpo metálico brilhando sob as luzes do hangar.

- Um robô - sussurrou Oliver Buranek pelo rádio do traje espacial.

- [19-03-2019]