A Noite do Predador
O Dr. Jenson Wood gostava de pescar nos finais de semana, e uma vez por ano, alugava uma cabana no meio da floresta que circundava a baía de Tutka, Alasca, próxima a um rio por onde os salmões subiam para desovar, em sua migração anual. O Dr. Wood normalmente andava desarmado, mas tomava cuidado com os ursos famintos que vagueavam pela região, em busca dos mesmos salmões que ele. Até ali, não tivera qualquer contratempo e este ano não seria diferente; exceto, que não esperava por companhia.
Os dois homens que encontrou próximo ao rio, lembravam caçadores de ursos - ao menos, vestiam-se como tal e portavam carabinas de grosso calibre. O inusitado ficou por conta do fato de parecerem conhecê-lo.
- Dr. Wood? Sou Stanley Knight - apresentou-se o mais velho dos caçadores, estendendo a mão.
- Como vai? - Apesar de surpreso, Wood apertou a mão estendida.
- E este é meu parceiro, Chris Waller - prosseguiu Knight, indicando o outro caçador.
Nova troca de cumprimentos.
- Aqui não tem sinal de celular, não é Dr. Wood? - Perguntou Knight em tom casual, olhando para a copa das árvores acima deles.
- Nem celular, nem Wi-Fi - retrucou Wood. - Mas, gostaria de saber como me conhecem e o que estão fazendo aqui, quase como se soubessem que eu viria por este caminho.
Knight sorriu.
- Temos nossos métodos, Dr. Wood. Felizmente, não precisamos de GPS ou de qualquer outro sistema utilizado presentemente por você ou seu governo.
- Estrangeiros? - Indagou Wood, sentindo-se subitamente apreensivo
- Não somos daqui - disse Waller, com um meio sorriso.
- A verdade é que não queríamos nenhuma publicidade sobre esse nosso encontro - explicou Knight.- E este local parece perfeito... nada de celular, Wi-Fi ou GPS.
- Não há muitos locais assim no mundo de hoje - acrescentou Waller.
- E, se não seguir nossas orientações, em poucos anos poderá não haver mais... lugar algum - disse Knight em tom sombrio.
Wood os ouviu com atenção. Afinal, ambos estavam armados.
* * *
- Um ataque, indefensável? - Indagou perplexo o presidente dos EUA, quando o Dr. Wood concluiu sua apresentação na Casa Branca.
- Praticamente indefensável, já que se baseia nas mesmas leis físicas que usamos para mover sondas e astronaves no espaço - relatou o astrofísico. - Mas foi sugerido que poderíamos montar um sistema de alerta prévio, e de reação ao ataque, desde que o detectemos com uma antecedência mínima.
- Como denominaram a tal arma? - Indagou o presidente.
- Míssil relativístico. Basicamente, é um mero pedaço de metal, e nem precisa ser muito grande, acelerado até quase a velocidade da luz. O impacto contra a Terra seria suficiente para destruir não somente a nossa civilização, mas até mesmo extinguir a vida sobre o planeta. É a mais assustadora arma de destruição em massa jamais imaginada.
- E estes... visitantes... que encontrou no Alasca... queriam nos dar um ultimato?
- Na verdade, um alerta. Aparentemente, quebramos algum código de silêncio galático, com nossas transmissões de rádio e TV, e atraímos a atenção de um super-predador indesejado; uma civilização alienígena hostil, cujo único objetivo parece ser o de destruir eventuais concorrentes antes que eles se tornem uma ameaça ao seu poderio.
O presidente levou a mão ao queixo.
- Certo, certo... mas um empreendimento desta magnitude, mesmo que pretenda evitar uma catástrofe planetária, não poderá ser levado a cabo por apenas uma nação da Terra. Mesmo que esta nação sejam os Estados Unidos da América.
- É verdade, senhor presidente - assentiu o Dr. Wood. - É por isso que me disseram que iriam dar um sinal que seria visto por todo o mundo, e que facilitaria muito o trabalho de aglutinar todas os povos da Terra em torno de um projeto de defesa planetária comum.
A janela do Salão Oval estava aberta, e lá fora, sobre a noite de Washington, brilhava a Lua cheia. Quando o presidente e o Dr. Wood aproximaram-se para vê-la melhor, notaram que alguém - dotado de uma impressionante capacidade tecnológica - havia pintado em negro um símbolo sobre a superfície do satélite. Era um círculo, representando um rosto, com dois pontos pretos como olhos - e um X no lugar da boca.
- [18-03-2019]