CUBO

Joey é o maior cientista do planeta Terra.

Perto dele as teorias de Einstein não passam de sonhos infantis.

Usando seu cérebro hiper-dotado calcula as probabilidades de fazer um salto bem sucedido através das dimensões.

Não tendo em quem confiar, passa trinta e cinco anos construindo um equipamento em forma de Cubo, que o levará além das fronteiras conhecidas pelo homem.

Através de elaborados cálculos numéricos descobre o dia e a hora ideais para testar seu equipamento.

No ano terrestre de 4096 D.C às quatro horas da tarde ele liga seu equipamento.

O Cubo gira em volta de si mesmo e logo atinge uma velocidade acima da luz.

Atravessa o Multiverso e para na zona de Estase. Além do tempo e do espaço.

Um lugar onde um segundo pode significar um bilhão de anos.

O cientista está satisfeito com sua proeza.

Quando voltar para o planeta Terra, revelará que as portas da fronteira final estão abertas.

Só precisa checar se aquele local imortal é seguro para seres humanos.

Veste seu traje de contenção com uma certeza inabalável de que nada de mal lhe acontecerá.

Quando Joey abre a porta do cubo depara-se com um espetáculo dantesco.

Outros quarenta e seis mil seiscentos e cinqüenta e seis cubos estão alinhados em uma forma geométrica perfeita com exatamente trinta e seis centímetros de distância uns dos outros.

Como ótimo matemático que fora a vida toda Joey logo percebe a lógica disso.

- “É claro! Seis elevado ao sêxtuplo! Então o multiverso é apenas a elevação das dimensões sobre elas mesmas!”

Os cubos são de todos os tipos imagináveis. Desde um improvável artefato feito de madeira até outro de energia pura, passando pelo estilo rococó e art noveau.

Por alguma estranha lógica aritmética transcensdental, todos os Joey´s de todas as realidades de todos os universos existentes resolveram acionar suas estranhas máquinas teóricas ao mesmo tempo.

Infelizmente os seres humanos não são tão lógicos assim.

Um Joey garoto, quase criança olha deslumbrado para um Joey ancião e estende sua ingênua mão infantil.

O velho caduco já, sem ter noção de seu ato estende sua mão encarquilhada para a longínqua versão mirim.

Todas às quarenta e seis mil seiscentos e cinqüenta e seis vozes gritam em uníssono:

- Nãããããããooooo!!!!

É um urro tão intenso que pôde ser escutado em todo o Multiverso.

Dois corpos não podem coexistir ao mesmo tempo em um mesmo lugar.

Com um olhar arredio o velho teimoso estende mais ainda sua mão.

Com um olhar maroto o menino teimoso estende mais ainda sua mão.

Os dois se tocam tão suavemente que mal sentem.

O Multiverso implode. Universos desabam sobre universos como peças de dominó.

Joey morre, Joey morre, Joey morre, Joey morre, Joey morre, Joey morre, Joey morre, Joey morre, ...

Quarenta e seis mil seiscentos e cinqüenta e seis Joey morre.

E com ele quarenta e seis mil seiscentos e cinqüenta e seis universos cheios de vida têm um fim abrupto deixando o Nada em seu lugar como uma cicatriz no espaço-tempo.

Fim

Humberto Lima
Enviado por Humberto Lima em 16/09/2007
Código do texto: T655229
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