Pelos olhos da manhã eu pude ver chegar a luz do dia e também pude ver descer, sobre ele, o manto da noite esquizofrênica.
Era verão, mais um verão molhado de relâmpagos e trovões, à luz escassa da noite, iluminada pela lua, uma mulher corria nua, louca, em fúria, o calor latejante corria pelas entranhas, por todos os poros, nada mais importava, a morte chegaria de qualquer forma, era só observar as cruzes na entrada da cidade molhada de luar.
Era verão, mais um verão molhado de relâmpagos e trovões, à luz escassa da noite, iluminada pela lua, uma mulher corria nua, louca, em fúria, o calor latejante corria pelas entranhas, por todos os poros, nada mais importava, a morte chegaria de qualquer forma, era só observar as cruzes na entrada da cidade molhada de luar.
Por mais impactante que fossem as histórias dos últimos tempos, tempos eram aqueles de cuidados para falar, ouvir e até para sentir. As máquinas de ler pensamentos corriam soltas, dando tapas nas cabeças roliças de quem tentasse pensar contra o Sistema, era medonho de ver.
Embaixo da árvore a coisa era mais amena, as máquinas não chegavam, era ali onde discursávamos sobre as coisas simples da vida chupando laranja ou manga e se lambuzando tudo, cantávamos e tocávamos violão, tudo embaixo da árvore, que era a única que resistira ao desmatamento.
Algumas horas de descanso e voltávamos para o vilarejo em busca de novas informações para prosseguir com os treinos de controle da mente. Nossas armas eram poucas, mas suficientes para combater nossas maiores inimigas, as máquinas de ler pensamentos.
Éramos pouco mais de vinte os sobreviventes da cidade, Incluindo a mulher louca, mas não contávamos com ela, pois seus pensamentos já haviam sido roubados há muito tempo, pelo Sistema. Por isso falávamos o tempo todo feito maritacas, falávamos de tudo e de todos para que não fossemos detectados.
Os dias passavam depressa, e assim os anos se iam, esperávamos o dia em que as máquinas desaparecessem e a paz retornasse á cidade, ao mundo.
Eu e meus companheiros trabalhávamos para isso. Eram cinco as máquinas que tínhamos que destruir, porém não era tão fácil assim. Alguns dos nossos já haviam morrido tentando destruí-las, somente um grupo de cientistas ainda vivos poderiam fazer isso, mas eles estavam presos e precisávamos resgatá-los.
Os planos iam de vento em poupa, mas era preciso contar com o tempo bom, enquanto houvesse chuva seria mais difícil penetrar onde estavam os cientistas, as ruas eram lisas demais e os riscos de quedas perigosas, muito grandes.
Eu temia o encontro com os soldados do Sistema, mas a ordem era ser mais esperto do que eram eles. E na primeira noite sem chuva seria o dia D. Talvez ninguém sobrevivesse para contar a história, por isso eu sentava todas as noites, enquanto as máquinas dormiam, para escrever. No silêncio da noite não havia perigo pensar.
Durante o dia, só falar, falar, falar em tempo integral, isso até que o Sistema descobrisse que na calada da noite os pensamentos podiam correr livres, sem medo, e isso eles ainda não tinham se dado conta e, como nenhum Sistema é perfeito, podíamos pensar, arquitetar idéias, fazer planos e poupar o fôlego para o dia seguinte quando seria necessário mais tagarelices para evitar perda total.
Pior que morrer era ficar sem pensamentos, tagarelar a esmo dia e noite, aí você virava “gado”, “vaca de presépio” ou coisa pior. Por isso tínhamos o cuidado de vigiar todos os passos uns dos outros, para a proteção de todos e de cada um era necessário, ou, acabar como a mulher louca que corria nua, gritando injúrias nas noites afora, até que de cansaço repousasse, junto ás cruzes, na entrada da cidade.
Embaixo da árvore a coisa era mais amena, as máquinas não chegavam, era ali onde discursávamos sobre as coisas simples da vida chupando laranja ou manga e se lambuzando tudo, cantávamos e tocávamos violão, tudo embaixo da árvore, que era a única que resistira ao desmatamento.
Algumas horas de descanso e voltávamos para o vilarejo em busca de novas informações para prosseguir com os treinos de controle da mente. Nossas armas eram poucas, mas suficientes para combater nossas maiores inimigas, as máquinas de ler pensamentos.
Éramos pouco mais de vinte os sobreviventes da cidade, Incluindo a mulher louca, mas não contávamos com ela, pois seus pensamentos já haviam sido roubados há muito tempo, pelo Sistema. Por isso falávamos o tempo todo feito maritacas, falávamos de tudo e de todos para que não fossemos detectados.
Os dias passavam depressa, e assim os anos se iam, esperávamos o dia em que as máquinas desaparecessem e a paz retornasse á cidade, ao mundo.
Eu e meus companheiros trabalhávamos para isso. Eram cinco as máquinas que tínhamos que destruir, porém não era tão fácil assim. Alguns dos nossos já haviam morrido tentando destruí-las, somente um grupo de cientistas ainda vivos poderiam fazer isso, mas eles estavam presos e precisávamos resgatá-los.
Os planos iam de vento em poupa, mas era preciso contar com o tempo bom, enquanto houvesse chuva seria mais difícil penetrar onde estavam os cientistas, as ruas eram lisas demais e os riscos de quedas perigosas, muito grandes.
Eu temia o encontro com os soldados do Sistema, mas a ordem era ser mais esperto do que eram eles. E na primeira noite sem chuva seria o dia D. Talvez ninguém sobrevivesse para contar a história, por isso eu sentava todas as noites, enquanto as máquinas dormiam, para escrever. No silêncio da noite não havia perigo pensar.
Durante o dia, só falar, falar, falar em tempo integral, isso até que o Sistema descobrisse que na calada da noite os pensamentos podiam correr livres, sem medo, e isso eles ainda não tinham se dado conta e, como nenhum Sistema é perfeito, podíamos pensar, arquitetar idéias, fazer planos e poupar o fôlego para o dia seguinte quando seria necessário mais tagarelices para evitar perda total.
Pior que morrer era ficar sem pensamentos, tagarelar a esmo dia e noite, aí você virava “gado”, “vaca de presépio” ou coisa pior. Por isso tínhamos o cuidado de vigiar todos os passos uns dos outros, para a proteção de todos e de cada um era necessário, ou, acabar como a mulher louca que corria nua, gritando injúrias nas noites afora, até que de cansaço repousasse, junto ás cruzes, na entrada da cidade.