LIMIAR DA HUMANIDADE - CAP - 14 - 15 - 16

CAPÍTULO 14

- Então Senhoria, a que devemos a honra de tão ilustre visita?

O prefeito de Iporanga, Dr. Carlos Fonseca, afrodescendente como a maior parte da população olha com desconfiança nos olhos do Major Freitas e de seu ajudante de ordens, Capitão Feijó.

O Major, nitidamente demonstra sua insatisfação com o tratamento que o prefeito lhe dispensa.

- Excelência, desculpe, mas o que estamos fazendo aqui em Iporanga é apenas cumprir ordens que foram expedidas por autoridades superiores. Por educação estou aqui lhe informando que durante alguns dias eu, meu caro Capitão Feijó, e todos os homens que me acompanham vamos acampar na praça principal da cidade. Aconselho que utilize a rádio local para avisar a população que deve se manter calma e colaborar com as tropas.

- O governador sabe disso?

- O governador foi devidamente avisado pelas autoridades as quais represento. Se quiser contate-o.

- Isso será feito Major, pode ter certeza.

- Bom, então acho que com isso podemos por um término em nossa agradável conversa. Mas não se preocupe, também tenho ordens de avisa-lo sobre tudo que descobrirmos por aqui.

- Ah, sim, eu agradeço Major, em nome da pequena comunidade de Iporanga.

O Major levanta-se da cadeira onde até então estivera sentado, sendo seguido no gesto pelo Capitão e ambos deixam a prefeitura.

Dr. Carlos Fonseca acompanha com os olhos os dois militares deixarem seu gabinete e pede a telefonista que faça uma ligação para o governador do estado. Dez minutos depois o prefeito está falando com o chefe do Executivo estadual e escuta da própria boca do mesmo que deve colaborar com os militares pois as ordens dessa missão possuem o crivo do Ministro da Defesa e do próprio presidente.

Dr. Carlos se despede do governador e suspira profundamente, ele pede nova ligação para o dono da rádio da cidade, enquanto isso chama seu staff explica a situação e pede que seus assessores formulem um comunicado que ele vai ler na rádio local. Afinal, logo os moradores da cidade vão começar a ficar importunados pelos militares e antes que se formem filas perante a prefeitura, ou que o sistema de telefonia entre em colapso é melhor avisar a todos o que está acontecendo.

Na tarde do primeiro dia, os militares não conseguiram nenhuma informação que os ajude no cumprimento da missão. Ao ser informado sobre o resultado parcial da operação o Major Freitas fica visivelmente irritado. Passa uma descompostura em alguns de seus subordinados, chama seu motorista e vai dar uma volta por algumas estradas vicinais da região.

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- Descendentes ainda vão permanecer nos nichos de aprendizagem por mais oito horas. Usar tempo disponível para implementar pesquisa por eventuais auxiliares. Ativar programação AB-020-C. Tempo previsto para resultado final – 48 horas. Ativar fábrica de robôs, aumentar número dos agentes de segurança e robôs médicos. Ativar fábrica de máquinas e fábrica de naves. Programação AD-049-E. Intrusos na estrada adjacente. Ativar campo de força e deixar agentes de segurança disponíveis em prontidão.

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CAPÍTULO 15

- Natasha Yavenco, bielo-russa, 32 anos de idade, loira, olhos verdes, 1,68 m de altura, corpo mignon. Fala com segurança cinco idiomas, fora o russo, e ainda tem rudimentos em outros três. Física teórica da Universidade de Moscou. Solteira. Seu trabalho é considerado pelos russos como sendo um daqueles que recebe o carimbo de “Segredo de Estado”. Ela chefia uma equipe de 10 cientistas, sete homens e três mulheres, igualmente físicos teóricos que estudam a possibilidade de gerar um, assim chamado, “buraco de minhoca”. Teoricamente a existência desse tipo de fenômeno é considerado possível. Um buraco de minhoca é um “atalho” espacial. Ao se cruzar um desses se entra em certa posição do espaço e pode-se sair alguns milhares de anos luz à frente, ou, quem sabe, milhões de anos luz.

Então o grande desafio de Natasha e sua equipe é conseguir construir aparelhos que permitam ao ser humano gerar um buraco de minhoca artificial e que seja estável. Além disso há a necessidade de que se saiba quantos anos luz vai ser possível avançar. No caso de sucesso a humanidade, enfim, sairá dos limites impostos pela física que nos diz ser impossível ou improvável que se supere a VL (VELOCIDADE DA LUZ). E o caminho entre as estrelas, estará aberto, propiciando ao homem, esse eterno e curioso viajante, a abertura de novos horizontes, novas fronteiras.

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Para Abdul Shakoor andar pelas ruas de Nova Dheli, capital da Índia, é um teste de paciência. Afinal o trânsito caótico da grande cidade hindu mistura pessoas, carros, elefantes, vacas em uma miscelânea tal que um visitante mal avisado fica facilmente perdido e terrivelmente irritado com o caos generalizado.

Mas para Abdul isso faz parte do dia a dia, há cerca de 05 anos o paquistanês de 42 anos, tez morena, 1,73 M de altura, olhos de um negro profundo já se acostumou com tudo desde que a Universidade de Dheli o contratou. Especialista em propulsão, o trabalho do paquistanês é melhorar o máximo possível os motores dos foguetes hindus que estão sendo construídos dentro do programa espacial hindu. Abdul, um brilhante teórico, acredita que possa usar energia do próprio espaço para dar propulsão aos motores. Ele acredita que há energia infinita circulando pelo espaço sendo assim não há necessidade de combustível sólido, basta haver um sistema que permita captar essa energia. Abdul pensa em fazer algo no mesmo molde dos captores de energia solar, ou se não for possível ele pode usar a energia solar para que o foguete vença a gravidade da Terra, após o que, no vácuo entraria em funcionamento o sistema de captação da energia espacial. De qualquer forma o sistema de propulsão idealizado pelo paquistanês é algo totalmente fora dos preceitos e conceitos que estão sendo estudados pelo mundo afora, o que classifica Abdul como um excêntrico em sua profissão.

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Na base de Iporanga, Alisson e Clayton ainda estão sendo submetidos ao hipnotreinamento e tem seus corpos inseridos com medicamentos que vão permitir que eles sobrevivam por mais 200 ou 300 anos terrestres. Além disso a IA da base ainda consegue manter vigilância na entrada da caverna que leva até a base, pois já detectou a chegada dos militares brasileiros no pequeno município de Iporanga. Fora isso os perfis de Natasha e Abdul foram anexados a um banco de dados que poderá ser útil aos descendentes quando os mesmos tiverem terminado seus tratamentos.

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CAPÍTULO 16

O jipe militar serpenteia pela estrada estreita que mais parece uma trilha. Major Freitas e seu ajudante de ordens Capitão Feijó seguem em frente, vistoriando o local. Ipiranga é cheia de trilhas e pequenas estradas vicinais que levam as inumeráveis cavernas da região.

- Capitão, alguma novidade dos grupos que deixamos na cidade?

Feijó entra em contato com os responsáveis pelos comandos que circulam por Iporanga. Cada um dos contatados pelo rádio, invariavelmente dá a mesma resposta – Nada a relatar senhor! – Ao passar a resposta para o major o capitão percebe pelo semblante do mesmo que as informações não estão agradando.

O motorista do jipe é o primeiro do grupo a ver o carro de Clayton. O KA estava estacionado de modo displicente em uma bifurcação da estrada. Ali duas pequenas e estreitas trilhas seguiam, uma para o lado direito, morro acima, e a outra corria ao largo do pequeno rio da região.

Feijó é o primeiro a descer do jipe, cauteloso pega sua arma e se aproxima do carro devagar. Olha dentro do veículo e como nada vê de perigoso faz sinal para que o Major e o motorista se aproximem.

Treinados em caminhadas nas matas o trio de militares logo percebe que recentemente a trilha que serpenteia ao lado do rio foi utilizada.

- O que acha senhor?

- Parece que temos mais de um ocupante no veículo. Há indícios de que o banco do passageiro foi ocupado recentemente. Então os ocupantes devem ter estacionado aqui e seguido pela trilha, mas para onde? Chame os rapazes, temos uma caçada a fazer.

Feijó aciona o rádio e chama os soldados para aquela região.

- Tenente Bento, aguarde a chegado dos homens aqui, eu e o capitão vamos seguir a trilha para ver se descobrimos alguma coisa. Qualquer anormalidade nos chame pelo rádio.

O tenente, que até então fizera as vezes de motorista do major e do capitão, concorda com a cabeça e fica ao lado do jipe.

- Vamos Capitão, temos de ver aonde vai dar isso.

- Vou na frente senhor, tenho muita experiência em seguir trilhas, e ao que parece as pessoas que passaram por aqui não fizeram nada para serem discretos. Acredito que em breve acharemos essas pessoas.

- Muito bem Capitão, em frente. Nossos superiores esperam por notícias de nossa missão. O que temos até agora não pode ser considerada como aceitável. Precisamos descobrir se realmente há algo a ser descoberto nesta região, ou se é apenas mais uma infindável cadeia de acontecimentos que a luz da lógica e da razão não se sustentam.

- Senhor, acredita mesmo que podemos estar lidando com extraterrestres?

- O que eu acho ou deixo de achar capitão, não importa, temos uma missão a cumprir. Em off, acredito piamente que sejam apenas informações desencontradas e que as imagens que nos exibiram não passam de montagem de algum expert neste tipo de assunto. Mas, estamos aqui exatamente para descobrir isso.

- Sim senhor, em frente então.

A dupla de oficiais segue em frente.