CARBONO

Ainda era bem pequeno quando, pela primeira vez, Luis Henrique ouviu de sua professora a afirmação de que todo organismo possui o elemento Carbono em sua composição.

Com o passar dos anos, a admiração pelo elemento tão versátil e de múltiplos usos só cresceu.

Em todas as feiras de ciências das quais participou, Luis Henrique fez questão de montar a banca onde eram demonstrados as qualidades e o potencial desse elemento químico que, de tão comum, nem nos apercebemos da sua importância para os indivíduos dos Reinos Vegetal e Animal.

Seu trabalho sobre o gás carbônico, intitulado - CO² Dono da Vida e da Morte - foi premiado com a medalha de ouro por conta da perfeição com que foram descritas a respiração e a fotossíntese.

Como não poderia deixar de ser o interesse pelo curso superior de química foi o Norte em todo seu tempo de estudante.

Agora, homem feito, completamente engajado nas questões ambientais, continuava as pesquisas para a reciclagem de embalagens plásticas que se tornaram o principal vilão entre os desastrosos poluidores.

Claro que a culpa não era do plástico, muito menos do Carbono, mas do mau uso que os seres humanos faziam dele.

Das incontáveis montanhas de lixo espalhadas pelo mundo, os plásticos precisavam ser retirados para reuso, porque não dava mais para esperar pelos quinhentos anos necessários para sua degradação, mas esse tempo de vida útil devia ser a chave para se encontrar a solução do problema.

Apesar das diferentes densidades das estruturas, todas, absolutamente todas possuíam cadeias carbônicas longas ou curtas e essas deviam ser reunidas nesse produto ideal.

Como chegar a ele é que não deixava Luis Henrique pregar os olhos mesmo quando, estafado, voltava para casa, depois de incontáveis horas no laboratório de pesquisas.

Desde sacolinhas de supermercado a pedaços de ailerons aeronáuticos eram fundidos em diversas pressões e temperaturas para se chegar ao composto sólido capaz de suportar atrito, calor, bastante peso por centímetro quadrado e que preservasse memória da forma original para quando por um evento qualquer, essa forma fosse alterada.

A maioria dos gênios possuem peças antigas que à primeira vista não fazem parte do atual cenário ou relação com a atividade. O objeto estranho na sala do Dr. Luis Henrique era um trenzinho de plástico preto que ele ganhara no aniversário do primeiro ano de vida.

Se ele conseguisse chegar ao composto plástico haveria possibilidade de se usar todo o material jogado na natureza para fazer vias e rodas para veículos com vida bastante longa.

O acaso é o pai das descobertas e dos grandes acontecimentos. Foi assim com o raio X, com a lâmpada elétrica, com o surgimento do universo, da vida e de nós, os seres que sabem que sabem.

Durante uma tempestade, a montanha dos fardos de plásticos colocada do lado de fora do laboratório, foi atingido por um raio.

O calor gerado no momento do choque formou um tarugo com dureza nove na escala cristalográfica de Mohs sem alterar a maleabilidade do plástico que resistiu muito bem aos testes de “memória” da forma.

A experiência foi repetida inúmeras vezes até que fossem determinados voltagem exata da descarga elétrica e volume de vapor d’água destilada para o resfriamento em pressão atmosférica semelhante à registrada durante a tempestade.

Agora, com pouquíssimo investimento graças ao conhecimento científico e a admiração do Dr. Luis Henrique pelo Carbono, os trens poderiam correr com rodas de plástico sobre trilhos do mesmo material, sem desgastes significativos por, quase, quinhentos anos e os cursos d’água e oceanos ficariam livres do seu mais significativo poluente.