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Sim, eu me lembro do tempo em que comprávamos legalmente produtos baratos feitos na China, sou velho o bastante para isso. É verdade que boa parte destas mercadorias estampavam marcas norte-americanas sobre elas, mas em alguma parte do material, quase sempre em letras miúdas, um humilde "MADE IN CHINA" poderia ser encontrado; era uma garantia de qualidade, estejam certos.

Alguns, ainda mais velhos do que eu, devem recordar uma época em que fornecemos aos chineses a tecnologia necessária para produzir os itens que mais tarde eles nos exportariam, através de empresas dos EUA que para lá levaram suas linhas de produção com o objetivo de baratear custos e, posteriormente, ter acesso a um mercado consumidor que, em não mais de 40 anos, tornou-se o maior do mundo - tanto em número de indivíduos como, rapidamente, em poder aquisitivo.

O negócio parecia bom para ambas as partes, pelo menos no início. Os salários na China eram muito mais baixos do que na América e praticamente inexistiam leis trabalhistas que protegessem sua mão de obra contra a exploração movida por nossos empresários - com o beneplácito de seus governantes. Mas, pelo sacrifício do seu próprio povo, os chineses estavam construindo um futuro brilhante para o próprio país. Quando percebemos o que havia ocorrido, já era demasiado tarde.

Ao longo de décadas, os chineses construíram uma rede de relações comerciais e de investimentos nos espaços deixados vagos pela falta de interesse ou miopia dos Estados Unidos. Através dela, garantiram o suprimento de matérias primas vitais para sua indústria, e partindo do patamar tecnológico obtido pela fabricação dos bens cuja produção havia sido terceirizada por boa parte das grandes empresas ocidentais, logo perceberam que estavam agora numa posição de ditar as regras, e não mais se submeter à elas.

Inutilmente os Estados Unidos tentou retaliar, impondo taxas de importação que apenas oneravam os produtos consumidos por seu próprio povo, impedindo-os de ter acesso a bens que antes eram acessíveis a todos. O que poderia ter representado um novo impulso para a retomada da produção industrial norte-americana, converteu-se numa fuga desenfreada de capitais, já que os investidores preferiam aplicar seu dinheiro em mercados com regras mais estáveis e não sujeitas ao humor do governante de plantão nos EUA, cada vez mais volátil e imprevisível à medida em que a situação econômica do país e do eleitorado se deteriorava.

Houve um momento em que ainda acreditávamos que nosso poderio militar poderia reverter a situação, se ela se tornasse suficientemente desesperadora, mas a verdade é que os chineses, com sua sabedoria milenar, jamais deram margem à qualquer ato de força que pudesse ser mal interpretado. Ao menos, não enquanto não deram o passo seguinte que os colocou definitivamente longe do nosso alcance e nos converteu na potência de segunda linha que somos hoje, com um arsenal nuclear que basicamente preserva nossa independência, embora a China não tenha qualquer interesse em nos invadir ou nos derrotar militarmente.

A verdade é que fomos derrotados a partir do momento em que os chineses desenvolveram o seu projeto de mineração asteroidal e começaram a desviar para a Terra grandes massas de rocha e metais valiosos. Imaginamos que eles iriam colocar os asteroides no valor de trilhões de dólares em órbita, para poderem explorá-los comercialmente, mas o plano era muito mais ambicioso e aterrador, como sabem.

Apenas quando o primeiro asteroide atingiu uma região desabitada num dos países da África que mantinham fortes laços comerciais com os chineses, é que entendemos que pretendiam praticar mineração em terra mesmo, economizando uma fortuna em lançamento de foguetes. E também nos lembrar, sutilmente, de que eram eles quem agora controlavam a trajetória dos bólidos vindos das profundezas do espaço.

Portanto, se a JCPenney está fazendo uma liquidação de mercadorias chinesas de antes do Embargo, eu recomendo que aproveitem: pode ser a última vez em que terão a oportunidade de comprar itens de primeira linha, e não as cópias falsificadas produzidas na América.

- [27-11-2018]