MEUS VIZINHOS EXTRATERRESTRES
MEUS VIZINHOS EXTRATERRESTRES
- Alo! É da delegacia de polícia?
- Sim! Inspetor Florêncio falando, em que posso ser útil?
- Inspetor, eu quero fazer umas denúncia, quero registrar que os meus vizinhos são Extra Terrestres.
- Ora minha senhora, brincadeira tem hora e carnaval tem dia, vá amolar outro.
O inspetor desligou o telefone. Do outro lado, uma senhora de idade avançada, sacode a cabeça e desliga o telefone e pensa: - Ele achou que sou louca, mas ele não vai me escapar, vou lá pessoalmente fazer a denúncia, vamos ver se ele vai ou não registrar o BO.
Voltou a espiar pela janela, lá estava um casal de ET com dois filhos acabando de entrar no carro.
Ela entrou na delegacia de polícia, encostou-se ao balcão, pendurando a bengala na borda do mesmo, parecia estar exausta.
- A senhora o que deseja? - disse o atendente.
- Quero registrar um BO.
- Entre, por favor, dirija-se aquela mesa, o inspetor Florêncio irá atendê-la.
Ela foi logo sentando na cadeira a frente da escrivaninha, onde o inspetor Florêncio se achava a frente de um micro computador.
- O que a senhora quer que seja registrado no BO?
- Quero fazer uma denuncia, de que os meus vozinhos são Extras Terrestres, trata-se de um casal com, dois filhos.
O inspetor olhou-a atentamente e pensou: - Então é essa a louca que me telefonou querendo fazer a denúncia dos vizinhos, vou dar corda para ver até onde ela vai. O dia esta calmo posso gastar um pequeno tempo com ela.
- Diga o seu nome, endereço e o que quer registrar! — ordenou o Inspetor. — Fale devagar, para que o escrivão possa tomar nota!
- Maria Aparecida do Rosário; moro na Rua dos Açores 534, bairro da Entrada da Praia.
- Que idade tem? Dona Maria?
- Oitenta anos, bem vividos.
- E dai minha senhora, como se parecem os seus vizinhos, para ter achado que são do espaço?
- Então, eles são iguais a nós, olhando para eles pode se afirmar que são humanos, mas eu hoje os vi como realmente são, sobre a camuflagem de humanos, há um ser horroroso coberto de uma espécie de gosma que fica escorrendo.
- Está tudo registrado minha senhora, assim que for possível vamos proceder às investigações do caso, passar bem.
O delegado reúne todos os inspetores e lhes diz:
- Quero lhes apresentar o novo colega de trabalho, o inspetor Dercílio Rauber, recém ingressado na carreira de inspetor de policia.
Logo todos cumprimentaram o recém ingressado na carreira.
No dia seguinte, adentra na delegacia dona Maria, a senhora idosa que havia feito o BO sobre seus vizinhos.
O atendente se dirigiu ao inspetor Florêncio e disse:
- A senhora dos Extras Terrestres está aqui querendo falar com o senhor.
Ah! Sim! Vou passar este caso ao neófito, pede para o Dercílio dar uma chega aqui.
- Dercílio! – Tenho um caso para te passar, trata-se de uma senhora que acha que seus vizinhos são Extras Terrestres, para mim ela e uma esquizofrênica, mas pelo sim e pelo não, acho que devemos proceder à investigação.
- Pode deixar eu tomo conta do caso, daqui para frente.
- Faça entrar à senhora disse Rauber ao atendente.
Ela entrou afogueada, com os olhinhos negros, muito abertos, como se tivesse visto fantasmas.
Maria Aparecida do Rosário, uma senhora que aos seus 80 anos, mantinha o corpo ereto e a esbelteza que tivera na juventude, tinha a face apalaçada de tanta pintura, os olhos tinham a cor verde do mar sem fundo, Os braços, compridos e esguios, terminavam em mãos de dedos finos. Uns olhos pequeninos, encovados, escondidos num montão de pregas da pela toda encarquilhada. Um lenço preto à volta da cabeça, de onde caíam umas farripas de cabelo completamente branco, nariz afilado como uma faca. Vestia-se com elegância e simplicidade.
- Bom dia minha senhora- disse Dercilio, queira sentar-se, por favor.
- Eu quero saber quando vão visitar os meus vizinhos ETs, mas previno-o de que eles se disfarçam muito bem, e me enganaram por longo tempo, até que um dia eu os vi como realmente são.
- Diga-me como eles se parecem?
- São horríveis! Parece gelatina escorrida, mas eles têm a faculdade de se transformarem no que quiserem inclusive em seres humanos.
- Muito interessante- argüiu o inspetor Rauber, e prosseguiu – mas, me diga como à senhora saber que eles podem se transformar em qualquer coisa que queiram?
- Inspetor eu estou de olho neles há muito tempo, vi as crianças brincando no pátio do casario, o garoto se transformou num cachorro e a garota se transformou num enorme coelho marrom.
- Sim entendo. Mas a senhora há de convir de que eu não posso chegar lá e dizer que a senhora fez a denuncia que eles são ETs.
- Não, não quero que faça isso, quero que o senhor vá a minha casa e com o meu binóculo observe os ETs.
- Vamos que eu faça isso, e eles estiverem como à senhora disse, transformados em humanos, nada vamos observar.
- Sim, entendo, mas o senhor quem é o detetive, deve saber o que fazer.
- Confesso que no momento não sei, vou estudar o caso, para ver o que podemos fazer nesse meio tempo à senhora fica observando os vizinhos, e se eles se apresentarem como realmente são a senhora me chama ok?
- Sim vou fazer isso.
Dona Maria, se despediu do inspetor Rauber e se afastou.
- E dai? - Disse o inspetor Florêncio – a dona é ou não é perturbada mental?
- Tem tudo para ser, disse que os ETs, se transformam em qualquer coisa, inclusive em humanos, disse que viu o menino se transformar num cachorro e a garota num grande coelho.
- Coisa de doida, sem dúvida alguma- disse Florêncio.
Dona Maria chegou a casa e logo pegou o binóculo e dirigiu o foco para a casa dos vizinhos.
Lá estavam eles como realmente são, uma gelatina escorrida. Pegou o telefone e ligou para o inspetor Rauber, que lhe disse:
- Estou indo imediatamente.
A estrada que lhe fora indicada, pela senhora, o levou para foras da cidade. A casa ficava no alto de uma elevação rochosa, que por ser antiga, não havia entrada para carros, sendo acessada apenas por uma escadaria esculpida na própria rocha. Chegou a casa, uma casa velha, mas de construção robusta, suportada por paredes centenárias. A porta, dona Maria Aparecida do Rosário o esperava de braços abertos. Quando adentrou, teve uma agradável surpresa, a casa por dentro era bem arrumada e limpa como a de sua mãe.
- Venha inspetor, por aqui, vamos ver os ETs, em seu habitat.
Ele a seguiu por um corredor até uma janela.
- Veja lá ao longe.
A vista que vislumbrou, distava cerca de cem metros, com abaixamento de nível em mais de vinte metros. De onde estava podia ver o casario, que era composto de diversas casas velhas, construídas em pedra cortada.
- Não vejo ninguém, como a senhora os vê desta distância?
- Tome o binóculo, e veja com seus próprios olhos.
- Agora vejo um homem trabalhando no pátio, mas não há nada de incomum com ele.
- Eu já lhe disse que eles se transformam em qualquer coisa que queiram.
- Sim! Mas a senhora me chamou para vê-los com realmente são, não foi isso?
- Deixe isso para lá, vamos tomar um chá e conversar, vamos esperar que eles se revelem, como realmente são.
Dona Maria preparou um chá acompanhado de rosquinhas deliciosas e ficaram ali conversando amenidades enquanto esperavam o avistamento dos ETs. Com realmente são.
Após o chá, dona Maria, convidou o inspetor Rauber para irem ao jardim, que lhe mostraria o que mais gostava de fazer, cultivar flores, e que de lá poderiam manter a vigilância dos vizinhos.
Passavam mais de duas horas da chegada do inspetor, e ele não notara passar o tempo, pois dona Maria era cativante e sabia como manter uma conversação como poucas pessoas.
- Bem, Dona Maria! Acho que hoje não vamos ver os seus vizinhos como realmente são.
- O senhor pode voltar amanhã?
- Não, dona Maria! Tenho outros casos a resolver, mas a senhora poderá me telefonar se algo relevante acontecer.
Na delegacia:
- E dai como foi com a anciã dos ETs? – disse Florêncio
- Estive lá por mais de duas horas com a dona Maria e nada dos ETs. Mas tive uma grata surpresa ao conhecê-la melhor, ela é uma vovó muito interessante, foi casada com um cônsul francês, fala cinco idiomas, além do português e vive sozinha no alto de um rochedo.
- Sozinha! Por isso que ela está vendo coisas- arguiu Florêncio.
- Pode ser, mas pelo sim e pelo não, vou continuar a investigação, me contou que casou quando contava vinte e cinco anos, seu esposo vinte anos mais velho do que ela. Morou em diversos países, como Inglaterra, Espanha, Alemanha, Portugal, França e Suíça. Quando seu esposo aposentou-se compraram a casa onde mora, e ali, passaram seus últimos dias. Como não tiveram filhos, hoje ela está sozinha.
Passada uma semana, o inspetor Rauber, recebe uma ligação pelo celular.
- Pode falar, dona Maria, estou lhe ouvindo.
- Inspetor o senhor pode dar uma chegadinha aqui em casa, tenho novidades para o senhor, mas somente posso lhe dizer pessoalmente.
- Não é nada urgente, que tenha que ir imediatamente?
- Não venha quando puder, estarei esperando, com um chazinho, hoje é sexta feira, quem sabe o senhor vem amanhã.
- Combinado amanhã por volta das dez horas, está bem?
- Sim, estarei lhe esperando.
No Sábado:
- Como tem passado dona Maria?
- Como Deus quer! Algumas dores, o que é normal na minha idade, mas, no mais, tudo bem. Olha tenho novidades, os ouvi falando, parecia que estavam dentro da sala de tão claro. Diziam:
- Temos que tirá-la daqui, ela pode atrapalhar os nossos planos, para dominar a terra. Em breve chegarão os expedicionários, somente ela pode ver o que está ocorrendo neste lugar.
- Mais isso é muito sério- disse Rauber.
- Também acho, mas o que podemos fazer?
- Primeiro temos de provar que eles realmente são diferentes de nós, ai podemos prendê-los por invasão do planeta.
- Sim, mas isso eu deixo com o senhor, tome o chá se não vai esfriar.
- Tive uma idéia, vou deixar a minha máquina fotográfica digital, quando a senhora os vir como realmente são, basta tirar uma foto, aí teremos a prova que necessitamos.
- Ótima idéia, deixe a máquina, quando eu tiver a foto, eu lhe aviso.
Trocou de assunto, ela lhe contou das viagens que fizera quando jovem, os lugares que conheceu, eram tempos de enorme felicidade...
Na delegacia;
- E dai! Como foi no sábado com a vovó Maria? – perguntou Florêncio.
- Agora acho que não vai mais telefonar, se bem que, estar com ela é prazeroso, ela tem conhecimento e vivência como poucos e fala maravilhosamente bem. Deixei minha câmara fotográfica, ela me chamará após haver tirado fotos dos ETs, como realmente são. Como acho que tudo é coisa da imaginação dela, certamente não vai telefonar mais.
- Eu te disse que ela é paranóica- disse Florêncio.
Passadas duas semanas:
- Alô é o inspetor Rauber?
- Sim, dona Maria pode falar.
-Inspetor o senhor pode dar uma chagada aqui, consegui tirar as fotos, acho que não ficaram de todo ruins.
- Irei imediatamente.
Lá chegando:
- Veja aqui estão às fotos:
- Um cachorro, brincando com uma menina, o que tem isso de sinistro?
- O cão e o menino, são o mesmo ET.
- E esta aqui, não da para ver nitidamente, mas parece uma espécie de múmia, coberta por uma gosma.
- Este é o homem, isto é, o ET que se transforma em homem.
- Posso levar as fotos para fazer um exame detalhado no computador?
- Sim, tirei-as para esse fim, pode levá-las, mas antes vamos tomar um refresco, que está muito quente o dia hoje, ou prefere um sorvete?
- Pode ser um refresco, muito obrigado.
Enquanto ela servia o refresco, o inspetor examinava as fotos e pensava:
- O que significa isso, não é crível que se trate de ETs., mas o que posso fazer? Se interrogar os supostos ETs., posso passar por bisonho, as vistas dos meus colegas. Abandonar o caso não é direito, pois se trata de uma vovó muito boa gente, e me trata com muito carinho. O que fazer numa situação destas?
- Parece preocupado! Aqui estão os refrescos.
- Diga-me, a senhora não se incomodaria se eu passasse o caso para um detetive, amigo meu, muito experto em casos sinistros como este?
- O senhor quer me abandonar?
- Não, jamais faria isso, só que um detetive particular tem suas vantagens, eles têm mais tempo do que nós, policiais, podem se esmerar mais nos casos que a que se dedicam.
- Se o senhor prometer que irá me visitar de vez enquanto, eu concordo.
- A senhora terá de pagar pelos serviços dele, concorda mesmo assim?
- Claro inspetor, meu finado marido me deixou uma pequena fortuna a qual, não conseguirei gastar nesta vida.
NO DIA SEGUINTE:
-Alo! Detetive Herculan Decrois as suas ordens, para serviços leves.
- Como vai o grande detetive, aqui é Rauber, inspetor Dercilio Rauber. Tenho um caso para o senhor...
Herculan Decrois é um homem feliz. Holandês, estava radicado no Brasil desde a adolescência, pois seu pai era cônsul da Holanda. O grande detetive, pois tinha um metro e noventa e oito, seu pé calçava o nº 54 e por isso tinha que mandar fabricar seus calçados sob medida. Suas faces rosadas, com ausência de barba, mais pareciam à face de um bebê. Nariz adunco, fazendo uma leve curvatura como o bico de um falcão. Seus olhos cinza claros eram sempre escondidos por um par de óculos espelhado. Pelo seu grande tamanho, caminhava arqueado, nem gordo nem magro, com uma barriga de abundante dimensão, dado ao hábito de tomar cerveja.
Seu habito de vestir era o mais normal possível, calça e camisa esporte, dizia que era para não causar suspeita.
Quinze dias depois:
Herculan Decrois chega à cidade e logo se dirige a casa de dona Maria, seu pesado corpo sentiu grande fadiga ao subir a escadaria que o lavara a residência, de sua futura cliente. De lá pode ver, a bruma seca que envolvia as terras baixas estendendo um véu branco que descortinava os picos flutuantes sobre nuvens.
A casa compunha-se de dois andares, com uma larga varanda alpendrada, que ladeava a casa à frente e num dos lados.
A atmosfera estava calma e uma brisa movimentava as folhas da copas dos arbustos que ali se acumulavam.
O céu absolutamente azul, sem uma única nuvem. A rocha escarpada em ondulações cercava o mar que caudaloso se movimentava entre fluxos e refluxos, que cintilava com a luz do sol.
Herculan retirou o casaco e o chapéu, ao adentrar no alpendre, tirou do bolso um lenço e com eles enxugou o suor que lhe cobria a testa.
Acionou a campainha, a porta logo foi aberta, aparecendo dona Maria.
- Bom dia dona Maria, permita que me apresente, sou Herculan Decrois, detetive particular, as suas ordens.
Oh! Que bom que tenha vindo. O caso está cada vez mais complicado.
- O inspetor Rauber me colocou a par de tudo o que sabia, inclusive passou-me as fotos, que a senhora tirou dos ETs.
Há poucos dias atrás fizeram uma reunião do comitê discutiram o meu caso, eu aqui de cima ouvia perfeitamente o que eles diziam. Um deles que deve ser o chefe dizia:
- Temos de tratar da vovó, ela sabe demais e poderá atrapalhar os nossos planos, pois vive a nos espionar com o seu binóculo.
Outro parecendo ser uma espécie de conselheiro, disse:
- Eu como ouvidor acho que a vovó deve ser afastada desta área, para não prejudicar nossos planos.
- Mire dona Maria, a senhoras ouvia o que eles diziam deste lugar onde nos estamos? Não lhe parece ser muito distante?
- Por incrível que possa ser, parecia que estavam dentro desta sala quando falavam.
- Quantos participaram da reunião?
- Não contei, mas acho que poderiam ser uns seis seres.
- E estavam todos transformados em seres humanos?
- Sim, todos pareciam seres humanos.
Seus olhos escuros, geralmente tão expressivos, denotavam agora intensa concentração no que dizia.
- Dona Maria, me parece que a senhora, está certa de tudo o que está dizendo, e mais, tudo está corroborado pelas fotos que tirou dos ETs. Mas a primeira vista me parece tudo tão inverossímil, que nem sei o que pensar, neste momento.
- Então vamos tomar um chá, detetive assim, poderá pensar com mais calma.
- Diga-me dona Maria, como a senhora veio parar neste lugar?
Como já disse ao inspetor Rauber; meu marido era cônsul da França e quando se aposentou, decidimos que moraríamos no Brasil, e este foi o lugar que escolhemos, por ser alto, perto do mar, sem acesso para carros, pois ele não podia mais dirigir.
Ah! Meu finado esposo, quanta saudades tenho dele. A gente só aprecia verdadeiramente um bem depois de perdê-lo ou quando está em vias de ficar sem ele. É o que se passa quando perdemos nossos entes queridos.
Quando somos jovens desperdiçamos a vida na irrequieta e volúvel mocidade, naqueles áureos anos em que tudo é felicidade e a ânsia de viver nos leva a tudo querer, tudo possuir, sem nos darmos conta de que o tempo possa fugir!
Quando alcançamos a idade avançada, vêm as saudades da vida desperdiçada e já se não pode fazer nada. O valor da vida, em toda a sua dimensão, na sua justa medida, só a avaliamos quando sabemos que a morte já nos está rondando.
Um dia ele voltou para casa, atordoado, subiu a escada quase que de gatinho, agoniado atirou-se na cama, de onde não quis sair, durante dois longos dias. Sentiu que o céu desabara sobre a cabeça e que o chão lhe fugira de debaixo dos pés.
Estava condenado, um câncer lhe devorava os pulmões. Tinha de vida apenas seis meses, o qual passou aqui sem sair uma única vez. Não quis submeter-se a qualquer tipo de tratamento.
Ele, seis meses depois morreu, eu decidi permanecer aqui. Há pouco tempo recusei uma proposta para a venda da casa, o preço era bom, mas mesmo assim, decidi que morreria aqui, pois o finado está enterrado no mausoléu da pedra, assim, posso visitá-lo todos os dias.
— Foi grande o nosso amor, mas não quis o Senhor que tivéssemos filhos. Para quem ficará a fortuna alcançada? Tanto trabalho para nada?
- Bem dona Maria a conversa está boa, o chá estava ótimo, mas tenho de procurar um hotel e me debruçar sobre o seu caso, que me parece um tanto complicado.
No Hotel:
- Alo é Herculan Decrois.
- Como está detetive, é Rauber falando.
- Oh! Rauber, como está o amigo? Caso complicado você me arrumou, mas dona Maria, como você disse, é uma pessoa incrível, cativou-me no primeiro minuto.
- Pois é eu gosto muito dela, o pessoal da delegacia diz que ela é paranóica, que imagina coisas e as transforma em realidade mental. Muito embora haja as fotos para contrariar esta hipótese. Mas você sabe, reputação leva-se uma vida inteira para construir, um segundo para destruir.
- Imagine que ela me disse que ouviu lá do alto, o que vários ETs, diziam em uma reunião. Como você sabe, há uma distância de mais de cem metros e a casa está no alto do afloramento rochoso, como pode ela ter ouvido?
- Herculan, desculpe haver lhe passado este caso, na realidade, não tenho tempo para me dedicar como ela merece.
- Certamente, farei o máximo que for possível para elucidar o caso. Muito embora me pareça que sua cabeça está tão decrépita quanto seu corpo.
- Quanto a mim, estarei aqui as suas ordens para ajudá-lo no que for necessário.
OPLANO DE AÇÃO DE DECROIS.
Deitado de cúbito dorsal, com as mãos cruzada na nuca, segurando a cabeça o grande detetive pensava:
- Amanhã farei uma visita aos vizinhos da dona Maria para ver de quem se trata. Terei de traçar uma estratégia de ação não posso aparecer e perguntar se eles são ETs. Também não posso mentir, direi que estou à procura de um local para alugar, pois estou fazendo um trabalho na cidade.
Na manhã seguinte, passava das nove horas, quando o grande detetive chega ao casario dos supostos ETs. Examinou o local, olhou para a casa de dona Maria, que ficava no alto, separando o casario do oceano. Logo imaginou, como poderia dona Maria ouvir qualquer diálogo, que ali se estabelecesse, de tal distância? Resolveu bater à porta da casa que lhe pareceu mais conservada.
Logo a porta foi aberta e apareceu um senhor de meia idade, que lhe disse:
- Bom dia em que posso ser útil?
- Bom dia, senhor, sou Herculan Decrois, e estou à procura de um lugar sossegado para alugar, fui informado no hotel que aqui há varias casas, que poderiam estar para alugar.
- A informação não está correta, eu moro nesta casa, com esposa e dois filhos, as demais casas, não tem condições de serem habitadas, serão demolidas brevemente, se era só isso, passar bem.
- Se não for impertinente, O senhor mora há muito tempo neste lugar?
- Não, devemos ter chegado há aproximadamente seis meses atrás.
- Bem, acho que não vou mais ocupar o seu tempo.
- Estendeu a mão e foi correspondido, o dono da casa apertou-lhe a mão, com firmeza.
O detetive se afastou, e quando no carro, pensou:
O aperto de mãos normal, nada de diferente dos seres humanos.
-Poderia solicitar um mandado de busca e apreensão de provas, mas o que vou alegar ao juiz? Decrois! Estais num mato sem cachorro.
O grande detetive voltou à casa de dona Maria Aparecida e, quando lá, perguntou:
- Mire dona Maria! A senhora me disse que ouvia tudo o que diziam lá no casario, como se eles aqui estivessem, pois bem, vamos instalar um gravador de áudio, a senhora quando ouvir qualquer coisa que possa nos interessar para o caso ligara o gravador. Entendido?
- Sim perfeitamente, farei isso, quando entender necessário. Agora vamos tomar um chá com bolachinhas.
Conversa vai, conversa vem, e ela lhe perguntou:
- Qual é o seu plano para o caso?
- Meu faro de detetive me diz que há algo estranho neste caso, mas não quero me precipitar fazendo ilações fantasiosas. Bem a conversa esta boa, mas tenho de retornar ao meu trabalho, estou procedendo algumas diligências que o caso requer.
NO DIA SEGUINTE:
- Alo detetive Herculan? Maria Aparecida, sua cliente. Esta noite que passou, consegui gravar o que diziam em uma reunião, o senhor gostaria de ouvir a gravação?
- Já estou indo e vou me fazer acompanhar do meu amigo, inspetor Rauber.
Ligado o gravador ouviu-se:
- Eu entendo que ela já está passando dos limites, fica com seu binóculo, nos espionando, sabe lá a quantos revelou a nossa presença no planeta.
- Eu - disse outra voz- entendo que a devemos seqüestrar e lavá-la para Zeta.
- Temos que silenciá-la a qualquer preço, até o presente momento tudo está correndo bem, mas ela representa um perigo imediato.
Herculan e Rauber, perplexos ouviram toda a gravação.
- Mire dona Maria! Agora é um verdadeiro caso de polícia, a senhora está sendo ameaçada de sequestro.
- Acontece que isso não é prova que um juiz possa aceitar – disse Rauber – quem está falando, a quem vamos acusar com esta gravação e com as fotos que temos? Mas, assim mesmo, vou levar ao conhecimento da promotoria pública e ver o que ele pode fazer. Considerando a gravidade do caso, vou destacar um policial para guarnecer a casa dando proteção à dona Maria. O destacado permanecerá escondido do lado de fora da casa.
OK enquanto isso vou prosseguir com minhas diligências. - disse Herculan.
No dia seguinte Herculan liga para dona Maria, o telefone toca, não é atendido, até cair à ligação.
- Alo Rauber! Herculan Decrois! Acabo de ligar para a dona Maria, o telefone chamou até cair à ligação, presumo que algo de estranho possa ter ocorrido.
- Nos encontraremos lá detetive, estou indo imediatamente.
- É impressionante, parece que ela se evaporou, o jantar está parece ter sido interrompido, restos de comida no prato, uma taça de vinho pela metade. - disse Decrois.
- O guarda disse que não viu, nem ouviu nada de anormal, durante toda a noite. - disse Rauber.
- Tudo indica que ela foi arrancada daqui de uma maneira muito sinistra, não sei nem o que pensar- disse Herculan- agora sim, há um crime a ser investigado, portanto, podemos ir à casa dos vizinhos, supostos ETs, com uma mandado judicial e examinar tudo.
Com um mandado judicial na mão, Herculan e Rauber, chegam ao casario. Batem a porta por diversas vezes e nada, não há ninguém para recebê-lo. Examinam ao redor das casas e constatam que tudo está deserto, as porta estão apenas encostadas. Adentram na casa onde residiam os vizinhos. A casa estava completamente vazia, não havia quaisquer sinais dos moradores.
Ficaram todos sem saber o que dizer, indubitavelmente dona Maria havia sido raptada pelos vizinhos ETs.
Herculan Decrois, nessa altura dos acontecimentos, se mantinha cético com seus sentidos aguçados na busca de algo que pudesse trazer alguma luz ao caso.
O grande detetive tirou e voltou a colocar os óculos reflexivos, sacudiu a cabeça em sinal de reprovação, logo passou a fazer uma reflexão mental:
-um desaparecimento abrupto, pois tudo indica que estava fazendo uma refeição quando foi levada. O guarda que a estava vigiando, nada viu, nem ouviu. Seria impossível alguém entrar na casa e levá-la sem que o guarda notasse, isso tudo levaria a inferir que o que se passou aqui foi algo sobrenatural, uma abdução fantástica por ETs.
- Detetive!- alguém lhe bate no ombro, é Rauber que lhe diz:
-Tem de haver uma explicação natural para tudo isso!
- Só que não a encontramos, inda – disse HD.
- Vou isolar o local, nada deve ser tocado até que a pericia técnica chegue- disse Rauber.
Horas mais tarde:
O laudo da pericia técnica, deu conta de que no local não houve qualquer tipo de violência, que a vitima do desaparecimento, estava jantando, quando foi interrompida abruptamente e foi levada misteriosamente. As únicas impressões digitais que havia no local eram da própria vítima.
A polícia examinou minuciosamente todos os cômodos da casa, nada de anormal encontraram. E finalmente, as buscas foram dadas por terminadas, ficando apenas Rauber e Decrois na casa.
- Mire inspetor, me aguarde um minuto que vou ao meu possante buscas alguns aparelhos que costumo usar nesses casos.
Logo retornou trazendo uma pequena valise que logo abriu, retirando do seu interior um estetoscópio, uma lente e um pequeno martelinho.
- Que é isso detetive?
- Vou auscultar as paredes, aqui há algo de muito natural a ser revelado.
Colocava o estetoscópio na parede e aplicava pequenas batidas. Assim o detetive fazia parede por parede, cômodo por cômodo.
Rauber expectantes o acompanhava, sacudindo a cabeça em sinal de reprovação, mas o detetive continuava, já era passada duas horas de tentativas e nada haviam descoberto. De repente as batidas ficaram ocas.
- Aqui há um esconderijo, temos de achar a entrada secreta, deve aparecer com a movimentação de alguma coisa, talvez algum dos moveis.
Passaram movimentar os móveis que ali estavam e nada acontecia.
- Só há uma hipótese, não há acionamento pelo lado de fora, apenas pelo lado interno. Temos que arrombar a parede. Inspetor permaneça aqui que já volto com um instrumento para fazer uma abertura na parede – disse Rauber.
Não, não entendo que haja apenas acionamento interno. Deve haver uma maneira de acessarmos pelo lado de fora- disse Herculan- porque não pensei nisso antes, e simples deve haver uma entrada pelo piso. Vamos retirar tudo o que há no piso.
Movimentarem dos os móveis, alguns por mais de uma vez e nada foi encontrado.
- A estante de livros na biblioteca, lá deve estar o acionamento e a entrada, que nos levará até este lado oco- disse Decrois.
Examinaram toda extensão de estantes, retiraram os livros e nada.
- Vamos rebentar a parede- disse Rauber.
- Ainda não- disse Decrois, há de haver uma entrada, temos de encontrá-la. A escada que da acesso ao segundo piso, onde estão os quartos.
O grande detetive passou a examinar a escada de madeira, com sua lupa de dez aumentos. Os degraus eram em madeira de lei, entalhada e de espessura avantajada. Uma pequena porta dava acesso à parte sob a escada, abriu a porta, havia um pequeno deposito de utensílios de limpeza. Decrois adentrou no cubículo, forçou a parede do lado oposto a entrada e parte da parede correu, abrindo uma fenda, que poderia dar acesso a um homem tão grande, como o detetive.´
- Mire, inspetor Rauber, aqui temos uma parte secretada casa.
Seguiram por um apertado corredor até chegar a um cubículo, onde estava Dona Maria Aparecida amarrada a uma cadeira e amordaçada. Livraram-na das amarras e da mordaça.
- Graças a Deus, vocês chegaram, teria morrido aqui sozinha, se não fosse isso.
- Veja! Detetive. Um fosso de grande profundidade, contendo uma escada vertical engastada em sua lateral- disse Rauber.
- Sim, vamos examinar isso com mais cautela, assim que tirarmos dona Maria daqui.
Já na sala de estar.
- Diga-nos dona Maria, o que aconteceu?
- Eu estava jantando, quando senti uma tontura e acho que desmaiei, quando voltei a mim, me encontrava como os senhores me acharam.
- Quer dizer que a senhora não viu ninguém?
- Não senhor.
Após dona Maria haver se recuperado o detetive perguntou:
- Mire dona Maria! A senhora tem uma lanterna e um fio de nylon, que possamos usar?
- Claro detetive! Vou pegá-los.
Herculan amarou a lanterna no fio e começou a desse-la, iluminando o fosso.
A profundidade correspondia à diferença de nível do afloramento rochoso ao casario.
- Está tudo explicado, alguém, lá do casario, subiu e fez o trabalho.
- Foram os ETs que fizeram isso - disse dona Maria.
- Certamente dona Maria, os mesmos que a senhora viu e registrou as imagens e gravou o áudio. Inspetor Rauber – prossegui Decrois – O senhor pode dar proteção à dona Maria, enquanto eu concluo as minhas diligências.
- Perfeitamente detetive, mas quando será a sua conclusão.
- No máximo em uma semana, podemos nos reunir na delegacia para as minhas conclusões finais, tenho apenas que receber algumas informações para fechar o caso.
UMA SEMANA DEPOIS:
Na sala de reuniões da delegacia, uma grande mesa, dez cadeiras circundavam a mesa
Às 10:00, chegou Dona Maria acompanhada do inspetor Rauber, ocuparam seus lugares, o delegado chegou pouco depois acompanhado do promotor público. As 10,10 minutos chegou o detetive Herculan Decrois, e, por último o inspetor Florêncio.
Decrois descansou seu pesado corpo na cadeira que estava na cabeceira da mesa, colocou ambos as mãos apoiadas nas pontas dos dedos, movimentou o ombro esquerdo, logo fez o mesmo com o direito. Afastou as mãos da mesa, apoiou uma contra a outra pelas pontas dos dedos. E, disse: “suas palavras dirigiam-se exclusivamente a Dona Maria e eram acompanhadas pelos olhares atentos de todos que ali estavam.”
- É o momento de dar uma conclusão ao meu trabalho, para tanto, farei algumas considerações, e retrospectiva de todo o caso. Espero que tenham a paciência de ouvir o meu relato.
O detetive, nesse momento pegou uma pasta que estava ao seu lado, abriu-a e de seu interior retirou um envelope volumoso e colocou-o sobre a mesa. E, continuou:
Dentro deste envelope estão às provas de tudo o que pretendo apresente a senhora, também estão às notas de despesa e os recibos dos meus honorários.
- A mais de 30 dias, fui contratado para fazer uma investigação sobre os estranhos vizinhos da dona Maria Aparecida, durante este tempo, enquanto se sucediam os acontecimentos estranhos, corroborados por imagens e áudio, levando a crer que se tratava de uma invasão de alienígenas.
Iniciei minhas ilações sobre o caso examinando detidamente cada aspecto dos estranhos acontecimentos, pois havia fotos e gravações de áudio. Quanto as fotos, foi comprovado que eram autenticas, mas pouco esclarecedoras, pois poderiam ser de pessoas representando uma farsa, com uso de fantasias e disfarces. Já o áudio, este sim foi intrigante, pois da distância que estavam os falantes, jamais dona Maria os teria ouvido, salvo se houvesse uma retransmissão. Descartei essa hipótese, pois para instalar um sistema de transmissão de sons, e ocultá-lo de tal forma que não fosse percebido pela dona da casa, seria quase que impossível, dada a complexidade de sua instalação. Quanto a chegada do som dentro da sala onde estava dona Maria, que disse que ouvia como se estivessem falando dentro da própria sala, isso sim me causou espécie, o que me levou a fazer um estudo sobre som ou ruído. As informações colhidas me davam conta de que um ruído, ao ser transmitido pelo ar, perde 6 dB(A) a cada dez metros, o som da voz humana, esta por volta dos 60 dB(A), a distância entre a emissão e a recepção distava em cem metros, aproximadamente. Portanto o som jamais poderia chegar ao interior da sala, onde estava dona Maria, considerando ainda que teria de atravessar a parede. Deduzi que o som somente poderia chegar à sala, onde se encontrava dona Maria se estivesse conduzido por ressonância em um poço onde a reverberação o levasse diretamente a sala. Por isso quando dona Maria desapareceu, para mim foi a confirmação de minha tese de haver uma comunicação espacial entre o casario e a mansão de dona Maria, o que me levou a fazer exames de ressonância acústica nas paredes até encontrar a passagem secreta e o cativeiro onde se encontrava Dona Maria.
De quando em vez, o narrador, fazia um leve franzir da testa lisa e abaulada. E, continuava:
- Cético quanto a essa questão de ETs., procedi minhas investigações, no sentido de provar que se tratava de uma armação para confundir a vitima, no caso a Dona Maria. Inicialmente, busquei, informalmente, sem que ela o percebesse, informações sobre seus ascendentes, tanto da parte de seu falecido esposo como dela, de ambos os lados não havia ascendentes. Quanto aos descendentes, também, estes não havia, pois o casal não possuía filhos, portanto não existiam herdeiros dos bens de dona Maria. E, na sua falta seus bens passariam ao município.
Busquei no cartório de imóveis, os registros tanto do casario como da mansão de Dona Maria:
A construção datava do inicio do século passado, por volta dos anos quinze a vinte. Foi construído por uma família de imigrantes alemães. Que supostamente construíram a ligação entre o casario, local onde moravam os empregados e a mansão da família, receosos de represálias quando o Brasil entrou na guerra contra a Alemanha.
Na década de setenta, o casal de imigrantes faleceu, os herdeiros resolveram vender as propriedade, pois todos os filhos do casal estavam domiciliados em outras cidades. Passou vários anos, em que tudo ficou abandonado, até que em 1990, quando Dona Maria e seu esposo adquiriram a mansão e a recuperaram. O casario permaneceu a venda, por mais alguns anos, até que a própria imobiliária os adquiriu por preço vil.
Na Prefeitura Municipal, examinamos as plantas de todos os prédios para verificar se havia registro da comunicação entre o casario e a casa nobre. Não havia qualquer menção a esse respeito. Ai é que surgiu finalmente um sopro de esperança para a elucidação do caso, havia um processo para verificar se havia algum impedimento na área para a construção e instalação de um complexo hoteleiro, com um teleférico ligando a mansão à praia. O estudo havia sido encomendado pela imobiliária proprietária do casario. Ligando as pontas, podemos inferir que quem teria interesse pelo desaparecimento de dona Maria, seria o proprietário da imobiliária. Que inicialmente tentou adquirir o prédio, com a recusa, resolveu assustá-la, mas nos parece que ao final, queriam dar sumiço nela, aparentando que teria sido levada por ETs. O prédio passaria ao domínio do município, que tendo interesse na instalação de um complexo hoteleiro o cederia à imobiliária.
Bem de nossa parte o caso está encerrado, as provas consubstanciais, no nosso entendimento, são suficientes para processar os proprietários da imobiliária, por seqüestro e cárcere provado. Mas isso passa a ser da alçada da policia e do judiciário.