A janela de Pandora - Capítulo 4 - Decisões e poucas verdades

Um ano depois, 2208.

- Gabriel, preste atenção, sua esposa morreu para que você tivesse uma chance com as crianças. - Não desperdice isso, entendeu? Inquiriu Charlize.

- Eu não posso, Charlize. Essa é a última coisa que ela deixou pra gente. Sem isso não lembraremos dela.

- Não seja fraco, seus filhos precisam do pai. Se você falhar nisso, então não vamos passar para o próximo ano, quem sabe, talvez não passaremos nem dessa noite.

Lá fora, homens fortemente armados batiam na maciça porta de metal e madeira, uma bela obra da arquitetura de Oko. O exército pessoal dos Bilderbergs estava perseguindo Charlize e Gabriel há uma semana. Aqueles dois representavam um enorme perigo para os planos das três famílias. Se o dispositivo energético dos pais de Absalão fosse ligado, o autoritário controle das famílias cairia e as pessoas poderiam viver livremente, mais uma vez.

- Vamos, aperte Gabriel! Eu tentarei segurá-los por enquanto.

A porta foi rompida. Charlize recebeu os soldados com rajadas de tiro, sua pontaria era exímia. Pela direita, homens armados com Mavericks esvaziavam seus cartuchos sobre a dupla. Um tiro passou de raspão do braço esquerdo de Gabriel, que sentindo o ardor da pele ferida, apertou os passos para correr os metros finais do corredor antes de chegar ao computador central.

Charlize endureceu sua pele e concentrou para que sua força aumentasse numa proporção de 25% da estrutura corporal. A última gota de vigor que possuía. Se havia algo que Absalão fez bem, o soro MÊS foi a única coisa boa. Capaz de alterar a massa muscular e ocasionar reforço na pele, ele aplicou nela quando ainda eram amantes, durante a noite que mais causa arrependimentos a ela. Como alguém seria capaz de usar as pessoas daquele jeito?

- O processo foi iniciado, a contagem começará em um minuto. Enquanto isso, nós precisamos segurá-los aqui, Charlize.

- Ok, Gabriel. Fique do lado esquerdo e cuidado com os escudeiros.

- Ali, lá vem um esquadrão na formação tartaruga!

Gabriel deitou no chão e apoiou sua escopeta. Atirou. Com um tiro ele conseguiu fazer desmantelar dois soldados. Oportunidade perfeita para que Charlize pesasse o dedo no gatilho. Sangue foi borrifado nas paredes brancas do complexo central de inteligência de Okos.

- O programa já converteu 100% do sistema. Agora resta o comando de voz.

- Aperte o sintetizador de voz, Gabriel.

- Código 1845-ATLAS-NEO-001, iniciar o procedimento de coalização energética. Permissão sênior.

O computador respondeu. – Permissão aceita. Operação iniciada.

Sirenes soaram. A cidade tremeu.

- Agora precisamos fugir daqui, Gabriel. Eu preciso levá-lo até seus filhos.

- Espero que a morte da minha mulher não tenha sido em vão.

A dois quilômetros de Okos, uma gigantesca montanha começou a se abrir, de dentro, centenas de vozes ecoaram ao observar o brilho branco das luzes citadinas. A liberdade chegara.

Milhares de colares soltaram seus usuários, ninguém mais seria escravo outra vez. O homem viveria na superfície a partir daquele dia. Então eles correram.