Retorno ao Lar
Anos se passaram desde que o último alguém a estar naquele lugar agora inospitamente amaldiçoado, vira por sob as nuvens, as assombrosas montanhas negras refletindo o brilho matutino do primeiro dia da primavera. Uma pessoa, agora, poderia novamente levantar os olhos para aquela estonteante paisagem. Eram as cordilheiras das montanhas Grampian, nas terras orientais a nordeste da Escócia. O renome e a história por trás das roupas surradas e rasgadas claramente ainda foram levados em conta para a transferência do outrora aclamado professor Scott Schaller, juntamente com a vigésima sétima colônia, vinda da fronteira continental mais antiga da Terra Segura.
As botas de couro remendadas inúmeras vezes nunca o incomodaram tanto quanto naquelas intermináveis seis horas. Para quem já ouvira em algum anúncio arcaico o nome do professor Schaller e ainda guardava algo desse passado distante na memória, das duas uma. Ou possuía um interesse louvável em escrever uma biografia do trabalho cientifico mais revolucionário da era novíssima, a qual nunca fora escrita nenhuma, ou era tão velho quanto os arquivos empoeirados das bibliotecas dos salões de Aristóteles. O tempo era implacável para todos, mesmo até para os gigantes de rocha e metal que Schaller lembrava na infância ansiar escalar por entre as fendas e dobras dos paredões abissais das montanhas.
Ele imaginava-se no pico da maior delas, a leste das cordilheiras. Entre os lagos azuis do planalto e os campos cinzentos de vegetação rala. E como se lembrava, os campos sempre cresciam na direção dos afluentes do abundante lago Avon. E as pedrinhas reluzentes, as quais o jovem quando criança teimava em jogar na janela da senhora Wolf, sempre se escondiam nas margens dos riachos. Em todo final de tarde, quando a rabugenta senhora cansava de gritar e resmungar com a voz rouca devido às décadas de fumo, ele e seus pequenos amigos travessos a enlouqueciam. Os pequeninos aproveitavam o fato da propriedade da idosa ficar a poucos metros das estufas submersas da família Schaller. Ali era um local perfeito para o menino peralta e precocemente brilhante em termos de ciência treinar tiros ao alvo. Ciente dos truques de um bom e preciso lançamento de pedras. Infelizmente para ele e seus amigos, a brincadeira sempre acabava com os puxões de orelha de sua mãe, Eileen.
Nada que via ao menos era semelhante com o que o professor Schaller se lembrava. A visão inóspita e sem vida do antigo vale dos ocultos e das pontes aquíferas de cristal outrora magníficas era, de fato, assombrosa. Era isso que os novos habitantes da Arca escocesa Banshee poderiam enxergar dos colossais vidros, que a partir do instante que lá chegaram, delimitariam suas vidas por muito tempo. Como o diretor Golden expressava a todos nas telas bipolarizadas das emissões de transferência quando questionado sobre a crueldade e insensibilidade dos métodos de manutenção adotados – Isto é necessário! E por tempo ilimitado. Mas nada disso perturbava o professor Schaller mais do que o fato do seu transporte se dar separadamente dos outros botes colônias.
Os transportes em geral, sempre ocorriam em uma única viagem conjunta dos botes, com todos os passageiros reunidos em vários desses veículos. E era de se estranhar ainda mais a atitude dos homens que o conduziriam até a Banshee. Aonde já se virá os encarregados dos transportes não somente não proibirem o embarque dos pertences e artefatos dos passageiros, como também insistirem para que fosse checado que se estava levando tudo e qualquer coisa que os pertencesse, até a menor das anotações? Perguntou-se. Ele se encontrava definitivamente confuso e sem nenhuma teoria a respeito. Quando logo em seguida sentiu um pequeno solavanco e a temperatura do bote começara lentamente a aumentar, sequência que lhe era bem familiar. O suor no rosto, escorrendo pelas lâminas dos óculos polarizados, advinha dos 34,5 C° de temperatura no interior do bote. Necessários para o hiperesfriamento dos condutores. Emergindo da escuridão agonizante da qual todos os transportados às novas áreas eram submetidos, o bote, com seus crescentes solavancos metálicos, indicava que todos haviam por fim chegado.
Agora deveriam seguir para o sentido central das edificações. De certo isso não fazia sentido. E o professor Schaller buscava no pouco de vivacidade que ainda o restava uma nova questão a solucionar. Para tal, ele deveria deixar de lado o ego que apontava a possibilidade de tudo aquilo não passar da curiosidade de um oficial da Sentinel, sobre a teoria da fusão eletrônica ou sobre a formulação do princípio de Schaller-Van Wood.
– Quanta bobagem – Resmungou, virando o olhar para os primeiros níveis do desconcertante complexo de cristais da Arca.
– Ninguém em plena lucidez me deslocaria por quase um continente de terra e poeira para unicamente adquirir conhecimento acadêmico! –
Pensou consigo mesmo, perdendo a atenção com a beleza dos flashes azuis e violeta do domo cintilante, a centenas de metros das plataformas mais altas que se podia enxergar.
A condução dos novos habitantes se dava sempre da mesma forma, acontecia periodicamente com veículos robustos similares a carros em formato cilíndrico chamados de botes. Eram revestidos de um metal escuro e fosco, que pelo que Schaller ouvira mencionar-se nos corredores dos setores de pesquisa, se tratava de uma liga de ouro, titânio e outro metal encontrado nas missões Aurora. Precisamente sintetizado em rochas do Cinturão de Asteroides. Não era sem razão. Pois o revestimento era praticamente impermeável às radiações de mais alta energia, semelhante ao quartzo de duritio que revestia a Arca.
A propulsão desenvolvida para os botes somente seria possível por meio de circuitos compactos supercondutores, para os quais esse metal exótico veria a calhar. Com a matéria prima para a manutenção dos botes se tornando cada vez mais escassa, toda essa conjuntura era imprescindível, não podendo falhar em momento algum. E isto servia de justificativa para a Sentinel manter as diretrizes ancestrais de transporte dadas após a construção das Arcas. A nenhum dos passageiros era permitido olhar ao redor durante o transporte a arca, ou se quer ativava-se qualquer dispositivo ou botão que emanasse luz de dentro dos botes. Assim nada fitaria a percepção de quem quer que fosse que estivesse a bordo, nem mesmo a dos pilotos, que reordenavam o trajeto sempre automaticamente por meio da sincronia exoneural. Era uma carnificina de regras animalescas e com pretextos duvidosos, e o velho professor Schaller esperava com certa inquietação a chegada ao prédio principal. Aonde os recém-chegados moradores receberiam as boas vindas do “tirano da vez”. Estava claro para ele que essa era uma transferência extraordinária. Sua testa franzida deixava claro que ele não iria descansar até receber uma explicação que fosse do seu agrado para aquela cerimônia. Justo no dia em que não conseguiu resolver o Paradoxo de Montgomery-Black, como havia previsto. Seu humor não estava nada agradável.
Torres e mais torres, era o que se conseguia ver pelas diminutas janelas no teto do veículo, que a essa altura era evidente que carregava não menos que uma dúzia de pessoas. Contabilizando o instante desde que adentrou na Arca ao tempo da recalibração molecular e a adaptação a nova atmosfera, até quando as cápsulas de preservação foram desligadas e abertas, e a iluminação no interior do veiculo ativada. A reação de muitos continuava a mesma dos primeiros a passarem por essa experiência bizarra. Estado de pânico e confusão ainda sobre penumbra. Paulatinamente a luminosidade branca e ofuscante dos domos de vidro cristalino penetrava pelas telas do teto e das laterais do bote, e os passageiros puderam finalmente abrir seus olhos e conhecer quem viajara aos seus lados. Claro que isso não importava. Desse modo a sentença primordial do código de ética da organização se manteria, “desapego total a toda matéria de ordem humana, pois assim sobreviveremos”.
A maioria dos poucos homens influentes que ainda viviam, não compactuava nem um pouco com o domínio atroz exercido pela Sentinel em todo o planeta. Outros que não eram influentes, mas também desejavam uma nova forma de organização para a população mundial, eram perfeitamente personificados pela imagem do jovem também passageiro do bote, discípulo do emérito engenheiro Daniel Van Wood, último ganhador do prêmio Nobel de física. Jovem esse que já havia lido e relido, entusiasmado e enfeitiçado pela obra genial dos cientistas escoceses, artigos e livros antigos, sobre o projeto científico fracassado mais audacioso e revolucionário do século XVII, fato que o agora aposentado Schaller relutava em recordar. Essas lembranças eram o ventre da angústia e do arrependimento de toda uma vida dedicada à ciência, que o impediam de ter uma noite se quer de sono, nas quase três décadas passadas. Por uma notável coincidência, o jovem aluno de Wood e o professor Schaller se localizavam alinhados na disposição das cápsulas, de forma que seria inevitável ao recobrarem a visão o contato visual entre eles.
O prédio central estava a algumas milhas a frente, na plataforma mais elevada da Arca que, a essa altura, já prendia a atenção de todos no bote, mas no ambiente silencioso e fúnebre de dentro do veículo agora normalmente iluminado. Um pequeno ruído se destacou e ressoou nas paredes metálicas e seladas, que mais pareciam compor a estrutura de uma jaula.
–Professor Schaller? – Questionou baixo e levemente agitado, quase como um grunhido, o ainda sem fôlego aluno de Wood.
– Sim. Conhece-me? – Respondeu surpreso, o velho cientista.
– Fui orientando do doutor Wood na faculdade, ele me falava muito do senhor e do seu trabalho... É um enorme prazer conhecê-lo, senhor... Digo, professor. – Colocou o atônito menino, que pela pouca expressão corporal e aparência franzina de não mais que 20 anos de idade, fez Schaller recobrar lembranças de si mesmo nos tempos de juventude, livre das rugas e da bengala que o ajudava a manter-se de pé.
– Faça-me um favor, me chame de Scott. Você, aluno de Wood, tem nome? – Perguntou-o, com feição de curiosidade a situação inusitada de alguém lembrar-se de quem ele já fora.
– Ah... Sim! Chamo-me Rawson senhor, Barry Rawson senhor... perdão, Scott!
O gaguejante e sem jeito garoto de cabelos desarrumados e sotaque engraçado, provavelmente oriundo da Europa Oriental, por poucos segundos fez o aposentado recordar da adolescência e de suas trapalhadas ao ser apresentado a mestres e doutores da Universidade de Ciências de Edimburgo. Em muitas vezes gerando gargalhadas ao se pronunciar por seus modos simples e não sofisticados. Barry, aparentemente apenas o causou um leve sorriso no canto da boca, quase imperceptível. E quanto mais se observava o falar e os agires do recolhido jovem, Schaller reconhecia nele a projeção como em um espelho, da personalidade e das manias do seu antigo amigo e discípulo Van Wood. Com quem dividiu a bancada da Academia Real Unida de Ciências por 17 longos anos, nem sempre em momentos de concordância e camaradagem a respeito de uma teoria ou outra. Na verdade eram poucos os dias em que os dois não discutiam. Sem dúvida era a imagem de seu antigo pupilo, com alguns anos a menos e um pouco menos de uso de pente de cabelo, que voltava dos mortos, ironicamente acanhado, para contar a sua história de idolatria ao seu ídolo de colegial.
Os dois estavam inquietos, principalmente Barry, que girava a cabeça em círculos medonhos enquanto batia os pés agitadamente no piso. Os sons dos botões de alerta, semelhantes aos de um xilofone; os sopapos do freio nas subidas às plataformas de entrada; os gemidos macabros de um ou outro passageiro ao seu lado, ainda em estado de confusão mental, não eram muito relaxantes. Ele tentava controlar-se, enrijecendo-se e respirando profundamente, inutilmente. Vendo aquelas pessoas desconhecidas ao seu redor, algumas com identificações de laboratórios e ainda de jalecos, indo com elas para onde ele não sabia bem, e ainda vivenciando o encontro com quem sempre sonhara conhecer. Sua inquietude e ansiedade não permitiram que Schaller, observando tamanha impaciência a sua frente, abrisse a boca para tentar acalma-lo.
–Professor Schaller, por que estão nos levando tão rápido? Não devíamos ter parado ao entrar na Arca? – Perguntou o agitado jovem.
– Não posso lhe responder Barry, pois eu mesmo não sei o porquê. Mas tente se acalmar. Logo chegaremos ao prédio principal. – O respondeu calmamente, Schaller.
Tudo era muito ilógico. As transferências só ocorriam em um período de três meses, e Schaller tinha acabado de voltar a colecionar os seixos turquesa no jardim da nova casa, na Arca de Nuremberg, a Freya. Todo o seu material de pesquisa, livros e papéis, foram grosseiramente exigidos para também serem levados ao destino. E de todas as Arcas próximas, fora conduzido à posta entre o platô do Great Glen e o vale das Grampians, na região exata onde o professor nascerá e vivera, até durante a graduação na academia. E sem falar na aparente urgência de serem levados ao diretor da Sentinel responsável, onde na maioria das vezes se deixava um tempo para que os passageiros vomitassem, passassem mal e se descabelassem.
A ornamentação no interior da Arca era esplendorosa, e diferia sempre entre de uma a outra, mas o caminho do bote a plataforma antigravitacional do centro era sempre o mesmo. Definido de tal maneira que cruzava as outras bases elevadas a centenas de centenas de metros do solo cor de marfim e textura polida, tornando a viajem uma apreciação à beleza das construções flutuantes. Enquanto se encaminhavam para a chegada ao prédio do diretor, suspiros e expressões de espanto, e metade dos passageiros que Schaller e Barry podiam ver estavam boquiabertos com as bases suspensas da Arca. Essa parte sempre lembrava a Schaller um painel holográfico de publicidade que vira com o seu irmão aos dez anos de idade. De crianças em um castelo da Disney. Era realmente similar, mas um tanto menos colorido, pois tudo era metálico ou cristalino lá dentro. O seu instinto perspicaz o dizia que alguém o queria ali para alguma coisa, e rápido. Mas não tinha ideia de quem, ou para que. Assim como um rato suspeita do espreitar de um gato, Schaller suspeitava dos responsáveis por aquela ordem de transferência e das tramoias que podiam novamente estar a fazer contra ele, a Sentinel. A Sentinel era a maior organização de líderes e pesquisadores da humanidade, a mais brutal e misteriosa que existira, e a administradora de todas as Arcas.
– PIIIIIIIIHHHH! – Soou o estridente e insuportável alarme vindo de trás do bote, o qual a frequência era tão forte, que em três segundos acionado dois passageiros vieram ao chão como que atingidas por um feixe beta no peito, agonizando e se debatendo de dor.
–Senhoras e senhores, por favor, se acalmem... – Comunicava serenamente o oficial de transporte na cabine dos pilotos com a voz sintética de um computador, quando fora bruscamente interrompido.
– Calma uma ova! Vocês querem nos matar seus idiotas? – Berrou Barry, incrivelmente revoltado e enraivecido, pelo desconforto de sentir na pele o infortúnio da primeira viagem a esses moldes.
–Controlo-se meu jovem... Ponha a língua dobrada atrás dos dentes, e tape os ouvidos. Logo passará. – Ponderou Schaller, com uma expressão cômica no quanto da boca mais acentuada que anteriormente, ao ver a cena.
– Me desculpe senhor. Vou tentar! – A visão do garoto raquítico e inocente, se rebelando ao ponto de partir para talvez a agressão ao oficial, foi em si muito mais alarmante que o próprio som cortante do dispositivo de alarme.
–Senhoras e senhores... – Voltava a anunciar o oficial.
–É sempre assim? – Questionou Barry a Schaller, em tom de desprezo.
–Não. Estão bem mais gentis que da última vez – Instantaneamente, um feixe de luz avermelhado e ofuscante, com alguns centímetros de diâmetro, veio do sentido oposto do veículo em direção ao rosto do professor Schaller, calando-o em um susto.
– Por gentileza Scott, não se comunique com nenhum passageiro. Atente as orientações de desembarque. Tenha um bom dia. – Disse a voz do oficial. Estranhamente simultânea ao próprio oficial que informava o protocolo de chegada e descida. Provavelmente a voz fora gravada para ser transmitida no momento em que falasse, o mesmo imaginou. Alguém ali não ia muito com sua cara. Ao ficar quieto, o estranhamento veio a sua mente. A gravação o chamou por seu primeiro nome.
–... E assim se fará o desembarque, preparem-se ao verem a luz azul, atentem aos painéis até o elevador. Não façam perguntas desnecessárias. Tenham um bom dia.
– Barry, nessas horas que eu adoraria já ter pedido ao almirante Heath uma passagem para Marte – Cochichou Schaller.
– Com toda certeza, senhor. – Imediadamente rebateu, Barry.
Contudo, as condições de sobrevivência em Atlas eram péssimas. Sem contar com o realocamento em andamento para as crateras mais ao norte do monte Olimpo devido à tempestade solar do último ano, e a grande possibilidade do almirante Seymour Heath, participante da comissão de notáveis na Terra e um dos chefes do Projeto SSD na Lua, já ter batido as botas. Além de Schaller nunca ter visto sentido algum em batizar a primeira colônia humana em Marte, com o nome do titã amaldiçoado por Zeus a sustentar o céu pela eternidade. Nada criativo. Então suavemente o bote reduziu sua velocidade e a luz azul anunciada pelo oficial focou intensamente dentro do bote e as portas metálicas se abriram de baixo até em cima. Em segundos, as dores de cabeça e olhos causadas pelo reflexo do gigantesco do domo da Arca se iniciaram em todos do grupo. Logo se ouviu:
– Sigam os painéis. Sigam os painéis. Sigam os painéis... – Diziam os pequeninos robôs em forma de barris humanoides, agitadamente após o desembarque, andando de um lado para o outro em direção ao elevador da plataforma mais alta, para o prédio central.
Nem se precisou esperar muito para as dores nos olhos cessarem. Toda a cidade flutuante se desenhou, e era de fato magnífica. Os relâmpagos e os feixes, azuis, violeta e prateado rebatiam-se e se misturavam no vidro da gigantesca semiesfera, até a distância que se conseguia enxergar. E por mais acostumado que estivesse com o imensurável tamanho da Arca, Schaller ainda perdia o fôlego. Uns 100 metros à frente, o cenário da cidade se dividia por um cilindro fino de cristal prata estendido até o topo da Arca, se encontrando dentro o elevador para plataforma central, solitário e no meio da calçada esculpida em esmeraldas onde desembarcaram. Barry em todo o trajeto entre os pequeninos robôs e a trilha retilínea do caminho a ser seguido, não fez um se quer barulho, parecendo ter sido congelado, perdendo até o êxtase inicial de conversar com seu ídolo. Perfeitamente compreensível.
A dois passos da comporta quadrangular do tubo cilíndrico e transparente que levava ao elevador embutido no mesmo, Schaller pode perceber no longínquo do horizonte o pico da maior das montanhas negras através da abobada cristalina. Minúsculo e cor de púrpura. Fora ali, ou melhor, na base da Ben Macdui, que sua família morou em uma humilde e isolada casa, esculpida das pedras dos próprios rochedos da montanha, de frente ao lago Etchanchan. Lago que fazia a alegria dos poucos moradores das planícies verdes na época da migração do salmão arco-íris. Devaneou, voltando a essa época. Mas por pouco tempo.
– Professor, o senhor está bem? É a paisagem não é? – Perguntou lhe Barry, com um leve cutucão em seu braço.
–Novamente, senhor Scott! Preste atenção às orientações. Entre no elevador!– Ordenou um dos robozinhos, puxando-o na altura de sua panturilha com o seu curto braço mecânico em direção à porta do compartimento onde todos os passageiros já estavam.
–Sim, Barry. Perdi-me nos pensamentos. – Respondeu Schaller, já se dirigindo ao elevador, guiado pelo pigmeu de metal.
Ao por os pés a centímetros do elevador, o ambiente novamente já mudara, e a temperatura voltou rapidamente a abaixar assim como era no bote.
– Senhoras e senhores, pedimos para que não se movimentem dentro do veiculo... Próxima parada. Prédio central. Tenham um bom dia! – A voz não saia de quanto nenhum, mas era igualmente irritantemente a voz dos metálicos pigmeus no desembarque.
Só estava piorando, e agora os grotescos robozinhos aparentemente também foram programados para reconhecer e falar com o professor Schaller igualmente como foi no bote. Certamente ele não teria um bom dia, decididamente não um dia normal.