Conjuracao Lunar - Parte 3
Franz Becker odiava o seu avô, costumava se referir a ele como um “velho da boca-mole”. Aquele seu neto pródigo havia nascido de sua única filha, que por sua vez se apaixonara loucamente por um ídolo decadente da onda neopunk, morrendo cinco anos depois de um malfadado casamento por overdose junto com seu cônjuge. Franz embora fosse o único herdeiro vivo dos Becker – que ou morriam da doença degenerativa de origem genética comum a família ou matavam-se mutuamente pelo domínio da Valhala Corp – era odiado pelo avô, e de certo modo culpado pela morte de sua mãe.
Fisicamente lembrava sua mãe, mas em se tratando de sua personalidade, era muito mais parecido com o pai. Franz só não tinha a inconsequência maior que a ganância, algo que faltava ao seu genitor, e embora o avô admirasse sua sede de poder, também o temia.
Franz batucou a vidraça da sala de reunião, o Controle Climático de Luna, órgão responsável por dominar a atmosfera da cúpula geodésica, havia escolhido uma noite chuvosa para aquele difícil encontro de negócios e negociatas. Raios partiam aquele céu artificial, dando contornos sombrios aqueles prédios simétricos e geometrizados. Franz odiava a simetria daquelas formas, qualquer tipo de ordem o irritava.
O jovem candidato a CEO virou-se. Os convivas estavam extremamente absortos em pensamentos impronunciáveis. Era uma proposta com tom de ameaça.
— Então o rei do lobby nos propõe a independência de Luna? — perguntou um ancião com dedo em riste, um dos maiores produtores de tecnologia da Finlândia.
Sim velho maldito, pensou Franz sentando-se em sua poltrona.
— É por isso que esse lugar está assim, Luna era o éden antes de malditos como você chegarem aqui garoto — disse D. Dowley, um bilionário texano que ostentava um grande crucifixo no pescoço e gostava de mostrar a todos o quanto havia memorizado trechos da Bíblia. — Agora esse lugar está cheio de especuladores e prostitutas.
— E Maria Madalena não era prostituta Sr. Dowley? — perguntou Franz arreganhando os dentes. — É uma profissão muito respeitada não só em Luna, mas no Texas também não?
— Isso é só um erro de interpretação do santo livro — disse o americano retirando seu largo chapéu de cowboy pra limpar o suor da sua testa calva.
— Qual o nível de sangria se essa “revolução não der certo”? — indagou Ding Xing Woo, um chinês corpulento de voz macia e dedos roliços.
— A responsabilidade será da Valhala Corp, podem ficar tranquilos em relação a isso — respondeu Franz calmamente. — O fundo de investimento pra essa empreitada será conjunto, inclusive com aplicação de 3 milhões de dólares iniciais pela nossa empresa, mas a parte executiva ficará a nosso cargo. Vocês só precisam aceitar as condições. Todos sabemos que a patente de lunádio é exclusiva da ONU. A concessão de extração de lunádio para órgãos privados é de apenas de 35%, a desculpa é que se as concessões aumentarem, o precioso lunádio pode sofrer o mesmo que o sangue negro sofreu na Terra. Entretanto, isso é apenas uma maneira de manter o monopólio estatal dos países do Conselho de Segurança como EUA e Rússia. E então, uma proposta razoável não?
Os doze convivas entreolharam-se com os mesmos olhos de crianças que ganharam um novo brinquedo. Depois de alguns cochichos, eles entraram em um acordo e as leituras biométricas entraram em ação na assinatura do contrato.
— Foi muito bom negociar com os senhores — disse Franz com um sorriso insano.
Logo depois a vidraça escureceu e as luzes se apagaram subitamente. Entre o abrir da porta-dupla, gritos e gemidos, passaram menos de vinte e dois segundos. Ao final, doze corpos estavam tombados, cada um com pelo menos dezenas de buracos de .45 ACP.
No fim daquela trágica cena, apenas dois atiradores vestido com trajes de combate se moviam pela sala. Franz havia sumido.