Breve História da Ascensão e Queda do Império Romano

Meu filho caçula perguntou-me se eu poderia ajudá-lo com um trabalho de História Antiga.

- Claro que sim - respondi, fechando o jornal.

Fomos para a mesa da cozinha, mais espaçosa. Ele já havia colocado seus livros e cadernos sobre ela, e sentei-me ao seu lado. Lembrei-me de mim mesmo com meu pai naquela situação, e isso me trouxe recordações de como o velho era severo na hora de tomar lições. Mas de tanto levar varadas nas mãos, eu acabava aprendendo; com meus próprios filhos, eu tentava ser menos punitivo, embora um cascudo de vez em quando fosse bom para manter o respeito.

- Sobre o que é o trabalho? - Indaguei.

- A queda do Império Romano - declarou solenemente.

- Bom tema. Costumava ser um dos meus favoritos na escola... as histórias que contavam sobre os imperadores eram tão absurdas... - divaguei.

Ele encarou a folha pautada à sua frente, muito sério, lápis na mão.

- E por que o Império acabou, pai?

- Para entender isso, precisamos lembrar como começou... quando Júlio César foi nomeado ditador vitalício pelo Senado, os problemas políticos da República já vinham se arrastando há algum tempo. Portanto, nomear César pareceu ser a melhor maneira de pôr um fim à baderna. Só que ditadores, e nós já havíamos tido experiências negativas neste sentido, resolvem um problema e criam dez outros.

- Por quê?

- Há um provérbio que resume a situação: "non bene imperat, nisi qui paruerit imperio"; não sabe governar, quem não sabe obedecer. Um ditador obedece apenas a si mesmo. Com um imperador, isso tornou-se ainda pior, visto que sequer precisavam ser indicados pelo Senado.

O pequeno começou a tomar nota do que eu falava.

- Mas Júlio César foi assassinado, não é?

- Sim. E aí tivemos a ascensão de Augusto, como primeiro imperador. Foi um homem notável... anexou muitas regiões e trouxe uma era de paz. O recordamos até hoje no mês de agosto, assim chamado em sua homenagem.

Meu filho me encarou com a testa franzida.

- Mas pai... até aqui, o Império me parece uma coisa boa.

- E parecia ser. Após a morte de Augusto, Tibério foi proclamado imperador; também era um valente general e expandiu grandemente as fronteiras de Roma. Quando morreu, o Império se estendia até a Germânia. E então, veio o desastre chamado Calígula.

- Aquele que nomeou o cavalo senador?

- Quase. Ele queria nomear o cavalo, Incitatus, como cônsul... mas aí, creio que o Senado achou que a bandalheira estava demais e isso foi negado. Mas ele nomeou o cavalo sacerdote.

- Uau! - Exclamou meu filho.

- Calígula foi um péssimo imperador... - prossegui - gastava muito dinheiro com festas, mulheres e jogos, e descuidava-se da administração; quis até mesmo ser adorado como deus. Chegou a um ponto que seus inimigos, e eram muitos, resolveram dar cabo dele. E o fizeram da mesma forma que havia sido feito com Júlio César: Calígula levou 30 punhaladas.

- E aí o Império acabou - antecipou-se o pequeno.

- Exatamente. Calígula foi tão perverso que o Senado decidiu-se pela extinção do Império e a refundação da República Romana. E aqui estamos nós, dois mil anos depois, como a potência que dominou todo o planeta sob seu comando. Que moral você tira disso tudo?

- "Quos Jupiter perdere vult prius dementat"... quem Júpiter quer destruir, primeiro torna louco.

- Bom garoto! - Exclamei, orgulhoso.

- [29-03-2018]