A cápsula do tempo

O ano era 2495. Edward Mountain, professor de história da faculdade de Oxford, organizou com seus alunos uma viagem a um sítio arqueológico no interior de Washington, onde recentemente arqueólogos estavam trabalhando em sua busca por fósseis. Ali vivera a quatro séculos atrás uma espécie chamada Ser Humano.Os ossos fossilizados dos ancestrais conhecidos como Homo Sapiens Sapiens estavam espalhados por toda a área. Turistas de todos os cantos mais remotos passeavam por ali, procurando ver com seus próprios olhos fragmentos de uma espécie à muito extinta.

- Apresento a vocês um crânio do Homo Sapiens, logo aqui. - disse o professor Mountain, entusiasmado.Ele se aproximou de um grupo de arqueólogos que estavam de pé a um metro de distância, analisando um crânio arredondado, com dentes muito bem alinhados.

-Incrível como uma espécie tão inteligente e jovem, comparada as demais espécies foi extinta dessa forma. - disse um aluno próximo.

O professor voltou seus quatro pares de olhos para o aluno que observava o crânio pensativo. Aquele era David. Um jovem Alien, muito fã de humanos. Inclusive ele colecionava figurinhas de antigos rockstars e estrelas de Hollywood. Ali estava um garoto que sabia tudo sobre humanos, assim como um gamer sabe tudo de GTA.

-Sim. Parece quase impossível, não é? - disse o professor. - Mas, não devemos esquecer que foram eles a causa de sua própria destruição. Inúmeros fatores causaram a extinta humana e dezenas de outros animais, assim como o rompimento da camada de ozônio. Mas, jamais devemos esquecer que esses fatores foram consequência das ações de de uma só espécie, o Homo sapiens.

O aluno coçou sua sobrancelha erguida sobre seus saltados olhos de caracol, sem dizer mais nada, pois ele sabia que, o que o professor Mountain dizia era pura verdade.

Um grande evento apocalíptico aconteceu a quatro séculos atrás, quando a camada de ozônio se rompeu, depois de dezenas de anos sendo corrompida pela poluição humana, o calor do sol invadiu a biosfera e queimou grande parte da vida no planeta. Os demais eventos que se seguiram, como o descongelamento das geleiras que causaram tsunamis engolindo países inteiros, terremotos avassaladores, e furacões que devastaram cidades inteiras, contribuíram para que o dia da condenação final chegasse para a humanidade. O dia em que o homem foi julgado segundo seus atos e teve que pagar um preço caro por suas ações.

E foi aí que, o planeta Terra, inóspito e devastado pelas calamidades do homem, ficou vazio e inabitado por dezenas de anos, até que uma nova espécie, os hugars, vindo de uma distante galáxia, fugindo de uma estrela que explodiu, destruindo grande parte da sua galáxia, os trouxe até esse ponto abandonado da Via Láctea.

Os hugars, por ser uma espécie avançada, com grande poder tecnológico escolheram a Terra como refúgio, e pegaram para si a responsabilidade de reverter os dados causados ao planeta e reabitá-lo. Eles tinham um único objetivo: devolver a vida ao planeta doente que estava morrendo aos poucos.

E, primeiramente, para alcançar esse objetivo, os hugars construíram uma nova camada de ozônio, completamente artificial, que tinha a funcionalidade equivalente a original, depois começaram um processo de reflorestamento para diminuir o índice de gás carbônico na atmosfera. Além do mais, eles puseram-se a patentear as invenções dos humanos com ideias sustentáveis, como investir na fabricação de carros que voam, mas que não emitem CO2, aeronaves e ônibus que viajam a velocidade da luz, mas que não poluem o ambiente um tiquinho sequer.

Sim, no fundo David sabia, que o mundo estava bem melhor sem os humanos, apesar da falta que lhe fazia ver filmes de Hollywood que nunca mais teve uma sequência que era um tesouro para ele. Mas, apesar de tudo, o mundo estava melhor nas mãos dos hugars.

A apresentação do professor pelo sítio histórico continuou, e podia-se ver no rosto dos jovens áliens a surpresa e admiração a cada comentário interessante que o mestre fazia.

De repente, eles ouviram um grito entusiasmado de um arqueólogo que acabara de encontrar algo de extrema importância enterrada no fundo do sítio arqueológico.

-Ei, cuidado, não pisem nos fósseis, nem se aproximem da área isolada onde estão os arqueólogos. - O professor Mountain pediu a seus alunos, rigorosamente.

O grupo de alunos se aproximaram do arqueólogo cujos quatro pares de olhos giravam nas órbitas de tanto êxtase, e segurava nas mãos um objeto metálico coberto por uma camada de terra.

Todos os presentes correram para ficar ao redor dele e observar o estranho objeto.

- O que será isso? - sussurrou David, espantado.

-Com certeza é alguma relíquia humana. - disse outro aluno.

-E deve ter um grande valor histórico. - disse David, confirmando com um aceno de cabeça.

Os áliens arqueólogos que exploravam o sítio se juntaram ao redor do objeto metálico e começaram a apalpá-lo com curiosidade.

- Isso deve ser uma cápsula do tempo. - respondeu um deles.

O professor Moutain soltou uma exclamação parecendo muito entusiasmado com a notícia.

- Pessoal, para quem não sabe, uma cápsula do tempo é uma relíquia humana, que tradicionalmente tem o objetivo de armazenar lembranças de épocas remotas para que elas não sejam esquecidas, com o intuito de que alguém no futuro possa encontrá-la para compartilhar tais lembranças. - disse o professor aos alunos.

- Isso é... incrível! - exclamaram vários alunos.

O arqueólogo sacudiu a cápsula próximo ao ouvido, como se quisesse ouvir o que estava lá dentro.

Meia hora depois, quando os arqueólogos conseguiram abrir a cápsula, eles resolveram compartilhar com os presentes as lembranças armazenadas dentro dela. Por isso, eles foram para uma sala, onde, sobre uma mesa eles foram colocando cada objeto que tirava de dentro da cápsula. O primeiro objeto tirado era uma fita cassete, depois um pendrive, um disquete, um CD e um cartão de memória. Em cada objeto havia um código numérico escrito em tinta branca, que os áliens olharam sem entender o que dizia.

- O que são essas coisas? - um aluno quebrou o silêncio na sala.

-São objetos que armazenam informações. - disse um arqueólogo.

Um dos arqueólogos pegou um aparelho de DVD antigo dentro de um armário de antiguidades e colocou o CD dentro. Assim que o DVD foi conectado a TV, a tela plana acendeu mostrando o rosto de um velho, de pele branca e murcha, com uma franja loiro ridícula, esvoaçando sobre o alto da cabeça.

Todos na sala fizeram silêncio absoluto outra vez para ouvir o que o homem dizia no vídeo.

- Quero que saibam que, se você estiver assistindo esse vídeo, é porque você é um dos únicos que pode ter sobrevivido ao "Dia da Condenação".

O homem que gravara o vídeo parecia muito triste.Ele enterrou os dedos na franja por um momento e limpou a testa suada, antes de prosseguir.

- Como Presidente dos Estados Unidos e da Aliança Mundial, eu quero pedir desculpas pelos últimos confrontos causados entre nós e a Coréia do Norte. Mas nesse momento, algo mais grave do que uma guerra se aproxima. Nesse exato momento uma catástrofe biológica está ocorrendo sobre nossas cabeças. A camada de ozônio está se rompendo por inteira, e as geleiras do ártico causaram mais uma avalanche no oceano, três vezes maior do que a anterior, e está se tornando na maior onda já vista, e está vindo em direção a Nova York. A cidade inteira ficará sumersa em menos de duas horas. Ao mesmo tempo, furacões invadem Flórida, Luisiana e Los Angeles.E isso não é só por hoje. Se o sol não queimar todos os seres vivos nos próximos dias, um terremoto como jamais visto destruirá a Cidade do México. São Paulo também sucumbirá, pois já está debaixo d'água a três dias, e outro maremoto se forma indo em direção ao Japão.

Como podem ver, os danos são irreparáveis, e a destruição está acontecendo em escala global. Acredito que a humanidade em breve estará extinta. O Dia da Condenação se aproxima.

O vídeo chiou e a tela da TV desligou. Todos os presentes observavam a TV com a tela azul, estáticos. Não se ouvia um único ruído na sala. Todos estavam perplexos com o que parecia ser a última declaração do líder da humanidade, poucos dias antes da grande extinção.

Gilson B de Souza
Enviado por Gilson B de Souza em 31/01/2018
Reeditado em 31/01/2018
Código do texto: T6241709
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