Protocolo Qlium
Marcus, já fez o checkin das cidades e colonias do sul?
Sim, Senhor! Acabo de identificar um foco de postagens num site anônimo chamado: " MilitanIM14" - respondeu Marcus. Descobri conversas entre "intolers" sobre o padrão moral da sociedade atual e manifestações da antiga crença.
- Apague tudo e redefina o site! - ordenou o supervisor
Ás três da tarde, após a troca de turno, Marcus deixou seu posto, passou a retina no identificador e saiu da Central de contenção. No caminho para casa, observa reflexivo a neutralidade da cidade de ARCO 1, lança o olhar sobre os banners publicitários padronizados, todos seguindo a mesma forma, sem muitas cores. Nada foge do padrão.Nada! Marcus, observa a uniformidade das roupas e as pulseiras de identificação. Todos monitorados. Naquele momento, mergulhado num devaneio estimulado por suas inquietações particulares, imagina um mundo livre, não regido pela Lei 546/48, criada pela Fundação DARVA. Desde de 2048 a nova legislação aplicada pela fundação havia regulamentado todo o mundo, forçando as nações aderirem aos programas: "Padrão de Intolerância" e "Uniformidade Mãe". Todo os países eram regidos por esses dois programas e o "Padrão de intolerância" punia qualquer ação que entrasse em conflito com o programa "Uniformidade Mãe".
Marcus, olhava a paisagem enquanto dirigia e pensava o quanto uma cidade "clean" deixa qualquer um meio desorientado. O inesperado acontece durante o percurso para casa. Se depara com uma manifestação dos chamados "intolers". A última havia acontecida há 5 meses. Um período razoável de “pax”. Uma multidão estava organizada ao lado dos edifícios DARVA, mais de mil manifestantes munidos com cartazes, fitas e baloes. Gritavam todos por liberdade, fim do sistema. Protestavam contra o totalitarismo da fundação. Todos de rosto pintado com listras vermelhas. Uma afronta à Uniformidade. Marcus estacionou o carro para observar, curioso, mas como quem já sabia o desfecho da ocasião.
A tropa intervencionista já estava no local terminando os preparativos para o “blackout”. Como sempre, apenas uma equipe composta por 25 soldados. Lorka, o capitão, grita com o pelotão afim de conferir o protocolo da operação:
- Toneis de gás Qlium?
- Ok, capitão!
- Veículo de Choque
- OK, Senhor!
- Luz FotoWAC
Ok, Senhor!
Se está tudo pronto, iniciem a operação, AGORA!!! – disse, Lorka.
Três soldados pilotam o Veículo de choque. Após levantarem voo, se dirigem até o centro da manifestação e se posicionam a dez metros de altura. Os canhões de gás Qlium são acionados e a mira é direcionada para os manifestantes. Marcus, que observava tudo da calçada há cem metros da manifestação, se dirige até seu carro e pega a máscara anti-gás.
Houve-se a contagem regressiva para o disparo, os manifestantes, sem entender o que está acontecendo, começam a se dispersar. Já é tarde. Ao término da contagem, os canhões disparam o gás e todos, lentamente, vão ficando inertes, paralisados. Entram no estado de dormência ainda de pé, com olhos abertos. Alguns paralisam assustados, outros gritando, falando. Ninguém escapa ao Qlium, exceto Marcus e os demais funcionários da DARVA, todos equipados com a máscara anti-gás. Após a aplicação do gás, as luzes FotoWAC são acionadas. O veículo de choque sobrevoa os manifestantes e a potência das lampadas são aumentadas. A luz, ao atingir os manifestantes, apagam suas memórias recentes. Os intolers são recolhidos e enviados para o sítio A, de onde serão liberados após 3 dias de recuperação e reposição de memórias.
Marcus, acostumado com o procedimento padrão, entra no carro, fecha os vidros e retira a máscara. Olha o celular: dia 12/11/2102. Quatro e cinco da tarde. Toda a operação intervencionista ocorrera em uma hora. Apenas mais uma falha da contenção. Operação concluída com sucesso.